domingo, 22 de fevereiro de 2015

Estudos Bíblicos da Fé Batista Livre - Introdução ao Estudo da Doutrina Batista Livre

Deuteronômio 32.1-4

A partir de hoje, vamos estudar os vinte e dois capítulos da declaração doutrinária dos Batistas Livres, em doze lições. Faremos isso com base no Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil[1], na segunda parte intitulada de A Fé dos Batistas Livres do Brasil, e nas lições do Pr. Robert E. Picirilli[2], traduzidas pelo Pr. Kenneth Eagleton[3].

Mas, antes de caminharmos nos estudos da doutrina, vamos olhar de forma panorâmica a história dos Batistas Livres, citando apenas os pontos importantes, como introdução ao estudo da fé Batista Livre.

Veremos isso em três pontos: 1º) A história dos Batistas; 2º) Os Batistas Livres; e 3º) As doutrinas que vamos estudar.

I. A história dos Batistas

Entre os séculos XV e XVI surge na Europa o movimento da Reforma, pela insatisfação com o desvio da Igreja Católica Romana e a deterioração das verdades bíblicas da fé. Nesse momento de profunda inquietação espiritual começaram a se levantar vozes que pediam que a Igreja voltasse ao Cristianismo das Escrituras. Do ponto de vista da fé, a Reforma se definia pelos seguintes lemas: “Somente as Escrituras”, “Somente a fé”, “Somente a Graça”, “Somente Cristo”, e “Somente a Deus Glória”. E posteriormente “uma igreja reformada está sempre se reformando”.

O movimento foi liderado por homens como Lutero, na Alemanha; Zwinglio, no norte da Suíça; Calvino, em Genebra; também os Valdenses e Huguenotes na França, além de outros. Uma data considerada marcante é 31 de Outubro de 1517, quando Lutero afixou na porta da Igreja em Wittenberg suas 95 teses contra a venda de indulgências.

Na Inglaterra, a volta à Bíblia já vinha sendo pregada desde o século XV por John Wycliffe, pedindo correções nas doutrinas da Igreja.  Outra influência foi William Tyndale (1494-1536) que traduziu o Novo Testamento para o Inglês, também desejoso de reformar a Igreja. Foi nessa época que os sábios das universidades inglesas de Oxford e Cambridge leram e foram influenciados pelas obras de Lutero.

Durante esses anos de reforma e turbulência na Inglaterra, surgiram grupos que não estavam satisfeitos, mesmo, com as reformas introduzidas na Igreja Anglicana. Eles queriam uma Igreja mais pura do ponto de vista bíblico. E por isso foram chamados de Puritanos. Entre os Puritanos havia alguns que queriam não somente uma reforma doutrinaria baseada na Bíblia, mas também queriam uma Igreja independente do Estado. Esses Puritanos foram chamados de Separatistas. O entendimento dos Separatistas era que a Igreja precisava buscar o modelo Apostólico de Igreja conforme o ensino do Novo Testamento na Bíblia.  E, pelo Novo Testamento entenderam que a Igreja não podia estar ligada ou submissa ao Estado, e nem a fé ser imposta por leis. Eles argumentavam que ninguém deveria tornar-se cristão por força, mas sim por crer de livre consciência.

Assim, em torno de 1600, nasceu na Inglaterra um movimento liderado por um sacerdote, John Smith, e um advogado, Thomas Helwys, ambos líderes da igreja naquele país. Ameaçados, inclusive pelo monarca, o Rei James I, o movimento considerado separatista passou a sofre perseguição e, juntamente com outras quarenta pessoas, Smith e Helwys, mudaram-se para a Holanda em 1607. Essa mudança possibilitou o contato com o ensino do teólogo holandês Jacob Arminius (Jacó ou Tiago Armínio), pai do Arminianismo, em contraste com a linha do teólogo francês João Calvino, pai do Calvinismo.[4]

Na Holanda, assim como na Suíça e sul da Alemanha, havia surgido um movimento reformador chamado Anabatistas (rebatizadores). Era um movimento que tinha suas variações, mas que na sua essência pregava uma volta às Escrituras, bem como o batismo apenas de quem podia professar a fé por si mesmo, e por isso se opunham ao batismo infantil.

