sábado, 22 de fevereiro de 2014

Quarto Mandamento

Êxodo 20.8-11

Em nosso estudo anterior:

ð  Vimos sobre o terceiro mandamento um nome para ser honrado”.
ð  Destacamos três maneiras de usar impropriamente o nome de Deus, que estão proibidas neste mandamento: 1ª) Conduta profana; 2ª) Obras ímpias; e 3ª) Juramento falso.
ð  Observamos alguns motivos para não tomarmos o nome de Deus em vão: 1º) Deus é o Juiz; e 2º) Deus ama o seu povo.
ð  Terminamos afirmando que: Jesus, por meio do ministério do Espirito Santo, nos ajuda a tomar o nome de Deus e honrá-lo. Pois, o Espírito Santo aplica as virtudes de Jesus em nosso coração.

Nosso estudo de hoje é sobre o quarto mandamento – Êxodo 20.8-11 – Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o SENHOR abençoou o dia de sábado e o santificou.

No início dos nossos estudos sobre o Decálogo vimos que, nele, há deveres para com Deus e para com os homens. Por isso, eles podem ser agrupados em duas categorias gerais: a verticalprincípios para o relacionamento do ser humano com Deus (vv.3-11) e a horizontalprincípios para o relacionamento do ser humano com o seu próximo ou com a comunidade (vv.12-17).

Assim, estudando a categoria vertical ‘princípios para o relacionamento do ser humano com Deus’ (vv.3-11), vimos que “nos primeiros dois mandamentos o foco é Deus no centro do coração. O terceiro estabelece uma linguagem que reflete o amor. Agora, o quarto abre espaço para a devoção. Um dia dentre sete deve ser separado para  deixar-se de lado todo o resto a fim de deleitar-se em Deus”.[1]

Vejamos o que consta no quarto mandamento: 1º) O sábado deve ser lembrado (v.8a) – o termo usado por Moisés tem um sentido mais extenso do que meramente recordar esporadicamente, ele significa estabelecer um memorial ou manter na lembrança, ou seja, algo que não deve ser esquecido; e 2º) O sábado deve ser santificado (v.8b) – a afirmação da Escritura é separar, consagrar ou tratar como sagrado, e a base para essa santificação é o registro da Criação (v.11) – Gn 2.3; Êx 31.17.

Mas, para entendermos melhor o quarto mandamento, que talvez seja o mais controverso dentre os dez, vamos observar o que o Antigo Testamento tem a dizer, que leitura faz o Novo Testamento e como o cristão, que assume a Bíblia como única regra de fé e prática e é apegada à herança da Reforma Protestante do século 16, deve cumprir esse mandamento.

I. O que o Antigo Testamento tem a dizer sobre o 4º Mandamento

1. Êxodo 16 – Antes da promulgação da Lei, nesse texto onde Deus é destacado como a fonte e garantidor do sustento, o povo de Israel é ensinado a guardar o sétimo dia, como dia de descanso – vv.4, 5, 22-27.

2. Êxodo 23.12 (cf. Lv 23.3) – Aqui temos uma nota importante para a guarda do sábado, tanto pessoas como animais precisam de um dia para tomar alento, ou seja, revigorar-se para uma nova semana de trabalho.

3. Êxodo 31.12-18 – O sábado é apresentado aqui como sinal da relação do povo com o Deus que santifica (v.13) em uma grande solenidade. É para ser guardado como aliança perpetua em cada geração do povo de Israel – v.16.

4. Levítico 16.31 – O Dia da Expiação é um sábado de descanso solene.

5. Deuteronômio 5.11-15 – Repetição das palavras de Êxodo 20, com um acréscimo: o descanso relaciona-se ao alívio da escravidão sob os egípcios (v.15).

6. Em Neemias 9.4-6, 14 temos dos piedosos do povo, um louvor a Deus que lhes havia feito conhecer o santo sábado.

7. Isaias 56.1-8 – Para o profeta era bem aventurado o que guardava o sábado.

8. Jeremias, Ezequiel e Amós também mencionam o sábado em seus escritos – Jr 17.27; Lm 2.6; Ez 46.1, 4, 12; Am 8.4-7.

A inserção da guarda do sábado à lista de mandamento de Êxodo 20 simplesmente corrobora as ordenanças criacionais do Redentor de Israel e a expectativa dos profetas é de um tempo em que, sob o domínio messiânico, todos os povos adorem o Senhor, de um sábado a outro sábado[2]Is 66.23.

