domingo, 20 de outubro de 2013

Exposição da Carta de Judas (6) - Revisão (3)


Jd 14-16

Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.[1]

No estudo anterior nos vv.12, 13, discorremos sobre o tema Revisão com a seguinte tese: Os apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em seu caráter. Expomos o texto, como na semana anterior, versículo por versículo.

Hoje, vamos estudar os vv.14-16 também com o tema Revisão e a seguinte tese: Os apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua condenação.

Então, Judas, após mostrar que os apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta e em seu caráter, termina enfatizando que esses falsos mestres contemporâneos se encaixam no padrão histórico, também, em sua condenação.

Faremos essa exposição do texto com duas coisas em mente: 1ª)A impiedade foi marcada para o juízo de Deus desde o início da história humana, como se comprova pela profecia de Enoque”[2]vv.14, 15; 2ª)Hereges contemporâneos demonstram sua impiedade em seu falar – marcando-se assim, para o juízo[3]v.16.

I. A impiedade foi marcada para o juízo de Deus desde o início da história humana, como se comprova pela profecia de Enoque – vv.14, 15

Aqui, Judas, chega ao clímax de sua denúncia ao citar a profecia de “Enoque a fim de confirmar o castigo iminente de certo desses homens ímpios e conclui com palavras muito bem escolhidas”[4].

1. v.14a E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão,... Alguns comentaristas acreditam que Judas citou aqui a profecia do livro apócrifo Apocalipse de Enoque 1.9 que diz: Eis que vem com dez mil de seus santos para executar julgamento sobre todos. E para destruir todos os ímpios. E para condenar toda carne por causa da sua impiedade que impiamente cometeram e por todas as coisas duras que ímpios pecadores têm falado contra ele.

Concordo com Augustus Nicodemus de que o reconhecimento da inspiração da profecia de Enoque, da parte de Judas, não precisa necessariamente se estender ao livro que a registrou. E. C. Pentecost afirma que se Judas citou o livro apócrifo, ele estava apenas afirmando a verdade da profecia de Enoque e não endossando o livro em sua inteireza. Por exemplo, Paulo cita um poeta cretense chamado Epimênedes em Tito 1.2, sem com isso considerar os escritos dele como inspirados.[5]

Creio, juntamente com MacArthur, que a fonte dessa informação foi à inspiração do Espírito Santo a Judas e que o fato de estar registrado num documento pseudepigráfico não anula a sua precisão.

De acordo com a genealogia de Gn 5.3-21 (cf. Lc 3.27), Enoque é realmente o sétimo depois de Adão. Enoque, segundo Gn 5.21-24, andou com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou (v.24).

Segundo Hebreus 11.5, 6, “Enoque foi transladado ao céu porque viveu pela fé, tendo, assim, agradado a Deus e se tornado um dos heróis da fé a serem imitados pelos cristãos”[6].

Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.

2. v.14b – ... dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;... – Essa vinda do Senhor tem a ver com o juízo final contra todos os ímpios. Os profetas do AT e os apóstolos do NT, à semelhança de Enoque, profetizaram acerca desse juízo, do dia da ira de Deus, quando ele finalmente exercerá juízo e castigo contra os ímpios.[7]

“Este é aquele dia solene quando a criatura responde perante o Criador pelo que fez com a mordomia da vida. Todos responderão perante o Senhor; não haverá ausentes à essa sessão do tribunal”[8].

3. v.15aPara fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios,... – Para Judas, todo ensino que se desviasse da verdade e ensinamento revelado por Deus, aos seus santos profetas e apóstolos, era impiedade e ímpios, também, seriam todos os que propagassem tal ensino. É assim que ele encara o ensino desses falsos mestres, como impiedade e palavras insolentes contra o Senhor. A irreverência daqueles falsos mestres é destacada aqui pela repetição da palavra ímpio, por quatro vezes da no texto grego original.

Temos aqui, claramente declarado por Judas, o propósito da segunda vida do Senhor Jesus, após o arrebatamento da Igreja. Ele vem com dois objetivos: 1º) Para fazer juízo contra todos... – todos os ímpios enfrentarão o juízo divino, mas Judas tem em mente, em particular, aqui, os falsos mestres que estavam infestando as igrejas com seu ensino errôneo, os quais Judas chama de homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. (v.4); 2º) ... e condenar dentre eles todos os ímpios,... – o termo condenar tem o sentido primário, no grego, de trazer à luz, expor, com o objetivo de provar a culpa de alguém, de convencê-lo de seus erros e inculcar-lhe a consciência da culpa; declarar alguém culpado.

