segunda-feira, 23 de maio de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (9) - A graça do evangelho da graça

Gálatas 4.21-31

No estudo anterior em Gálatas 4.12-20 com o tema: O ministério do evangelho da graça, expomos o texto e vimos que Paulo colocou seu ministério em risco ao falar a verdade aos gálatas sobre a justificação pela fé somente e sobre o engano do ensino dos judaizantes. Mas, para ele valeu a pena, pois seu objetivo era que Cristo seja formado em vós (v.19).

Hoje, em Gálatas 4.21-31, veremos que “ao continuar comparando graça e lei, fé e obras, nesse trecho de Gálatas, Paulo emprega uma história do Antigo Testamento como uma analogia, ou ilustração, do que vinha ensinando. De modo claro ele confronta os dois filhos de Abraão – Ismael e Isaque”[1].

Paulo está usando seu último argumento para provar a justificação pela graça, mediante a fé, no lugar da salvação pelas obras da lei. O contexto ainda mostra que Paulo está refutando os falsos mestres judaizantes que perturbavam a igreja e adulteravam a verdade. Pois, diante da pressão dos judaístas (6.12,13), os crentes da Galácia já haviam concordado em se deixar circuncidar (5.2). O argumento de Paulo é que quem queria a circuncisão na prática queria a lei (5.3) e queria estar sob a lei (4.21).[2]

John Stott fala que são três os estágios no argumento desse parágrafo: 1º) o histórico – vv.22, 23 – onde Paulo lembra a seus leitores que Abraão teve dois filhos: Ismael, filho de uma escrava, e Isaque, filho de uma mulher livre; 2º) o alegórico – vv.24-27 – quando ele argumenta que esses dois filhos e suas mães representam duas religiões: uma religião de servidão, que é o judaísmo, e uma religião de liberdade, que é o cristianismo; e 3º) o pessoal – vv.28-31 – onde ele aplica a sua alegoria a nós. Se somos cristãos, não somos como Ismael (escravos), mas como Isaque (livres). Finalmente, o apóstolo demonstra o que devemos esperar se nos parecemos com Isaque.[3]

William Barclay diz que, para os rabinos judeus toda passagem da Escritura possuía quatro significados: 1) PeshaP – o significado simples e literal; 2) Remaz – o significado sugerido; 3) Derush – o significado implícito, que se deduzia por investigação; 4) Sod – o sentido alegórico. As primeiras letras dessas quatro palavras – PRDS – são as consoantes da palavra “paraíso” (paradise em inglês), e segundo os rabinos, quando alguém conseguia penetrar esses quatro significados diferentes, alcançava a glória do paraíso.[4]

Alegorizar é procurar um sentido oculto ou obscuro que se acha por trás do significado mais evidente do texto, mas lhe está distante e na verdade dissociado. Em outras palavras, o sentido literal é uma espécie de código que precisa ser decifrado para revelar o sentido mais importante e oculto. Segundo esse método, o literal é superficial, e o alegórico é o que apresenta o verdadeiro significado.[5]

R. E. Howard diz que Paulo usou métodos rabínico sem virtude do seu desejo de enfrentar seus oponentes no nível deles e por ter sido essa sua formação educacional. Dessa forma, nesse caso, a alegoria foi uma ilustração confirmatória da verdade que, por argumentação, Paulo já havia provado convincentemente. Mesmo porque, o texto não endossa o método alegórico como a maneira normativa de interpretarmos as Escrituras. O verdadeiro significado da Escritura é o natural e o óbvio. Certamente Paulo não quis dizer que Moisés escreveu a história para que ela fosse transformada em uma alegoria.[6]

Hoje, nosso tema é: A graça do evangelho da graça. Vamos abordá-lo em três pontos: 1º) Ismael e Isaque – duas realidades espirituais – vv.21-23; 2º) Agar e Sara – duas alianças – vv.24-27; e 3º) Aplicações espirituais – vv.28-31.

I. Ismael e Isaque – duas realidades espirituais – vv.21-23

Paulo ensinou aos irmãos da Galácia que eles passaram à plena condição de filhos de Abraão no momento em que creram em Cristo. Os falsos mestres estavam ensinando que precisavam se submeter a todas as leis do Antigo Testamento, incluindo a circuncisão, para de fato se tornarem filhos de Abraão.

