Em
nosso estudo de introdução vimos:
(1) Uma rápida introdução ao estudo dos Profetas Menores
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Os profetas foram chamados por Deus para falar ao
povo em tempos de crise. Sua função principal era chamar o povo de volta aos
caminhos de Deus, à sua adoração e à moralidade. A função de enxergar o que
iria acontecer no futuro servia duas funções: (1ª) alertar ao povo sobre as
consequências de seu comportamento e
(2ª) servir como autenticação de que
o profeta falava realmente da parte de Deus.
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Em nossa Bíblias os
escritos dos profetas se dividem em dois grupos: 1) Profetas Maiores – que são cinco; e 2) Profetas Menores – que são doze.
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Os livros
proféticos devem ser estudados dentro de seu contexto histórico. O contexto
maior das mensagens dos profetas é o dos três
sucessivos impérios que dominaram o Oriente Próximo entre o oitavo e o
quarto séculos antes de Cristo: o
Império Assírio, o Babilônico e o Persa.
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O período dos
profetas termina na mesma época em que a civilização grega atinge seu ponto
alto ou seus anos dourados, entre 500
e 400 a.C.. E depois disso, por uns 400 anos, até o nascimento de Jesus, não
houve profetas em Israel.
(2) A introdução ao livro do profeta Oseias
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Oseias é o
primeiro dos últimos doze livros do Antigo Testamento e o mais extenso deles. Sua
profecia é entregue no período de maior prosperidade financeira e também no
tempo de maior decadência espiritual.
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Oseias profetizou,
possivelmente, durante uns quarenta anos, isto é, mais ou menos de 760 a 720
a.C., começando uns cinco anos antes do fim do reinado de Jeroboão II, rei de
Judá (783 a 743 a.C.), e terminando uns cinco anos antes da conquista de
Samaria, a capital do Reino do Norte, pelos assírios em 722 a.C.
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Russell Norman
Champlin diz que o tema do profeta é quádruplo: a idolatria de Israel, a sua
iniquidade, o seu cativeiro e a sua restauração. Israel é retratado
profeticamente como a esposa adúltera de lavé, que em breve seria colocada
fora, mas que finalmente seria purificada e restaurada.[1]
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A triste
experiência conjugal do profeta o faz compreender e a proclamar, com vigor e
eloquência, o amor de Deus para com o seu povo desobediente e rebelde (4-14).
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As verdades mais
importantes do livro são: 1ª) Deus
sofre quando seu povo lhe é infiel; 2ª) Deus
não pode tolerar o pecado; e 3ª)
Deus nunca deixará de amar os seus e, consequentemente, quer que os que o
abandonaram voltem para ele.[2]
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E estudamos os
primeiros três versículos com o tema: o
profeta, a sua mensagem e a sua esposa.
Hoje
vamos começar a estudar o primeiro ponto do livro: Fidelidade e Infidelidade – Oseias e Gômer – 1.4-3.5. Começaremos pelo
texto 1.4-2.1 com o tema: A proclamação do juízo divino e a promessa
de restauração.
Já temos visto que o livro de Oseias fala de julgamento e esperança. Cada uma das três partes principais do livro começa com a ameaça
de juízo divino sobre Israel (Os 1.2-2.13; 4.1-10.15; 12.1-13.16) e termina
com a promessa de restauração divina (Os 2.14-3.5; 11.1-11; 14.1-9).[3]
I. A proclamação do juízo divino – 1.4-9
Se
o casamento de Oseias com Gômer retratava o amor de Deus a um povo ingrato e
infiel, os filhos de Oseias representavam o juízo de Deus a esse povo. O casal
teve três filhos: Jezreel, Lo-Ruama e Lo-Ami.
