terça-feira, 8 de maio de 2012

Introdução ao Estudo e Esboço do Livro de Atos dos Apóstolos


Introdução ao Estudo e Esboço do Livro de 
Atos dos Apóstolos

Introdução

Sem dúvida alguma o livro de Atos dos Apóstolos é um dos mais importantes do Novo Testamento. Seu título nos manuscritos gregos existentes é “Atos”. Depois é que foi acrescentado “dos Apóstolos”, porque a palavra grega traduzida por atos é (praxeis) praxeis” e era usada para descrever as realizações de grandes homens que, de fato, o livro de Atos dos Apóstolos faz, retratando personagens notáveis dos primeiros anos da igreja.

É o segundo livro escrito por Lucas, que era médico e da equipe do apóstolo Paulo, a partir de sua segunda viagem missionária – observar as várias passagens em que aparece a expressão nós – Atos 16.10-17; 20.5-16; 27.1-26. O próprio Paulo testifica a amizade e companheirismo de Lucas em Colossenses 4.14; 2 Timóteo 4.11; Filemom 24. “Os escritos dos primeiros pais da igreja, tais como Irineu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes, Eusébio e Jerônimo afirmam a autoria de Lucas, e o mesmo acontece com o Cânon Muratoriano (170 d.C.)”[1].

Lucas, além de médico, “foi pesquisador esmerado e historiador minucioso, demonstrando conhecimento profundo das leis e dos costumes romanos, bem como da geografia da Palestina, da Ásia Menor e da Itália”[2]. Ao escrever Atos, usou fontes escritas (Atos 15.23-29; 23.26-30) e entrevistas feitas, sem dúvida, entre os apóstolos e irmãos da época – “... conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra...” (Lucas 1.2; Atos 1.1).

“Lucas e Atos parecem ter sido escritos praticamente ao mesmo tempo, Lucas primeiro e Atos depois. Combinados, eles compõem um relato em dois volumes endereçados a Teófilo, apresentando uma história abrangente da fundação do Cristianismo, que vai do nascimento de Cristo à prisão domiciliar de Paulo em Roma”[3].

O primeiro livro escrito por Lucas foi o Evangelho de Jesus Cristo Segundo Lucas, que ele começa assim:

Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação 
de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, 
uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades 
em que foste instruído.
Lucas 1.1-4

O segundo livro, que é o que estamos tratando, Atos dos Apóstolos, começa assim:

Escrevi o primeiro livro, ó Teófilo, relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo 
aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas.
Atos 1.1, 2

Esses dois textos sugerem o seguinte: 1º) A obra de Lucas em dois volumes narra dois estágios do único ministério de Jesus; 2º) Atos é uma continuação dos atos e ensinos de Jesus, por meio dos apóstolos e da Igreja e; 3º) A ascensão de Cristo é o fato que separa os dois estágios, o qual encerra o ministério terreno de Jesus e inicia o seu ministério celestial.

Atos foi escrito em Roma e antes do ano 70 d.C., provavelmente, entre 60 e 69 d.C. “Essa data é a explicação mais natural para o final abrupto do livro, que deixa Paulo esperando ser julgado perante César”[4]. O silêncio do autor, Lucas, sobre acontecimentos históricos importantes para o cristianismo, como o martírio de Tiago (62 d.C. de acordo com o historiador Josefo), a perseguição sob Nero (64 d.C.) e a destruição de Jerusalém (70 d.C.) também sugerem que Atos foi escrito antes desses acontecimentos.

Sobre esse Teófilo sabe-se pouco, provavelmente um alto funcionário do governo romano. Seu nome significa “amigo de Deus”. O que observamos aqui é uma preocupação pastoral de Lucas pelo “bem estar espiritual de Teófilo, que precisava de mais instrução sobre a pessoa, o ensino e a obra de Jesus”[5].