1.    v.21 – Aqui, as palavras de Paulo são endereçadas às pessoas cuja religião é legalista, que imaginam que o caminho a Deus é por meio da observância de certas regras. São indivíduos que transformam o evangelho em lei e supõem que o seu relacionamento com Deus depende de uma obediência restrita a regulamentos, tradições e cerimônias. São até crentes professos, mas que vivem escravizados por esses preceitos. Ele diz que, estar sob a lei é o caminho da servidão, pois a verdade dos fatos é que aqueles que estão sob a lei estão debaixo de escravidão. Isso porque a própria lei da qual querem ser servos se levantará como seu juiz para condená-los.[7]

2.    v.22 – Paulo confronta aqueles que cultivavam uma falsa esperança no seu parentesco com Abraão para dizer que o patriarca tinha dois filhos, porém de mães diferentes e de naturezas diferentes. Ismael era filho de Hagar, uma mulher escrava, e nasceu segundo a carne. Isaque era filho de Sara, a mulher livre, e nasceu segundo a promessa.[8]

3.    v.23 – John Stott diz que Isaque não nasceu segundo a natureza, mas, antes, contra a natureza. Seu pai tinha 100 anos de idade e sua mãe, que fora estéril, tinha mais de 90 anos (cf. Hb 11.11). Ismael nasceu segundo a natureza, mas Isaque contra a natureza, sobrenaturalmente, por meio de uma promessa excepcional de Deus.[9]

Ismael é símbolo da lei, e Isaque é símbolo da graça. Um nasceu segundo a carne, e o outro segundo a promessa. Essas duas diferenças entre os filhos de Abraão, Ismael tendo nascido escravo segundo a natureza, e Isaque tendo nascido livre segundo a promessa, Paulo considera “alegóricas”. Todos são escravos por natureza, até que no cumprimento da promessa de Deus sejam libertados. Portanto, todos são Ismaéis ou Isaques, sejam escravos por natureza ou livres pela graça de Deus.[10] Arival diz que os dois filhos ilustram os nossos dois nascimentos: o nascimento físico e o novo nascimento (Jo 3.6).[11]

Donald Guthrie tem razão em dizer que Ismael foi o resultado da confiança de Abraão no planejamento humano em vez da confiança na promessa de Deus. William Hendriksen diz que, quando Paulo afirma que Ismael “nasceu segundo a carne”, ele tem duas coisas em mente: que Ismael nasceu segundo um propósito carnal (Gn 16.2) e em virtude da capacidade física que Abraão e Hagar tinham (Gn 16.4). Adolf Pohl complementa que Abraão e Sara tentaram empurrar a aliança para a linhagem de Ismael e é nesse sentido que agem “segundo a carne”, a saber, distantes de Deus.[12]

Warren Wiersbe diz que Isaque ilustra o cristão em vários aspectos: ele nasceu pelo poder de Deus, trouxe alegria, cresceu e foi desmamado, e acabou perseguido.[13] As bênçãos espirituais são dádivas da graça, e não resultado do esforço humano. As riquezas eternas são confiadas aos filhos, ou seja, aqueles que recebem a Cristo como Salvador, e não aos escravos que vivem sob a tirania da lei (Rm 8.17).[14]

II. Agar e Sara – duas alianças – vv.24-27

Tendo apresentado Ismael e Isaque como dois filhos de Abraão, representando aqueles que vivem na escravidão sob a lei e aqueles que vivem na liberdade sob a graça, Paulo agora apresenta as duas mulheres de Abraão, bem como as duas Jerusaléns, símbolos da antiga e da nova aliança. Assim, as duas mulheres, Hagar e Sara, bem como as duas Jerusaléns, a terrena e a celestial, representam as duas alianças, a antiga e a nova.[15]

1.    vv.24, 25 – Hagar é a mulher escrava que gera para a escravidão. Ela é tipificada pelo monte Sinai e pela Jerusalém terrena. Representa aqueles que confiam na lei para a sua salvação. Cinco vezes nesta seção, Hagar é chamada de “escrava” (4.22, 23, 30, 31). Hagar não era mulher de Abraão, mas foi dada a ele como tal, para dessa relação temporária nascer um filho, com a vã expectativa de que fosse o filho da promessa.[16]

