Oseias 2.2-3.5
Em
nosso estudo anterior vimos:
ð
A primeira parte
do primeiro ponto do livro: Fidelidade e Infidelidade – Oseias e Gômer – 1.4-3.5, com o tema: A
proclamação do juízo divino e a promessa de restauração. Abordamos o
assunto em dois pontos: 1º) A proclamação do juízo divino – 1.4-9; e 2º) A promessa de restauração
– 1.10-2.1.
ð
Terminamos
afirmando que a estrutura do livro nos ajuda a alcançar pelo menos três coisas:
1ª) Mostra que o plano de Deus é unificado – Ele não é um oportunista
que fica observando o que vai acontecer; 2ª)
Mostra o movimento da ação do início ao
fim, em ordem cronológica, da harmonia à desarmonia e a volta da harmonia
entre o Senhor e Israel (2.7b); e 3ª) Mostra
como os eventos em torno do casamento de Oseias estão ligados à sua mensagem
sobre Deus e seu povo.
Hoje,
vamos ver a segunda parte do primeiro ponto livro com o seguinte tema: O juízo divino, a preparação para a
restauração e a restauração amorosa – 2.2-3.5.
Trataremos o assunto em três pontos: 1º)
O juízo divino – 2.2-13; 2º) A preparação para a restauração – 2.14-23; e 3º) A restauração amorosa
– 3.1-5.
O
texto começa com repreensão e termina com restauração. O Deus da disciplina é
também o Deus da restauração. Podemos sintetizar esse parágrafo com dois
termos: vale de Acor e porta da esperança. Deus rejeita Israel: é este o vale
de Acor. Deus reivindica Israel: esta é a porta da esperança.[1]
I. O juízo divino – 2.2-13
Oseias
se distingue como o profeta do amor, mas ao contrário de alguns mestres de
hoje, não minimiza a santidade de Deus. A Bíblia diz que "Deus e
amor" (1Jo 4.8, 16), mas também
nos lembra de que "Deus e luz, e nao há nele treva nenhuma" (1Jo 1.5). O amor de Deus e um amor
santo e nao um sentimento piegas que mima o pecador e que é conivente com o
pecado. O profeta concentra-se em três pecados específicos: a idolatria
(adultério espiritual), a ingratidão e a hipocrisia[2] pelos quais
veio o juízo divino sobre Israel.
1. Idolatria – infidelidade e engano –
vv.2-5
a. Infidelidade – vv.2-5a – Deus fala aos filhos e lhes diz para repreender sua
mãe por sua infidelidade.[3] A
relação de Deus com Israel era como uma aliança conjugal. Israel havia se
casado com o Senhor no Sinai. Israel prometeu a Deus fidelidade. Porém, logo se
desviou da aliança e começou a flertar com outros deuses. Não tardou para que
Israel abandonasse a Deus, seu marido, para prostituir-se com outros deuses. A
idolatria é infidelidade a Deus. E rompimento da aliança. E quebra dos votos de
fidelidade. A idolatria é uma torpeza.[4]
A
adoração pagã envolvia ritos sensuais de fertilidade, e para isso havia
prostitutos cultuais de ambos os sexos. A idolatria era sinônimo de
prostituição tanto no sentido literal quanto no simbólico. A infidelidade ao
Senhor e um pecado grave, assim como a infidelidade dentro do casamento.[5]
Assim
como Israel foi tentado a abandonar Deus e a buscar os ídolos, a Igreja e tentada
pela mentalidade do mundo que odeia Deus e que nao quer nada com ele. Devemos
ter cuidado para nao amar o mundo (1Jo
2.15-17), para nao ser amigos do mundo (Tg 4.4), para nao ser maculados pelo mundo (Tg 1.27) e para nao nos conformar com o mundo (Rm 12.2). Cada cristão e cada igreja local devem permanecer fieis a
Jesus Cristo, o Noivo, até que ele volte para buscar sua noiva para as bodas
celestes. (cf. 2Co 11.1-4; Ef 5.22-33;
Ap 19.6-9).[6]
b. Engano – v.5b – [7]Aqueles
que se entregam à idolatria, Deus os entrega ao engano de seus corações. Eles
ouvem a resposta de seus ídolos mortos (4.12b)
para a sua própria destruição. Israel correu atrás dos ídolos, seus amantes, e
atribuiu a eles as dádivas que vinham das mãos de Deus.
Portanto,
Israel declara o propósito de buscar seus amantes (ídolos): obter pão e água (o
alimento necessário), lã e linho (o vestuário), óleo e bebidas (o deleite); esquecendo-se
de que todas essas coisas eram de Deus e vinham de Deus.
