Jd 14-16
Defender a fé
do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com hereges na medida em
que apóstatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta,
seu caráter e sua condenação.[1]
No
estudo anterior nos vv.12, 13,
discorremos sobre o tema Revisão com
a seguinte tese: Os apóstatas
contemporâneos se encaixam no padrão histórico em seu caráter. Expomos o
texto, como na semana anterior, versículo por versículo.
Hoje,
vamos estudar os vv.14-16 também com
o tema Revisão e a seguinte tese: Os apóstatas contemporâneos se encaixam no
padrão histórico em sua condenação.
Então,
Judas, após mostrar que os apostatas
contemporâneos se encaixam no padrão histórico em sua conduta e em seu caráter,
termina enfatizando que esses falsos mestres contemporâneos se encaixam no
padrão histórico, também, em sua condenação.
Faremos
essa exposição do texto com duas coisas em mente: 1ª) “A impiedade foi marcada
para o juízo de Deus desde o início da história humana, como se comprova pela
profecia de Enoque”[2] – vv.14, 15; 2ª) “Hereges contemporâneos demonstram
sua impiedade em seu falar – marcando-se assim, para o juízo”[3] – v.16.
I. A impiedade foi marcada para o juízo
de Deus desde o início da história humana, como se comprova pela profecia de
Enoque – vv.14, 15
Aqui,
Judas, chega ao clímax de sua denúncia ao citar a profecia de “Enoque a fim de
confirmar o castigo iminente de certo desses homens ímpios e conclui com
palavras muito bem escolhidas”[4].
1. v.14a – E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão,... Alguns comentaristas
acreditam que Judas citou aqui a profecia do livro apócrifo Apocalipse
de Enoque 1.9 que diz: Eis que
vem com dez mil de seus santos para executar julgamento sobre todos. E para
destruir todos os ímpios. E para condenar toda carne por causa da sua impiedade
que impiamente cometeram e por todas as coisas duras que ímpios pecadores têm
falado contra ele.
Concordo
com Augustus Nicodemus de que o reconhecimento da inspiração da profecia de
Enoque, da parte de Judas, não precisa necessariamente se estender ao livro que
a registrou. E. C. Pentecost afirma que se Judas citou o livro apócrifo, ele
estava apenas afirmando a verdade da profecia de Enoque e não endossando o
livro em sua inteireza. Por exemplo, Paulo cita um poeta cretense chamado
Epimênedes em Tito 1.2, sem com isso considerar os escritos dele como
inspirados.[5]
Creio,
juntamente com MacArthur, que a fonte dessa informação foi à inspiração do
Espírito Santo a Judas e que o fato de estar registrado num documento
pseudepigráfico não anula a sua precisão.
De
acordo com a genealogia de Gn 5.3-21
(cf. Lc 3.27), Enoque é realmente o sétimo depois de Adão. Enoque, segundo Gn
5.21-24, andou com Deus; e não apareceu
mais, porquanto Deus para si o tomou (v.24).
Segundo
Hebreus 11.5, 6, “Enoque foi
transladado ao céu porque viveu pela fé, tendo, assim, agradado a Deus e se
tornado um dos heróis da fé a serem imitados pelos cristãos”[6].
Pela fé
Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o
trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que
agradara a Deus. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que
aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos
que o buscam.
2. v.14b – ... dizendo:
Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;... – Essa vinda do
Senhor tem a ver com o juízo final contra todos os ímpios. Os profetas do AT e
os apóstolos do NT, à semelhança de Enoque, profetizaram acerca desse juízo, do
dia da ira de Deus, quando ele finalmente exercerá juízo e castigo contra os
ímpios.[7]
“Este
é aquele dia solene quando a criatura responde perante o Criador pelo que fez
com a mordomia da vida. Todos responderão perante o Senhor; não haverá ausentes
à essa sessão do tribunal”[8].
3. v.15a – Para fazer juízo contra
todos e condenar dentre eles todos os ímpios,... – Para Judas, todo
ensino que se desviasse da verdade e ensinamento revelado por Deus, aos seus
santos profetas e apóstolos, era impiedade e ímpios, também, seriam todos os
que propagassem tal ensino. É assim que ele encara o ensino desses falsos
mestres, como impiedade e palavras insolentes contra o Senhor. A irreverência
daqueles falsos mestres é destacada aqui pela repetição da palavra ímpio, por
quatro vezes da no texto grego original.
Temos aqui, claramente declarado
por Judas, o propósito da segunda vida do Senhor Jesus, após o arrebatamento da
Igreja. Ele vem com dois objetivos: 1º)
Para fazer juízo contra todos... – todos
os ímpios enfrentarão o juízo divino, mas Judas tem em mente, em particular,
aqui, os falsos mestres que estavam infestando as igrejas com seu ensino
errôneo, os quais Judas chama de homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de
Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. (v.4);
2º) ... e condenar dentre eles todos os ímpios,... – o termo condenar
tem o sentido primário, no grego, de
trazer à luz, expor, com o objetivo de provar a culpa de alguém, de convencê-lo
de seus erros e inculcar-lhe a consciência da culpa; declarar alguém culpado.
4.
v.15b – ... por todas as suas obras de impiedade, que impiamente
cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra
ele. Aqui temos as coisas pelas quais
Deus fará juízo e condenará os ímpios:
ð
obras de
impiedade – essa obras ímpias tem paralelo em 2Pe 2.8, onde se menciona as obras
injustas (de impiedade) dos moradores de Sodoma.