Warren Wiersbe tem razão quando diz que Hagar tentava fazer o que só Sara poderia realizar, e por isso fracassou. A lei não pode dar vida (3.21), nem justiça (2.21), nem o dom do Espírito (3.2), nem uma herança espiritual (3.18). Isaque era o herdeiro de Abraão, mas Ismael não participou dessa herança (Gn 21.10). Portanto, Hagar, a escrava, é o monte Sinai e a Jerusalém atual. Ela é o símbolo da antiga aliança, na qual o homem está debaixo da lei e é escravo dela.[17]

2.    vv.26, 27 – Sara, a mulher livre, é símbolo da Jerusalém lá do alto. E a mãe de todos os filhos da promessa, aqueles que nasceram do Espírito. Sara é o símbolo daqueles que nasceram do alto, de cima, do Espírito. Os filhos de Sara têm o céu como origem e destino. Eles nasceram do céu, são cidadãos do céu, estão-se preparando para o céu e irão para o céu. Sara representa todos aqueles que foram salvos pela fé em Cristo, independentemente das obras da lei.[18]

R. E. Howard conclui esse ponto, dizendo que a comunidade judaica (que vive pela lei) é filha da Jerusalém na Palestina, mas a comunidade cristã (que vive pela fé) é filha da Jerusalém eterna.[19]

Portanto, a lei não pode dar vida nem fertilidade; o legalismo é estéril. Se as igrejas tivessem capitulado ao legalismo, teriam ficado estéreis, mas, porque permaneceram firmes na graça, mostraram-se prolíficas e se propagaram por todo o mundo.[20]

III. Aplicações espirituais – vv.28-31

Paulo evoca os eventos históricos, explica-os e agora faz as devidas aplicações.[21]

1)   Paulo faz uma declaração categórica – v.28. Paulo chama os crentes da Galácia de irmãos e diz a eles que, embora pressionados e seduzidos pelos falsos mestres, eles eram filhos da promessa, haviam nascido do Espírito, e não da carne, mas sobrenaturalmente. Eram membros da família de Deus, e não apenas adeptos de uma religião legalista.

2)   Paulo fala de uma certeza esclarecedora – v.29. Os legalistas sempre se levantaram, se levantam e se levantarão para perseguir a igreja de Deus. Essa tensão jamais deixou de existir. E uma guerra sem trégua. John Stott tem razão quando afirma que a perseguição da verdadeira igreja, a descendência espiritual de Abraão, nem sempre vem do mundo, mas dos religiosos, ou seja, da igreja nominal, os filhos de Ismael.

3)   Paulo fala de uma ordem expressa – v.30. Assim como Sara deu ordem a Abraão para lançar fora de casa Hagar e Ismael, também devemos lançar fora da nossa vida espiritual toda espécie de legalismo carnal. Warren Wiersbe acertadamente escreve: E impossível a lei e a graça, a carne e o Espírito entrarem em acordo e conviverem. Deus não pediu a Hagar e a Ismael que voltassem de vez em quando para fazer uma visita; foi um rompimento permanente. Os judaizantes do tempo de Paulo - e de nossos dias - tentam conciliar Sara com Hagar e Isaque com Ismael, uma conciliação contrária à Palavra de Deus. E impossível misturar a lei com a graça, a fé com as obras e a justificação que Deus concede com a tentativa humana de merecer a justificação.

4)   Paulo fala de uma constatação inequívoca – v.31. Paulo conclui seu argumento demolidor dizendo para os crentes da Galácia que somos filhos da graça, e não da lei; de Sara, e não de Hagar; da livre, e não da escrava. Consequentemente, nossa conduta deve expressar nossa fé. Se somos filhos da livre, devemos tomar posse da nossa liberdade em vez de viver como escravos, pois apenas em Cristo podemos herdar as promessas, receber a graça e desfrutar da liberdade de Deus.

Concluindo

A graça do evangelho da graça está em que:

1)   Deus salva o pecador, seja ele quem for – religioso legalista ou sem religião.
2)   A graça de Deus é absolutamente suficiente para a salvação.
3)   A graça de Deus recebida pela fé torna os crentes em filhos de Deus e livres da condenação da lei e do pecado.


Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 21/05/16



[1] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 67.
[2] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade, Editora Hagnos, p. 197, 198.
[3] Lopes, p. 198, 199.
[4] Lopes, p. 199.
[5] Lopes, p. 199.
[6] Lopes, p. 200.
[7] Lopes, p. 198.
[8] Lopes, p. 200.
[9] Lopes, p. 200.
[10] Lopes, p. 201.
[11] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas & Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 19.
[12] Lopes, p. 202.
[13] Lopes, p. 203.
[14] Lopes, p. 204.
[15] Lopes, p. 204.
[16] Lopes, p. 205.
[17] Lopes, p. 206, 207.
[18] Lopes, p. 207.
[19] Lopes, p. 206.
[20] Lopes, p. 210.
[21] Lopes, p. 201-213. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.

domingo, 15 de maio de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (8) - O ministério do evangelho da graça

Gálatas 4.12-20

No estudo anterior em Gálatas 4.1-11 com o tema: A condição do homem – sob a lei e em Cristo. Abordamos o assunto em três pontos: 1º) A condição do homem sob a lei e sob o mundo (escravizados)judeus e gentiosvv.1-3; 2º) A condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentiosvv.4-7; e 3º) Uma exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristãvv.8-11.

Terminamos com três aplicações práticas: 1ª) Toda a pessoa tem a liberdade de ter e mudar de religião; 2ª) A doutrina da adoção pela graça, nos coloca na posição de filhos de Deus; e 3ª) Se somos filhos de Deus, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.

Hoje, em Gálatas 4.12-20, veremos que Paulo se volta para o passado, para o tempo em que seu ministério do evangelho florescia na Galácia e o relacionamento entre ele o os novos irmãos dali era sadio. Portanto, há princípios sobre o ministério do evangelho e os relacionamentos, aqui, para aprendermos.

William Hendriksen considera essa uma das passagens mais emocionantes de todas as epístolas de Paulo. John Stott diz que em Gálatas 1-3 vemos Paulo, o apóstolo, o teólogo, o defensor da fé; agora vemos Paulo, o homem, o pastor, o apaixonado das almas. Warren Wiersbe realça que Paulo equilibra aqui repreensão e amor, passando das “palmadas” para os “abraços”. Para William Barclay, Paulo usa aqui o argumento do coração em vez de usar o argumento do intelecto.[1]

A passagem nos mostra um relacionamento cada vez mais profundo, um amor cada vez mais acendrado. Todo esse parágrafo enfatiza relacionamentos. Nos versículos 12 a 16 Paulo enfatiza a atitude dos gálatas para com ele, e nos versículos 17 a 20 sua própria atitude para com eles.[2]

Na verdade, até este ponto, a abordagem de Paulo foi impessoal e de confronto. Ele escreveu como um estudioso ou orador, utilizando argumentos e ilustrações para tornar sua mensagem compreensiva. Ele fez uso tanto da própria experiência como da dos gálatas para reforçar seu ensino. A abordagem do apóstolo muda dramaticamente em 4.12, passando da forma puramente doutrinária para a mais pessoal. De fato, nos versículos 12 a 20, Paulo faz uso de palavras mais fortes de afeição pessoal, se comparadas com as utilizadas em suas outras cartas.[3]

Timothy Keller vê três coisas nos vv.12, 13, sobre o ministério do evangelho: 1ª) O ministério do evangelho é culturalmente flexível; 2ª) O ministério do evangelho é transparente; e 3ª) O ministério do evangelho procura oportunidades na adversidade.[4]

vv.13 e 14 – Hernandes Dias Lopes fala de duas verdades que merecem destaque:

1ª) Paulo estava enfermo, porém não inativov.13. A enfermidade de Paulo enfraquecia seu corpo e doía em sua carne, mas não paralisava seus pés nem fechava seus lábios. A doença de Paulo não o tornou inativo; apenas mais quebrantado e dependente da graça. E provável que essa doença seja o mesmo espinho na carne mencionado em 2Coríntios 12.7. Possivelmente a enfermidade de Paulo era um problema de oftalmia, ou seja, um problema de visão.[5] (cf. At 9.8, 9, 17, 18; Gl 4.15; 6.11; At 23.1-5)

2ª) Paula estava enfermo, porém não rejeitadov.14. A doença de Paulo não foi um impedimento para o apóstolo nem uma barreira para as igrejas da Galácia. Estes, ao contrário, acolheram-no como um enviado de Deus, como um anjo de Deus, como um embaixador em nome de Cristo, como se fosse o próprio Cristo. Warren Wiersbe corretamente diz que é maravilhoso quando as pessoas aceitam os servos de Deus não em função de sua aparência exterior, mas sim porque são representantes do Senhor e trazem consigo a mensagem dele.[6]

vv.14b, 15 – Duas atitudes marcaram os crentes da Galácia nessa acolhida a Paulo, quando ele lhes pregou o evangelho pela primeira vez: Em primeiro lugar, Paulo foi recebido com honrav.14b; e em segundo lugar, Paulo foi recebido com empatia – v.15.