Em 1609, como resultado da busca pela liberdade religiosa e do ensino de Armínio, nasceu, em Amsterdã, na Holanda, a primeira Igreja Batista. A transição ocorreu, então, da Igreja Anglicana para o movimento Puritano, para o Movimento Separatista, para o Anabatista e, finalmente, para o Batista Geral (Batista do Livre Arbítrio).[5]

Por divergências no campo teológico, Smith e Helwys, se separaram. Esse rompimento fez com que Helwys e uma pequena congregação retornassem a Inglaterra, logo após a publicação, em 1611, da primeira confissão de fé batista, a Declaração de Fé do Povo Inglês Remanescente de Amsterdã.[6]

Assim, em 1612, sob a liderança do Dr. Thomas Helwys, é fundada em Spitalfield, nos arredores de Londres, uma igreja com as características já bem definidas do movimento que seria denominado de Batista. Os participantes desse movimento inicial afirmaram a Bíblia como a autoridade maior e final da verdade Divina. Baseados nela criam e pregavam a salvação pela graça, recebida apenas pela fé no perdão vindo do sacrifício de Cristo. Sendo a graça recebida pelo crer, afirmavam a vida cristã como uma experiência livre da consciência de cada pessoa. Por isso defendiam que a fé e a Igreja cristã deveriam ser independentes, e exigiam do governo a liberdade de consciência e de culto. Esse grupo foi chamado, também, de Batistas Gerais por aceitarem o ensino de Armínio sobre a salvação.

Por volta de 1616, Henry Jacob, pastor Separatista, de linha puritana, fundou uma Igreja Independente em Londres. Em 1633 em uma segunda divisão daquela igreja, um grupo, na defesa do batismo somente de crentes e por imersão, se juntou ao Pr. John Spilsbury e fundaram uma Igreja Calvinista que foi chamada de Particular e considerada por uma linha de historiadores como a primeira igreja calvinista naquele lugar e de linha batista. Deles, o início do grupo chamado de os Batistas Particulares.

Assim, o movimento Batista continuou a crescer e em 1660 havia 300 igrejas na Inglaterra, agrupando-se nesses dois ramos, os gerais e os particulares, dependendo da posição que tinha sobre a doutrina da eleição.  Em 1834 é organizada a primeira Igreja Batista na Alemanha, e de lá o movimento se espalhou para a Escandinávia e Europa Oriental.

Convém citar que o nome Batista começou a ser usado definitivamente entre 1640 e 1650. Antes essas igrejas eram chamadas de “Os Irmãos”, “Igrejas Batizadas” ou “Igrejas de modo Batizadas”.

Muitos grupos Batistas, desejando uma liberdade que não tinham na Europa, imigraram para a colônia americana (EUA). Eles vinham da Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda.  Mais tarde outros vieram da Alemanha.

II. Os Batistas Livres

O Pr. Roger Williams, para escapar da perseguição religiosa, imigrou da Inglaterra para a colônia americana em 1631, estabelecendo-se em Massachusetts (hoje um estado). Em 1636 ele fundou a colônia de Rhode Island (hoje outro estado americano), e lá a cidade de Providence, onde colocou no documento de sua fundação a declaração de liberdade religiosa.  Roger Williams organizou a Primeira Igreja Batista de Providence em 1639 e outro ilustre servo de Deus, o batista John Clark, organizou a Igreja Batista de Newport, também em Rhode Island conhecida desde 1648, ambas de linha Batista Geral, isto é, de linha teológica arminiana.

Embora as igrejas batistas que estavam sendo plantadas nos Estados Unidos fossem de linha arminiana, com o nome batista livre, só em 1727 foi organizada a Primeira Igreja Batista Livre sob o ministério do Pr. Paul Palmer, no condado de Chowan, na Carolina do Norte.

