domingo, 31 de julho de 2016

Estudos no livro do Profeta Oseias (4) - Depravação Total – degradação moral, apostasia religiosa e corrupção política

Oseias 4.1-19

Em nosso estudo anterior vimos:

ð A segunda parte do primeiro ponto do livro com o seguinte tema: O juízo divino, a preparação para a restauração e a restauração amorosa2.2-3.5. E abordamos o assunto em três pontos: 1º) O juízo divino2.2-13; 2º) A preparação para a restauração2.14-23; e 3º) A restauração amorosa3.1-5.

ð Terminamos enfatizando que os verbos-chave da profecia de Oseias são voltar, tornar e converter-se. Quando Israel se arrepender e tornar ao Senhor, então o Senhor tornara a abençoar Israel (cf. Os 2.7, 8). Deus tornou a seu lugar e deixou Israel sozinho (cf. Os 5.15), até que, angustiado, ele o busque (cf. Os 6.1).

A triste experiência conjugal e familiar de Oseias ajuda-o a compreender e a proclamar, com vigor e eloquência, o amor de Deus para com o seu povo desobediente e rebelde (4-14). O pecado de Israel e de Judá é duplo: 1º) em vez de adorarem o Senhor, o seu Deus, eles passaram a adorar os deuses da fertilidade, porque pensavam que esses deuses lhes dariam terras frutíferas e animais férteis; e 2º) em vez de dependerem do Senhor para salvá-los dos seus inimigos, eles foram buscar a ajuda dos países mais fortes, especialmente o Egito e a Assíria (14.3).[1]

Portanto, os capítulos 4 a 14 contém as profecias de Oseias. Suas mensagens à geração de sua época se originaram em sua própria dolorosa experiência familiar. Elas fluem juntamente e uma divisão definida, em seções lógicas, não é fácil de traçar.[2]

Para Marcel Malgo, o capítulo 4 de Oseias pode ser dividido em duas partes: 1ª) vv.1-11descrevem com assustadora clareza os frutos da idolatria de Israel (cf. v.3); e 2ª) vv.12-19descrevem a forma de idolatria praticada por Israel (cf. v.13). Mas, mesmo que a sua idolatria tenha sido terrível, ela era apenas a ponta do iceberg. Pois Israel tomou um caminho muito mais perigoso e por isso se tornou idolatra. Resumindo: Israel rejeitou conscientemente a Palavra de Deus, rejeitou o conhecimento do Senhor.[3]

Infelizmente, por diversas vezes o povo de Israel rejeitou o conhecimento de Deus (cf. 2Cr 30.10). A situação era trágica pelo fato de o próprio povo prejudicar a si mesmo quando rejeitava o que Deus lhes dizia (cf. 2Cr 36.15, 16). As consequências da rejeição consciente da Palavra de Deus são funestas, por isso esse caminho de rejeição do conhecimento de Deus é tão perigoso (vv.6, 7). Todo aquele que rejeita conscientemente a Palavra de Deus – rejeitando assim o conhecimento de Deus – perde toda a segurança. Fica desorientado e vacilante.[4]

Hoje, vamos estudar o capítulo 4 com o tema: Depravação Total. Trataremos o assunto em três pontos: 1º) Degradação moral – vv.1-3; 2º) Apostasia religiosa – vv.4-17; e 3º) Corrupção política – vv.18, 19.

I. Degradação moral – vv.1-3

A linguagem usada aqui sugere que podemos pensar num processo legal, como os que se passavam nas portas da cidade, onde os anciãos de Israel se assentavam para julgar.[5] Mas, aqui, é o próprio Deus que tem algo para colocar em discussão.