vv.16-18 – Dois pontos em destaque na rejeição de Paulo pelos gálatas:

1º) Paulo é considerado inimigo por causa da verdadev.16. A verdade que fere a consciência é o remédio que traz cura, mas o bálsamo da mentira é o veneno que mata. João Calvino diz que a verdade nunca é detestável, exceto em face da perversidade e malícia daqueles que não suportam ouvi-la. O ódio pela verdade transforma amigos em inimigos.[7]

2º) Paulo é abandonado por causa dos falsos mestresvv.17, 18. O propósito desses falsos mestres era afastar os crentes de Paulo e consequentemente da verdade do evangelho. Eles queriam que os crentes fossem fiéis a eles, e não a Cristo. Calvino diz que esse é o estratagema comum a todos os ministros de Satanás. Ao produzirem nas pessoas um desgosto por seu pastor, esperam, depois, atraí-las para si mesmos.[8]

vv.19, 20 – Quatro verdades podemos aprender aqui, com Paulo, sobre o ministério:

1ª) Um pastor deve aprofundar seus relacionamentos com os irmãosv.19a. Paulo, num tom pastoral, cheio de ternura, os chama de irmãos (v.12), filhos (v.19) e apresenta-se a eles como uma mãe (v.19). William Barclay diz que ninguém pode deixar de ver o profundo afeto dessas palavras: “Meus filhos”.[9]
2ª) Um pastor deve gerar filhos espirituaisv.19b. Paulo agoniza pelos crentes da Galácia até o fim, comparando seu sofrimento às dores de parto.[10]

3ª) Um pastor deve buscar a maturidade dos crentesv.19c. Paulo não se satisfaz em que Cristo habite neles; anseia ver Cristo formado neles e vê-los transformados à imagem de Cristo. Portanto, qualquer sistema religioso que não produza o caráter de Cristo na vida de seus adeptos não é totalmente cristão.[11]

4ª) Um pastor deve se preocupar com a imaturidade dos crentesv.20. Paulo não pode entender como eles saíram da escravidão dos deuses falsos para outra escravidão, a escravidão do legalismo judaico. Não consegue entender como eles deixaram a verdade para abraçar a mentira; como abandonaram seu pastor para dar guarida às bajulações dos falsos mestres. Calvino diz que, se os ministros do evangelho querem fazer alguma coisa, devem esforçar-se para formar a Cristo, e não eles próprios, em seus ouvintes.[12]

Concluindo

Paulo colocou seu ministério em risco ao falar a verdade aos gálatas sobre a justificação pela fé somente e sobre o engano do ensino dos judaizantes. Mas, para ele valeria a pena isso, pois seu objetivo era que Cristo seja formado em vós (v.19).

E nós, o que estamos dispostos a fazer pelo ministério do evangelho da graça de Deus?

Pr. Walter Almeida Jr.



[1] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade, Editora Hagnos, p. 183, 184.
[2] Lopes, p. 184.
[3] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 61.
[4] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015, p. 115, 116.
[5] Lopes, p. 187.
[6] Lopes, p. 188, 189.
[7] Lopes, p. 190.
[8] Lopes, p. 191.
[9] Lopes, p. 192.
[10] Lopes, p. 193.
[11] Lopes, p. 193, 194.
[12] Lopes, p. 195.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (7) - A condição do homem – sob a lei e em Cristo

Gálatas 4.1-11

No estudo anterior em Gálatas 3.1-29 com o tema: A justificação pela fé é suficiente para a salvação, vimos os três argumentos paulinos para provar a suficiência da justificação pela fé: 1º) O argumento da experiência pessoal dos gálatasvv.1-5; 2º) O argumento do Antigo Testamento vv.6-14; e 3º) O argumento da Aliança e da Leivv.15-29.

Terminamos com três aplicações práticas: 1ª) As promessas e alianças incondicionais feitas por Deus são irrevogáveis; 2º) A lei nunca teve o poder de justificar o pecador, mas apenas de mostrar o seu pecado e apontar para Cristo o único justificador capaz; e 3º) Em Cristo somos todos herdeiros da promessa de Deus.