II. A leitura do Novo Testamento do 4º Mandamento

O Senhor Jesus, no que falou e no que fez, não revogou o quarto mandamento. Antes, tanto cumpriu quanto atualizou as promessas do AT – Mt 5.17, 18; 2Co 1.20. “Ele trouxe a novidade do reino, que não foi crida nem abraçada pelos religiosos do seu tempo”[3]Mc 2.18-22.

Jesus declarou: Porque o Filho do Homem até do sábado é Senhor – Mt 12.8 (acf). “Além disso, Jesus acentuou que a guarda do Dia do Senhor, bem como todos os regulamentos religiosos de Israel deve ir muito além do apego a regras legalistas”[4]o sábado é uma instituição divina para beneficiar o homem, abençoar o próximo e para aproximar-se de DeusMt 12.1-14; Mc 2.27; 1.21; Lc 4.16.

Uma coisa importante para considerar no NT é “a menção da consumação do trabalho de Jesus em uma sexta-feira, o descanso de seu corpo na sepultura no sábado e sua ressurreição no domingo (Jo 19.30, 31; 38-42; 20.1, 19). Esses dados bíblicos preparam o terreno para uma mudança completada no restante do NT.”[5]

A novidade trazida pela ressurreição do Senhor Jesus no domingo toma lugar não apenas na mente e no coração dos crentes, mas também no calendário cristão. Os irmãos, agora, se reúnem para partir o pão no primeiro dia da semana – At 20.7.

Assim, da criação à ressurreição, o dia designado para descanso e devoção era o sétimo. A partir da ressurreição, os cristãos passaram a reunir-se para cultuar a Deus no primeiro dia da semana. Para esclarecer, o termo sábado não significa sétimo, e sim, descanso.[6] (Jo 20.1; At 20.7)

III. Como o cristão deve cumprir esse mandamento

Esse dia, para o cristão, prefigura o descanso eterno. “A busca de Deus no domingo é propicia para refletirmos em nossa vida futura, e na necessidade de caminharmos com o Senhor todos os dias da semana, com fé e santificação”[7] – Cl 3.1-3.

Vejamos o que diz o Catecismo de Heidelberg e o Breve Catecismo de Westminster:

Catecismo de Heidelberg – Pergunta 103: O que Deus ordena no quarto mandamento?

“... Que eu, especialmente no domingo, ou seja, no dia de descanso, devo ir à igreja de Deus para ouvir a sua Palavra, participar dos sacramentos, invocar o nome de Deus publicamente e contribuir para aliviar a situação dos necessitados.
Em segundo lugar, devo, todos os dias de minha vida, desistir das más obras e entregar-me ao Senhor, para que ele atue em mim pelo seu Santo Espírito, e assim, começar nesta vida o descanso eterno.”

 Breve Catecismo de Westminster – Pergunta 60: De que modo o domingo deve ser santificado?

“O domingo deve ser santificado como um santo repouso durante todo esse dia, até mesmo das ocupações e recreações temporais que são permitidas nos outros dias, empregando todo o tempo em exercícios públicos e particulares de adoração a Deus, exceto o tempo suficiente para as obras de pura necessidade de misericórdia.”
Concluindo

É impressionante como Deus exige poucas coisas de nós: Que o amemos acima de tudo, que o amemos como ele é e não a um ídolo forjado por nossa imaginação, que falemos dele com amor e respeito e, por fim, que dediquemos tempo a ele e ao seu reino. Observe comigo a progressão: Coração, fala e tempo santificados.

Somos bem-aventurados e livres na medida em que reconhecemos ao Senhor como centro, relacionando-nos com ele intensa e verdadeiramente. Os cristãos antigos chamavam isso de deleitar-se na glória de Deus. Tudo o mais é passageiro e ilusório.[8]

Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira, 22/02/14



[1] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 13.
[2] Lição “Os Dez Mandamentos – Os Preceitos do Deus da Aliança”, Editora Cultura Cristã, 1º Trimestre de 2014, Lição 6, p. 27.
[3] Ibid., p. 27.
[4] Ibid., p. 27.
[5] Ibid., p. 27.
[6] Nascimento, p. 13.
[7] Ibid., p. 14.
[8] Ibid., p. 14.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Terceiro Mandamento