Os comentaristas ou teólogos apresentam várias opiniões acerca do objetivo ou propósito de Lucas ao escrever Atos. “Logo muitas possibilidades são levantadas, até mesmo a de Lucas não ter um propósito principal, mas, vários propósitos secundários”[6].

Walter L. Liefeld apresenta seis teorias: 1ª) Prover à igreja um registro de seus inícios; 2ª) Manter um relato cuidadoso para trazer certeza quanto à fé; 3ª) Demonstrar um propósito evangelístico; 4ª) Estabelecer um valor apologético; 5ª) Trazer a resolução de questões teológicas como, por exemplo, a identidade do povo de Deus e; 6ª) Prover um paradigma para o evangelismo cristão, as missões e a vida da igreja[7].

Em seu comentário, William Barclay, afirma que Lucas escreveu Atos dos Apóstolos com três propósitos: 1º) Recomendar o cristianismo ao governo romano, mostrando que os cristãos eram bons cidadãos; 2º) Demonstrar que o cristianismo era uma religião universal para todos os homens de todas as nações. Lucas queria provar que Deus não faz acepção de pessoas, pois o evangelho era para todos, independentemente da raça, classe social, sexo ou grau de instrução; e 3º) Mostra a expansão do cristianismo, que começou em um pequeno lugar na Palestina e em pouco mais de trinta anos chegou a Roma[8].
Segundo Arival Dias Casimiro, além de outros propósitos que podem ser apresentados, o livro tem dois propósitos relacionados a missões: 1º) O de motivar o crescimento da igreja e; 2º) o de oferecer aos cristãos um manual de missões[9].

Esse livro, além de seu valor histórico, “tem um valor teológico e prático permanentes para os cristãos de todas as épocas”[10].

Se observarmos os princípios contidos no livro de Atos, entenderemos “que a obra de Deus é feita pelo poder de Deus, pelos recursos de Deus e dentro da metodologia de Deus”[11].

MacArthur diz que “Atos é pródigo em transições: do ministério de Jesus para o ministério dos apóstolos; da antiga aliança para a nova aliança; de Israel como nação para a Igreja (composta tanto de judeus quanto de gentios) como povo testemunha de Deus”[12].

Para Carlos Osvaldo, “Atos talvez seja o melhor exemplo no Novo Testamento da multiplicidade de propósitos de uma obra”[13]. Seus propósitos sejam eles, apologéticos, teológicos ou didáticos, são enfatizados pelos estudiosos de acordo com sua abordagem específica.

“O tema central do livro de Atos é o progresso da mensagem do Reino das ruas estreitas de Jerusalém no começo da década de a.D. 30 às colinas abafadas de Roma no verão de a.D. 60. Este livro trata das forças, humanas e sobrenaturais, que permitiram que o Evangelho de Jesus Cristo atingisse o centro do Império Romano em menos de uma geração”[14].

Atos dos Apóstolos tem sido esboçado de diversas maneiras com fins pedagógicos. O esboço que vamos usar, com algumas adaptações, é o de Carlos Osvaldo, que fez uma opção “por uma divisão do livro em duas partes, observando os seus limites racial-geográficos, com os doze primeiros capítulos tratando do crescimento do evangelho no mundo judaico ou palestiniano, e os últimos dezesseis descrevendo o mesmo fenômeno no mundo gentílico”[15].

“... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Atos 1.8

 Continua...



[1] John MacArthur, Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1433.
[2] Ibid., p. 1433.
[3] Ibid., p. 1315
[4] Ibid., p. 1433
[5] Arival Dias Casimiro, Plante Igrejas, p. 18.
[6] Ibid., p.19.
[7] Apostila Interpreting the Book of Atcts, Baker, 1995; tradução e resumo de Paulo Sergio Gomes.
[8] Arival Dias Casimiro, Plante Igrejas, p. 19, 20.
[9] Ibid., p. 21.
[10] Ibid., p. 17.
[11] Ibid., p. 8
[12] MacArthur, p. 1434.
[13] Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 188.
[14] Ibid., p. 191.
[15] Ibid., p. 191