ð
que
impiamente praticaram – que praticaram de maneira deliberadamente ímpia, isto é,
sem nenhum temor ou tremor.
ð
duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele – palavras desagradáveis, cruéis, insolentes e terríveis. Judas diz
isso em referência ao falso ensino desses mestres. Jesus ensinou que as pessoas
haverão de dar conta no juízo de todas as palavras que proferirem (Mt 12.36), e Judas sabia disso. É nessa
categoria que Judas enquadra o ensinamento dos apóstatas.
ð
Uma coisa que não podemos esquecer é que, uma das
características do anticristo é que ele fala blasfêmias ou com insolência
contra Deus e as coisas de Deus – Dn
7.20; 11.36; Ap 13.5, 6, 11.
II.
Hereges
contemporâneos demonstram sua impiedade em seu falar – marcando-se assim, para
o juízo – v.16
Além do que Judas já falou a
advertiu a Igreja sobre os libertinos, ele diz mais duas coisas sobre eles
nesse versículo que, são a sua marca para o juízo divino final.
1. v.16a – Estes são
murmuradores, queixosos da sua sorte,...
– murmuradores e queixosos no texto grego têm significa muito próximo e falam de pessoas insatisfeitas com a sua
situação na vida, que tem o hábito de reclamar e de achar defeito em todas as
coisas. A BLH traduz o termo assim: “acusando
os outros”. “No fundo, esse descontentamento e murmuração são contra Deus,
aquele que governa e guia todas as coisas”[9].
Paulo,
no NT, usa o exemplo de murmuração dos israelitas no AT, como advertência para
os cristãos – 1Co 10.10.
2. v.16b – ... andando
segundo as suas concupiscências,... – concupiscência
(ACF) ou paixão (ARA) é a palavra padrão
no NT para desejos impuros. A referência, aqui, é ao modo de viver dos
libertinos e, em particular, a sua licenciosidade na área sexual. Portanto, a
murmuração e o descontentamento dos tais, são provenientes das paixões e dos
desejos impuros que marcam a vida deles. A natureza corrompida e pecaminosa do
homem não somente é inclinada a toda sorte de desejos maus e impuros, como
também a murmurar e reclamar de Deus e dos homens.[10]
“Os
apóstatas são especialmente motivados por um desejo pecaminoso de satisfazer
seus próprios interesses”[11].
3. v.16c – ... e cuja
boca diz coisas mui arrogantes,... – a palavra arrogantes poderia ser traduzida também como coisas excessivamente grandes, bombásticas, fantásticas, extravagantes.
Judas se refere ao fato de que os falsos mestres, para se promoverem e ganharem
adeptos entre os cristãos, contavam “coisas incríveis, talvez narrando visões
ou relatando milagres”[12]. E por
isso que a versão BLH traduz assim o termo “eles
vivem se gabando”. No v.8, Judas
já os havia chamado de adormecidos ou
sonhadores alucinados.
“Eles
falam com arrogância, com pompa e até com magnificência, mas suas palavras são
vazias e não tem vida nem valor espiritual. Sua mensagem pode parecer atrativa,
mas não tem o conteúdo poderoso da verdade divina”[13].
4. v.16d – ... admirando
as pessoas por causa do interesse. – Além de arrogantes, eles eram interesseiros ou aduladores de outros (ARA). O
sentido aqui é ficar impressionado diante da face de uma pessoa, e daí passar a
tratá-la de maneira diferenciada. Esse tipo de atitude era proibido no AT e
também é proibido no NT – Dt 10.17; Is
9.15; At 10.28, 34; Tg 2.1.
“Eles
dizem às pessoas os que elas querem ouvir para seu próprio benefício, em vez de
proclamarem a verdade da Palavra de Deus para o benefício dos ouvintes”[14] – 2Tm 4.3, 4; Rm 3.13; 16.18; Pv 26.28; 29.5.
“Os
falsos mestres amavam-se a si mesmos e queriam promover-se. Suas intenções, ao
contrário do verdadeiro pastor e mestre, eram promover-se”[15].
Concluindo – duas aplicações:
1ª) A graça salvadora de Deus se
manifestou para nos salvar e nos ensinar a renunciarmos à impiedade e às
concupiscências mundanas – Tt 2.11,
12.
2ª) A atitude amorosa de Deus por
todos os homens nos ensina a não fazermos acepção de pessoas em hipótese alguma
– At 10.28, 34; Tg 2.1.
Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, SP – 19/10/13
[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento
no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 586.
[2] Ibid., p. 587.
[3] Ibid., p. 587.
[4] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
2009, p. 2124.
[5] Lopes, Augustus Nicodemos. Interpretando o NT, II e
III João e Judas, Editora Cultura Cristã, 2008, p. 133.
[6] Ibid., 132.
[7] Ibid., 133, 134.
[8] Comentário Bíblico Broadman, Volume 12, Novo
Testamento, Hebreus a Apocalipse, 1987, p. 280.
[9] Lopes, p. 136.
[10] Lopes, p. 137.
[11] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1774.
[12] Lopes, p.
138.
[13] MacArthur, p. 1775.
[14] Ibid., p. 1775.
[15] Lopes, p.138.
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