Esses são nomes carregados de simbolismo.[4] Assim
como os dois filhos de Isaías (cf. Is
7.3; 8.3) e muitas outras pessoas na Bíblia, os três filhos de Gômer
receberam nomes significativos escolhidos pelo Senhor.[5]
a. vv.4, 5 – O juízo divino a todo povo – O nome do
primogênito de Oseias era Jezreel e significa Deus semeia ou Deus dispersa, isto é, esse significado pode ser positivo ou negativo[6]
(cf. 1.1; 2.22, 23). Era “o nome de
um vale entre as montanhas de Samaria e da Galiléia, um famoso campo de batalha
de Israel”[7]. Havia
ali uma cidade da tribo de Issacar onde Jeú exterminou a família de Acabe (cf. 2Rs 9.10). Jezreel foi
um campo de sangue, um lugar de chacina, “uma expressão que frequentemente
significa matança ou homicídio”[8] onde Jeú
executou o juízo de Deus sobre os membros da casa de Acabe. O problema de Jeú é
que ele foi além do que Deus o mandou fazer (cf. 2Rs 9-10). Ele errou quanto à forma, quanto à motivação e quanto à
essência. E agora chegara a hora de Deus castigar a casa de Jeú pelo sangue de
Jezreel.[9]
Elias
havia predito que a família do Acabe seria destruída devido a sua maldade (cf. 1Rs 21.20-22). Como Jeú foi muito longe
ao cumprir a ordem de Deus (cf. 2Rs
10.1-11), pois seus motivos foram influenciados por interesse próprio, a
sua dinastia também seria castigada no Jezreel, o mesmo lugar onde levou a cabo
o massacre da família de Acabe. A promessa de Deus de pôr fim a Israel como
reino independente se cumpriu vinte e cinco anos mais tarde, em 722 a.C.,
quando os assírios conquistaram o reino do Norte e levaram cativo o seu povo.[10]
Jezreel
tinha um duplo significado: 1º) Os pecados cometidos no vale de Jezreel por
Jeú seriam punidos e Israel experimentaria a derrota terrível. O sangue de
Jezreel é uma referência à tentativa pouco sábia de Jeú de defender a causa do
Senhor matando todos os adoradores de Baal (cf. 2Reis 10.1-11); e 2º) Depois que o povo de Israel fosse disperso
por causa do pecado, Deus o plantaria ou semearia novamente em sua própria
terra.[11]
Em
juízo Deus disse: E naquele dia quebrarei
o arco de Israel no vale de Jizreel (v.5). O arco aqui
representa o poder militar ou bélico (cf. Gn
49.24) do Reino de Israel, que logo chegaria ao fim. Um arco quebrado era
sinal de impotência.[12]
b. vv.6, 7 – O juízo divino será sem
misericórdia – O segundo filho de Oseias com Gômer foi uma
menina a quem o Senhor deu o nome de Lo-Ruama
que significa Desfavorecida ou Não-amada. A filha do casal recebeu esse
nome destinado a dizer ao povo de Israel que não havia possibilidade de
misericórdia. Como a "desfavorecida" ela simbolizava a situação
angustiosa do Reino do Norte, que pecara contra Deus e estava amadurecida para
o juízo.[13]
Deus
havia amado seu povo e provado esse amor de várias maneiras, mas retiraria a
demonstração desse amor e deixaria de ser misericordioso. A expressão do amor
de Deus certamente e incondicional, mas só desfrutamos esse amor de acordo com
nossa fé e obediência (cf. Dt 7.6-12;
2Co 6.14-7.1). Deus permitiria que os assírios tomassem o reino do Norte,
mas protegeria o reino do Sul, Judá (cf. Is
36-37; 2Rs 19).[14]
A
profecia de Oseias foi cumprida na destruição de Israel por Sargão II (2Rs 17). Ao mesmo tempo em que puniu a
Israel, Deus prometeu compadecer-se do Reino do Sul e salvá-lo por intermédio
de seu braço forte. Isso aconteceu na tentativa de invasão da Assíria em
Jerusalém, no reinado de Ezequias. Deus dispersou o inimigo e livrou seu povo,
mas Israel não teve o mesmo destino (cf. Is 37.1-38).[15]
c. vv. 8, 9 – O juízo divino mais
devastador – a rejeição. O terceiro
filho do casal recebeu o nome Lo-Ami
e significa literalmente Não-meu-povo.
Esse nome dado pelo Senhor significa a mais devastadora palavra de juízo,
porque fala da rejeição de Deus a Israel. Israel deixaria de ser povo eleito de
Deus.
