Em
nosso estudo anterior vimos:
ð
A segunda parte
do primeiro ponto do livro com o seguinte tema: O juízo divino, a preparação para a restauração e a restauração amorosa
– 2.2-3.5. E abordamos o assunto em
três pontos: 1º) O juízo divino – 2.2-13; 2º) A preparação para a restauração – 2.14-23; e 3º) A restauração amorosa
– 3.1-5.
ð
Terminamos
enfatizando que os verbos-chave da profecia de Oseias são voltar, tornar e converter-se. Quando Israel se
arrepender e tornar ao Senhor, então o Senhor tornara a abençoar Israel (cf. Os 2.7,
8). Deus tornou a seu lugar e deixou Israel sozinho (cf. Os 5.15), até que, angustiado, ele o busque
(cf. Os 6.1).
A
triste experiência conjugal e familiar de Oseias ajuda-o a compreender e a
proclamar, com vigor e eloquência, o amor de Deus para com o seu povo
desobediente e rebelde (4-14). O
pecado de Israel e de Judá é duplo: 1º)
em vez de adorarem o Senhor, o seu Deus, eles passaram a adorar os deuses da
fertilidade, porque pensavam que esses deuses lhes dariam terras frutíferas e
animais férteis; e 2º) em vez de
dependerem do Senhor para salvá-los dos seus inimigos, eles foram buscar a
ajuda dos países mais fortes, especialmente o Egito e a Assíria (14.3).[1]
Portanto,
os capítulos 4 a 14 contém as
profecias de Oseias. Suas mensagens à geração de sua época se originaram em sua
própria dolorosa experiência familiar. Elas fluem juntamente e uma divisão
definida, em seções lógicas, não é fácil de traçar.[2]
Para
Marcel Malgo, o capítulo 4 de Oseias
pode ser dividido em duas partes: 1ª)
vv.1-11 – descrevem com assustadora
clareza os frutos da idolatria de Israel (cf. v.3); e 2ª) vv.12-19 – descrevem a forma de idolatria praticada por
Israel (cf. v.13). Mas, mesmo
que a sua idolatria tenha sido terrível, ela era apenas a ponta do iceberg.
Pois Israel tomou um caminho muito mais perigoso e por isso se tornou idolatra.
Resumindo: Israel rejeitou conscientemente
a Palavra de Deus, rejeitou o conhecimento do Senhor.[3]
Infelizmente,
por diversas vezes o povo de Israel rejeitou o conhecimento de Deus (cf. 2Cr 30.10). A situação era trágica pelo
fato de o próprio povo prejudicar a si mesmo quando rejeitava o que Deus lhes
dizia (cf. 2Cr 36.15, 16). As
consequências da rejeição consciente da Palavra de Deus são funestas, por isso
esse caminho de rejeição do conhecimento de Deus é tão perigoso (vv.6, 7). Todo aquele que rejeita
conscientemente a Palavra de Deus – rejeitando assim o conhecimento de Deus –
perde toda a segurança. Fica desorientado e vacilante.[4]
Hoje,
vamos estudar o capítulo 4 com o
tema: Depravação Total.
Trataremos o assunto em três pontos: 1º)
Degradação moral – vv.1-3; 2º)
Apostasia religiosa – vv.4-17; e 3º) Corrupção política – vv.18, 19.
I. Degradação moral – vv.1-3
A linguagem usada aqui
sugere que podemos pensar num processo legal, como os que se passavam nas
portas da cidade, onde os anciãos de Israel se assentavam para julgar.[5] Mas,
aqui, é o próprio Deus que tem algo para colocar em discussão.
Portanto,
estamos subitamente em um tribunal, e o próprio Deus está no lugar do promotor
público. A peça introdutória da acusação destaca três graves delitos da nação:
... na terra não há verdade, nem
benignidade, nem conhecimento de Deus (v.1b). Não há sociedade humana que possa prevalecer onde estão ausentes a
verdade, o amor e o conhecimento de Deus. Esses são os fundamentos da piedade
e da moralidade. Esses são os alicerces da família, da igreja e da sociedade. Por
conseguinte, a falta de verdade e amor evidenciava a falta do conhecimento real
de Deus, uma vez que tanto a verdade quanto o amor têm suas raízes no
conhecimento de Deus.[6]
A
imagem de Deus levando homens e nações a julgamento em seu tribunal aparece com
frequência nas Escrituras (cf. Is 1.13;
Jr 2.9, 29; 25.31; Mq 6.2; Rm 3.19).[7]
Esses
delitos são enquadrados de dois modos: por
um lado faltam a Israel as qualidades
positivas necessárias que Deus requer de seu povo, e por outro lado, o povo exibe características negativas que
Deus odeia.[8]
1. Falta de qualidades positivas
necessárias que Deus requer de seu povo – 1ª) A
verdade – que inclui tanto dizer a verdade quanto agir com fidelidade; 2ª) A
benignidade (o amor constante) – a qualidade que expressa acima de tudo a
maneira como Deus age em relação a seu povo na aliança e o que ele exige em
troca[9] (cf. Os 6.6;
Dt 5.10; 7.9, 12); e 3ª) O conhecimento de Deus – que inclui o
conhecer intelectual e a experiência pessoal, isto é, intimidade com Deus. “Isso significa muito mais do que ser informado sobre
Deus; refere-se ao conhecimento pessoal do Senhor. Conhecer a Deus e ter um
relacionamento pessoal com ele pela fé em Jesus Cristo”[10] (cf. Jo 17.3).
