domingo, 20 de outubro de 2013

Exposição da Carta de Judas (6) - Revisão (3)


Jd 14-16

Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta, seu caráter e sua condenação.[1]

No estudo anterior nos vv.12, 13, discorremos sobre o tema Revisão com a seguinte tese: Os apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em seu caráter. Expomos o texto, como na semana anterior, versículo por versículo.

Hoje, vamos estudar os vv.14-16 também com o tema Revisão e a seguinte tese: Os apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua condenação.

Então, Judas, após mostrar que os apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta e em seu caráter, termina enfatizando que esses falsos mestres contemporâneos se encaixam no padrão histórico, também, em sua condenação.

Faremos essa exposição do texto com duas coisas em mente: 1ª)A impiedade foi marcada para o juízo de Deus desde o início da história humana, como se comprova pela profecia de Enoque”[2]vv.14, 15; 2ª)Hereges contemporâneos demonstram sua impiedade em seu falar – marcando-se assim, para o juízo[3]v.16.

I. A impiedade foi marcada para o juízo de Deus desde o início da história humana, como se comprova pela profecia de Enoque – vv.14, 15

Aqui, Judas, chega ao clímax de sua denúncia ao citar a profecia de “Enoque a fim de confirmar o castigo iminente de certo desses homens ímpios e conclui com palavras muito bem escolhidas”[4].

1. v.14a E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão,... Alguns comentaristas acreditam que Judas citou aqui a profecia do livro apócrifo Apocalipse de Enoque 1.9 que diz: Eis que vem com dez mil de seus santos para executar julgamento sobre todos. E para destruir todos os ímpios. E para condenar toda carne por causa da sua impiedade que impiamente cometeram e por todas as coisas duras que ímpios pecadores têm falado contra ele.

Concordo com Augustus Nicodemus de que o reconhecimento da inspiração da profecia de Enoque, da parte de Judas, não precisa necessariamente se estender ao livro que a registrou. E. C. Pentecost afirma que se Judas citou o livro apócrifo, ele estava apenas afirmando a verdade da profecia de Enoque e não endossando o livro em sua inteireza. Por exemplo, Paulo cita um poeta cretense chamado Epimênedes em Tito 1.2, sem com isso considerar os escritos dele como inspirados.[5]

Creio, juntamente com MacArthur, que a fonte dessa informação foi à inspiração do Espírito Santo a Judas e que o fato de estar registrado num documento pseudepigráfico não anula a sua precisão.

De acordo com a genealogia de Gn 5.3-21 (cf. Lc 3.27), Enoque é realmente o sétimo depois de Adão. Enoque, segundo Gn 5.21-24, andou com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus para si o tomou (v.24).

Segundo Hebreus 11.5, 6, “Enoque foi transladado ao céu porque viveu pela fé, tendo, assim, agradado a Deus e se tornado um dos heróis da fé a serem imitados pelos cristãos”[6].

Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.

2. v.14b – ... dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;... – Essa vinda do Senhor tem a ver com o juízo final contra todos os ímpios. Os profetas do AT e os apóstolos do NT, à semelhança de Enoque, profetizaram acerca desse juízo, do dia da ira de Deus, quando ele finalmente exercerá juízo e castigo contra os ímpios.[7]

“Este é aquele dia solene quando a criatura responde perante o Criador pelo que fez com a mordomia da vida. Todos responderão perante o Senhor; não haverá ausentes à essa sessão do tribunal”[8].

3. v.15aPara fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios,... – Para Judas, todo ensino que se desviasse da verdade e ensinamento revelado por Deus, aos seus santos profetas e apóstolos, era impiedade e ímpios, também, seriam todos os que propagassem tal ensino. É assim que ele encara o ensino desses falsos mestres, como impiedade e palavras insolentes contra o Senhor. A irreverência daqueles falsos mestres é destacada aqui pela repetição da palavra ímpio, por quatro vezes da no texto grego original.

Temos aqui, claramente declarado por Judas, o propósito da segunda vida do Senhor Jesus, após o arrebatamento da Igreja. Ele vem com dois objetivos: 1º) Para fazer juízo contra todos... – todos os ímpios enfrentarão o juízo divino, mas Judas tem em mente, em particular, aqui, os falsos mestres que estavam infestando as igrejas com seu ensino errôneo, os quais Judas chama de homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. (v.4); 2º) ... e condenar dentre eles todos os ímpios,... – o termo condenar tem o sentido primário, no grego, de trazer à luz, expor, com o objetivo de provar a culpa de alguém, de convencê-lo de seus erros e inculcar-lhe a consciência da culpa; declarar alguém culpado.

4. v.15b – ... por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Aqui temos as coisas pelas quais Deus fará juízo e condenará os ímpios:

ð obras de impiedade – essa obras ímpias tem paralelo em 2Pe 2.8, onde se menciona as obras injustas (de impiedade) dos moradores de Sodoma.