Hoje, em Gálatas 4.1-11, veremos que Paulo não muda sua defesa da justificação pela fé, ou seja, ele dá “continuidade ao argumento básico de que a salvação não é obtida por mérito humano, mas unicamente pela soberana graça de Deus por meio da fé”[1].

Paulo faz um contraste entre a condição do homem sob a lei (vv.1-3) e a sua condição em Cristo (vv.4-7), fundamentando nesse contraste uma exortação quanto à vida cristã (vv.8-11).[2]

Timothy Keller diz que, se quisermos entender quem é o cristão e porque ser cristão é um privilégio, temos de saber dar valor à adoção divina. Por meio do Filho de Deus, tornamo-nos filhos de Deus por direito legal (vv.4, 5), recebendo um novo status; e, por meio do Espírito, tornamo-nos filhos de Deus por experiência (vv.6, 7).[3]

Nosso tema de hoje é: A condição do homem – sob a lei e em Cristo. O abordaremos em três pontos: 1º) A condição do homem sob a lei e sob o mundo (escravizados)judeus e gentiosvv.1-3; 2º) A condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentiosvv.4-7; e 3º) Uma exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristãvv.8-11.

I.  A condição do homem sob a lei e sob o mundo (escravizados) – judeus e gentios – vv.1-3

Paulo usa o seu conhecimento da lei romana para mostrar a relação do homem com a lei mosaica, tanto judeus como gentios. Ele usa a imagem da criança que herda uma grande propriedade. A criança romana que herdava alguma coisa dependia de tutores até os 14 anos e, de certa forma, continuava dependendo de administradores até os 25 anos. Só então o jovem podia exercitar o controle completo e independente do seu patrimônio.[4]
Primeiro, Paulo fala da condição dos judeus que estão debaixo da escravidão da lei. Ele argumenta que sob a lei, os judeus eram como crianças ou servos (escravos), herdeiros menores que não podiam desfrutar da herança[5]vv.1, 2.

Segundo, Paulo fala da condição dos gentios que são escravos espirituais antes de se achegarem a Cristo (v.3). Em certo sentido, todos se encontram debaixo da lei, mesmo que nunca tenham ouvido falar da Bíblia ou de Moisés. Por que? Porque todos tentam desesperadamente viver à altura de determinados padrões. Todos são ansiosos e vivem sobrecarregados de pelas preocupações da vida. O relacionamento com o divino é distante e inexistente.[6]

Hernandes fala de três coisas no v.1: 1ª) v.1aHerdeiro, porém não livre; 2ª) v.1bHerdeiro, porém não dono de fato; 3ª) v.1cHerdeiro, porém não ainda.[7]

William Hendriksen diz que, assim como um menino desprovido de maturidade deve ser governado por regras e prescrições, também nós, antes que chegasse a luz do evangelho, estávamos escravizados aos rudimentos do mundo.[8]

II. A condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentios – vv.4-7

A escravidão do pecado é o estado natural do ser humano. Mas, na história e na experiência humana, Deus enviou seu Filho:

PrimeiroDeus enviou seu Filho na plenitude dos tempos (v.4a) – A vinda de Cristo ao mundo não foi casual. Ele veio na plenitude do tempo, o tempo predeterminado pelo Pai (v.2). Fritz Rienecker e Cleon Rogers enfatizam com razão: Deus preparou o mundo para a vinda de seu Filho naquela data específica da história. Isso indica que Deus é o Senhor da História e que age neste mundo para levar a cabo seus propósitos. Adolf Pohl disse: Não foi o tempo que colocou Deus em movimento, para que os povos estivessem maduros ou uma lei numérica se manifestasse, mas foi Deus quem fez o tempo andar. Tudo foi planejado desde a eternidade. A vinda de Cristo ao mundo fazia parte da agenda celeste, de um calendário estabelecido pelo próprio Deus Pai, que marcava a conclusão da antiga era e a aurora da nova.[9]