Êxodo 20.7

Em nossos estudos anteriores vimos que:

ð  O primeiro mandamento nos ensina que “nada deve ser considerado como mais amável ou importante do que Deus. Colocar qualquer coisa à sua frente é idolatria”. E idolatria “é inventar ou ter alguma coisa em que se deposite confiança, em lugar ou ao lado do único e verdadeiro Deus, que se revelou na sua Palavra”.
ð  O segundo mandamento proíbe a idolatria, isto é, a fabricação de imagens para a adoração. O texto contém duas ordens: não faras imagens (v.4) e não as adorarás (v.5).
ð  O segundo mandamento está intimamente ligado ao primeiro, por isso deve ser compreendido à luz dele. “No primeiro mandamento, Deus proíbe que o povo tenha outros deuses, que não o Senhor. No segundo, ele proíbe que o povo cultue ou revele sua devoção a qualquer outro deus, se curvando diante de uma imagem de escultura”.
ð  No segundo mandamento, Deus, proíbe tanto a idolatria como o culto falso e, também, “exige a exclusividade de nossa adoração e a pureza de nosso serviço cúltico”.
ð  “O segundo mandamento nos ajuda a manter nossa visão sobre nós mesmos, livrando-nos de pensar de nós além do que convém, o que está diretamente relacionado à moderação e, consequentemente, à sabedoria (Rm 12.3)”.

O nosso estudo de hoje é sobre o terceiro mandamento um nome para ser honrado”: Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. (Êxodo 20.7)

[1]Dentre os nomes da Bíblia, o nome de Deus é o que melhor define o caráter de seu possuidor. Deus é um só, contudo, revelou-se por meio de vários nomes. Esses nomes indicam a sua natureza e também as obras que faz. Os nomes de Deus são eternos e foram revelados para nos ensinar sobre o seu caráter, poder, natureza e atributos – Êx 3.15b. Assim, quando Deus anuncia seus nomes, está dizendo algo sobre si mesmo ou sobre o que está disposto a fazer por nós. Vários dos nomes de Deus são bem conhecidos pelos leitores da Bíblia: Elohim (Gn 1.1), El Shaday (Gn 28.3) e Adonai (Dt 10.17), por exemplo.

A palavra nome no mandamento, não tem o propósito de apontar para um nome específico, mas para o próprio Deus. É nosso dever reverenciar e temer a Deus por tudo o que ele é e faz. Mas, pelo contexto da passagem aponta para o nome Yahweh como o primordial para o entendimento da Lei.

Esse nome foi revelado a Moisés no meio da sarça ardente em Êx 3.1-6. Ele é o tetragrama YHWH e é a representação do nome Iavé ou Yahweh, ou mesmo Jeová. Ele representa a fidelidade de Deus e o seu propósito de cumprir todas as promessas feitas a Abraão e aos patriarcas.

Os judeus ortodoxos não pronunciam o nome YHWH. Eles o substituem por Adonai (Senhor), ou por Ha Shem (O Nome) ou ainda por El Olam (O Eterno). Duas razões eles usam para esse procedimento: primeira, o nome YHWH é considerado impronunciável, pois não existe uma verbalização para o tetragrama; segunda, o fato de esse nome ser considerado santíssimo, o que de fato é.

A relação entre Deus e o povo que recebeu o Decálogo foi fortemente dirigida pelo entendimento de que quem os resgatava era o Eu Sou. Este nome foi anunciado no preâmbulo dos mandamentos (Êx 20.2) e em todo o seu transcorrer – Êx 20.5, 7, 10-12. Aqui no terceiro mandamento, é esse o nome usado para se referir a Deus, tanto quanto para se referir ao vingador daquele             que tomar o seu nome em vão – Êx 20.7.

A palavra hebraica usada por vão é Shaw e literalmente significa irreal. Em outros textos essa palavra é traduzida por falsidade – Êx 23.1; Sl 24.4. Assim, tomar o nome de Deus em vão é o mesmo que usá-lo de maneira imprópria, vazia de sentido, insincera, frívola, ou para finalidades que nada têm a ver com o verdadeiro propósito de Deus nos ter dado o seu nome.

Podemos, aqui, destacar três maneiras de usar impropriamente o nome de Deus, que estão proibidas neste mandamento.

