domingo, 26 de junho de 2016

Estudos no livro do Profeta Oseias (1) - Introdução ao estudo dos Profetas Menores e Introdução ao livro de Oseias

Os 1.1-3

Introdução

1. Introdução ao estudo dos Profetas Menores

[1]Os profetas entre o povo de Deus começaram bem no início da história da nação judaica, eles são conhecidos como profetas iniciais.  Foram chamados de näbhi, a palavra hebraica mais comum traduzida por profeta.  Abraão foi o primeiro a ser chamado näbhi (Gn 20.7). Arão (Êx 7.1) e Moisés (Dt 34.10) também tiveram tal designação.  Moisés é tido como o maior profeta de todos os tempos em Israel (Dt 34.10) e Samuel como o segundo (Jr 15.1). Moisés foi uma espécie de protótipo dos profetas, prenunciando o último grande profeta, o Messias, que se levantaria para falar palavras poderosas, autenticadas por obras poderosas (Dt 18.15-22; At 3.22).

Os profetas iniciais não deixaram suas profecias por escrito e suas profecias orais eram dirigidas principalmente a indivíduos. Os profetas escritores ou literários, surgiram a partir da monarquia dividida e suas profecias eram dirigidas principalmente a Israel e Judá e às nações pagãs.

Ao longo da história dos hebreus também houve profetisas (näbhiah), ainda que as funções de sacerdote e rei fossem restritas a homens e a determinadas tribos.  Miriã (Êx 15.20), Débora (Jz 4.4), Hulda (2Rs 22.14; 2Cr 34.22), Noadias (Ne 6.14) e a esposa de Isaías (Is 8.3) foram designadas profetisas.  No Novo Testamento temos também Ana (Lc 2.36), as quatro filhas do evangelista Filipe (At 21.9), e até uma certa Jezabel, que se dizia profetisa (Ap 2.20).

A palavra profeta aparece aproximadamente 660 vezes na Bíblia – 440 vezes no Antigo Testamento e 220 vezes no Novo Testamento. No Antigo Testamento três palavras hebraicas diferentes são traduzidas em português pela palavra profeta, e várias outras palavras hebraicas se referiam à função ou experiência do profeta. 1) Näbhi – significa declarar, anunciar, falar por, representar; 2) Ro’eh – significa um vidente, alguém que vê – relacionado à sua percepção. (Dt 18.21-22, 2Rs 6.14-17; Hb 11.27); 3) Hozeh – semelhante a rõ’eh, significando um vidente que vê – relacionado ao método de recepção das mensagens de Deus através de sonhos ou visões. No Novo Testamento, o trabalho básico do profeta era falar aos homens para edificação, exortação e consolação (1Co 14.3; 29-32; Ef 4.11-13). Só que não era o mesmo ministério profético do Antigo Testamento. O ministério profético do Novo Testamento está associado ao dom de profecia (1Co 12.10), ou ao dom ministerial de profeta (Ef 4.11). 

Os profetas foram chamados por Deus para falar ao povo em tempos de crise. Sua função principal era chamar o povo de volta aos caminhos de Deus, à sua adoração e à moralidade. A função de enxergar o que iria acontecer no futuro servia duas funções: (1ª) alertar ao povo sobre as consequências de seu comportamento e (2ª) servir como autenticação de que o profeta falava realmente da parte de Deus. Havia muitos falsos profetas e adivinhos que comercializavam suas previsões do futuro simplesmente para agradar àquele que pagava pelo serviço. O verdadeiro profeta de Deus tinha que ser distinguido destes falsos profetas e o cumprimento de suas previsões servia como selo de autenticidade. Aqueles cujas previsões não se cumpriam poderiam ser considerados falsos profetas, devendo mesmo ser punidos com a pena capital, a morte (cf. Dt. 18.10, 14 e 20-22; Jr 23.9-32 e Ez 13.2-10).

Em nossa Bíblias os escritos dos profetas se dividem em dois grupos: 1) Profetas Maiores – Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel. Lamentações está aqui nesta categoria por conta de ser um livro do profeta Jeremias e de sua ligação com o seu livro profético; 2) Profetas Menores – Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. ‘Os Doze profetas menores são assim nomeados não porque o seu conteúdo seja de menor importância, mas porque são notavelmente menores que os escritos dos três grandes profetas’[2] – Isaías, Jeremias e Ezequiel.

