domingo, 31 de julho de 2016

Estudos no livro do Profeta Oseias (4) - Depravação Total – degradação moral, apostasia religiosa e corrupção política

Oseias 4.1-19

Em nosso estudo anterior vimos:

ð A segunda parte do primeiro ponto do livro com o seguinte tema: O juízo divino, a preparação para a restauração e a restauração amorosa2.2-3.5. E abordamos o assunto em três pontos: 1º) O juízo divino2.2-13; 2º) A preparação para a restauração2.14-23; e 3º) A restauração amorosa3.1-5.

ð Terminamos enfatizando que os verbos-chave da profecia de Oseias são voltar, tornar e converter-se. Quando Israel se arrepender e tornar ao Senhor, então o Senhor tornara a abençoar Israel (cf. Os 2.7, 8). Deus tornou a seu lugar e deixou Israel sozinho (cf. Os 5.15), até que, angustiado, ele o busque (cf. Os 6.1).

A triste experiência conjugal e familiar de Oseias ajuda-o a compreender e a proclamar, com vigor e eloquência, o amor de Deus para com o seu povo desobediente e rebelde (4-14). O pecado de Israel e de Judá é duplo: 1º) em vez de adorarem o Senhor, o seu Deus, eles passaram a adorar os deuses da fertilidade, porque pensavam que esses deuses lhes dariam terras frutíferas e animais férteis; e 2º) em vez de dependerem do Senhor para salvá-los dos seus inimigos, eles foram buscar a ajuda dos países mais fortes, especialmente o Egito e a Assíria (14.3).[1]

Portanto, os capítulos 4 a 14 contém as profecias de Oseias. Suas mensagens à geração de sua época se originaram em sua própria dolorosa experiência familiar. Elas fluem juntamente e uma divisão definida, em seções lógicas, não é fácil de traçar.[2]

Para Marcel Malgo, o capítulo 4 de Oseias pode ser dividido em duas partes: 1ª) vv.1-11descrevem com assustadora clareza os frutos da idolatria de Israel (cf. v.3); e 2ª) vv.12-19descrevem a forma de idolatria praticada por Israel (cf. v.13). Mas, mesmo que a sua idolatria tenha sido terrível, ela era apenas a ponta do iceberg. Pois Israel tomou um caminho muito mais perigoso e por isso se tornou idolatra. Resumindo: Israel rejeitou conscientemente a Palavra de Deus, rejeitou o conhecimento do Senhor.[3]

Infelizmente, por diversas vezes o povo de Israel rejeitou o conhecimento de Deus (cf. 2Cr 30.10). A situação era trágica pelo fato de o próprio povo prejudicar a si mesmo quando rejeitava o que Deus lhes dizia (cf. 2Cr 36.15, 16). As consequências da rejeição consciente da Palavra de Deus são funestas, por isso esse caminho de rejeição do conhecimento de Deus é tão perigoso (vv.6, 7). Todo aquele que rejeita conscientemente a Palavra de Deus – rejeitando assim o conhecimento de Deus – perde toda a segurança. Fica desorientado e vacilante.[4]

Hoje, vamos estudar o capítulo 4 com o tema: Depravação Total. Trataremos o assunto em três pontos: 1º) Degradação moral – vv.1-3; 2º) Apostasia religiosa – vv.4-17; e 3º) Corrupção política – vv.18, 19.

I. Degradação moral – vv.1-3

A linguagem usada aqui sugere que podemos pensar num processo legal, como os que se passavam nas portas da cidade, onde os anciãos de Israel se assentavam para julgar.[5] Mas, aqui, é o próprio Deus que tem algo para colocar em discussão.

Portanto, estamos subitamente em um tribunal, e o próprio Deus está no lugar do promo­tor público. A peça introdutória da acu­sação destaca três graves delitos da nação: ... na terra não verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus (v.1b). Não há sociedade humana que possa prevalecer onde estão ausentes a verdade, o amor e o conhecimento de Deus. Es­ses são os fundamentos da piedade e da moralidade. Esses são os alicerces da família, da igreja e da sociedade. Por conseguinte, a falta de verdade e amor evidenciava a falta do conhecimento real de Deus, uma vez que tanto a verdade quanto o amor têm suas raízes no conhecimento de Deus.[6]

A imagem de Deus levando homens e nações a julgamento em seu tribunal aparece com frequência nas Escrituras (cf. Is 1.13; Jr 2.9, 29; 25.31; Mq 6.2; Rm 3.19).[7]

Esses delitos são enquadrados de dois modos: por um lado faltam a Israel as qualidades positivas necessárias que Deus requer de seu povo, e por outro lado, o povo exibe características negativas que Deus odeia.[8]

1. Falta de qualidades positivas necessárias que Deus requer de seu povo1ª) A verdade – que inclui tanto dizer a verdade quanto agir com fidelidade; 2ª) A benignidade (o amor constante) – a qualidade que expressa acima de tudo a maneira como Deus age em relação a seu povo na aliança e o que ele exige em troca[9] (cf. Os 6.6; Dt 5.10; 7.9, 12); e 3ª) O conhecimento de Deus – que inclui o conhecer intelectual e a experiência pessoal, isto é, intimidade com Deus. “Isso significa muito mais do que ser informado sobre Deus; refere-se ao conhecimento pessoal do Senhor. Conhecer a Deus e ter um relacionamento pessoal com ele pela fé em Jesus Cristo”[10] (cf. Jo 17.3).