Esse
baalismo praticado pelos israelitas desprezava a religião espiritual que o
Senhor dos céus e da terra, o Redentor de Israel, exigia do seu povo. Essa
religiosidade focada no material, na prosperidade financeira mais do que nas
coisas espirituais, está de volta em nossos dias com outras roupagens –
teologia da prosperidade.
2. Ingratidão – vv.6-8
Deus
tinha todo o direito de abandonar seu povo, mas, em vez disso, escolheu
discipliná-lo.[8]
Sua resposta à infidelidade de Israel não foi destruir a nação de imediato, mas
dar início a um programa de reeducação espiritual.[9] Nesse
processo, Israel, experimenta uma insatisfação crônica e um vazio frustrante
nos seus amantes (ídolos), e toma a decisão de voltar-se para Deus. O Senhor,
porém, destaca que a motivação da volta não é o verdadeiro arrependimento. Não
é Deus que Israel busca nessa volta, mas as bênçãos de Deus. Eles querem
coisas, não Deus. O povo de Israel está centrado em si mesmo, e não em Deus. O
antropocentrismo, e não o teocentrismo, é o vetor dessa volta interesseira.[10]
É
impressionante o número de vezes nas Escrituras que o povo de Deus e admoestado
a ser grato. Há pelo menos quinze passagens em que somos ordenados a dar graças ao Senhor, e o Salmo 100.4 e Colossenses 3.15 nos exortam a gratidão. Tanto Jesus quanto Paulo
serviram de exemplo ao dar graças ao Senhor por suas bênçãos. Um dos primeiros
passos para a rebelião contra Deus e recusar-se a dar graças por suas
misericórdias (cf. Rm 1.21). Deus
não permitirá que desfrutemos suas dádivas e, ao mesmo tempo, ignoremos o
Doador, pois essa e a essência da idolatria.[11]
O
povo de Israel estava usando as riquezas pessoais na fabricação de ídolos e na
manutenção da adoração a Baal. O pecado de ignorar o autor das bênçãos de
Israel ficava mais sério ao desperdiçar os próprios recursos dados por Deus. No
seu pecado contra o amor de Deus, Israel aumenta ainda mais sua ofensa, não
apenas ignorando o verdadeiro doador, como também cumulando o usurpador com os
bens do doador.[12]
Deus
abençoou o seu povo mesmo quando esse povo atribuiu essas dádivas generosas aos
ídolos. Deus supriu as suas necessidades e lhes deu em abundância mesmo quando
Israel não reconheceu a Deus como seu provedor. Deus lhes deu bens provindos de
outras terras, prata e ouro, mas eles usaram esses recursos para Baal, e não
para Deus. Que grande perversidade é tomar as dádivas de Deus e usá-las para
adorar falsos deuses! Mas, a ingratidão de Israel, contudo, não anulou a
generosidade de Deus.[13]
3. Hipocrisia – vv.9-13
A
hipocrisia e infidelidade de Israel lhe custou muito caro. Ao deixar seu
legítimo Deus para ir atrás dos muitos ídolos, Israel entrou num caminho
escorregadio de perdas irremediáveis.
Hernandes
Dias Lopes, destaca, aqui, as trágicas consequências desse doloroso divórcio:[14]
1º) A privação material (2.9, 12).
O profeta Oseias deixa claro que os bens que Israel egoisticamente pensava
pertencer-lhe por direito (2.5) eram
bens de Deus (2.9), e Deus, seu
legítimo dono, os tomaria de volta.
Os
deuses de Canaã eram em grande parte padroeiros da fertilidade. As pessoas
sentiam-se tentadas a pedir a sua ajuda para obter os melhores resultados na
lavoura, imaginando que Deus não teria muitas condições de tratar desse
assunto.
2º) O vexame moral (2.10a). O
agente dessa exposição vexatória de Israel é o próprio Deus. Ele mesmo mostrará
aos ídolos pagãos a situação vergonhosa em que Israel se encontra. A degradação
moral de Israel seria algo escandaloso, vergonhoso até mesmo entre os pagãos.
3º) A impotência assistencial (2.10b).
Em vez de Israel voltar-se para Deus, seu verdadeiro marido, corria para os
ídolos, seus amantes, em busca de prosperidade e atrás de alianças políticas
com o Egito e a Assíria para obter segurança. No entanto, nenhuma entidade
religiosa nem qualquer potência militar poderiam livrar Israel das mãos de
Deus. Sua situação era irremediável. Sua vulnerabilidade vinha do próprio Deus.
4º) A decadência espiritual (2.11).