1ª) Conduta profana – Tomar o nome de Deus em vão, entre outras coisas, é fazer uso equivocado deste nome, desprezando sua majestade e pureza. Deus proibia toda a conduta que profanasse o seu nome – Êx 36.20-22; Lv 19.11-12; 22.32.

2ª) Obras ímpias – o mandamento também proíbe o uso do nome de Deus para aquilo que não é justo e santo ou para levar outros a se desviarem. Deus proíbe que o seu nome seja usado para enganar, roubar e desviar o seu povo do caminho reto. Este é um problema que tem acompanhado a historia da Igreja de Cristo. (Jr 23.25-27; Mt 7.22, 23)

3ª) Juramento falso – Deus proíbe o juramento falso e em particular quando é feito em seu nome – Zc 5.3, 4. Deus nos ensina que é melhor não prometer do que prometer e não cumprir – Ec 5.4, 5; Mt 5.33-37.

Podemos, ainda, observar alguns motivos para não tomarmos o nome de Deus em vão:

1º) Deus é o Juiz – Tomar o nome de Deus em vão é provocar o zelo de Deus e se colocar em uma condição de reprovação diante do Juiz – Ez 36.21-23. O julgamento daquele que tomar o nome do Senhor em vão será segundo as bases formais do seu pacto, isto é, a sua Lei – Is 42.6-8. (cf. Mq 6.1-5)

2º) Deus ama o seu povo – Aqui temos o lado positivo da Lei, o amor de Deus para com o seu povo. Deus deseja que vivamos em plena comunhão com ele. Tomar o seu nome com amor, reverência e temor é o princípio de uma vida consagrada e santa ao Senhor. Isto é um grande privilégio que Deus nos concede – Ez 39.25-29.

Concluindo

A lei de Deus não pode ser ignorada e seremos honestos se reconhecermos que, por causa de nossa natureza pecaminosa, não conseguimos guarda-la perfeitamente. Mas, Deus, por sua graça, nos socorre em Jesus Cristo, cujo nome, ele exaltou acima de todo o nome – Ef 1.21.

Quando Deus exalta o nome de Jesus acima de todo om nome e a ele conduz todos os homens para o adorarem, está nos dizendo que Jesus é o Senhor do pacto, nele é que nossas almas realmente encontrarão o descanso prometido. Assim, cumprimos o mandamento de honrar o nome de Deus, honrando o nome de Jesus – Fp 2.10, 11.

Deus veio em nosso socorro ao enviar Jesus Cristo, o único capaz de honrar o seu nome de maneira perfeita. A santidade e obediência de Jesus nos abençoaram e nos deram vida – Rm 8.3, 4.

Jesus, por meio do ministério do Espirito Santo, nos ajuda a tomar o nome de Deus e honrá-lo. Pois, o Espírito Santo aplica as virtudes de Jesus em nosso coração – Ez 36.27; Jo 16.14; Rm 8.14-17.

Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira, 14/02/14



[1] A parti daqui faço uma transcrição direta, com interpretações, modificações e cortes pessoais, da lição “Os Dez Mandamentos – Os Preceitos do Deus da Aliança”, Editora Cultura Cristã, 1º Trimestre de 2014, Lição 5, p. 20-24.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Segundo Mandamento

Êxodo 20.4-6

Terminamos nosso estudo do primeiro mandamento com as seguintes afirmações: O primeiro mandamento nos ensina que “nada deve ser considerado como mais amável ou importante do que Deus. Colocar qualquer coisa à sua frente é idolatria”.[1] E idolatria “é inventar ou ter alguma coisa em que se deposite confiança, em lugar ou ao lado do único e verdadeiro Deus, que se revelou na sua Palavra”.[2]

Hoje, vamos estudar o segundo mandamento “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.” (vv.4-6)

Ao estudarmos os mandamentos devemos ter em mente que, eles, não apenas exigem que não façamos algo, mas, que também possuem aspectos positivos.