ð que impiamente praticaram – que praticaram de maneira deliberadamente ímpia, isto é, sem nenhum temor ou tremor.

ð duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele – palavras desagradáveis, cruéis, insolentes e terríveis. Judas diz isso em referência ao falso ensino desses mestres. Jesus ensinou que as pessoas haverão de dar conta no juízo de todas as palavras que proferirem (Mt 12.36), e Judas sabia disso. É nessa categoria que Judas enquadra o ensinamento dos apóstatas.

ð Uma coisa que não podemos esquecer é que, uma das características do anticristo é que ele fala blasfêmias ou com insolência contra Deus e as coisas de Deus – Dn 7.20; 11.36; Ap 13.5, 6, 11.

II. Hereges contemporâneos demonstram sua impiedade em seu falar – marcando-se assim, para o juízo – v.16

Além do que Judas já falou a advertiu a Igreja sobre os libertinos, ele diz mais duas coisas sobre eles nesse versículo que, são a sua marca para o juízo divino final.

1. v.16a Estes são murmuradores, queixosos da sua sorte,... – murmuradores e queixosos no texto grego têm significa muito próximo e falam de pessoas insatisfeitas com a sua situação na vida, que tem o hábito de reclamar e de achar defeito em todas as coisas. A BLH traduz o termo assim: “acusando os outros”. “No fundo, esse descontentamento e murmuração são contra Deus, aquele que governa e guia todas as coisas”[9].

Paulo, no NT, usa o exemplo de murmuração dos israelitas no AT, como advertência para os cristãos – 1Co 10.10.

2. v.16b... andando segundo as suas concupiscências,... – concupiscência (ACF) ou paixão (ARA) é a palavra padrão no NT para desejos impuros. A referência, aqui, é ao modo de viver dos libertinos e, em particular, a sua licenciosidade na área sexual. Portanto, a murmuração e o descontentamento dos tais, são provenientes das paixões e dos desejos impuros que marcam a vida deles. A natureza corrompida e pecaminosa do homem não somente é inclinada a toda sorte de desejos maus e impuros, como também a murmurar e reclamar de Deus e dos homens.[10]

“Os apóstatas são especialmente motivados por um desejo pecaminoso de satisfazer seus próprios interesses”[11].

3. v.16c – ... e cuja boca diz coisas mui arrogantes,... – a palavra arrogantes poderia ser traduzida também como coisas excessivamente grandes, bombásticas, fantásticas, extravagantes. Judas se refere ao fato de que os falsos mestres, para se promoverem e ganharem adeptos entre os cristãos, contavam “coisas incríveis, talvez narrando visões ou relatando milagres”[12]. E por isso que a versão BLH traduz assim o termo “eles vivem se gabando”. No v.8, Judas já os havia chamado de adormecidos ou sonhadores alucinados.

“Eles falam com arrogância, com pompa e até com magnificência, mas suas palavras são vazias e não tem vida nem valor espiritual. Sua mensagem pode parecer atrativa, mas não tem o conteúdo poderoso da verdade divina”[13].

4. v.16d – ... admirando as pessoas por causa do interesse. – Além de arrogantes, eles eram interesseiros ou aduladores de outros (ARA). O sentido aqui é ficar impressionado diante da face de uma pessoa, e daí passar a tratá-la de maneira diferenciada. Esse tipo de atitude era proibido no AT e também é proibido no NT – Dt 10.17; Is 9.15; At 10.28, 34; Tg 2.1.

“Eles dizem às pessoas os que elas querem ouvir para seu próprio benefício, em vez de proclamarem a verdade da Palavra de Deus para o benefício dos ouvintes”[14]2Tm 4.3, 4; Rm 3.13; 16.18; Pv 26.28; 29.5.

“Os falsos mestres amavam-se a si mesmos e queriam promover-se. Suas intenções, ao contrário do verdadeiro pastor e mestre, eram promover-se”[15].

Concluindo – duas aplicações:

1ª) A graça salvadora de Deus se manifestou para nos salvar e nos ensinar a renunciarmos à impiedade e às concupiscências mundanasTt 2.11, 12.

2ª) A atitude amorosa de Deus por todos os homens nos ensina a não fazermos acepção de pessoas em hipótese algumaAt 10.28, 34; Tg 2.1.

Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, SP – 19/10/13



[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] Ibid., p. 587.
[3] Ibid., p. 587.
[4] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, 2009, p. 2124.
[5] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 133.
[6] Ibid., 132.
[7] Ibid., 133, 134.
[8] Comentário Bíblico Broadman, Volume 12, Novo Testamento, Hebreus a Apocalipse, 1987, p. 280.
[9] Lopes, p. 136.
[10] Lopes, p. 137.
[11] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1774.
[12] Lopes, p. 138.
[13] MacArthur, p. 1775.
[14] Ibid., p. 1775.
[15] Lopes, p.138.

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