4. v.15b – ... por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Aqui temos as coisas pelas quais Deus fará juízo e condenará os ímpios:

ð obras de impiedade – essa obras ímpias tem paralelo em 2Pe 2.8, onde se menciona as obras injustas (de impiedade) dos moradores de Sodoma.

ð que impiamente praticaram – que praticaram de maneira deliberadamente ímpia, isto é, sem nenhum temor ou tremor.

ð duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele – palavras desagradáveis, cruéis, insolentes e terríveis. Judas diz isso em referência ao falso ensino desses mestres. Jesus ensinou que as pessoas haverão de dar conta no juízo de todas as palavras que proferirem (Mt 12.36), e Judas sabia disso. É nessa categoria que Judas enquadra o ensinamento dos apóstatas.

ð Uma coisa que não podemos esquecer é que, uma das características do anticristo é que ele fala blasfêmias ou com insolência contra Deus e as coisas de Deus – Dn 7.20; 11.36; Ap 13.5, 6, 11.

II. Hereges contemporâneos demonstram sua impiedade em seu falar – marcando-se assim, para o juízo – v.16

Além do que Judas já falou a advertiu a Igreja sobre os libertinos, ele diz mais duas coisas sobre eles nesse versículo que, são a sua marca para o juízo divino final.

1. v.16a Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte,... – murmuradores e queixosos no texto grego têm significa muito próximo e falam de pessoas insatisfeitas com a sua situação na vida, que tem o hábito de reclamar e de achar defeito em todas as coisas. A BLH traduz o termo assim: “acusando os outros”. “No fundo, esse descontentamento e murmuração são contra Deus, aquele que governa e guia todas as coisas”[9].

Paulo, no NT, usa o exemplo de murmuração dos israelitas no AT, como advertência para os cristãos – 1Co 10.10.

2. v.16b... andando segundo as suas concupiscências,... – concupiscência (ACF) ou paixão (ARA) é a palavra padrão no NT para desejos impuros. A referência, aqui, é ao modo de viver dos libertinos e, em particular, a sua licenciosidade na área sexual. Portanto, a murmuração e o descontentamento dos tais, são provenientes das paixões e dos desejos impuros que marcam a vida deles. A natureza corrompida e pecaminosa do homem não somente é inclinada a toda sorte de desejos maus e impuros, como também a murmurar e reclamar de Deus e dos homens.[10]

“Os apóstatas são especialmente motivados por um desejo pecaminoso de satisfazer seus próprios interesses”[11].

3. v.16c – ... e cuja boca diz coisas mui arrogantes,... – a palavra arrogantes poderia ser traduzida também como coisas excessivamente grandes, bombásticas, fantásticas, extravagantes. Judas se refere ao fato de que os falsos mestres, para se promoverem e ganharem adeptos entre os cristãos, contavam “coisas incríveis, talvez narrando visões ou relatando milagres”[12]. E por isso que a versão BLH traduz assim o termo “eles vivem se gabando”. No v.8, Judas já os havia chamado de adormecidos ou sonhadores alucinados.

“Eles falam com arrogância, com pompa e até com magnificência, mas suas palavras são vazias e não tem vida nem valor espiritual. Sua mensagem pode parecer atrativa, mas não tem o conteúdo poderoso da verdade divina”[13].

4. v.16d – ... admirando as pessoas por causa do interesse. – Além de arrogantes, eles eram interesseiros ou aduladores de outros (ARA). O sentido aqui é ficar impressionado diante da face de uma pessoa, e daí passar a tratá-la de maneira diferenciada. Esse tipo de atitude era proibido no AT e também é proibido no NT – Dt 10.17; Is 9.15; At 10.28, 34; Tg 2.1.

“Eles dizem às pessoas os que elas querem ouvir para seu próprio benefício, em vez de proclamarem a verdade da Palavra de Deus para o benefício dos ouvintes”[14]2Tm 4.3, 4; Rm 3.13; 16.18; Pv 26.28; 29.5.

“Os falsos mestres amavam-se a si mesmos e queriam promover-se. Suas intenções, ao contrário do verdadeiro pastor e mestre, eram promover-se”[15].

Concluindo – duas aplicações:

1ª) A graça salvadora de Deus se manifestou para nos salvar e nos ensinar a renunciarmos à impiedade e às concupiscências mundanasTt 2.11, 12.

2ª) A atitude amorosa de Deus por todos os homens nos ensina a não fazermos acepção de pessoas em hipótese algumaAt 10.28, 34; Tg 2.1.

Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, SP – 19/10/13



[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] Ibid., p. 587.
[3] Ibid., p. 587.
[4] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, 2009, p. 2124.
[5] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 133.
[6] Ibid., 132.
[7] Ibid., 133, 134.
[8] Comentário Bíblico Broadman, Volume 12, Novo Testamento, Hebreus a Apocalipse, 1987, p. 280.
[9] Lopes, p. 136.
[10] Lopes, p. 137.
[11] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1774.
[12] Lopes, p. 138.
[13] MacArthur, p. 1775.
[14] Ibid., p. 1775.
[15] Lopes, p.138.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Exposição da Carta de Judas (5) - Revisão (2)

Jd 12, 13
Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.[1]

No estudo anterior nos vv.8-11, discorremos sobre o tema Revisão com a seguinte tese: Defender a fé cristã do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.

Expomos o texto e o expomos versículo por versículo, com a ênfase em que os  apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta.

Hoje, vamos estudar os vv.12, 13 também com o tema Revisão e a seguinte tese: Os apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em seu caráter.

Após mostrar que os apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta, Judas, agora, passa a mostrar como os mesmos se encaixam no padrão histórico em seu caráter.

1º) Eles são destrutivos como rochas submersas (manchas) – v.12a

A primeira descompostura é dirigida à desfaçatez e enganação com que os falsos mestres se se infiltraram nas igrejas. O termo usado para manchas aqui é spilas e tem seu significado no grego popular como escolho submerso ou submerso pela metade contra o qual um barco pode encalhar facilmente. Por isso a versão ARA traduz esse termo como rochas submersas.  “Assim como as rochas submersas no mar, que são um perigo invisível para a navegação, aqueles homens não aparentavam ser perigos para as igrejas”[2].

Esses falsos mestres participavam das festas cristãs – festas de amor (ACF), festas de fraternidade (ARA), festas de caridade (ARC), refeições de amizade (BLH) – como se fossem irmãos, partes da comunidade, irmãos em Cristo. Essas festas de amor eram festividades organizadas pela igreja no período apostólico onde os irmãos e as irmãs em Cristo, de uma determinada localidade, comiam (almoçavam ou jantavam) juntos e celebravam a Ceia do Senhor.

Esse costume teve sua origem no fato de que o Senhor Jesus instituiu a Ceia do Senhor durante uma refeição com os seus discípulos – Mt 26.17-30; Mc 14.22-24; Lc 22.19, 20; Jo 13.1-4.[3]

Essas festas do amor de Deus deixaram de ser realizadas a partir do 2º Século por causa dos abusos que falsos irmãos estavam cometendo. Temos pelo menos três exemplos desses abusos: em Corinto – 1Co 11.17-34; em 2Pe 2.13; e aqui em Judas. Os falsos mestres aproveitavam as festas para espalhar sua heresia e sua libertinagem.

2º) Eles são egoístas como pastores mercenários – v.12b

Esses falsos mestres se apresentavam como se fossem pastores e se aproveitavam da posição de autoridade eclesiástica para espalhar seu “erro, conquistar discípulos dentre os cristãos e dividir as igrejas. Assim não hesitavam em lançar mão da hipocrisia e do fingimento para se infiltrar nas comunidades”[4].

Jesus mesmo alertou sobre esses em Mateus 7.15Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.

O que dizer dos falsos pastores, bispos, e apóstolos de hoje?

3º) Eles são enganosos como nuvens sem chuva – v.12c

Essa imagem, bem como a próxima, falam de vidas vazias, inconstantes e mortas. Aqui, nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte, “são inúteis pois não trazem nenhuma chuva sobre a terra, aparecem e logo se vão, na velocidade do vento que as impele”[5]. Tais nuvens representam promessas falsas e temporárias de bênçãos.

Provérbios 25.14 diz: Como nuvens e ventos que não trazem chuva, assim é o homem que se gaba falsamente de dádivas.

4º) Eles são decepcionantes como arvores infrutíferas – v.12d

Assim como a imagem anterior: ... nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como arvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas. A ideia das árvores aqui é que em plena estação dos frutos, no outono (NVI), estavam com folhagem vistosa, mas sem frutos. Por isso eram arrancadas pela raiz, elas eram infrutíferas embora tivessem suas folhas verdes e aparentassem estar vivas, Judas diz que eram duas vezes mortas.

O ponto de comparação é que nuvens sem água na estação das chuvas e árvores sem frutos na estação dos frutos não cumprem o propósito pelo qual existem, assim como aqueles falsos mestres com seus falsos ensinamentos.

5º) Eles são inconstantes como ondas num mar revolto – v.13a

Judas faz outra comparação dos falsos mestres usando um aspecto negativo da natureza para mostrar o perigo que eles representam e o fim que lhes aguarda.