Portanto, estamos subitamente em um tribunal, e o próprio Deus está no lugar do promo­tor público. A peça introdutória da acu­sação destaca três graves delitos da nação: ... na terra não verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus (v.1b). Não há sociedade humana que possa prevalecer onde estão ausentes a verdade, o amor e o conhecimento de Deus. Es­ses são os fundamentos da piedade e da moralidade. Esses são os alicerces da família, da igreja e da sociedade. Por conseguinte, a falta de verdade e amor evidenciava a falta do conhecimento real de Deus, uma vez que tanto a verdade quanto o amor têm suas raízes no conhecimento de Deus.[6]

A imagem de Deus levando homens e nações a julgamento em seu tribunal aparece com frequência nas Escrituras (cf. Is 1.13; Jr 2.9, 29; 25.31; Mq 6.2; Rm 3.19).[7]

Esses delitos são enquadrados de dois modos: por um lado faltam a Israel as qualidades positivas necessárias que Deus requer de seu povo, e por outro lado, o povo exibe características negativas que Deus odeia.[8]

1. Falta de qualidades positivas necessárias que Deus requer de seu povo1ª) A verdade – que inclui tanto dizer a verdade quanto agir com fidelidade; 2ª) A benignidade (o amor constante) – a qualidade que expressa acima de tudo a maneira como Deus age em relação a seu povo na aliança e o que ele exige em troca[9] (cf. Os 6.6; Dt 5.10; 7.9, 12); e 3ª) O conhecimento de Deus – que inclui o conhecer intelectual e a experiência pessoal, isto é, intimidade com Deus. “Isso significa muito mais do que ser informado sobre Deus; refere-se ao conhecimento pessoal do Senhor. Conhecer a Deus e ter um relacionamento pessoal com ele pela fé em Jesus Cristo”[10] (cf. Jo 17.3).

2. Características negativas que Deus odeia 1ª) Perjurar (maldição) – no sentido de procurar prejudicar outros ou proferir alguma maldição contra eles (cf. Jz 17.2; Os 10.4); 2ª) Mentir, matar, furtar e adulterar – isto é, o que os Dez Mandamentos requerem com respeito as outras pessoas, está sendo ostensivamente negligenciado (cf. Êx 20.13-16).[11]

Deus, o justo juiz, apontou para os dez mandamentos (cf. Êx 20.1-17) e lembrou o povo de como haviam transgredido sua lei ao pronunciar maldições, contar mentiras, matar, roubar e cometer adultério. Em decorrência disso, haviam trazido sofrimento sobre si, sobre a terra e até sobre os animais. A promessa da aliança de Deus era que ele abençoaria a terra, se o povo lhe obedecesse, mas que castigaria a terra, se desobedecesse (cf. Lv 26; Dt 27 -28).[12]

O v.3, fala do juízo de Deus, mas é também, em parte, um vívido retrato poético de uma terra sob a maldição de Deus[13]. Na sociedade de Israel o pecado deixa marcas por toda a parte. Os seus pecados atingiram a natureza, poluindo a terra, o ar e o mar. Criaram graves problemas ecológicos. Desrespeitaram a criação de Deus, destruindo o próprio habitat.[14]

O pecado traz desespero e desesperança. Um sentimento de vazio é o saldo deixado pelo pecado. O luto e o desfalecimento são a colheita certa dessa semeadura maldita. O pecado atinge não apenas a sociedade humana, mas também a própria natureza. O ar, a terra e o mar são também afetados pelo pecado do homem. Os pássaros, os animais e os peixes sofrem com os desequilíbrios da natureza, resultantes do pecado da humanidade.[15] (cf. Rm 8.20-22 – A própria natureza geme debaixo das consequências do pecado do homem)[16]

II. Apostasia religiosa – vv.4-17

Quando Jeroboão I estabeleceu seu próprio sistema religioso em Israel, muitos dos verdadeiros sacerdotes fugiram para Judá, de modo que o rei ordenou sacerdotes que ele mesmo escolheu (cf. 2Cr 11.13-15). Mas, Deus rejeitou a religião fabricada de Jeroboão e advertiu os sacerdotes de que seu emprego fácil logo terminaria em tragédia. Em vez de buscarem a vontade de Deus, consultavam a ídolos. Quanto mais o povo pecava, mais comida havia para os sacerdotes. Quanto mais santuários o povo construía, mais os sacerdotes podiam entregar- se aos prazeres dos ritos de fertilidade. Além disso, as próprias filhas e noras dos sacerdotes se tornariam prostitutas cultuais e cometeriam adultério![17]