2. Características negativas que Deus odeia 1ª) Perjurar (maldição) – no sentido de procurar prejudicar outros ou proferir alguma maldição contra eles (cf. Jz 17.2; Os 10.4); 2ª) Mentir, matar, furtar e adulterar – isto é, o que os Dez Mandamentos requerem com respeito as outras pessoas, está sendo ostensivamente negligenciado (cf. Êx 20.13-16).[11]

Deus, o justo juiz, apontou para os dez mandamentos (cf. Êx 20.1-17) e lembrou o povo de como haviam transgredido sua lei ao pronunciar maldições, contar mentiras, matar, roubar e cometer adultério. Em decorrência disso, haviam trazido sofrimento sobre si, sobre a terra e até sobre os animais. A promessa da aliança de Deus era que ele abençoaria a terra, se o povo lhe obedecesse, mas que castigaria a terra, se desobedecesse (cf. Lv 26; Dt 27 -28).[12]

O v.3, fala do juízo de Deus, mas é também, em parte, um vívido retrato poético de uma terra sob a maldição de Deus[13]. Na sociedade de Israel o pecado deixa marcas por toda a parte. Os seus pecados atingiram a natureza, poluindo a terra, o ar e o mar. Criaram graves problemas ecológicos. Desrespeitaram a criação de Deus, destruindo o próprio habitat.[14]

O pecado traz desespero e desesperança. Um sentimento de vazio é o saldo deixado pelo pecado. O luto e o desfalecimento são a colheita certa dessa semeadura maldita. O pecado atinge não apenas a sociedade humana, mas também a própria natureza. O ar, a terra e o mar são também afetados pelo pecado do homem. Os pássaros, os animais e os peixes sofrem com os desequilíbrios da natureza, resultantes do pecado da humanidade.[15] (cf. Rm 8.20-22 – A própria natureza geme debaixo das consequências do pecado do homem)[16]

II. Apostasia religiosa – vv.4-17

Quando Jeroboão I estabeleceu seu próprio sistema religioso em Israel, muitos dos verdadeiros sacerdotes fugiram para Judá, de modo que o rei ordenou sacerdotes que ele mesmo escolheu (cf. 2Cr 11.13-15). Mas, Deus rejeitou a religião fabricada de Jeroboão e advertiu os sacerdotes de que seu emprego fácil logo terminaria em tragédia. Em vez de buscarem a vontade de Deus, consultavam a ídolos. Quanto mais o povo pecava, mais comida havia para os sacerdotes. Quanto mais santuários o povo construía, mais os sacerdotes podiam entregar- se aos prazeres dos ritos de fertilidade. Além disso, as próprias filhas e noras dos sacerdotes se tornariam prostitutas cultuais e cometeriam adultério![17]

A apostasia de Israel tornou-se notória. A decadência espiritual, uma realidade irremediável. David Hubbard faz uma síntese desses crimes cometidos pelos líderes religiosos: 1) deficiência no ensino da lei (4.6); 2) uso da adoração pública para saciar os próprios apetites (4.7-10); 3) prática de formas de adivinhação (4.11, 12); 4) oferecimento de sacrifícios em lugares altos (4.13a); 5) participação em ritos de orgias sexuais (4.13b, 14); 6) incentivo à embriaguez lasciva, com a adoração de ídolos (4.15-19).[18]

Hernandes destaca, aqui, alguns pontos para reflexão sobre a apostasia de Israel e para tirarmos lições importantes para a Igreja. Como o texto não está numa ordem homilética clara, ordenamos de maneira que possamos entender melhor:[19]

1º) As causas da apostasia: a) A apostasia acontece quando a liderança rejeita o conhecimento de Deusvv.4-6; b) A apostasia acontece quando o crescimento da religiosidade significa o aprofundamento do pecadov.7; c) A apostasia acontece quando a liderança perde o temor de Deus e tira proveito do pecado em vez de repreendê-lov.8; d) A apostasia acontece quando o povo perde a lucidez por se entregar à sensualidade e à bebedeirav.11; e) A apostasia acontece quando o povo substitui Deus pelos ídolos e o culto verdadeiro pelo misticismov.12; f) A apostasia acontece quando a religião não é mais um freio moral, mas um incentivo à sensualidadev.13; g) A apostasia acontece quando o povo se rebela contra Deus e se entrega irremediavelmente aos ídolosvv.16, 17.

