Jd 5-7
Defender a fé
do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com os hereges, visto que
foram marcados pela severa punição por suas variadas formas de rebelião.[1]
No
estudo anterior nos vv.3, 4
estudamos sobre a Declaração de Propósito
da Carta de Judas e vimos que a sua apologia
veio como uma reação ao ataque da heresia, a fim de motivar os crentes a
defender a sua fé.
Expomos
isso em três pontos: 1º) O propósito inicial de Judas fora comentar a
vida cristã – v.3a; 2º) O
propósito efetivo de Judas era motivar seus leitores a lutar pela fé cristã
– v.3b; e 3º) O motivo para Judas
escrever esta carta era o ataque da heresia contra a Igreja – v.4.
Hoje,
vamos estudar os vv.5-7 com o tema Recapitulação e com a seguinte tese: Defender
a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com os hereges, visto
que foram marcados pela severa punição por suas variadas formas de rebelião.
Faremos
isso examinando os exemplos das severas punições de Deus para “três atos bem
conhecidos da apostasia do Antigo Testamento, como breves lembretes, para
ilustrar suas consequências condenáveis, como declara o v.4”[2]
– Porque se introduziram alguns, que já
antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em
dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso,
Jesus Cristo.
Então,
Judas começa a advertir os seus leitores primários contra os perigos da
apostasia e menciona o castigo dos que saíram do Egito, o castigo de anjos
desobedientes e o castigo das cidades de Sodoma e Gomorra por sua apostasia e
impiedade gritante.
Assim,
veremos: 1º) Como Deus puniu a incredulidade dos israelitas
errantes – v.5; 2º) Como Deus puniu a insubordinação dos anjos caídos – v.6; 3º) Como Deus puniu a imoralidade de Sodoma e Gomorra
– v.7.
I. Como Deus puniu a incredulidade dos
israelitas errantes – v.5
Mas quero
lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto, que, havendo o Senhor salvo um
povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os que não creram;
1. v.5a – Mas quero
lembrar-vos, como a quem já uma vez soube isto,... – Essa declaração
inicial de Judas revela que seus leitores já haviam sido ensinados sobre esse
assunto. Aqui temos uma ligação clara com o v.3b onde Judas diz... e
exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi entregue aos santos.
João
Calvino disse: “O objetivo da Palavra de
Deus não é somente nos ensinar aquilo que de outra forma não poderíamos saber,
mas nos despertar para uma meditação séria daquelas coisas que nós já
compreendemos, para que não nos tornemos dormentes num conhecimento frio”.[3]
2. v.5b – ... que,
havendo o Senhor salvo um povo, tirando-o da terra do Egito, destruiu depois os
que não creram;
a. O povo que o Senhor salvou, tirando-os da terra do Egito, é o povo de
Israel que viveu 430 anos no Egito e estava sendo escravizado lá. Esse fato a
que Judas se refere está no livro de Êxodo
1.8-14; 2.23-25; 3.7, 8; 12.37-42.
b. “Judas continua sua argumentação, mencionando a destruição daqueles de
entre os israelitas que não creram em Deus durante os quarenta anos de
peregrinação no deserto”[4] a
caminho da terra prometida. (conf., Hb
3.7-19)
c. Há três episódios daquela época que podem ter vindo a mente de Judas
ao citar a incredulidade do povo – 1º)
Nm 14.22-37 – os espias enviados a
Canaã e seu relatório incrédulo; 2º)
Nm 26.31 – Nadabe e Abiú e o fogo
estranho; ou 3º) Nm 26.9, 10 – Coré na contenda contra Moisés. Ao falar
do castigo de Coré no v.11b, Judas
emprega o mesmo verbo destruir usado no v.5b.
Assim,
de modo milagroso, Deus libertou a nação de Israel da escravidão do Egito (Êx
12.51; Dt 4.34), mas os israelitas responderam com incredulidade, dúvida e
abandono da fé em Deus, que havia prometido levá-los para a Terra Prometida (Nm
13.25-14.4), a ponto de adorar um ídolo que eles mesmos fizeram como também
murmurar contra Deus, em vez de adorá-lo (Êx 16.7-12; 1Co 10.10, 11). Essa
geração apóstata morreu durante os 40 anos de peregrinações pelo deserto (Nm
14.22-30, 35).[5]
O que Judas queria dizer aqui?