A apostasia de Israel tornou-se notória. A decadência espiritual, uma realidade irremediável. David Hubbard faz uma síntese desses crimes cometidos pelos líderes religiosos: 1) deficiência no ensino da lei (4.6); 2) uso da adoração pública para saciar os próprios apetites (4.7-10); 3) prática de formas de adivinhação (4.11, 12); 4) oferecimento de sacrifícios em lugares altos (4.13a); 5) participação em ritos de orgias sexuais (4.13b, 14); 6) incentivo à embriaguez lasciva, com a adoração de ídolos (4.15-19).[18]

Hernandes destaca, aqui, alguns pontos para reflexão sobre a apostasia de Israel e para tirarmos lições importantes para a Igreja. Como o texto não está numa ordem homilética clara, ordenamos de maneira que possamos entender melhor:[19]

1º) As causas da apostasia: a) A apostasia acontece quando a liderança rejeita o conhecimento de Deusvv.4-6; b) A apostasia acontece quando o crescimento da religiosidade significa o aprofundamento do pecadov.7; c) A apostasia acontece quando a liderança perde o temor de Deus e tira proveito do pecado em vez de repreendê-lov.8; d) A apostasia acontece quando o povo perde a lucidez por se entregar à sensualidade e à bebedeirav.11; e) A apostasia acontece quando o povo substitui Deus pelos ídolos e o culto verdadeiro pelo misticismov.12; f) A apostasia acontece quando a religião não é mais um freio moral, mas um incentivo à sensualidadev.13; g) A apostasia acontece quando o povo se rebela contra Deus e se entrega irremediavelmente aos ídolosvv.16, 17.

2º) As consequências da apostasia. O profeta Oseias falou não apenas sobre as causas da apostasia, mas também sobre suas trágicas consequências: a) Os líderes infiéis são derrubados pelo próprio Deusv.4b, 5; b) Os líderes infiéis são rejeitados por Deusv.6; c) Os líderes infiéis são maus exemplos para os seus lideradosv.14; d) O povo infiel é destruído com a permissão de Deusv.6; e) O povo infiel não encontra satisfação no pecado, mas a justa retribuição de Deusv.9, 10; f) O fracasso dos infiéis deve ser um alerta para o povo de Deus não cair também na apostasiav.15.

Quando obedecemos a Palavra de Deus, andamos na luz e não tropeçamos (cf. Pv 3.21-26; 4.14-19), mas quando rejeitamos sua Palavra, andamos na escuridão e não conseguimos encontrar o caminho (cf. Is 8.20). Líderes espirituais profanos e ignorantes geram um povo profano e ignorante, o que, por sua vez, traz destruição a terra. A expressão a tua mãe, no v.5, refere-se à nação de Israel (cf. Os 2.2, 5). A igreja segue a liderança espiritual; a moralidade segue a igreja e a nação segue a moralidade. Os filhos de Deus são luz e sal para a sociedade (cf. Mt 5.13-16); quando são corruptos, a sociedade torna- se corrupta.[20]

III. Corrupção política – vv.18, 19

Israel estava enfrentando uma crise de integridade moral, religiosa e política. A decadência moral era consequência da apostasia religiosa e da corrupção política. Os cabeças da nação eram os mestres do pecado. Oseias descreve assim a liderança política de Israel: ...os seus governadores amam a vergonha. Um vento os envolveu nas suas asas, e envergonhar-se-ão por causa dos seus sacrifícios (vv.18, 19). Duas coisas nos chamam a atenção aqui:[21]

1ª) Os líderes usavam o poder para servir a si mesmos, e não para servir à nação – v.18. Os sacerdotes e príncipes, que deveriam ser escudos para o povo e exemplos da justiça e retidão, amam apaixonadamente tudo o que é abominável à vista do Senhor.

2ª) Os líderes que amaram a desonra serão envergonhados – v.19. Quem ama a desonra não pode viver de cabeça erguida o tempo todo. Os príncipes, em vez de governar com retidão, tentaram camuflar suas ações corruptas com sacrifícios religiosos eivados de misticismo. Porém, o sincretismo religioso desses príncipes não lhes poupou da tragédia nem lhes protegeu a honra.