Vemos que a proibição no segundo mandamento “é toda inclusiva e proíbe a fabricação de quaisquer imagens – do que há no céu, na terra, ou no mar. A proibição é abrangente e toda inclusiva, mas não se trata de um cerceamento da criatividade humana”.[3] Pois, de acordo com o contexto da passagem e o contexto histórico, não implica, da parte de Deus, uma proibição quanto ao exercício da criatividade humana, como a arte pictórica ou escultural. Um bom exemplo disso é o que temos no decorrer dos capítulos 25 a 31 de Êxodo, onde Deus ordenou a construção do tabernáculo e ele mesmo entregou o modelo, exigindo que tudo fosse feito segundo o que ele mostrasse no monte a Moisés – Êx 25.9; 26.30; 27.8. Algumas imagens faziam parte do tubérculo – Êx 37.7; 19, e em Êxodo 35.30-35, Deus mesmo habilitou homens para a ornamentação estética do tabernáculo.

O que, então, proíbe o segundo mandamento?  Proíbe a idolatria, isto é, a fabricação de imagens para a adoração. Observe o texto comigo: duas ordens: não faras imagens (v.4) e não as adorarás (v.5). O que temos aqui é que a segunda ordem explica a primeira.

O segundo mandamento está intimamente ligado ao primeiro, por isso deve ser compreendido à luz dele. “No primeiro mandamento, Deus proíbe que o povo tenha outros deuses, que não o Senhor. No segundo, ele proíbe que o povo cultue ou revele sua devoção a qualquer outro deus, se curvando diante de uma imagem de escultura[4].

Esse segundo mandamento proíbe também a falsa adoração. Ele não apenas proíbe adoração a outros deuses, mas também proíbe uma adoração errada ao verdadeiro Deus. Assim, o verdadeiro Deus não deve ser adorado por meio de imagens – Dt 4.15-18.

Enquanto o primeiro mandamento diz a quem devemos adorar, o segundo diz de que modo deve ser essa adoração. Portanto, o segundo mandamento, também, está relacionado com a pureza do culto a Deus.

A adoração a Deus, no culto público, não pode ser determinado simplesmente pela popularidade. Muitas vezes surge à tentação de se incluir certas práticas no culto a Deus por ser uma coisa comum em muitos lugares e círculos religiosos. E o argumento é: mas todas as igrejas estão fazendo o mesmo. O mandamento nos ensina que a popularidade não justifica a inclusão de qualquer prática na adoração a Deus.

Então, no segundo mandamento, Deus, proíbe tanto a idolatria como o culto falso e, também, “exige a exclusividade de nossa adoração e a pureza de nosso serviço cúltico”[5].

O Breve Catecismo de Westminster, pergunta 50, fala o seguinte sobre o segundo mandamento: O segundo mandamento exige que recebamos, observemos e guardemos puros e íntegros todo culto e ordenanças religiosas que Deus instituiu em sua Palavra.

Todo o decálogo está fundamentado no caráter de Deus. Por isso, cada um dos mandamentos, de modo específico, está relacionado aos atributos de Deus e isso significa que Deus “é a razão principal pela qual a Lei deve ser obedecida”[6].

Esse mandamento fundamenta-se na soberania de Deus, pois nele “o Criador se apresenta como o Senhor absoluto e soberano sobre o seu povo”[7] e exige ser adorado exclusivamente por ele. As razões anexas, que notamos no v.5, que ajudam na percepção desse fundamento, são expostas na pergunta 52 do Breve Catecismo de Westminster: a soberania de Deus sobre nós, a sua propriedade em nós, e o zelo que ele tem pelo seu próprio culto.

Também “é interessante pensar em como o segundo mandamento nos protege de uma falsa compreensão sobre nós mesmos e a realidade. João Calvino, no primeiro livro das Institutas da Religião Cristã, afirma que todo o conhecimento verdadeiro depende de um duplo conhecimento anterior: o conhecimento de Deus e o conhecimento de nós mesmos[8].

Assim, “o segundo mandamento nos ajuda a manter nossa visão sobre nós mesmos, livrando-nos de pensar de nós além do que convém, o que está diretamente relacionado à moderação e, consequentemente, à sabedoria (Rm 12.3)”[9].

Concluindo

Por causa do pecado, há uma tendência humana de se aproximar de Deus de um modo que lhe pareça mais palpável. Nós, os cristãos, também temos essa tendência, e isso é uma tentação. Por isso, muitos têm lançado mão de práticas não bíblicas e até idolatras como meio de se aproximar mais de Deus.

Percebemos isso no pedido de Filipe em João 14.8 – Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Veja a resposta de Jesus: Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?