Que assim
como Deus puniu severamente aqueles que tentaram afastar o povo de Israel da fé
na promessa e na providência de Deus para a Terra Prometida, Ele vai punir os
falsos mestres que, no meio do povo de Deus, a Igreja, apostataram da fé e
ensinam deturpando a graça de Deus e negando a divindade de Jesus, na tentativa
de desviarem alguns do caminho do Céu.
II. Como Deus puniu a insubordinação dos
anjos caídos – v.6
E aos anjos
que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo
daquele grande dia;
1. v.6a – E aos anjos
que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação...
– Judas, em seu segundo exemplo de que Deus há de punir os ímpios, refere-se
aos anjos rebeldes. Esses anjos são aqueles que caíram com Satanás em sua
rebelião – Is 14.12-15; Ez 28.14-17.
a. Isaías 14.12-15; Ezequiel
28.14-17 – Essas profecias dizem respeito primariamente ao rei de Tiro,
anunciando a sua queda por causa da soberba, mas elas são interpretadas desde a
antiguidade como referências veladas à queda de Satanás. Deus o castigou
imediatamente após, ele, em sua iniquidade, querer tomar o lugar de Deus no
trono do universo e a todos os outros anjos que o acompanharam, despojando-os
do lugar de glória que ocupavam, expulsando-os de sua presença e confirmando
para sempre a decisão que tomaram de rebelar-se contra Deus.[6] (Ap 12.9)
b. O Senhor Jesus falou sobre a queda de Satanás – Lc 10.18; Jo 8.44; Paulo também – 1Tm 3.6; e Pedro – 2Pe 2.4.
c. Os anjos que caíram com Satanás, ao que parece, segundo afirmação de
Judas, se rebelaram contra Deus por estarem insatisfeito com a posição original
de autoridade e poder com a qual foram criados, desejando serem maiores que o
Todo-Poderoso, e assim não guardaram o
seu principado, isto é, não permaneceram dentro dos limites da autoridade
que Deus lhes havia concedido na criação,
mas deixaram a sua própria habitação, não um lugar geográfico, mas o estado
próprio em que foram criados.[7]
2. v.6b – ... reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele
grande dia; – Judas agora declara a
punição que Deus trouxe a esses anjos rebeldes.
a. Primeiro, já que esses anjos não guardaram o seu principado,
mas deixaram a sua própria habitação, Deus, em seu total controle sobre
eles, os reservou ou tem guardado (ARA) “debaixo do seu
poder, confinados por sua vontade, ao que Judas chama de escuridão, um estado de perdição e condenação, alijados do favor de
Deus, sem esperança de arrependimento, retorno ou mudança”[8]. O que
acontecerá também com os falsos mestres combatidos por Judas – v.13.
b. Segundo, a expressão “em
prisões eternas” não se refere a algum lugar físico nos recônditos do
universo, mas figuradamente, ao controle absoluto “de Deus sobre eles e para o
fato de que atualmente estão confinados e limitados pela vontade de Deus, e que
essa determinação é irreversível”[9].
c. Terceiro, a punição final deles e descrita como “até o juízo daquele grande dia” e se
refere ao juízo final onde Satanás, seus anjos rebeldes e seus seguidores serão
julgados e jogados no lago de fogo – Mt
25.41; Ap 20.10-15; Sl 9.17.
O que Judas queria dizer aqui?
Que assim
como Deus não poupou os anjos quando pecaram, isto é, quando se insubordinaram
e se amotinaram contra ele, também não poupará os ímpios que transformam a sua
graça em libertinagem. Deus sempre puniu o pecado, não importando
quem o tivesse cometido.
III. Como Deus puniu a imoralidade de
Sodoma e Gomorra – v.7
Assim como
Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à
fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo,
sofrendo a pena do fogo eterno.
1. v.7a – Assim como
Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas,... – Agora, Judas, usa a
famosa história de Sodoma e Gomorra e das cidades ao seu redor, Admá, Zeboim e Bela, que é a mesma Zoar
(Gn 14.8; 19.23; Os 11.8), que se encontra em Gênesis 18.22-19.29, e que é usada na Escritura mais de 20 vezes
para ilustrar o juízo de Deus durante os dias de Abraão e Ló. Sodoma e Gomorra
eram cidades que estavam localizadas nas campinas do Rio Jordão no extremo
sudeste do Mar Morto – Gn 13.10.