Embora a grande força do movimento se concentrasse na região das Carolinas, ao sul, Batistas do Livre Arbítrio no sudeste também eram encontrados, em particular nos estados da Geórgia, Alabama, Florida e Tennesse.[7]

Em 1935, depois de muitas lutas, perdas e vitórias, os que se mantiveram firmes como batistas livres, representantes do Norte e do Sul, organizaram a Associação Nacional do Batistas Livres dos Estados Unidos. Essa associação adotou o Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres, que constitui a exposição do entendimento que os Batistas Livres têm sobre as Sagradas Escrituras. O Manual é, portanto, o conjunto das doutrinas Batistas Livres e reflete a posição oficial da denominação.[8]

A partir de 1935 a denominação deu início, também, a um movimento de expansão de fronteiras com a criação da Junta de Missões Estrangeiras. A sua primeira missionária foi Laura Belle Barnard, que foi enviada para a Índia. Em 1936, Thomas Willey e sua família foram enviados para o Panamá, que em 1939 foram para Cuba. Nos anos 50 os Batistas livres foram para o Japão, para Costa do Marfim (África) e vieram para o nosso Brasil. Nos anos 60 foram para o Uruguai e voltaram para o Panamá. Na década de 70 foram para a França e a Espanha. Nos anos 90 os Batistas Livres da Índia enviaram missionários para o Nepal. Em 2007 chegamos na Bulgária. E, a partir daí, não paramos de enviar missionários para todas as partes do mundo onde Deus abre as portas.

Aqui no Brasil as Igrejas Batistas Livres foram organizadas a partir de 1958, com a Primeira Igreja Batista Livre de Campinas sendo a primeira delas. Hoje temos Igrejas no sudeste e uma congregação em Brasília, Distrito Federal.

III. As doutrinas que vamos estudar

Três perguntas: 1ª) O que é a doutrina batista livre? 2ª) Que tipo de doutrinas encontramos no Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres? e 3ª) Em que doutrinas os batistas livres diferem das outras denominações?

1. O que é a Doutrina Batista Livre?

Em resumo, é o corpo de crenças que unem os Batistas Livres em uma denominação. Estas crenças indicam o nosso entendimento das verdades básicas da fé cristã como encontradas na Bíblia. Elas são mencionadas sucintamente no Manual que citei acima, um documento que expressa nossos ensinamentos, sem modificações desde a organização da Associação Nacional do Batistas Livres dos Estados Unidos (National Association of Free Will Baptists) em 1935.[9] O Manual “é a expressão do nosso entendimento do ensino das Escrituras, sendo, no entanto, necessariamente submisso à Bíblia[10].

2. Que tipo de doutrinas encontramos no Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres?

No Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres há dois tipos de doutrinas:[11]

1º) Temos as doutrinas que são comuns entre nós e os cristãos de outras denominações. Não achamos que uma pessoa precisa ser Batista Livre para ser considerada cristã. Reconhecemos que há muitas denominações que diferem conosco em vários pontos de doutrina, mas que todos os cristãos concordam em um maior número de pontos do que discordam.

Talvez você já tenha ouvido alguém dizer que poderiam se tornar cristão se todos os cristãos concordassem entre si. Na verdade, os cristãos realmente concordam com as principais doutrinas da fé. Concordam em quem é Deus, na pecaminosidade humana e na necessidade de salvação, em como Deus providenciou salvação pela obra redentora de Jesus Cristo, na importância do viver santo e no destino final dos redimidos e dos perdidos. Todos os cristãos que levam a sério a Bíblia como sendo a Palavra de Deus falam com uma só voz sobre tais assuntos.

2º) Há também algumas doutrinas nas quais os Batistas Livres creem e nas quais nem todos os cristãos concordam. Estas (ou uma combinação específica delas) são as crenças que nos tornam distintos dos cristãos de outras denominações, inclusive alguns tipos de batistas. Estes são os distintivos denominacionais.

Somos uma denominação e não temos vergonha disto. Afinal, a palavra denominação simplesmente significa nome. Denominações não são uma maldição, como dizem alguns. Elas oferecem uma maneira conveniente para que aqueles que têm a mesma visão das coisas possam se reunir e trabalhar juntos.

3. Em que doutrinas os Batistas Livres diferem das outras denominações?

Colocando de outra forma: Quem são os Batistas Livres? Vamos ver um breve esboço para ajudá-lo a entender como nos encaixamos naquela comunidade ampla de pessoas que usam o nome cristão.[12]

1º) Somos cristãos – isso nos distingue dos cristãos nominais, pois cremos e defendemos as doutrinas fundamentais e históricas da fé cristã como têm sido expressas nos principais credos do cristianismo ortodoxo.