Aqui temos a sugestão das marés altas que são implacáveis e após muito barulho e reboliço só deixam espuma e refugo nas suas margens. As ondas impetuosas do mar se encarregam de regurgitar na praia toda a sujeira lançada nele e aquela que é própria do mar – escumam as suas mesmas abominações. Exemplo: sargaços, lama e infelizmente latas vazias, sacos plásticos, pedaços de isopor, vasilhames de refrigerantes, etc.

O profeta Isaías usa essa mesma figura para descrever os ímpios: Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo. (Isaías 57.20)

Os falsos mestres, à semelhança das ondas impetuosas do mar, escumam suas imoralidades e falas doutrinas, trazendo perigo e contaminação para a igreja.[6]

6º) Eles são indignos de confiança como estrelas errantes – v.13b.

Na citação aqui a estrelas errantes, cremos que Judas está se referindo às estrelas cadentes, aquelas que costumam riscar os céus de uma noite clara e estrelada por um breve momento, desaparecendo em seguida, Quando uma dessas estrelas risca o céu, refulge por segundos e depois se perde, em nossa visão aqui da Terra, na escuridão do espaço.[7]

O aspecto que Judas deseja destacar aqui nessa comparação das estrelas cadentes com os falsos mestres é a brevidade de sua trajetória e o fim que lhes tem sido guardado.

Concluindo

Augustus Nicodemus, em seu comentário de Judas diz: “Que lição solene para nós! Embora possam existir cristãos verdadeiros que estejam equivocados em pontos doutrinários secundários, e estes, o próprio Judas recomenda que procuremos resgatar, v.22 – abundam falsos profetas e falsos mestres, lobos devoradores, dentro da própria Igreja de Deus. Estes devem ser tratados com todo o rigor. São ímpios, destinados ao castigo eterno. Como rochas submersas, nuvens sem água, árvores sem fruto, ondas bravias do mar e estrelas errantes, o destino dele é a escuridão eterna”[8].


Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, SP – 13/10/13



[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 126.
[3] Ibid., p.126.
[4] Ibid., p.128.
[5] Ibid., p.128.
[6] Ibid., p. 130.
[7] Ibid., p. 130.
[8] Ibid., p.131.

Exposição da Carta de Judas (4) - Revisão (1)


Jd 8-11
Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.[1]

No estudo anterior nos vv.5-7, discorremos sobre o tema Recapitulação com a seguinte tese: Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com os hereges, visto que foram marcados pela severa punição por suas variadas formas de rebelião.

Expomos o texto e o subdividimos em três pontos: 1º) Como Deus puniu a incredulidade dos israelitas errantesv.5; 2º) Como Deus puniu a insubordinação dos anjos caídosv.6; 3º) Como Deus puniu a imoralidade de Sodoma e Gomorrav.7.

Hoje, vamos estudar os vv.8-11 com o tema Revisão e a seguinte tese: Defender a fé cristã do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.

Após citar três exemplos do passado que mostram a certeza do juízo de Deus sobre os ímpios, Judas volta seu olhar para a conduta, o caráter e a condenação dos falsos mestres no presente, denunciando-os com veemência.

Então, vamos ver como apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta. No seu caráter e na sua condenação veremos nos próximos finais de semana.

1º) Eles estão alienados da realidade – v.8a – E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos...

A história bíblica apresenta diversos exemplos de imorais e rebeldes que foram castigados por Deus e nós vimos três no estudo anterior (vv.5-7). Contudo, apesar desses exemplos, os falsos mestres estavam agindo de maneira semelhante àqueles castigados, desprezando completamente a advertência divina. Isso torna o erro deles ainda mais grave, pois quanto mais conheciam a verdade, mais responsáveis se tornavam.[2]

O erro fatal dos falsos mestres era a distorção da doutrina da graça para promover a licenciosidade sexual e nisso eram como os sodomitas, e a arrogância em relação às autoridades superiores se assemelham aos anjos rebeldes.

2º) Eles são imorais – v.8b – ... contaminam a sua carne...

O verbo contaminar, que Judas usa aqui, no grego significa fazer com que a pureza de alguém ou de alguma coisa seja violada por meio de comportamento inadequado. Esse termo ocorre na LXX varias vezes com o sentido de imoralidade sexual. Então, a contaminação referida por Judas, “tem a ver com a imoralidade sexual, já que os falsos mestres contaminam a carne, isto é, o corpo”.[3]

Judas, aqui, faz uma referência direta aos resultados do ensinamento e da prática dos falsos mestres, que transformavam a graça de Deus em licença para o pecado.