2. Características negativas que Deus odeia
– 1ª)
Perjurar (maldição) – no sentido de
procurar prejudicar outros ou proferir alguma maldição contra eles (cf. Jz 17.2; Os 10.4); 2ª) Mentir, matar, furtar e
adulterar – isto é, o que os Dez Mandamentos requerem com respeito as
outras pessoas, está sendo ostensivamente negligenciado (cf. Êx 20.13-16).[11]
Deus,
o justo juiz, apontou para os dez mandamentos (cf. Êx 20.1-17) e lembrou o povo de como haviam transgredido sua lei ao
pronunciar maldições, contar mentiras, matar, roubar e cometer adultério. Em
decorrência disso, haviam trazido sofrimento sobre si, sobre a terra e até
sobre os animais. A promessa da aliança de Deus era que ele abençoaria a terra,
se o povo lhe obedecesse, mas que castigaria a terra, se desobedecesse (cf. Lv 26; Dt 27 -28).[12]
O
v.3, fala do juízo de Deus, mas é
também, em parte, um vívido retrato poético de uma terra sob a maldição de Deus[13]. Na
sociedade de Israel o pecado deixa marcas por toda a parte. Os seus pecados atingiram
a natureza, poluindo a terra, o ar e o mar. Criaram graves problemas
ecológicos. Desrespeitaram a criação de Deus, destruindo o próprio habitat.[14]
O
pecado traz desespero e desesperança. Um sentimento de vazio é o saldo deixado
pelo pecado. O luto e o desfalecimento são a colheita certa dessa semeadura maldita.
O pecado atinge não apenas a sociedade humana, mas também a própria natureza. O
ar, a terra e o mar são também afetados pelo pecado do homem. Os pássaros, os
animais e os peixes sofrem com os desequilíbrios da natureza, resultantes do
pecado da humanidade.[15] (cf. Rm 8.20-22 – A própria natureza geme
debaixo das consequências do pecado do homem)[16]
II. Apostasia religiosa – vv.4-17
Quando
Jeroboão I estabeleceu seu próprio sistema religioso em Israel, muitos dos
verdadeiros sacerdotes fugiram para Judá, de modo que o rei ordenou sacerdotes
que ele mesmo escolheu (cf. 2Cr 11.13-15).
Mas, Deus rejeitou a religião fabricada de Jeroboão e advertiu os sacerdotes de
que seu emprego fácil logo terminaria em tragédia. Em vez de buscarem a vontade
de Deus, consultavam a ídolos. Quanto mais o povo pecava, mais comida havia
para os sacerdotes. Quanto mais santuários o povo construía, mais os sacerdotes
podiam entregar- se aos prazeres dos ritos de fertilidade. Além disso, as
próprias filhas e noras dos sacerdotes se tornariam prostitutas cultuais e cometeriam
adultério![17]
A apostasia de Israel tornou-se notória. A decadência espiritual, uma realidade irremediável. David Hubbard faz
uma síntese desses crimes cometidos pelos líderes religiosos: 1) deficiência
no ensino da lei (4.6); 2) uso
da adoração pública para saciar os próprios apetites (4.7-10); 3) prática de formas de adivinhação (4.11, 12); 4) oferecimento de
sacrifícios em lugares altos (4.13a);
5) participação em ritos de orgias sexuais (4.13b, 14); 6) incentivo à embriaguez lasciva, com a
adoração de ídolos (4.15-19).[18]
Hernandes
destaca, aqui, alguns pontos para reflexão sobre a apostasia de Israel e para
tirarmos lições importantes para a Igreja. Como o texto não está numa ordem
homilética clara, ordenamos de maneira que possamos entender melhor:[19]
1º) As causas da apostasia: a) A apostasia acontece quando a liderança
rejeita o conhecimento de Deus – vv.4-6;
b) A apostasia acontece quando o crescimento da religiosidade significa o
aprofundamento do pecado – v.7; c) A
apostasia acontece quando a liderança perde o temor de Deus e tira proveito do
pecado em vez de repreendê-lo – v.8;
d) A apostasia acontece quando o povo perde a lucidez por se entregar à sensualidade
e à bebedeira – v.11; e) A
apostasia acontece quando o povo substitui Deus pelos ídolos e o culto
verdadeiro pelo misticismo – v.12;
f) A apostasia acontece quando a religião não é mais um freio moral, mas
um incentivo à sensualidade – v.13;
g) A apostasia acontece quando o povo se rebela contra Deus e se entrega
irremediavelmente aos ídolos – vv.16,
17.