Concluindo

O povo de Israel tinha uma tarefa realmente sacerdotal e grandiosa entre os povos, essa era a sua incumbência dada diretamente por Deus (cf. Dt 4.5-7). Dentro da sua própria nação eles também deveria lembra uns aos outros que eram povo de propriedade do Deus vivo e verdadeiro, criador dos ceús e da terra. Infelizmente falharam tragicamente nessa missão, quando deliberadamente e de sá consciência rejeitaram a Palavra de Deus e o conhecimento do Senhor.

Por isso, quero concluir com a resposta de Deus a essa atitude do seu povo. No v.6 o Senhor falou duas coisas ao seu povo:

1ª) ... porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim – v.6b. Ele tiraria a primazia que eles tinham diante dos outros povos, que era o seu ministério sacerdotal;

2ª) ... e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos – v.6c. Ele esqueceria seus filhos, ou seja, que o povo como tal deixaria de usufruir da presença imediata do Senhor.

Para pensar: 1Co 10.11-14

Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. Portanto, meus amados, fugi da idolatria.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 30/07/16



[1] Bíblia de Estudo NTLH, SBB, 2005, p. 1866-1867.
[2] Davidson, F. Novo Comentário da Bíblia, 1963, Bible Software theWord, Oseias 4.
[3] Malgo, Marcel. Oseias – O amor redentor de Deus. Actual Edições, 2010, p. 54, 55.
[4] Malgo, p. 56.
[5] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Oseias, Editora Vida Nova, 2009, p. 1157.
[6] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em ação, Editora Hagnos, p. 77.
[7] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 397.
[8] Carson, p. 1157.
[9] Carson, p. 1157.
[10] Wiersbe, p. 397.
[11] Carson, p. 1157.
[12] Wiersbe, p. 397.
[13] Carson, p. 1157.
[14] Lopes, p. 83.
[15] Lopes, p. 83.
[16] Davidson, Oseias 4.3.
[17] Wiersbe, p. 398.
[18] Lopes, p. 84.
[19] Lopes, p. 84-92. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[20] Wiersbe, p. 398.
[21] Lopes, p. 93-95. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.

domingo, 17 de julho de 2016

Estudos no livro do Profeta Oseias (3) - O juízo divino, a preparação para a restauração e a restauração amorosa

Oseias 2.2-3.5

Em nosso estudo anterior vimos:

ð A primeira parte do primeiro ponto do livro: Fidelidade e Infidelidade –  Oseias e Gômer – 1.4-3.5, com o tema: A proclamação do juízo divino e a promessa de restauração. Abordamos o assunto em dois pontos: 1º) A proclamação do juízo divino1.4-9; e 2º) A promessa de restauração1.10-2.1.

ð Terminamos afirmando que a estrutura do livro nos ajuda a alcançar pelo menos três coisas: 1ª) Mostra que o plano de Deus é unificado – Ele não é um oportunista que fica observando o que vai acontecer; 2ª) Mostra o movimento da ação do início ao fim, em ordem cronológica, da harmonia à desarmonia e a volta da harmonia entre o Senhor e Israel (2.7b); e 3ª) Mostra como os eventos em torno do casamento de Oseias estão ligados à sua mensagem sobre Deus e seu povo.

Hoje, vamos ver a segunda parte do primeiro ponto livro com o seguinte tema: O juízo divino, a preparação para a restauração e a restauração amorosa2.2-3.5. Trataremos o assunto em três pontos: 1º) O juízo divino2.2-13; 2º) A preparação para a restauração2.14-23; e 3º) A restauração amorosa3.1-5.