2º) Somos cristãos Protestantes – isso nos distingue dos ramos do cristianismo da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa. Esta é a herança da liberdade de consciência diante de Deus, sendo cada cristão um sacerdote diante Dele.

3º) Somos cristãos fundamentais – isso nos distingue dos liberais, pois levamos a sério a Bíblia como a Palavra de Deus e as crenças históricas da fé cristã. Para nós a Bíblia é a única regra de fé e prática.

4º) Somos cristãos arminianos – isso nos distingue dos cristãos calvinistas, pois cremos e defendemos teologicamente, o ensino do teólogo da Reforma, James Arminius (Jacó ou Tiago Armínio) em sua visão de como a salvação é providenciada e obtida. O Arminianismo da Reforma, ou seja, os pontos de vista do próprio Armínio e seus defensores originais. Arminianos, no entanto, creem que Jesus morreu por todos e que Deus escolheu salvar todos os que creem.

5º) Somos cristãos batistas – isso nos distingue de todas as denominações que não são batistas. Historicamente defendemos a posição de liberdade de cada cristão individualmente como crente-sacerdote, a liberdade de cada igreja local para administrar os seus próprios negócios, batismo apenas para aqueles que têm capacidade de compreensão para tomar uma decisão pessoal por Cristo e a imersão como sendo o modo mais propício de respeitar o simbolismo do batismo.

Concluindo

Para nós cada pessoa é livre perante Deus, em todas as questões de consciência, e tem o direito de abraçar ou rejeitar a religião, bem como de testemunhar de sua fé religiosa, respeitando os direitos dos outros.

Mantemos um corpo de confissões teológicas comumente chamadas de fé da reforma – aquelas verdades da Palavra de Deus que foram afirmadas pela igreja primitiva e reavivadas pela Reforma Protestante. Verdades Bíblicas, tais como Sola Fide (justificação somente pela fé), Sola Gratia (salvação somente pela graça de Deus), Solo Christo (Cristo somente, o Salvador dos pecadores), Sola Scriptura (a Bíblia, e somente ela, como base de fé e prática), Soli Deo Gloria (a Deus somente, toda a glória na salvação dos pecadores) e o lema Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est (Igreja Reformada está Sempre se Reformando).

Termino com as palavras de Armínio:

Deus permita que possamos todos nós concordar plenamente naquelas coisas que são necessárias para a Sua glória e para a salvação da igreja e que, em outras coisas, se não puder haver harmonia de opiniões, que ao menos possa haver harmonia de sentimentos, e que possamos “guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”.[13]


Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 21/02/15



[1] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil. Quarta edição, 2014, Aliança Batista Livre do Brasil.
[2] Robert E. Picirilli (PhD) é professor emérito de Welch College (anteriormente Free Will Baptist Bible College), autor de Discipleship: The Expression of Saving Faith (Discipulado: A Expressão da Fé Salvadora),Randall House, 2013; Grace, Faith & Free Will: Contrasting Views of Salvation − Calvinism and Arminianism (Graça, Fé e o Livre Arbítrio: Visões Contrastantes da Salvação − Calvinismo e Arminianismo), Randall House, 2002), Teacher, Leader, Shepherd: The New Testament Pastor (Professor, Líder e Pastor: o Pastor do Novo Testamento, Randall House, 2007) e Paul, the Apostle (Paulo, o Apóstolo, Moody, 1986).
[3] Kenneth Eagleton Jr. é Pastor, Diretor Pedagógico da Escola Teológica Batista Livre e Diretor da Missão Batista Livre do Brasil e da América Latina.
[4] Eagleton, Kenneth P. Junior. O Pão que Permanece, Missão Batista Livre do Brasil, p. 8, 9.
[5] Ibid., p. 9.
[6] Ibid., p. 9.
[7] Eagleton, p. 11.
[8] Eagleton, p. 15.
[9] Picirilli, Robert E. Introdução ao Estudo da Doutrina Batista Livre, Lição 1, p. 1.
[10] Jr., Kenneth Eagleton. Declaração de Princípios e Diretrizes da Aliança Batista Livre do Brasil, 2013, p. 3.
[11] Picirilli, p. 1, 2. (Pergunta e respostas)
[12] Picirilli, p. 2, 3 (Pergunta e respostas)
[13] Picirilli, Robert E. Graça, Fé e Livre Arbítrio, 2002, The Randall House Publications, p. 6.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Estudos no Credo Apostólico (5) - A Igreja e os benefícios que Deus tem nos concedido (2)

João 17.1-3

No primeiro estudo da quarta parte do Credo Apostólico, com o tema: A Igreja e os benefícios que Deus tem nos concedido (1), vimos:

ü  Em dois pontos: 1º) Santa Igreja Universal; e 2º) A comunhão dos santos.