Deus enviaria o povo para o cativeiro, e lá suas celebrações festivas,
distorcidas e cheias de sincretismo, cessariam por completo. Aqui são mencionados
especificamente os sábados, as luas novas e as festas solenes, provavelmente as
três festividades anuais que requeriam a presença de todos os varões: a
Páscoa, o Pentecostes e os Tabernáculos. Essas festas tinham perdido o seu
significado para um povo idólatra, adúltero, apóstata. A alegria vinculada a
elas seria perdida quando o povo fosse para o cativeiro assírio. Essas
festividades tinham sido corrompidas pela adoração a Baal (2.13) e não eram mais desejadas por Deus.
5º) o castigo proporcional (2.13).
Quanto mais Israel se esquecia de Deus, tanto mais se entregava à volúpia de
sua inflamada paixão pelos ídolos. Agora, Deus castigaria o seu povo pelos dias
dos baalins. O sofrimento era inevitável. O pecado pode ser perdoado, mas as
suas consequências não podem ser apagadas. Corretamente o profeta, numa
linguagem inconfundível, sintetiza a maldição e a desgraça por causa da
desobediência de Israel: tudo o que lhe restará serão a nudez, o deserto, a
fome, a sede, a vergonha, a tristeza, a solidão e a ruína.
II. A preparação para a restauração –
2.14-23
Oseias foi um dos homens mais amorosos
de todos os tempos, escreveu Kyle M.
Yates. Seu amor era tão intenso que nem os comportamentos mais vis podiam
arrefecê-lo [...] Gômer partiu o coração dele, mas possibilitou que o profeta
desse ao mundo um retrato do coração do Deus amoroso.[15]
[16]A iniciativa da reconciliação é de Deus. E Deus quem
corteja, conquista e atrai Israel para si. É como o início de um novo namoro,
de um novo noivado e de um novo casamento. Cheio de ternura, Deus leva Israel
para a solidão do deserto para falar-lhe ao coração. O próprio Deus, no seu
eterno amor, quem vai acordar a nação entorpecida para reconhecer a tragédia da
sua infidelidade.
Deus
dá seis passos decisivos nessa reconquista: eu a atrairei, levarei e lhe
falarei ao coração (v.14), eu lhe
darei (v.15), da sua boca tirarei (v.16, 17), desposar-te-ei comigo (vv.18-20), eu atenderei (v.21, 22) e eu semearei e me
compadecerei (v.23).
Na
restauração do casamento de Oseias e Gômer, temos seis verdades sobre a
restauração da aliança entre Deus e Israel, destacadas aqui: 1ª) Deus
transforma desespero em esperança (v.15);
2ª) Deus transforma infidelidade em fidelidade (v.16); 3ª) Deus transforma a linguagem obscena e
liberta de memórias infiéis (v.17);
4ª) Deus transforma instabilidade em segurança (v.18); 5ª) Deus transforma separação amarga em
casamento permanente (v.19, 20);
6ª) Em sexto lugar, Deus transforma maldição em bênção (v.21-23).
Portanto,
agora tudo mudou: Deus muda a sorte dos filhos de Israel. Jezreel não será mais
disperso, mas semeado na terra. Desfavorecida
não será mais abandonada, mas alvo da
graça. Não-Meu-Povo não será mais estranho, mas povo de Deus.
A promessa é que Lo-Ruama, será Ruama e que Lo-Ami será Ami. Toda maldição será
não apenas desviada, mas transformada em bênção. Deus não será trocado mais por outros deuses, mas será chamado: Meu
Deus! Onde havia juízo, agora há misericórdia; onde havia maldição, agora há
bênção.
III. A restauração amorosa – 3.1-5
[17]O amor de Deus transborda nessa passagem. Não é o amor
de Oseias por Gômer que retrata o amor de Deus; é o amor de Deus por Israel que
inspira o amor de Oseias por Gômer. Não é o amor do homem que exemplifica o
amor de Deus; é o amor de Deus que se torna padrão para o amor do homem.
O
amor é, sem dúvida, a palavra-chave desse capítulo. O amor de Oseias por sua
esposa o estimula a redimi-la, a purificá-la e a trazê-la de volta para a sua
casa e o seu coração. Embora Oseias tivesse justificativas para se divorciar
de Gômer (cf. Dt 24.1), a ordem do
Senhor a ele mostra que a graça é maior que a lei.