O texto começa com repreensão e termina com restauração. O Deus da disciplina é também o Deus da restauração. Podemos sintetizar esse parágrafo com dois termos: vale de Acor e porta da esperança. Deus rejeita Israel: é este o vale de Acor. Deus reivindica Israel: esta é a porta da espe­rança.[1]

I. O juízo divino – 2.2-13

Oseias se distingue como o profeta do amor, mas ao contrário de alguns mestres de hoje, não minimiza a santidade de Deus. A Bíblia diz que "Deus e amor" (1Jo 4.8, 16), mas também nos lembra de que "Deus e luz, e nao há nele treva nenhuma" (1Jo 1.5). O amor de Deus e um amor santo e nao um sentimento piegas que mima o pecador e que é conivente com o pecado. O profeta concentra-se em três pecados específicos: a idolatria (adultério espiritual), a ingratidão e a hipocrisia[2] pelos quais veio o juízo divino sobre Israel.

1. Idolatria – infidelidade e engano – vv.2-5

a. Infidelidade – vv.2-5a – Deus fala aos filhos e lhes diz para repreender sua mãe por sua infidelidade.[3] A relação de Deus com Israel era como uma aliança conjugal. Israel havia se casado com o Senhor no Sinai. Israel prometeu a Deus fidelidade. Porém, logo se desviou da aliança e começou a flertar com outros deuses. Não tardou para que Israel abandonasse a Deus, seu marido, para prostituir-se com outros deuses. A idolatria é infidelidade a Deus. E rompimento da aliança. E quebra dos votos de fidelidade. A idolatria é uma torpeza.[4]

A adoração pagã envolvia ritos sensuais de fertilidade, e para isso havia prostitutos cultuais de ambos os sexos. A idolatria era sinônimo de prostituição tanto no sentido literal quanto no simbólico. A infidelidade ao Senhor e um pecado grave, assim como a infidelidade dentro do casamento.[5]

Assim como Israel foi tentado a abandonar Deus e a buscar os ídolos, a Igreja e tentada pela mentalidade do mundo que odeia Deus e que nao quer nada com ele. Devemos ter cuidado para nao amar o mundo (1Jo 2.15-17), para nao ser amigos do mundo (Tg 4.4), para nao ser maculados pelo mundo (Tg 1.27) e para nao nos conformar com o mundo (Rm 12.2). Cada cristão e cada igreja local devem permanecer fieis a Jesus Cristo, o Noivo, até que ele volte para buscar sua noiva para as bodas celestes. (cf. 2Co 11.1-4; Ef 5.22-33; Ap 19.6-9).[6]

b. Engano – v.5b[7]Aqueles que se entregam à idolatria, Deus os entrega ao engano de seus corações. Eles ouvem a resposta de seus ídolos mortos (4.12b) para a sua própria destruição. Israel correu atrás dos ídolos, seus amantes, e atribuiu a eles as dádivas que vinham das mãos de Deus.

Portanto, Israel declara o propósito de buscar seus amantes (ídolos): obter pão e água (o alimento necessário), lã e linho (o vestuário), óleo e bebidas (o deleite); esquecendo-se de que todas essas coisas eram de Deus e vinham de Deus.

Esse baalismo praticado pelos israelitas desprezava a religião espiritual que o Senhor dos céus e da terra, o Redentor de Israel, exigia do seu povo. Essa religiosidade focada no material, na prosperidade financeira mais do que nas coisas espirituais, está de volta em nossos dias com outras roupagens – teologia da prosperidade.

2. Ingratidão – vv.6-8

Deus tinha todo o direito de abandonar seu povo, mas, em vez disso, escolheu discipliná-lo.[8] Sua resposta à infidelidade de Israel não foi destruir a nação de imediato, mas dar início a um programa de reeducação espiritual.[9] Nesse processo, Israel, experimenta uma insatisfação crônica e um vazio frustrante nos seus amantes (ídolos), e toma a decisão de voltar-se para Deus. O Senhor, porém, destaca que a motivação da volta não é o verdadeiro arrependimento. Não é Deus que Israel busca nessa volta, mas as bênçãos de Deus. Eles querem coisas, não Deus. O povo de Israel está centrado em si mesmo, e não em Deus. O antropocentrismo, e não o teocentrismo, é o vetor dessa volta interesseira.[10]