ü  O que diz o Manual de Fé dos Batistas Livres:
A igreja de Deus, ou os membros do corpo de Cristo, é o conjunto de todos os crentes ao redor do mundo e da qual só participam os indivíduos regenerados. Uma igreja cristã é um grupo organizado de crentes em Cristo que se reúne regularmente a fim adorar a Deus, observando as ordenanças do evangelho segundo as Escrituras. Os crentes são admitidos nessa igreja apresentando provas de sua fé em Cristo, obtendo o consentimento do grupo, sendo
batizado e recebendo a destra de comunhão.

ü  Que a igreja em sua forma visível é defeituosa em dois aspectos: 1º) ela é composta de cristãos ainda pecadores; e 2º) ela possui em seu meio pessoas não convertidas.

ü  Terminamos com a afirmação de que a autenticidade da Igreja está ligada a três marcas: A pregação fiel da Palavra de Deus, a administração correta das ordenanças e o exercício bíblico da disciplina. (Cf. Mt 28.18-20)

Hoje, vamos ver o segundo estudo na quarta parte do Credo Apostólico (Creio... na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.), e faremos isso em três pontos. 1º) Creio na remissão de Pecados; 2º) Creio na ressurreição do corpo; e 3º) Creio na vida eterna.

I. Creio na remissão de Pecados

Porque afirmamos que cremos na remissão de nossos pecados? Por que a Bíblia e o Espírito Santo garantem a redenção que nos livra de toda condenação e culpa.

1. A Bíblia assegura o perdão dos nossos pecadosSl 103.3, 12; Jr 31.34; Mq 7.19; 2Co 5.19. “Por meio da satisfação oferecida por Cristo, Deus o Pai perdoa os nossos pecados e os separa de nós, uma vez que toda a ofensa é castigada em Jesus Cristo”.[1] (Cf. Sl 103.10; 2CO 5.21; 1Jo 1.7; Cl 2.10)

2. O Espírito Santo assegura o perdão dos nossos pecadosRm 5.5; 8.1, 2, 15, 16; 2Co 1.22; 5.5; Ef 1.14. Não apenas os nossos pecados, mas, também, a nossa natureza pecaminosa é coberta pela justiça de Deus o Filho. Porque fomos cobertos com a perfeição de Cristo, Deus sempre nos acolhe como filhos e jamais nos trata segundo os nossos pecados.

Quando nascemos de novo, logo após a nossa conversão, dá-se início a uma luta diária contra a nossa natureza pecaminosa e o Espírito Santo, pela Palavra de Deus, pelas ordenanças, pela oração, pelo culto e pela comunhão, transforma-nos de glória em glória, conforme o padrão de Jesus Cristo, o homem perfeito. “O Espírito Santo é o santificador que faz o que era impossível à Lei: ele nos purifica de dentro para fora, guiando-nos, transformando-nos e produzindo em nós o seu fruto”.[2] (Cf. Hb 12.9-10; 1Pe 1.13-16; 2Co 3.17, 18; Rm 8.3, 4, 14, 29; Gl 5.22-25)

II. Creio na ressurreição do corpo

Jesus Cristo não ressuscitou apenas para a nossa justificação, mas, também, para garantir que seremos ressuscitados em glória, assim como ele foi – Rm 4.25; Fp 3.20, 21; 1Jo 3.2.

Em 1Coríntios 15, o apóstolo Paulo trata de um dos mais gloriosos temas de todos os seus escritos – a certeza da ressurreição de Jesus Cristo e a dos crentes.

