segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Exposição da Carta de Judas (4) - Revisão (1)


Jd 8-11
Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.[1]

No estudo anterior nos vv.5-7, discorremos sobre o tema Recapitulação com a seguinte tese: Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com os hereges, visto que foram marcados pela severa punição por suas variadas formas de rebelião.

Expomos o texto e o subdividimos em três pontos: 1º) Como Deus puniu a incredulidade dos israelitas errantesv.5; 2º) Como Deus puniu a insubordinação dos anjos caídosv.6; 3º) Como Deus puniu a imoralidade de Sodoma e Gomorrav.7.

Hoje, vamos estudar os vv.8-11 com o tema Revisão e a seguinte tese: Defender a fé cristã do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.

Após citar três exemplos do passado que mostram a certeza do juízo de Deus sobre os ímpios, Judas volta seu olhar para a conduta, o caráter e a condenação dos falsos mestres no presente, denunciando-os com veemência.

Então, vamos ver como apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta. No seu caráter e na sua condenação veremos nos próximos finais de semana.

1º) Eles estão alienados da realidade – v.8a – E, contudo, também estes, semelhantemente adormecidos...

A história bíblica apresenta diversos exemplos de imorais e rebeldes que foram castigados por Deus e nós vimos três no estudo anterior (vv.5-7). Contudo, apesar desses exemplos, os falsos mestres estavam agindo de maneira semelhante àqueles castigados, desprezando completamente a advertência divina. Isso torna o erro deles ainda mais grave, pois quanto mais conheciam a verdade, mais responsáveis se tornavam.[2]

O erro fatal dos falsos mestres era a distorção da doutrina da graça para promover a licenciosidade sexual e nisso eram como os sodomitas, e a arrogância em relação às autoridades superiores se assemelham aos anjos rebeldes.

2º) Eles são imorais – v.8b – ... contaminam a sua carne...

O verbo contaminar, que Judas usa aqui, no grego significa fazer com que a pureza de alguém ou de alguma coisa seja violada por meio de comportamento inadequado. Esse termo ocorre na LXX varias vezes com o sentido de imoralidade sexual. Então, a contaminação referida por Judas, “tem a ver com a imoralidade sexual, já que os falsos mestres contaminam a carne, isto é, o corpo”.[3]

Judas, aqui, faz uma referência direta aos resultados do ensinamento e da prática dos falsos mestres, que transformavam a graça de Deus em licença para o pecado.

3º) Eles são duros e arrogantes em sua falta de conhecimento espiritual – v.8c-10 – ... e rejeitam a dominação, e vituperam as dignidades. Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda. Estes, porém, dizem mal do que não sabem; e, naquilo que naturalmente conhecem, como animais irracionais se corrompem.

Essa atitude pecaminosa dos falsos mestres, denunciada por Judas, de que rejeitam a dominação é em relação ao governo de Deus neste mundo e sobre o seu povo, mediante as autoridades constituídas.

Essa rejeição do governo de Deus pelos libertinos se manifestava pela rejeição da autoridade dos líderes das igrejas locais, que eles desafiavam ao questionarem a doutrina apostólica, como os israelitas rejeitaram o governo de Moisés sobre eles.[4]

Judas ainda fala que os falsos mestres vituperam as dignidades, isto é, eles falam mal das autoridades eclesiásticas, blasfema, insultam, vituperam o que é o real significado da palavra grega usada.

Segundo Judas, os líderes das igrejas locais estavam sendo difamados pelos libertinos, como parte da estratégia destes de subverter toda a ordem estabelecida. A descrição que Judas faz, aqui, desses falsos mestres é supreendentemente atual.[5]

Interessante é que em contraste com atitude insubordinada e difamatória dos libertinos para com as autoridades eclesiásticas locais, Judas apresenta a atitude do arcanjo Miguel para com Satanás.

O falar mal do que não entendem no v.10, provavelmente, os falsos mestres estavam difamando o evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus e os que o pregavam (v.8), porque realmente nunca entenderam essa doutrina. Como resultado de não compreendê-la, apresentam uma versão distorcida da mesma, que levava a licenciosidade (v.4).

4º) Eles são egocêntricos quanto a religião – v.11aAi deles! porque entraram pelo caminho de Caim...

Temos aqui mais uma tríade da carta de Judas em continuação de sua denúncia dos falsos mestres que, se infiltraram na igreja local com um ensinamento distorcido da graça de Deus. Esses três exemplos falam de outras atitudes erradas dos falsos mestres.

O primeiro exemplo é o de Caim, e “o provável ponto de comparação entre ele e os falsos mestres combatidos por Judas é que ambos eram adeptos de uma religião natural e tiveram um entendimento distorcido da verdade de Deus”[6].

Assim, ao manifestarem uma compreensão distorcida do evangelho e um entendimento natural, por instinto, das coisas religiosas, e ao difamarem os pregadores do evangelho, os falsos mestres eram verdadeiros discípulos de Caim.[7] (Gn 4.1-16)

5º) Eles são moralmente pervertidos por sua ganância – v.11b – ... e foram levados pelo engano do prêmio de Balaão...

Nesse segundo exemplo errôneo de atitude, comparando os falsos mestres com Balaão, Judas, quer dizer que assim como a ganância foi a motivação de  Balaão na tentativa de amaldiçoar Israel os falsos mestres também estavam sendo movidos por ela para promover, pelo seu falso ensino, a licenciosidade entre o povo de Deus com o fim de destruí-lo. “Balaão é o paradigma de todos os libertinos que vieram mais tarde na história da igreja”[8]. (Nm 22.1-15; 25.1-3; Ap 2.14)

6º) Eles são rebeldes contra a autoridade – v.11c – ... e pereceram na contradição de Coré.

Coré foi um dos príncipes de Israel, da tribo de Levi, que liderou 250 outros príncipes de Israel numa rebelião contra a liderança de Moisés – Nm 16.1-40. A semelhança entre os falsos mestres e Coré reside no fato da tentativa de perturbação da paz e promoção de sedição e revolta contra os líderes do povo de Deus. Mas, assim como “Coré e seus adeptos pereceram diante de Deus, os apóstatas também haveriam de perecer”[9].

Concluindo

“Os três verbos usados por Judas podem indicar uma intensificação. Primeiro, eles entraram no caminho errado, depois foram levados intensamente ao erro e, finalmente, pereceram em sua revolta. Essa é a história não somente de Caim, de Balaão, de Coré e dos apóstatas da época de Judas, mas de todo aquele que se afasta da verdade de Deus, perverte a verdade e é movido pela cobiça”[10].

“Todas as gerações de fiéis terão de enfrentar perseguidores que professam uma falsa religião, como Caim, profetas vendidos por dinheiro para falar mentiras, como Balaão, e líderes facciosos, movidos pela arrogância e pelo desejo de poder, como Coré”.[11]


Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, SP – 06/10/13



[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 113.
[3] Ibid., p. 114.
[4] Ibid., p. 114.
[5] Ibid., p. 115.
[6] Ibid., p. 123.
[7] Ibid., p. 123.
[8] Ibid., p.124.
[9] Ibid., p.125.
[10] Ibid., p. 125.
[11] Ibid., 125.

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