É impressionante o número de vezes nas Escrituras que o povo de Deus e admoestado a ser grato. Há pelo menos quinze passagens em que somos ordenados a dar graças ao Senhor, e o Salmo 100.4 e Colossenses 3.15 nos exortam a gratidão. Tanto Jesus quanto Paulo serviram de exemplo ao dar graças ao Senhor por suas bênçãos. Um dos primeiros passos para a rebelião contra Deus e recusar-se a dar graças por suas misericórdias (cf. Rm 1.21). Deus não permitirá que desfrutemos suas dádivas e, ao mesmo tempo, ignoremos o Doador, pois essa e a essência da idolatria.[11]

O povo de Israel estava usando as riquezas pessoais na fabricação de ídolos e na manutenção da adoração a Baal. O pecado de ignorar o autor das bênçãos de Israel ficava mais sério ao desperdiçar os próprios recursos dados por Deus. No seu pecado contra o amor de Deus, Israel aumenta ainda mais sua ofensa, não apenas ignorando o verdadeiro doador, como também cumulando o usurpador com os bens do doador.[12]

Deus abençoou o seu povo mesmo quando esse povo atribuiu essas dádivas generosas aos ídolos. Deus supriu as suas necessidades e lhes deu em abundância mesmo quando Israel não reconheceu a Deus como seu provedor. Deus lhes deu bens provindos de outras terras, prata e ouro, mas eles usaram esses recursos para Baal, e não para Deus. Que grande perversidade é tomar as dádivas de Deus e usá-las para adorar falsos deuses! Mas, a ingratidão de Israel, contudo, não anulou a generosidade de Deus.[13]

3. Hipocrisia – vv.9-13

A hipocrisia e infidelidade de Israel lhe custou muito caro. Ao deixar seu legítimo Deus para ir atrás dos muitos ídolos, Israel entrou num caminho escorregadio de perdas irreme­diáveis.

Hernandes Dias Lopes, destaca, aqui, as trágicas consequências desse doloroso divórcio:[14]

1º) A privação material (2.9, 12). O profeta Oseias deixa claro que os bens que Israel egoisticamente pensava pertencer-lhe por direito (2.5) eram bens de Deus (2.9), e Deus, seu legítimo dono, os tomaria de volta.

Os deuses de Canaã eram em grande parte padroeiros da fertilidade. As pessoas sentiam-se tentadas a pedir a sua ajuda para obter os melhores resultados na lavoura, imaginando que Deus não teria muitas condições de tratar desse assunto.

2º) O vexame moral (2.10a). O agente dessa exposição vexatória de Israel é o próprio Deus. Ele mesmo mostrará aos ídolos pagãos a situação vergonhosa em que Israel se encontra. A degradação moral de Israel seria algo escandaloso, vergonhoso até mesmo entre os pagãos.

3º) A impotência assistencial (2.10b). Em vez de Israel voltar­-se para Deus, seu verdadeiro marido, corria para os ídolos, seus amantes, em busca de prosperidade e atrás de alianças políticas com o Egito e a Assíria para obter segurança. No entanto, nenhuma entidade religiosa nem qualquer potência militar poderiam livrar Israel das mãos de Deus. Sua situação era irremediável. Sua vulnerabilidade vinha do próprio Deus.

4º) A decadência espiritual (2.11). Deus enviaria o povo para o cativeiro, e lá suas celebrações festivas, distorcidas e cheias de sincretismo, cessariam por completo. Aqui são mencio­nados especificamente os sábados, as luas novas e as festas solenes, provavelmente as três festividades anuais que re­queriam a presença de todos os varões: a Páscoa, o Pentecostes e os Tabernáculos. Essas festas tinham perdido o seu significado para um povo idólatra, adúltero, apóstata. A alegria vinculada a elas seria perdida quando o povo fos­se para o cativeiro assírio. Essas festividades tinham sido corrompidas pela adoração a Baal (2.13) e não eram mais desejadas por Deus.