Deus
não apenas removeria sua misericórdia de seu povo, mas também renunciaria a
aliança que havia feito com ele. Seria como um homem divorciando-se de sua esposa
e dando as costas a ela ou como um pai rejeitando o próprio filho (cf. Êx 4.22; Os 11.1).[16]
Portanto,
Israel não seria mais o povo de Deus, nem Deus seria mais o Deus de Israel. Era
o fim da linha. Era a tragédia consumada. Israel podia ser nominalmente do
Senhor, mas na realidade era filha do seu tempo e de seu mundo pagão. Da mesma
forma, Deus podia ser nominalmente o seu Deus; mas, considerando que ele não
aceita ser partilhado, a presença de outros deuses nega categoricamente esse
relacionamento.[17]
No
Sinai, Israel fizera a aliança de se constituir o povo do Senhor e Ele de ser o
seu Deus (cf. Êx 19.1-7). Repetidas
vezes Israel transgrediu a aliança e aqui Oséias profeticamente declara que
seria rejeitada. Não seria uma rejeição permanente (cf. Os 2.3), mas resultaria no Exílio e na destruição do Reino do Norte
como entidade política.[18]
II. A Promessa de Restauração – 1.10-2.1
De
acordo com a promessa (cf. Gn 15.5, 6)
o número dos filhos de Israel seria como a areia do mar. Oseias pronunciou o
juízo sobre o Israel não arrependido, mas apresenta a promessa da redenção
final. O povo, embora dizimado pelo inimigo, seria numericamente reavivado e
seria novamente chamado de filhos do Deus.[19]
Portanto,
de modo repentino, Oseias passa da tragédia para a promessa. No meio do
julgamento, o Senhor se lembrou da misericórdia. Da escuridão do desespero brota
a luz da esperança. Na ira, Deus se lembra da sua misericórdia e faz promessas
de restauração ao seu povo. Os três oráculos desastrosos são totalmente alterados.
O nome de cada filho é transformado, passando de sinal de juízo para sinal de
graça.[20]
Aqui
entra em cena a graça de Deus, pois um dia Deus mudara esses nomes.
"Nao-Meu-Povo" se tornara "Meu Povo",
"Desfavorecida" passara a ser "Favor". Esses novos nomes
refletem uma nova relação entre Deus e a nação, pois todos serão "filhos
do Deus vivo". Judá e Israel se unirão como uma só nação e se submeterão
ao governante de Deus, reparando uma divisão que durou séculos. Em vez de ser
um lugar de matança e de julgamento, "Jezreel" será um lugar de
semeadura, em que Deus semeara seu povo com júbilo e em sua própria terra e os
fara prosperar.[21]
Portanto, os três filhos de Oseias com Gômer não apenas nos ensinam sobre o
juízo divino, mas, também, nos ensinam sobre a graça de Deus.
Aqui,
Oseias reúne palavras de muito conforto às suas sombrias predições. Nos vv. 1.10-2.1, o profeta
promete cinco grandes bênçãos a Israel: 1)
crescimento nacional (1.10a); 2) conversão nacional (1.10b); 3) reunião nacional (1.11a); 4) direção nacional (1.11b); e 5) restauração nacional (2.1).[22]
Hernandes
Dias Lopes, destaca aqui quatro pontos importantes:[23]
1º) A restauração é iniciativa de Deus,
e não do povo (1.10a). É Deus quem
toma a iniciativa de restaurar o seu povo. E Deus quem muda a sua sorte.
2º) A restauração é maior do que a queda
(v.10b). Em vez de Deus destruir seu
povo, vai multiplicá-lo. Em vez de varrê-lo do mapa, vai ampliar seus
horizontes. Em vez de limitá-lo, vai expandi-lo. Deus vai formar um novo
Israel, procedente não apenas daqueles que têm o sangue de Abraão nas veias,
mas a fé de Abraão no coração. Deus vai chamar de entre as nações um povo
escolhido e peculiar.
3º) A restauração implica a reunião dos
que foram separados (1.11). A divisão
do reino nunca foi propósito de Deus. O rompimento com a dinastia davídica
estava na contramão da vontade de Deus. A divisão provocada pelo homem seria
reconciliada por Deus. Israel deveria novamente ser um só povo, um só reino.