Jesus é a resposta definitiva para a necessidade humana de se aproximar mais de Deus. Ele é a expressão exata do ser de Deus – Hb 1.3. “Por isso, quem deseja se aproximar de Deus não precisa de qualquer imagem, senão da pessoa de Jesus Cristo. É por meio da fé no testemunho daqueles que estiveram com ele e viram sua obra, que nos aproximamos de Deus”[10]. (Jo 20.30, 31; 1Jo 1.1-4)

Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira, 07/02/2014



[1] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 12.
[2] Catecismo de Heidelberg, pergunta 95.
[3] Lição “Os Dez Mandamentos – Os Preceitos do Deus da Aliança”, Editora Cultura Cristã, 1º Trimestre de 2014, Lição 4, p. 15.
[4] Ibid., p. 16.
[5] Ibid., p. 17.
[6] Ibid., p. 17.
[7] Ibid., p. 17.
[8] Ibid., p. 18.
[9] Ibid., p. 18.
[10] Ibid., p. 19.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Daniel 1

continuação...

Mas, o que nos diz o capítulo um de Daniel? Ele, assim como o último capitulo, é breve! É uma narrativa simples e direta e nos ensina lições que não deveríamos esquecer nunca. O capítulo um se divide em quatro partes: 1º) A ida de Nabucodonosor a Jerusalémvv.1, 2; 2º) A apresentação de Daniel e seus três companheiros – Hananias, Misael e Azariasvv.3-7; 3º) A posição ocupada por Daniel e seus três companheirosvv.8-16; e 4º) O resultado da ação corajosa e espiritual de Daniel e os trêsvv.17-21.

I. A ida de Nabucodonosor a Jerusalém – vv.1, 2

Em 605 a.C. Nabucodonosor se torna rei da Babilônia e marcha contra Jerusalém – sitia, invade, derrota e a faz cativa, levando para a sua terra o que deseja e quer.

Por oito anos Jeoaquim ainda permanece em Jerusalém, mas depois é completamente destituído e humilhado.

O templo é saqueado e os seus tesouros são levados para a Babilônia. Agora, aquilo em que a apostasia confiava não mais tem valor, está totalmente devastado.

Ao invés de confiar em Deus o povo estava confiando no templo. Estavam certos de que não importava como vivessem o templo os salvaria. Mas, isso não aconteceu!

Deus é o único Senhor! Nada pode substituí-lo! Substituir Deus por algo feito por mãos humanas é idolatria! E a idolatria derrotou o povo de Deus!
O primeiro mandamento da Lei de Deus é: Não terás outros deuses diante de mim. (v.3) O Breve Catecismo de Westminster ao definir quais sãos os deveres exigidos no primeiro mandamento afirma: Os deveres exigidos no primeiro mandamento são: conhecer e reconhecer Deus como único verdadeiro Deus, e nosso Deus; cultuá-lo e glorifica-lo como tal, pensar e meditar nele, lembrar-nos dele, altamente apreciá-lo, honrá-lo, adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e teme-lo; crer nele, confiando, esperando, deleitando-nos e regozijando-nos nele; ter zelo por ele; invocá-lo, dando-lhe todo louvor e agradecimentos, prestando-lhe toda obediência e submissão do homem todo; ter cuidado de o agradar em tudo, e tristeza quando ele é ofendido em qualquer coisa; e andar humildemente com ele.[1]

Assim, o primeiro mandamento nos ensina que “nada deve ser considerado como mais amável ou importante do que Deus. Colocar qualquer coisa à sua frente é idolatria”.[2] E idolatria “é inventar ou ter alguma coisa em que se deposite confiança, em lugar ou ao lado do único e verdadeiro Deus, que se revelou na sua Palavra”.[3]

II. A apresentação de Daniel e seus três companheiros – vv.3-7

Esses versículos apresentam os principais personagens do livro – Nabucodonosor, seus assessores e Daniel, Hananias, Misael e Azarias.

A estratégia do Rei Nabucodonosor – “deportar a nobreza de cada nação conquistada e integrá-las no serviço público da Babilônia”[4]. Foi esse o método que ele usou quando conquistou Judá – v.3.

Os selecionados para o abrangente programa de reeducação teriam acompanhamento e treinamento vip – vv.4, 5. A idade exigida para a reeducação pelos babilônios era entre 14 e 15 anos.