5º) o castigo proporcional (2.13). Quanto mais Israel se esquecia de Deus, tanto mais se entregava à volúpia de sua inflamada paixão pelos ídolos. Agora, Deus castigaria o seu povo pelos dias dos baalins. O sofrimento era inevitável. O pecado pode ser perdoado, mas as suas consequências não podem ser apagadas. Corretamente o profeta, numa linguagem inconfundível, sintetiza a maldição e a desgraça por causa da desobediência de Israel: tudo o que lhe restará serão a nudez, o deserto, a fome, a sede, a vergonha, a tristeza, a solidão e a ruína.

II. A preparação para a restauração – 2.14-23

Oseias foi um dos homens mais amorosos de todos os tempos, escreveu Kyle M. Yates. Seu amor era tão intenso que nem os comportamentos mais vis podiam arrefecê-lo [...] Gômer partiu o coração dele, mas possibilitou que o profeta desse ao mundo um retrato do coração do Deus amoroso.[15]

[16]A iniciativa da reconciliação é de Deus. E Deus quem corteja, conquista e atrai Israel para si. É como o início de um novo namoro, de um novo noivado e de um novo casamento. Cheio de ternura, Deus leva Israel para a solidão do deserto para falar-lhe ao coração. O próprio Deus, no seu eterno amor, quem vai acordar a nação entorpecida para reconhecer a tragédia da sua infidelidade.

Deus dá seis passos decisivos nessa reconquista: eu a atrairei, levarei e lhe falarei ao coração (v.14), eu lhe darei (v.15), da sua boca tirarei (v.16, 17), desposar-te-ei comigo (vv.18-20), eu atenderei (v.21, 22) e eu semearei e me compadecerei (v.23).

Na restauração do casamento de Oseias e Gômer, temos seis verdades sobre a restauração da aliança entre Deus e Israel, destacadas aqui: 1ª) Deus transforma desespero em espe­rança (v.15); 2ª) Deus transforma infidelidade em fide­lidade (v.16); 3ª) Deus transforma a linguagem obscena e liberta de memórias infiéis (v.17); 4ª) Deus transforma instabilidade em segurança (v.18); 5ª) Deus transforma separação amarga em casamento permanente (v.19, 20); 6ª) Em sexto lugar, Deus transforma maldição em bênção (v.21-23).

Portanto, agora tudo mudou: Deus muda a sorte dos filhos de Israel. Jezreel não será mais disperso, mas semeado na terra. Desfavorecida não será mais abandonada, mas alvo da graça. Não-Meu-Povo não será mais estranho, mas povo de Deus. A promessa é que Lo-Ruama, será Ruama e que Lo-Ami será Ami. Toda maldição será não apenas desviada, mas transformada em bênção. Deus não será trocado mais por outros deuses, mas será chamado: Meu Deus! Onde havia juízo, agora há misericórdia; onde havia maldição, agora há bênção.

III. A restauração amorosa – 3.1-5

[17]O amor de Deus transborda nessa passagem. Não é o amor de Oseias por Gômer que retrata o amor de Deus; é o amor de Deus por Israel que inspira o amor de Oseias por Gômer. Não é o amor do homem que exemplifica o amor de Deus; é o amor de Deus que se torna padrão para o amor do homem.

O amor é, sem dúvida, a palavra­-chave desse capítulo. O amor de Oseias por sua esposa o estimula a redimi-la, a purificá-la e a trazê-la de volta para a sua casa e o seu co­ração. Embora Oseias tivesse justificativas para se divorciar de Gômer (cf. Dt 24.1), a ordem do Senhor a ele mostra que a graça é maior que a lei.

O texto fala do passado (vv.1-3), do presente (v.4) e do futuro de Israel (v.5). No passado, Deus amou Israel, redimiu-o do Egito e fez uma aliança com ele (cf. Êx 4.22; Am 3.1, 2). Porém, Israel abandonou ao seu Deus e se envolveu com muitos deuses. Tornou-se uma nação infiel, adúltera e prostituta. Degradou-se, a ponto de tornar-se uma escrava. Deus, porém, não desistiu de amar a Israel. Seu amor o impeliu a comprá-lo de volta (cf. Zc 3.2). No presente, Israel está sem rei, sem príncipe e sem sacrifício, e isso desde o cativeiro assírio, babilônico e a dispersão romana. Desde que Israel escolheu a César como seu governo e rejeitou o Cristo de Deus é que vive privado desses privilégios. No futuro, os filhos de Israel tornarão para Deus, buscarão ao Senhor e se aproximarão dele e da sua bondade.