3º) Eles são duros e arrogantes em sua falta de conhecimento espiritual – v.8c-10 – ... e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades. Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem.

Essa atitude pecaminosa dos falsos mestres, denunciada por Judas, de que rejeitam a dominação é em relação ao governo de Deus neste mundo e sobre o seu povo, mediante as autoridades constituídas.

Essa rejeição do governo de Deus pelos libertinos se manifestava pela rejeição da autoridade dos líderes das igrejas locais, que eles desafiavam ao questionarem a doutrina apostólica, como os israelitas rejeitaram o governo de Moisés sobre eles.[4]

Judas ainda fala que os falsos mestres vituperam as dignidades, isto é, eles falam mal das autoridades eclesiásticas, blasfema, insultam, vituperam o que é o real significado da palavra grega usada.

Segundo Judas, os líderes das igrejas locais estavam sendo difamados pelos libertinos, como parte da estratégia destes de subverter toda a ordem estabelecida. A descrição que Judas faz, aqui, desses falsos mestres é supreendentemente atual.[5]

Interessante é que em contraste com atitude insubordinada e difamatória dos libertinos para com as autoridades eclesiásticas locais, Judas apresenta a atitude do arcanjo Miguel para com Satanás.

O falar mal do que não entendem no v.10, provavelmente, os falsos mestres estavam difamando o evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus e os que o pregavam (v.8), porque realmente nunca entenderam essa doutrina. Como resultado de não compreendê-la, apresentam uma versão distorcida da mesma, que levava a licenciosidade (v.4).

4º) Eles são egocêntricos quanto a religião – v.11aAi deles! porque entraram pelo caminho de Caim...

Temos aqui mais uma tríade da carta de Judas em continuação de sua denúncia dos falsos mestres que, se infiltraram na igreja local com um ensinamento distorcido da graça de Deus. Esses três exemplos falam de outras atitudes erradas dos falsos mestres.

O primeiro exemplo é o de Caim, e “o provável ponto de comparação entre ele e os falsos mestres combatidos por Judas é que ambos eram adeptos de uma religião natural e tiveram um entendimento distorcido da verdade de Deus”[6].

Assim, ao manifestarem uma compreensão distorcida do evangelho e um entendimento natural, por instinto, das coisas religiosas, e ao difamarem os pregadores do evangelho, os falsos mestres eram verdadeiros discípulos de Caim.[7] (Gn 4.1-16)

5º) Eles são moralmente pervertidos por sua ganância – v.11b – ... e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão...

Nesse segundo exemplo errôneo de atitude, comparando os falsos mestres com Balaão, Judas, quer dizer que assim como a ganância foi a motivação de  Balaão na tentativa de amaldiçoar Israel os falsos mestres também estavam sendo movidos por ela para promover, pelo seu falso ensino, a licenciosidade entre o povo de Deus com o fim de destruí-lo. “Balaão é o paradigma de todos os libertinos que vieram mais tarde na história da igreja”[8]. (Nm 22.1-15; 25.1-3; Ap 2.14)

6º) Eles são rebeldes contra a autoridade – v.11c – ... e pereceram na contradição de Coré.

Coré foi um dos príncipes de Israel, da tribo de Levi, que liderou 250 outros príncipes de Israel numa rebelião contra a liderança de Moisés – Nm 16.1-40. A semelhança entre os falsos mestres e Coré reside no fato da tentativa de perturbação da paz e promoção de sedição e revolta contra os líderes do povo de Deus. Mas, assim como “Coré e seus adeptos pereceram diante de Deus, os apóstatas também haveriam de perecer”[9].

Concluindo

“Os três verbos usados por Judas podem indicar uma intensificação. Primeiro, eles entraram no caminho errado, depois foram levados intensamente ao erro e, finalmente, pereceram em sua revolta. Essa é a história não somente de Caim, de Balaão, de Coré e dos apóstatas da época de Judas, mas de todo aquele que se afasta da verdade de Deus, perverte a verdade e é movido pela cobiça”[10].

“Todas as gerações de fiéis terão de enfrentar perseguidores que professam uma falsa religião, como Caim, profetas vendidos por dinheiro para falar mentiras, como Balaão, e líderes facciosos, movidos pela arrogância e pelo desejo de poder, como Coré”.[11]


Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, SP – 06/10/13



[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 113.
[3] Ibid., p. 114.
[4] Ibid., p. 114.
[5] Ibid., p. 115.
[6] Ibid., p. 123.
[7] Ibid., p. 123.
[8] Ibid., p.124.
[9] Ibid., p.125.
[10] Ibid., p. 125.
[11] Ibid., 125.