2. v.7b – ... que,
havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne,... –
os moradores daquelas cidades, principalmente os homens de Sodoma e Gomorra,
são descritos em Gênesis como maus e
grandes pecadores contra o Senhor, a ponto de a Escritura afirmar que o
pecado ali tinha se multiplicado e se agravado muito – Gn 13.13; 18.20.
O
pecado predominante naquela região, segundo Judas era a fornicação e a ir após outra
carne. A palavra traduzida por fornicação
por Judas, só aparece aqui no Novo Testamento e se refere a todo o tipo de
imoralidade sexual. Mas, como ele acrescenta e ido após outra carne, a junção dos termos especifica o tipo de
imoralidade sexual que ele tem em mente e que era prevalecente naquelas cidades
– relações sexuais antinaturais –
como é acertadamente traduzida na Versão NVI.
O
termo carne usado aqui, que ocorre três
vezes na carta, se refere em todos os casos ao corpo como instrumento do pecado. (vv.8, 23) Ido após outra
carne, aqui, é mais um eufemismo bíblico. A outra carne é o corpo masculino desejado pelos homens de Sodoma e
das outras cidades, quando deveriam desejar mulheres. Esse pecado está
caraterizado no episódio em que Ló recebe em sua casa os homens enviados da
parte do Senhor, que eram anjos em forma humana, mas os homens da cidade de
Sodoma não sabiam disso – Gn 19.4.
Esse fato deu origem ao adjetivo sodomita,
isto é, o homem que pratica relações sexuais com outro homem. Esse termo ocorre
em Dt 23.18; 1Co 6.9; 1Tm 1.10. E em todos os casos, tanto no hebraico como no
grego, o sentido é de homens que mantêm relações sexuais com homens.[10]
O
que será que gerou aquela situação tão nefasta a ponto de não se encontrar nem
dez homens justos em Sodoma, o que teria poupado a cidade da destruição? Simplesmente
a apostasia do povo, uma vez que a destruição só ocorreu 450 anos depois do
Dilúvio, quando pelo menos um dos filhos de Noé ainda estava vivo (Sem – Gn
11.10, 11), e 100 anos depois da morte de Noé (Gn 9.28), as pessoas tinham
conhecimento da mensagem de justiça e juízo de Deus que Noé havia pregado por
um longo período e, ainda assim, a rejeitaram.
3. v.7c – ... foram
postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. – Sodoma, Gomorra, Admá
e Zeboim ficaram como exemplo pata toda a eternidade do justo juízo de Deus
contra o pecado, no caso específico aqui, todo tipo de imoralidade sexual e,
diretamente, a sodomia. O sinal delas, como está na Escritura, continua a
servir de exemplo ainda hoje.[11]
A
punição delas serve de exemplo do fogo eterno que aguarda os ímpios e os anjos
rebeldes no lago de fogo, um lugar pior que o inferno, segundo a Bíblia em Apocalipse 20.10, 14, 15.
Uma
coisa interessante na Bíblia é que ninguém falou mais desse fogo eterno do que
o próprio Senhor Jesus. Um exemplo está em Mateus
5.22; 25.46.
O que Judas queria dizer aqui?
“A sina de
Sodoma e Gomorra é o último exemplo de Judas, tirado da história bíblica, de
que os falsos mestres haverão de sofrer a punição divina por suas iniquidades.
O seu argumento é poderoso e baseia-se na imutabilidade de Deus, na sua
santidade e na sua disposição de castigar o pecado”.[12]
Concluindo
Que
lições e aplicações podemos tirar, para nós, desses exemplos que Judas nos dá
sobre a punição da incredulidade dos
israelitas errantes, da insubordinação
dos anjos caídos e da imoralidade de
Sodoma e Gomorra?
1ª) Necessitamos crer em Jesus
Cristo como nosso Salvador e nunca nos afastarmos dele, por nenhum motivo ou
circunstâncias adversas da vida.
2ª) Necessitamos reconhecer e
aceitar a vontade de Deus em nossa vida, todos os dias da nossa vida.
3ª) Necessitamos a cada dia de
santidade em nossa vida e isso só ocorrerá quando deliberadamente nos
afastarmos mais e mais de tudo que nos induza ao pecado.
Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira – SP – 28/09/13
[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento
no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1773.
[3] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e
III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 103.
[4] Ibid., p. 103.
[5] MacArthur, p. 1773.
[6] Lopes, p. 106.
[7] Ibid., p. 107.
[8] Ibid., 107.
[10] Ibid., p.110.
[11] Ibid., p. 111.
[12] Ibid., p. 112.
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