No v.1, Israel olhou para outros deuses, mas no v.5, a nação voltará para o verdadeiro Deus. A busca será ao seu Deus e a Davi, seu rei, na pessoa do seu filho mais importante, o Senhor Jesus Cristo. Quatro verdades fundamentais são apresentadas no capítulo 3: o amor perdoador, redentor, disciplinador e restaurador de Deus.

1. O amor de Deus é perdoador – v.1. Lições desse amor: 1ª) o amor de Deus é perseverante (3.1a); 2ª) o amor de Deus é incondicional (3.1b); 3ª) o amor de Deus é sacrificial (3.1c); 4ª) o amor de Deus é modelo (3.1d); 5ª) o amor de Deus é fiel (3.1e).

2. O amor de Deus é redentor – v.2. Lições desse amor: 1ª) o amor redentor valoriza o que o pecado degradou; 2ª) o amor redentor investe em quem o pecado desprezou; 3ª) o amor redentor anseia por comunhão e nao apenas por possessão.

3. O amor de Deus é disciplinador – vv.3, 4. Lições desse amor: 1ª) o amor disciplinador exige mudança de conduta (3.3a); 2ª) o amor disciplinador implica promessa de reconciliação (3.3b); 3ª) o amor disciplinador inclui a privação de privilégios (3.4a); 4ª) o amor disciplinador requer o abandono de toda prática de idolatria (3.4b).

4. O amor de Deus é restaurador – v.5. Lições desse amor: 1ª) o amor restaurador atrai os desviados (3.5a); 2ª) o amor restaurador preserva a aliança (3.5b); 3ª) o amor restaurador aponta para uma gloriosa consumação (3.5c).

Concluindo

[18]Os verbos-chave da profecia de Oseias são voltar, tornar e converter-se. Quando Israel se arrepender e tornar ao Senhor, então o Senhor tornara a abençoar Israel (cf. Os 2.7, 8). Deus tornou a seu lugar e deixou Israel sozinho (cf. Os 5.15), até que, angustiado, ele o busque (cf. Os 6.1).

Esta é a mensagem de Oseias: Povo de Israel, volte para o SENHOR, seu Deus! Você caiu porque pecou. Voltem para Deus e orem assim: “Perdoa todos os nossos pecados, ouve a nossa oração, e os nossos louvores serão o sacrifício que te ofereceremos. (Os 14.1, 2 NTLH).

Essa oração é apropriada para qualquer pecador, judeu ou gentio. Em resumo: Deus é cheio de graça, e seja qual for o nome que recebermos ao nascer, ele pode mudá-lo e nos dar um recomeço. Até mesmo o vale da dificuldade pode transformar-se numa porta de esperança.

Deus é santo e deve tratar do pecado. A essência da idolatria é desfrutar as dádivas, mas não honrar o Doador. Viver para o mundo é partir o coração de Deus e cometer adultério espiritual. Deus é amor e promete perdoar e restaurar todos os que se arrependerem e que voltarem para ele. Promete, ainda, abençoar todos os que confiarem nele.

Pr. Walter Almeida Jr.




[1] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em ação, Editora Hagnos, p. 47.
[2] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 393.
[3] Wiersbe, p. 393.
[4] Lopes, p. 50.
[5] Wiersbe, p. 393.
[6] Wiersbe, p. 393.
[7] Lopes, p. 50, 51. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[8] Wiersbe, p. 393.
[9] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Oseias, Editora Vida Nova, 2009, p. 1155.
[10] Lopes, p. 52.
[11] Wiersbe, p. 393, 394.
[12] Lopes, p. 52.
[13] Lopes, p. 52.
[14] Lopes, p. 53-55. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[15] Wiersbe, p. 394.
[16] Lopes, p. 56-61. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[17] Lopes, p. 63-75. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[18] Wiersbe, p. 395, 396. Esse ponto segue literalmente o comentário nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.