2º) As consequências da apostasia. O profeta Oseias falou não apenas sobre as causas da apostasia, mas também sobre suas trágicas consequências: a) Os líderes infiéis são derrubados pelo próprio Deusv.4b, 5; b) Os líderes infiéis são rejeitados por Deusv.6; c) Os líderes infiéis são maus exemplos para os seus lideradosv.14; d) O povo infiel é destruído com a permissão de Deusv.6; e) O povo infiel não encontra satisfação no pecado, mas a justa retribuição de Deusv.9, 10; f) O fracasso dos infiéis deve ser um alerta para o povo de Deus não cair também na apostasiav.15.

Quando obedecemos a Palavra de Deus, andamos na luz e não tropeçamos (cf. Pv 3.21-26; 4.14-19), mas quando rejeitamos sua Palavra, andamos na escuridão e não conseguimos encontrar o caminho (cf. Is 8.20). Líderes espirituais profanos e ignorantes geram um povo profano e ignorante, o que, por sua vez, traz destruição a terra. A expressão a tua mãe, no v.5, refere-se à nação de Israel (cf. Os 2.2, 5). A igreja segue a liderança espiritual; a moralidade segue a igreja e a nação segue a moralidade. Os filhos de Deus são luz e sal para a sociedade (cf. Mt 5.13-16); quando são corruptos, a sociedade torna- se corrupta.[20]

III. Corrupção política – vv.18, 19

Israel estava enfrentando uma crise de integridade moral, religiosa e política. A decadência moral era consequência da apostasia religiosa e da corrupção política. Os cabeças da nação eram os mestres do pecado. Oseias descreve assim a liderança política de Israel: ...os seus governadores amam a vergonha. Um vento os envolveu nas suas asas, e envergonhar-se-ão por causa dos seus sacrifícios (vv.18, 19). Duas coisas nos chamam a atenção aqui:[21]

1ª) Os líderes usavam o poder para servir a si mesmos, e não para servir à nação – v.18. Os sacerdotes e príncipes, que deveriam ser escudos para o povo e exemplos da justiça e retidão, amam apaixonadamente tudo o que é abominável à vista do Senhor.

2ª) Os líderes que amaram a desonra serão envergonhados – v.19. Quem ama a desonra não pode viver de cabeça erguida o tempo todo. Os príncipes, em vez de governar com retidão, tentaram camuflar suas ações corruptas com sacrifícios religiosos eivados de misticismo. Porém, o sincretismo religioso desses príncipes não lhes poupou da tragédia nem lhes protegeu a honra.

Concluindo

O povo de Israel tinha uma tarefa realmente sacerdotal e grandiosa entre os povos, essa era a sua incumbência dada diretamente por Deus (cf. Dt 4.5-7). Dentro da sua própria nação eles também deveria lembra uns aos outros que eram povo de propriedade do Deus vivo e verdadeiro, criador dos ceús e da terra. Infelizmente falharam tragicamente nessa missão, quando deliberadamente e de sá consciência rejeitaram a Palavra de Deus e o conhecimento do Senhor.

Por isso, quero concluir com a resposta de Deus a essa atitude do seu povo. No v.6 o Senhor falou duas coisas ao seu povo:

1ª) ... porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim – v.6b. Ele tiraria a primazia que eles tinham diante dos outros povos, que era o seu ministério sacerdotal;

2ª) ... e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos – v.6c. Ele esqueceria seus filhos, ou seja, que o povo como tal deixaria de usufruir da presença imediata do Senhor.

Para pensar: 1Co 10.11-14

Ora, tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar. Portanto, meus amados, fugi da idolatria.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 30/07/16



[1] Bíblia de Estudo NTLH, SBB, 2005, p. 1866-1867.
[2] Davidson, F. Novo Comentário da Bíblia, 1963, Bible Software theWord, Oseias 4.
[3] Malgo, Marcel. Oseias – O amor redentor de Deus. Actual Edições, 2010, p. 54, 55.
[4] Malgo, p. 56.
[5] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Oseias, Editora Vida Nova, 2009, p. 1157.
[6] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em ação, Editora Hagnos, p. 77.
[7] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 397.
[8] Carson, p. 1157.
[9] Carson, p. 1157.
[10] Wiersbe, p. 397.
[11] Carson, p. 1157.
[12] Wiersbe, p. 397.
[13] Carson, p. 1157.
[14] Lopes, p. 83.
[15] Lopes, p. 83.
[16] Davidson, Oseias 4.3.
[17] Wiersbe, p. 398.
[18] Lopes, p. 84.
[19] Lopes, p. 84-92. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[20] Wiersbe, p. 398.
[21] Lopes, p. 93-95. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.

Um comentário:

  1. Muito boa essa palavra contudo a questão da depravação total aí penso que não tem nada haver com o contexto de oseias 4.

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