Na igreja em Corinto os crentes aceitavam e criam na ressurreição de Cristo; mas sob a influência da filosofia grega, alguns duvidavam da ressurreição física dos cristãos. Por isso, Paulo, escreveu combatendo essa fraqueza doutrinária que estava se estabelecendo na igreja. Seu método foi positivamente claro. Primeiro ele examinou a certeza da ressurreição, desenvolvendo a necessária conexão entre a ressurreição de Cristo e a dos crentes (vv.1-34). Depois fez um exame de certas objeções (vv.35-57). E concluiu com um apelo extraordinário (v.58).

Ele, também, apresentou um argumento de cunho apologético incontestável sobre ressurreição de Jesus Cristo nos versículos seguintes:

vv.5-8 – Esta passagem é a declaração escrita mais antiga que possuímos da evidência histórica da ressurreição de Cristo. A relação das testemunhas parece estar em ordem cronológica. Os Evangelhos registram nove aparições distintas do Senhor ressuscitado.

vv.9-11 – Aqui, ele faz uma ligação da certeza da ressurreição com a mensagem apostólica. E, assim, tomando a fé dos irmãos em Corinto na ressurreição do Senhor como ponto de partida, prova logicamente que isso envolve a fé na ressurreição física de todos os outros, que estão nele (vv.12-20).

Veja o que o próprio Jesus falou sobre isso – João 6.40, 44, 54.

III. Creio na vida eterna

Deus o Pai, pelo Espírito Santo, dá continuidade à obra iniciada na regeneração, até a nossa glorificação final[3]Fp 1.6; Jo 5.24, 25.
A vida cristã e a vida eterna começa para uma pessoa quando ela nasce de novo. Quando uma pessoa se une a Jesus Cristo pela fé, recebe a vida que ele lhe dá, e como a vida dele é eterna, o convertido recebe a vida eterna, que passa a curtir, já, neste mundo. (Cf. Jo 3.36; 5.24; 6.17; 1Jo 5.11-13; Jo 10.28)

A vida eterna que Jesus oferece a todos quantos o receberem tem algumas particularidades importantes: 1) Ela é um dom gratuito de DeusRm 6.23; 2) Ela é um conhecimento pessoal de DeusJo 17.3; 3) Ela é concedida direta e pessoalmente por JesusJo 10.28; 17.2.

Mas, a vida eterna que começa aqui, quando recebemos a Jesus Cristo como nosso Salvador suficiente, não tem fim, é eterna de verdade. Pois, ao cessar a nossa vida terrena, “nossas almas serão levadas imediatamente até Cristo e aguardarão a ressurreição, em estado de bem-aventurança consciente”[4]. Na volta de Cristo, “nossas almas serão novamente unidas a nossos corpos ressurretos, que serão semelhantes ao corpo glorioso”[5] do Senhor Jesus – 1Ts 4.13-18; 1Co 15.53, 54.

Veja comigo a pergunta 58 do Catecismo de Heidelberg:

Que consolo traz a você o artigo sobre a vida eterna?
Meu consolo é que, como já percebo no meu coração o início da alegria eterna, depois desta vida terei a salvação perfeita. Essa salvação nenhum olho jamais viu, nenhum ouvido ouviu e jamais surgiu no coração de alguém.
Então, louvarei a Deus eternamente.

Concluindo

O cristão vive sob a luz da eternidade. Sua vida possui significado porque ele sabe de onde vem e para onde vai[6]2Tm 1.12.

Por que cremos em Jesus Cristo como nosso Salvador suficiente, recebemos a remissão dos nossos pecados, a certeza da ressurreição do nosso corpo mortal e o dom gratuito de Deus, a vida eterna!

Quero concluir com uma declaração de Jó:

Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus, Vê-lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros o contemplarão; e por isso os meus rins se consomem no meu interior.
Jó 19.25-27

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 14/02/15



[1] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 65.
[2] Nascimento, p. 66.
[3] Ibid., p. 67.
[4] Nascimento, p. 67.
[5] Ibid., p. 67.
[6] Ibid., p. 68.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Estudos no Credo Apostólico (4) - A Igreja e os benefícios que Deus tem nos concedido (1)

Mateus 16.13-20 (1Tm 3.15)

No estudo anterior do Credo Apostólico com o tema Deus Espírito Santo, vimos:

ü  Em dois pontos: 1º) A Obra do Espirito Santo e o Evangelho; 2º) A Obra do Espírito Santo na Regeneração.