SegundoDeus enviou seu filho nascido de mulher (v.4b) – Isto é, um ser humano de verdade. “Precisava ser Deus para oferecer um sacrifício perfeito e de valor infinito, e também precisava ser homem, para nos representar. William Hendriksen esclarece que, para nos salvar, Jesus Cristo precisava ter em uma só Pessoa tanto a natureza divina como a humana; a divina para poder dar a seu sacrifício um valor infinito; e a humana, porque, já que foi um homem, Adão, que pecou, um homem devia pagar pelo pecado e entregar sua vida a Deus em perfeita obediência”[10].
TerceiroDeus enviou seu Filho nascido sob a lei (v.4c) – Calvino disse: O Filho de Deus, que por direito era isento de toda sujeição, tornou-se sujeito à lei. Por quê? Ele fez isso em nosso lugar, a fim de obter a liberdade para nós. Um homem livre, ao constituir-se fiador, redime o escravo; ao pôr em si mesmo as algemas, ele as tira do outro. De modo semelhante, Cristo decidiu tornar-se obrigado a cumprir a lei, a fim de obter isenção para nós.[11]

QuartoDeus enviou seu Filho para remir (resgatar) os que estavam debaixo da lei (v.5a) – O nosso resgate foi o propósito da vinda de Cristo ao mundo (1.4; 3.13; 4.5). Avinda de Cristo ao mundo foi uma missão resgate, o qual se deu por meio de sua morte. O propósito de Deus de enviar seu Filho ao mundo foi não apenas nos libertar do maior mal, mas também abençoar-nos com o maior bem. A palavra “resgatar” significa libertar mediante um preço. O Filho de Deus, então, como nosso fiador, representante e substituto, assumiu o nosso lugar, pagou o nosso resgate com o seu sangue e nos livrou do cativeiro da lei e de sua maldição. A redenção tem um aspecto duplo: a libertação da escravidão à lei e a libertação para alguma coisa melhor – neste caso, para a filiação.[12]

A vinda do Filho de Deus produziu quatro gloriosos resultados. Porque Jesus veio ao mundo, quatro coisas acontecem com os crentes: 1ª) Os crentes são adotados como filhos de Deusv.5b; 2ª) Os crentes recebem o Espírito Santov.6a; 3ª) Os crentes recebem acesso direto a Deus (intimidade)v.6b; e 4ª) Os crentes se tornam herdeiros de Deusv.7.

III. Uma exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristã – vv.8-11

1. vv.8-10 – John Stott sintetiza esse apelo de Paulo aos gálatas: Se vocês eram escravos e agora são filhos, se não conheciam a Deus, mas agora vieram a conhecê-lo e são conhecidos dele, como podem retornar à antiga escravidão? Como podem deixar-se escravizar pelos espíritos muito elementares dos quais Jesus Cristo os resgatou? Warren Wiersbe diz que os gálatas largaram a escola da graça para se matricular no jardim da infância da lei. Abriram mão da liberdade em troca da servidão. Desistiram do poder do evangelho em troca da fraqueza da lei; abdicaram da riqueza do evangelho em troca da pobreza da lei.[13]

2. v.11 – Paulo expressa aqui uma frustração sincera em relação atitude dos gálatas. O abandono do verdadeiro evangelho por outro evangelho (1.6) e o abandono da liberdade da graça para a escravidão do legalismo (4.9) eram processos em andamento na igreja da Galácia. Paulo estava vendo seu trabalho missionário ser esvaziado pela influência nociva dos falsos mestres judaizantes; em vez de crescerem na liberdade com a qual Cristo os libertara, os crentes deslizavam de volta à antiga escravidão, embora a vida cristã seja a vida de filhos, e não de escravos; de liberdade, e não de escravidão.[14]

Concluindo

Três aplicações:

1)   Toda a pessoa tem a liberdade de ter e mudar de religião.
2)   A doutrina da adoção pela graça, nos coloca na posição de filhos de Deus.
3)   Se somos filhos de Deus, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.

Três perguntas para refletirmos:

1)   Será que uma pessoa que conhece verdadeiramente a Cristo, o abandona?
2)   Qual a importância de lembrarmos daquilo que éramos antes de conhecer a Jesus?
3)   Qual o futuro dos filhos de Deus?

(Cf. Jo 6.66-71; Dt 15.15; 1Jo 3.1-3)


Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 08/05/16



[1] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 53.
[2] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da Liberdade Cristã, Editora Hagnos, 2011, p. 164, 165.
[3] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015, p. 93.
[4] Keller, p. 100.
[5] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas & Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 17.
[6] Keller, p. 101.
[7] Lopes, p. 167.
[8] Lopes, p. 168.
[9] Lopes, p. 170.
[10] Lopes, p. 171.
[11] Lopes, p. 172.
[12] Lopes, p. 173.
[13] Lopes, p. 176.
[14] Lopes, p. 179.