O
texto fala do passado (vv.1-3), do presente (v.4) e do futuro de Israel (v.5). No passado, Deus
amou Israel, redimiu-o do Egito e fez uma aliança com ele (cf. Êx 4.22; Am 3.1, 2). Porém, Israel
abandonou ao seu Deus e se envolveu com muitos deuses. Tornou-se uma nação
infiel, adúltera e prostituta. Degradou-se, a ponto de tornar-se uma escrava. Deus,
porém, não desistiu de amar a Israel. Seu amor o impeliu a comprá-lo de volta (cf.
Zc 3.2). No presente, Israel está sem rei, sem
príncipe e sem sacrifício, e isso desde o cativeiro assírio, babilônico e a
dispersão romana. Desde que Israel escolheu a César como seu governo e rejeitou
o Cristo de Deus é que vive privado desses privilégios. No futuro, os filhos de Israel tornarão para Deus, buscarão ao
Senhor e se aproximarão dele e da sua bondade.
No
v.1, Israel olhou para outros
deuses, mas no v.5, a nação voltará
para o verdadeiro Deus. A busca será ao seu Deus e a Davi, seu rei, na pessoa
do seu filho mais importante, o Senhor Jesus Cristo. Quatro verdades
fundamentais são apresentadas no capítulo 3: o amor perdoador, redentor, disciplinador e restaurador de Deus.
1. O amor de Deus é perdoador – v.1. Lições desse amor: 1ª) o amor de Deus é
perseverante (3.1a); 2ª) o
amor de Deus é incondicional (3.1b);
3ª) o amor de Deus é sacrificial (3.1c);
4ª) o amor de Deus é modelo (3.1d);
5ª) o amor de Deus é fiel (3.1e).
2. O amor de Deus é redentor – v.2.
Lições desse amor: 1ª) o amor redentor valoriza o que o pecado
degradou; 2ª) o amor redentor investe em quem o pecado
desprezou; 3ª) o amor redentor anseia por comunhão e nao
apenas por possessão.
3. O amor de Deus é disciplinador
– vv.3, 4. Lições desse amor: 1ª)
o amor disciplinador exige mudança de
conduta (3.3a); 2ª) o
amor disciplinador implica promessa de reconciliação (3.3b); 3ª) o amor disciplinador inclui a privação de
privilégios (3.4a); 4ª) o
amor disciplinador requer o abandono de toda prática de idolatria (3.4b).
4. O amor de Deus é restaurador –
v.5. Lições desse amor: 1ª) o amor restaurador atrai os desviados (3.5a); 2ª) o amor restaurador
preserva a aliança (3.5b); 3ª) o
amor restaurador aponta para uma gloriosa consumação (3.5c).
Concluindo
[18]Os verbos-chave da profecia de Oseias são voltar, tornar e converter-se.
Quando Israel se arrepender e tornar ao Senhor, então o Senhor tornara a
abençoar Israel (cf. Os 2.7, 8). Deus tornou a seu lugar e
deixou Israel sozinho (cf. Os 5.15),
até que, angustiado, ele o busque (cf. Os
6.1).
Esta
é a mensagem de Oseias: Povo de Israel, volte para
o SENHOR, seu Deus! Você caiu porque pecou. Voltem para
Deus e orem assim: “Perdoa todos os nossos pecados, ouve a nossa oração, e os
nossos louvores serão o sacrifício que te ofereceremos”. (Os 14.1, 2
NTLH).
Essa
oração é apropriada para qualquer pecador, judeu ou gentio. Em resumo: Deus é cheio de graça, e seja qual for o
nome que recebermos ao nascer, ele pode mudá-lo e nos dar um recomeço. Até
mesmo o vale da dificuldade pode transformar-se numa porta de esperança.
Deus
é santo e deve tratar do pecado. A essência da idolatria é desfrutar as
dádivas, mas não honrar o Doador. Viver para o mundo é partir o coração de Deus
e cometer adultério espiritual. Deus é amor e promete perdoar e restaurar todos
os que se arrependerem e que voltarem para ele. Promete, ainda, abençoar todos
os que confiarem nele.
Pr. Walter Almeida Jr.
[1] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em
ação, Editora Hagnos, p. 47.
[2] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do
Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 393.
[3] Wiersbe, p. 393.
[4] Lopes, p. 50.
[5] Wiersbe, p. 393.
[6] Wiersbe, p. 393.
[7] Lopes, p. 50, 51. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[8] Wiersbe, p. 393.
[10] Lopes, p. 52.
[11] Wiersbe, p. 393, 394.
[12] Lopes, p. 52.
[14] Lopes, p. 53-55. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[15] Wiersbe, p. 394.
[16] Lopes, p. 56-61. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[17] Lopes, p. 63-75. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[18] Wiersbe, p. 395, 396. Esse ponto segue literalmente o
comentário nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao
ensino local.
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