ü  A obra da aplicação da salvação segue uma dinâmica ou ordem: ouvir a mensagem do Evangelho as verdades bíblicas da salvação, arrepender-se dos seus pecados e confessa-los abandonar a autossuficiência e voltar-se para Deus, crer em Cristo e recebe-lo invocá-lo de coração, reconhecendo-o como autoridade máxima e Salvador único e suficiente).

ü  “O Espírito Santo ilumina nossa mente (assim compreendemos sua mensagem), amolece o nosso coração (assim nos arrependemos). A própria fé que colocamos em Cristo é um presente que dele recebemos.”[1]

ü  Sem aceitar inteiramente a convicção de que a salvação pela graça e a Trindade são verdadeiras, é difícil imaginar alguém experimentando o crescimento espiritual autêntico de um cristão”. (Greg L. Hawkins e Cally Parkinson no livro Siga-me: O que vem a Seguir, p. 64)

ü  Terminamos com a pergunta 53 do Catecismo de Heidelberg: O que você crê sobre o Espírito Santo? Primeiro: creio que ele é verdadeiro e eterno Deus com o Pai e com o Filho. Segundo: que ele foi dado também a mim. Por uma verdadeira fé, ele me torna participante de Cristo e de todos os seus benefícios. Ele me fortalece e fica comigo para sempre.

Vamos estudar a quarta parte do Credo Apostólico (Creio... na santa igreja universal; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.), e faremos isso em dois estudos. O primeiro – A Igreja e os benefícios que Deus tem nos concedido (1), e o segundo – A Igreja e os benefícios que Deus tem nos concedido (2).

Portanto, nosso estudo de hoje, no Credo, é sobre a Igreja e os benefícios que Deus tem nos concedido e isso em dois pontos: 1º) Santa Igreja Universal; e 2º) A comunhão dos santos.

Vimos, em outras palavras, no estudo da terceira parte do Credo, que é o Deus Espírito Santo quem gera a Igreja e a comunhão dos santos, pois ele é o agente da aplicação da salvação da Trindade Santa.

I. Santa Igreja Universal

1. Santa

A palavra santa, usada aqui, significa que a igreja foi separada por Deus e para Deus, pois este é o significado da palavra santo no contexto bíblico – “tudo aquilo que é separado por Deus e para Deus”.

Quando o Credo afirma santa igreja universal ele está dizendo que existe no mundo inteiro um grupo de pessoas chamadas, separadas e consagradas por Deus para servi-lo. Portanto, a Igreja é constituída de pessoas que resolveram consagrar sua vida a Deus; elas se separaram, em obediência à chamada divina, para viverem de acordo com a vontade de Deus. Essa separação não é física ou material, mas espiritual.[2] (Cf. Gl 1.13; Ef 3.21; Cl 1.18; 1Tm 3.15) Quando Paulo tratou os irmãos das igrejas para quem escrevia, eles os chamou de santos, na certeza de que eles foram separados por Deus e para Deus – Rm 1.7; 1Co 1.2; 2Co 1.1; Ef 1.1; Cl 1.2.

Hoje em dia, quando usa-se a palavra santo ou santa, tem-se em mente duas ideias populares: 1ª) a de uma imagem de alguém que foi canonizado pela Igreja Católica Romana; e 2ª) a de pessoas perfeitas, sem nenhum defeito. Essas duas ideias são errôneas, pois contrariam a Palavra de Deus. (Cf. Rm 3.10-12, 23)

2. Igreja Universal

A palavra igreja significa uma assembleia divinamente convocada e descreve um evento através do qual Deus cumpre sua eleição através da chamada pessoal e abrange a totalidade dos cristãos. Por isso é chamada de católica ou universal, pois trata de todos os que seguem Jesus Cristo, sem considerar critério de tempo e espaço.[3] (Cf. Mt 16.18; Hb 12.22, 23)

Como a Igreja Universal é composta pelos salvos por Jesus Cristo, de todos os tempos, que não podem ser plenamente visualizados na atualidade, cujos nomes estão escritos no livro da vida e só Deus conhece plenamente quem são, ela é também chamada de Igreja Invisível.[4] (Cf. 2Tm 2.19)

Veja comigo o que diz o Manual de Fé dos Batistas Livres:
A igreja de Deus, ou os membros do corpo de Cristo, é o conjunto de todos os crentes ao redor do mundo e da qual só participam os indivíduos regenerados.[5]

Veja, também, o que diz a Confissão de Fé de Westminster, 25.1:
A igreja católica ou universal, consiste do número total dos eleitos que já foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo, sob Cristo, seu cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todas as coisas.

