segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Exposição da Carta de Judas (5) - Revisão (2)

Jd 12, 13
Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.[1]

No estudo anterior nos vv.8-11, discorremos sobre o tema Revisão com a seguinte tese: Defender a fé cristã do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.

Expomos o texto e o expomos versículo por versículo, com a ênfase em que os  apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta.

Hoje, vamos estudar os vv.12, 13 também com o tema Revisão e a seguinte tese: Os apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em seu caráter.

Após mostrar que os apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta, Judas, agora, passa a mostrar como os mesmos se encaixam no padrão histórico em seu caráter.

1º) Eles são destrutivos como rochas submersas (manchas) – v.12a

A primeira descompostura é dirigida à desfaçatez e enganação com que os falsos mestres se se infiltraram nas igrejas. O termo usado para manchas aqui é spilas e tem seu significado no grego popular como escolho submerso ou submerso pela metade contra o qual um barco pode encalhar facilmente. Por isso a versão ARA traduz esse termo como rochas submersas.  “Assim como as rochas submersas no mar, que são um perigo invisível para a navegação, aqueles homens não aparentavam ser perigos para as igrejas”[2].

Esses falsos mestres participavam das festas cristãs – festas de amor (ACF), festas de fraternidade (ARA), festas de caridade (ARC), refeições de amizade (BLH) – como se fossem irmãos, partes da comunidade, irmãos em Cristo. Essas festas de amor eram festividades organizadas pela igreja no período apostólico onde os irmãos e as irmãs em Cristo, de uma determinada localidade, comiam (almoçavam ou jantavam) juntos e celebravam a Ceia do Senhor.

Esse costume teve sua origem no fato de que o Senhor Jesus instituiu a Ceia do Senhor durante uma refeição com os seus discípulos – Mt 26.17-30; Mc 14.22-24; Lc 22.19, 20; Jo 13.1-4.[3]

Essas festas do amor de Deus deixaram de ser realizadas a partir do 2º Século por causa dos abusos que falsos irmãos estavam cometendo. Temos pelo menos três exemplos desses abusos: em Corinto – 1Co 11.17-34; em 2Pe 2.13; e aqui em Judas. Os falsos mestres aproveitavam as festas para espalhar sua heresia e sua libertinagem.

2º) Eles são egoístas como pastores mercenários – v.12b

Esses falsos mestres se apresentavam como se fossem pastores e se aproveitavam da posição de autoridade eclesiástica para espalhar seu “erro, conquistar discípulos dentre os cristãos e dividir as igrejas. Assim não hesitavam em lançar mão da hipocrisia e do fingimento para se infiltrar nas comunidades”[4].

Jesus mesmo alertou sobre esses em Mateus 7.15Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores.

O que dizer dos falsos pastores, bispos, e apóstolos de hoje?

3º) Eles são enganosos como nuvens sem chuva – v.12c

Essa imagem, bem como a próxima, falam de vidas vazias, inconstantes e mortas. Aqui, nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte, “são inúteis pois não trazem nenhuma chuva sobre a terra, aparecem e logo se vão, na velocidade do vento que as impele”[5]. Tais nuvens representam promessas falsas e temporárias de bênçãos.

Provérbios 25.14 diz: Como nuvens e ventos que não trazem chuva, assim é o homem que se gaba falsamente de dádivas.

4º) Eles são decepcionantes como arvores infrutíferas – v.12d

Assim como a imagem anterior: ... nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como arvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas. A ideia das árvores aqui é que em plena estação dos frutos, no outono (NVI), estavam com folhagem vistosa, mas sem frutos. Por isso eram arrancadas pela raiz, elas eram infrutíferas embora tivessem suas folhas verdes e aparentassem estar vivas, Judas diz que eram duas vezes mortas.

O ponto de comparação é que nuvens sem água na estação das chuvas e árvores sem frutos na estação dos frutos não cumprem o propósito pelo qual existem, assim como aqueles falsos mestres com seus falsos ensinamentos.

5º) Eles são inconstantes como ondas num mar revolto – v.13a

Judas faz outra comparação dos falsos mestres usando um aspecto negativo da natureza para mostrar o perigo que eles representam e o fim que lhes aguarda.

Aqui temos a sugestão das marés altas que são implacáveis e após muito barulho e reboliço só deixam espuma e refugo nas suas margens. As ondas impetuosas do mar se encarregam de regurgitar na praia toda a sujeira lançada nele e aquela que é própria do mar – escumam as suas mesmas abominações. Exemplo: sargaços, lama e infelizmente latas vazias, sacos plásticos, pedaços de isopor, vasilhames de refrigerantes, etc.

O profeta Isaías usa essa mesma figura para descrever os ímpios: Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar, e as suas águas lançam de si lama e lodo. (Isaías 57.20)

Os falsos mestres, à semelhança das ondas impetuosas do mar, escumam suas imoralidades e falas doutrinas, trazendo perigo e contaminação para a igreja.[6]

6º) Eles são indignos de confiança como estrelas errantes – v.13b.

Na citação aqui a estrelas errantes, cremos que Judas está se referindo às estrelas cadentes, aquelas que costumam riscar os céus de uma noite clara e estrelada por um breve momento, desaparecendo em seguida, Quando uma dessas estrelas risca o céu, refulge por segundos e depois se perde, em nossa visão aqui da Terra, na escuridão do espaço.[7]

O aspecto que Judas deseja destacar aqui nessa comparação das estrelas cadentes com os falsos mestres é a brevidade de sua trajetória e o fim que lhes tem sido guardado.

Concluindo

Augustus Nicodemus, em seu comentário de Judas diz: “Que lição solene para nós! Embora possam existir cristãos verdadeiros que estejam equivocados em pontos doutrinários secundários, e estes, o próprio Judas recomenda que procuremos resgatar, v.22 – abundam falsos profetas e falsos mestres, lobos devoradores, dentro da própria Igreja de Deus. Estes devem ser tratados com todo o rigor. São ímpios, destinados ao castigo eterno. Como rochas submersas, nuvens sem água, árvores sem fruto, ondas bravias do mar e estrelas errantes, o destino dele é a escuridão eterna”[8].


Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, SP – 13/10/13



[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 126.
[3] Ibid., p.126.
[4] Ibid., p.128.
[5] Ibid., p.128.
[6] Ibid., p. 130.
[7] Ibid., p. 130.
[8] Ibid., p.131.

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