2º) As consequências da apostasia. O profeta Oseias falou não apenas sobre as causas da
apostasia, mas também sobre suas trágicas consequências: a) Os líderes infiéis são
derrubados pelo próprio Deus – v.4b,
5; b) Os líderes infiéis são rejeitados por Deus – v.6; c) Os líderes infiéis são maus exemplos para os
seus liderados – v.14; d) O
povo infiel é destruído com a permissão de Deus – v.6; e) O povo infiel não encontra satisfação no
pecado, mas a justa retribuição de Deus – v.9, 10; f) O fracasso dos infiéis deve ser um alerta
para o povo de Deus não cair também na apostasia – v.15.
Quando
obedecemos a Palavra de Deus, andamos na luz e não tropeçamos (cf. Pv 3.21-26; 4.14-19), mas quando
rejeitamos sua Palavra, andamos na escuridão e não conseguimos encontrar o
caminho (cf. Is 8.20). Líderes espirituais
profanos e ignorantes geram um povo profano e ignorante, o que, por sua vez,
traz destruição a terra. A expressão a
tua mãe, no v.5, refere-se à
nação de Israel (cf. Os 2.2, 5). A
igreja segue a liderança espiritual; a moralidade segue a igreja e a nação segue
a moralidade. Os filhos de Deus são luz e sal para a sociedade (cf. Mt 5.13-16); quando são corruptos, a
sociedade torna- se corrupta.[20]
III. Corrupção política – vv.18, 19
Israel
estava enfrentando uma crise de integridade moral, religiosa e política. A
decadência moral era consequência da apostasia religiosa e da corrupção
política. Os cabeças da nação eram os mestres do pecado. Oseias descreve assim
a liderança política de Israel: ...os
seus governadores amam a vergonha. Um vento os envolveu nas suas asas, e
envergonhar-se-ão por causa dos seus sacrifícios
(vv.18, 19). Duas coisas nos chamam
a atenção aqui:[21]
1ª) Os líderes usavam o poder para servir
a si mesmos, e não para servir à nação – v.18. Os sacerdotes e príncipes,
que deveriam ser escudos para o povo e exemplos da justiça e retidão, amam
apaixonadamente tudo o que é abominável à vista do Senhor.
2ª) Os líderes que amaram a desonra serão
envergonhados – v.19. Quem ama a
desonra não pode viver de cabeça erguida o tempo todo. Os príncipes, em vez de
governar com retidão, tentaram camuflar suas ações corruptas com sacrifícios
religiosos eivados de misticismo. Porém, o sincretismo religioso desses
príncipes não lhes poupou da tragédia nem lhes protegeu a honra.
Concluindo
O
povo de Israel tinha uma tarefa realmente sacerdotal e grandiosa entre os
povos, essa era a sua incumbência dada diretamente por Deus (cf. Dt 4.5-7). Dentro da sua própria nação
eles também deveria lembra uns aos outros que eram povo de propriedade do Deus
vivo e verdadeiro, criador dos ceús e da terra. Infelizmente falharam
tragicamente nessa missão, quando deliberadamente e de sá consciência
rejeitaram a Palavra de Deus e o conhecimento do Senhor.
Por
isso, quero concluir com a resposta de Deus a essa atitude do seu povo. No v.6 o Senhor falou duas coisas ao seu
povo:
1ª) ... porque tu rejeitaste o
conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de
mim
– v.6b. Ele tiraria a primazia que eles tinham diante dos
outros povos, que era o seu ministério sacerdotal;
2ª) ... e, visto que te esqueceste da lei do
teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos – v.6c. Ele
esqueceria seus filhos, ou seja, que o povo como tal deixaria de usufruir da
presença imediata do Senhor.
Para pensar: 1Co 10.11-14
Ora,
tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para
quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele, pois, que cuida estar em pé,
olhe não caia. Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que
não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o
escape, para que a possais suportar. Portanto, meus amados, fugi da idolatria.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 30/07/16
[1] Bíblia de Estudo NTLH, SBB, 2005, p. 1866-1867.
[2] Davidson, F. Novo Comentário da Bíblia, 1963, Bible
Software theWord, Oseias 4.
[3] Malgo, Marcel. Oseias – O amor redentor de Deus.
Actual Edições, 2010, p. 54, 55.
[4] Malgo, p. 56.
[5] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Oseias,
Editora Vida Nova, 2009, p. 1157.
[6] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em
ação, Editora Hagnos, p. 77.
[7] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do
Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 397.
[8] Carson, p. 1157.
[9] Carson, p. 1157.
[10] Wiersbe, p. 397.
[11] Carson, p. 1157.
[12] Wiersbe, p. 397.
[13] Carson, p. 1157.
[14] Lopes, p. 83.
[16] Davidson, Oseias 4.3.
[17] Wiersbe, p. 398.
[19] Lopes, p. 84-92. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[20] Wiersbe, p. 398.
[21] Lopes, p. 93-95. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
Muito boa essa palavra contudo a questão da depravação total aí penso que não tem nada haver com o contexto de oseias 4.
ResponderExcluir