Era parte da política babilônica mudar os nomes de todos os selecionados para a reeducação e treinamento especial – vv.6, 7.

ð  Daniel que significa “Deus é meu juiz”, recebeu o nome de Beltessazar que significa “Guarda dos segredos ocultos de Bel” ou “Bel protege o Rei”.
ð  Hananias que significa “O Senhor é Gracioso”, recebeu o nome de Sadraque que significa “Ordem de Aku” outro deus babilônico.
ð  Misael que significa “Quem é como o Senhor”, recebeu o nome de Mesaque que significa “Quem é como Aku” ou uma antiga forma do nome da deusa Vênus.
ð  Azarias que significa “O Senhor é meu ajudador ou o que me auxilia”, recebeu o nome de Abede-Nego que significa “Servo de Nego” também chamado de Nebo, o deus da vegetação.

Olhando os quatro nomes originais dos jovens, vemos que dois deles terminam em “el”, que indica um dos nomes de Deus e dois que terminam em “ias”, uma versão abreviada do nome Jeová. Os babilônios alteraram os seus nomes para outros que se referiam as suas divindades pagas – Bel, Marduque, Vênus e Nebo.

O processo de reeducação alimentar, intelectual, psicológica e espiritual durava três anos. Afastados de seus lares, instruídos a esquecer de Deus e reeducados intensivamente numa cultura pagã, o que aconteceria a estes jovens? Resistiriam ales a pressão? Permaneceriam fieis ao seu Deus e ao que sabiam ser correto? Ou sucumbiriam?[5]

III. A posição ocupada por Daniel e seus três companheiros – vv.8-16

O que levou o povo para o cativeiro foi o pecado de idolatria. O exílio era um castigo por todos os pecados da nação. O principal pecado deles foi a idolatria.

Agora, diante daqueles jovens fora colocado um dos principais atos idolatras dos babilônios – suas refeições, que eram todas oferecidas aos seus deuses. Aqueles rapazes faziam parte do remanescente fiel, aquele pequeno grupo do povo de Deus, que se recusou à pratica da idolatria. Se não se envolveram antes com ela, não seria agora que o fariam.

A linguagem do v. 8 demonstra cautela. Daniel foi firme, mas foi educado e gentil! O caráter de Daniel é visto no fato de não ter desistido e não ter voltado atrás vv.11-14.

Os vv.15 e 16 mostram o efeito da dieta de Daniel e de seus companheiros. “Isso nos mostra que ninguém perde coisa alguma quando se recusa a comprometer sua fé.”[6]

Se Daniel e seus três companheiros tivessem se comprometido no início de suas vidas na Babilônia, como reagiriam ao serem confrontados mais tarde? “Por terem honrado a Deus em uma coisa pequena, puderam honrá-lo também nas questões mais importantes. Pessoas caem em pecados sérios somente porque aprenderam a tolerar pecados menores.”[7]

Concluindo – O resultado da ação corajosa e espiritual de Daniel e os três – vv.17-21

Nos vv.17 a 21 temos o resultado imediato da ação corajosa e espiritual dos jovens. O curso terminou e eles foram aprovados com louvor. Colocaram a Deus acima de todas as outras considerações e Ele os honrou despertando em suas vidas dons que nem imaginavam possuir. Mas a Daniel Deus, também, concedeu outro dom que se destacaria mais tarde na história. Escute o versículo na versão BLH – ... mas a Daniel deu também o dom de explicar visões e sonhos. (v.17b)

Se não vivermos para Deus agora, nenhum de nós poderá fazer com que uma posição mais elevada se torne valiosa para Ele. Se não estamos dispostos a permanecer firmes e comprometidos com Ele em coisas pequenas, como o faremos nas grandes? E possível ser fiel no muito, sem primeiro ter sido fiel no pouco? Se não podemos resistir a tentações comparativamente pequenas, o que faremos quando elas forem intensificadas?[8]

Para Olyott, o ensino central deste capítulo pode ser resumido em 1Samuel 2.30b – ... aos que me horam, honrarei, porém os que me desprezam serão desmerecidos.

Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, 31/01 a 01/02/14




[1] Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 104.
[2] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 12.
[3] Catecismo de Heidelberg, pergunta 95.
[4] Olyott, p. 19.
[5] Olyott, p. 21.
[6] Ibid., p. 23.
[7] Ibid., p. 24.
[8] Olyott, p. 26.