Veja comigo a pergunta 54 do Catecismo de Heidelberg:
O que você crê sobre “a santa igreja universal de Cristo”?
Creio que o Filho de Deus reúne, protege e conserva, dentre todo o gênero humano, sua comunidade eleita para a vida eterna. Isso ele faz por seu Espírito e sua Palavra, na unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim. Creio que sou membro vivo dessa igreja, agora e para sempre.

A igreja invisível é ainda chamada de igreja triunfante, porque é formada pelos espíritos dos justos aperfeiçoados (Hb 12.23), ou seja, daqueles que já foram libertos e, nos céus, triunfam depois de ter vencido todas as coisas, e, continuamente, exultam diante do Senhor.[6]

A Igreja Universal é una, mas se manifesta historicamente de forma plural em sua expressão visível. Essas manifestações visíveis da igreja são locais e denominacionais e por isso são chamadas de Igreja visível.

Veja comigo o que diz o Manual de Fé dos Batistas Livres:
Uma igreja cristã é um grupo organizado de crentes em Cristo que se reúne regularmente a fim adorar a Deus, observando as ordenanças do evangelho segundo as Escrituras. Os crentes são admitidos nessa igreja apresentando provas de sua fé em Cristo, obtendo o consentimento do grupo, sendo batizado e
recebendo a destra de comunhão.[7]

(Cf. 1Co 1,1, 2; Fp 1.1; 1Ts 1.1)

A igreja visível também é intitulada de igreja militante, pois ainda se encontra na terra e luta contra a carne, o mundo, o diabo, o pecado e a morte. Por isso a igreja em sua forma visível é defeituosa em dois aspectos: 1º) ela é composta de cristãos ainda pecadores; e 2º) ela possui em seu meio pessoas não convertidas. (Cf. 1Co 3.1-3; 5.1, 2; Jd vv.3, 4; Rm 6.11-13; 7.18-25)

II. A comunhão dos santos

A expressão comunhão dos santos no Credo tem dois significados: 1º) Que desfrutamos comunhão com Deus; e 2º) Que desfrutamos de comunhão com a Igreja.

1. A comunhão com Deus – por meio da operação do Espírito Santo temos comunhão com Deus o Pai e com Deus o Filho, ou seja, com a Trindade. (Cf. 1Jo 1.3; Ef 3.16, 17; 2Co 13.13)

2. A comunhão com a Igreja – a nossa comunhão com a Trindade e “a igreja invisível sugere a comunhão com a igreja visível, em suas expressões local e denominacional”[8]. Assim, a fé em Cristo nos coloca em contato com uma congregação local e “unidos nesta comunhão visível, assumimos responsabilidades. Comparecemos e cooperamos, compartilhamos bênçãos e cumprimos deveres públicos e particulares que edificam a todos”[9]. (Cf. At 2.37, 38; 16.5; 4.32; Ef 4.3-6; Rm 12.6; 1Co 12.7; Hb 10.24, 25; 1Pe 4.10)

Concluindo

Então, diante disso, como distinguir, dentre tantas seitas, a santa igreja universal e a comunhão dos santos? Creio que a autenticidade da Igreja está ligada a três marcas: A pregação fiel da Palavra de Deus, a administração correta das ordenanças e o exercício bíblico da disciplina. (Cf. Mt 28.18-20)

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 07/02/15




[1] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 49.
[2] Clássicos da Escola Dominical. Série “Descoberta da Fé – O Credo Apostólico”, 4ºTR73, Editora Cultura Cristã, Lição 1, p. 24.
[3] Nascimento, p. 53.
[4] Ibid., p. 53.
[5] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, p. 24, 25.
[6] Nascimento, p. 54, citando a Segunda Confissão Helvética, 17, na Harmonia das Confissões Reformadas, por Beeke e Ferguson.
[7] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil, 4ª Edição, 2014, p. 24.
[8] Nascimento, p. 56.
[9] Nascimento, p. 56.