Essa reunificação seria obra divina, e não iniciativa humana.
Depois
do cativeiro assírio e do cativeiro babilônico, não se fala mais em dois
reinos. Aqueles que voltam do cativeiro formam o povo de Israel, embora nem
todos tenham voltado desses exílios. Por conseguinte, essa profecia tem pleno
cumprimento no futuro. De acordo com Romanos 11.25, 26, Deus ainda tem um
plano de restauração espiritual para a nação de Israel. Embora Deus tenha um
plano para a restauração espiritual do Israel étnico, duas vezes o Novo
Testamento toma essa profecia e a confronta com uma multidão ainda maior,
inclusive agora samaritanos e gentios, a quem Deus estava dizendo com motivos
ainda melhores: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; E amada à
que não era amada. (Rm
9.25; Os 2.23; cf. 1Pe 2.10; Rm 4.9-25; Gl 3.7, 8)
4º) A restauração implica o triunfo da
misericórdia sobre a ira (1.11; 2.1).
Jezreel não será mais lugar de massacre e juízo, mas de reunião e restauração.
Deus reverte a situação. Cancela o juízo e concede misericórdia. Suspende o
castigo e derrama graça.
David
Hubbard coloca essa restauração prometida em quatro etapas: A primeira etapa é a volta do exílio (Os 11.10, 11). A volta foi vista como
reunificação e restauração dos dois reinos. A segunda etapa acontece no nascimento de Jesus como o Messias, como
cumprimento das promessas feitas a Abraão (Lc 1.55), a Davi (Lc 1.32, 33) e ao povo por
intermédio dos profetas (Mt 1.23; 2.6). A terceira etapa é a formação da igreja (Rm 9.25, 26; 1Pe 2.10). A quarta etapa é a volta de Jesus Cristo,
quando se dará a plena manifestação do amor soberano e do julgamento perfeito
de Deus.
Wiersbe
pergunta e responde: Quando se realizarão essas promessas da graça de Deus para
os judeus? Quando reconhecerem seu Messias em sua volta, crerem nele e forem
purificados (Zc 12.10-13.1). Então
entrarão em seu reino, e as promessas dos profetas se cumprirão (Is 11-12; 32; 35; Jr 30-31; Ez 37; Am
9.11-15).
Concluindo
Oseias
ainda tem muitos juízos a anunciar – 2.1-13 e
a maior parte nos capítulos 4-14. Entretanto o livro é organizado
de modo a fornecer um esboço de todo o plano de Deus nos capítulos 1-3 nos termos da metáfora marido-esposa, antes de
continuar com profecias mais detalhadas.[24]
Essa
estrutura ajuda a alcançar pelo menos três coisas: 1ª) Mostra que o plano de
Deus é unificado – Ele não é um oportunista que fica observando o que vai
acontecer; 2ª) Mostra o movimento da ação do início ao fim, em ordem cronológica,
da harmonia à desarmonia e a volta da harmonia entre o Senhor e Israel (2.7b); e 3ª) Mostra como os eventos em
torno do casamento de Oseias estão ligados à sua mensagem sobre Deus e seu povo.[25]
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira - 10/07/16
[1] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em
ação, Editora Hagnos, p. 12.
[2] Bíblia de Estudo Scofield. Holy Bible, 2009, SP, p.
783.
[3] Lopes, p. 31.
[5] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do
Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 392.
[6] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Oseias,
Editora Vida Nova, 2009, p. 1153.
[7] Carson, p. 1153.
[8] Carson, p. 1153.
[9] Lopes, p. 38.
[11] Moody, Comentário Bíblico. Oséias, p. 5.
[12] Moody, p. 5.
[13] Moody, p.5.
[14] Wiersbe, p. 392.
[15] Lopes, p. 40.
[16] Wiersbe, p. 392.
[18] Moody, p. 6.
[19] Moody, p. 6.
[20] Lopes, p. 42.
[21] Wiersbe, p. 392.
[22] Lopes, p. 42.
[23] Lopes, p. 42-45. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[24] Carson, p. 1153.
[25] Carson, p. 1154.
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