Portanto, [3]os livros proféticos devem ser estudados dentro de seu contexto histórico. Muitas vezes, o versículo inicial de um livro bíblico fornece informações acerca do seu contexto. Em sua forma mais extensa, esses cabeçalhos contêm o nome do profeta, afirmam que as mensagens no livro vêm de Deus, dizem a quem elas são dirigidas e contam algo sobre o contexto histórico (cf. Is 1.1; Os 1.1). No entanto, em seis livros dos profetas menores, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque e Malaquias, praticamente tudo que se tem é o nome do profeta. Nesses casos, o contexto histórico fica indefinido, tendo de ser determinado por outras vias.

O contexto maior das mensagens dos profetas é o dos três sucessivos impérios que dominaram o Oriente Próximo entre o oitavo e o quarto séculos antes de Cristo: o Império Assírio, o Babilônico e o Persa.

O período dos profetas termina na mesma época em que a civilização grega atinge seu ponto alto ou seus anos dourados, entre 500 e 400 a.C.. Depois disso, por uns 400 anos, até o nascimento de Jesus, não houve profetas em Israel. Isso não significa que não houve quem pregasse e ensinasse. As mensagens dos profetas eram pregadas e elaboradas sempre de novas maneiras.

2. Introdução ao livro do Profeta Oséias

Oseias é o primeiro dos últimos doze livros do Antigo Testamento – Os Profetas Menores, e o mais extenso deles. É considerado, teologicamente um dos livros mais completos, pois abarca os grandes temas proféticos da aliança, do julgamento e da esperança. Sua profecia é entregue no período de maior prosperidade financeira e também no tempo de maior decadência espiritual. Oseias é considerado, também, o único profeta escritor do Reino do Norte.

Oseias profetizou, possivelmente, durante uns quarenta anos, isto é, mais ou menos de 760 a 720 a.C., começando uns cinco anos antes do fim do reinado de Jeroboão II, rei de Judá (783 a 743 a.C.), e terminando uns cinco anos antes da conquista de Samaria, a capital do Reino do Norte, pelos assírios em 722 a.C. Ele anunciou as mensagens de Deus ao povo de Israel, o Reino do Norte, mas incluiu também o povo de Judá, o Reino do Sul (1.7, 11; 4.15; 5.5, 10, 12, 13, 14; 6.4, 11; 8.14; 10.11, 12; 12.2).[4]

Myer Pearlman diz que o livro de Oseias é uma grande exortação ao arrependimento dirigida às dez tribos, durante os quarenta ou cinquenta anos antes do seu cativeiro. Russell Norman Champlin diz que o tema do profeta é quádruplo: a idolatria de Israel, a sua iniquidade, o seu cativeiro e a sua restauração. Israel é retratado profeticamente como a esposa adúltera de lavé, que em breve seria colocada fora, mas que finalmente seria purificada e restaurada.[5]

Hernandes Dias Lopes destaca cinco pontos importantes sobre o profeta Oseias: 1º) Ele foi um homem chamado não apenas para falar, mas também para representar o amor de Deus; 2º) foi um homem levantado por Deus em tempo de prosperidade financeira e decadência espiritual; 3º) foi um homem que profetizou durante um período marcado tanto por estabilidade quanto por instabilidade política; 4º) foi um homem que anunciou tanto o juízo quanto a misericórdia de Deus; e 5º) foi um homem que anunciou tanto a soberania de Deus quanto a responsabilidade humana.[6]

[7]O livro começa (1-3) com a dolorosa experiência de Oseias, que, em obediência à ordem de Deus, casa com Gômer, possivelmente uma mulher que tenha sido uma prostituta cultual (sagrada) do templo de Baal, o deus cananeu da fertilidade. Desse casamento nascem dois filhos e uma filha, que recebem nomes simbólicos: “Jezreel” (1.4), “Não-Amada” (cf. 1.6) e “Não-Meu-Povo” (cf. 1.9). Depois, a sua esposa o abandona; mas, novamente em obediência à ordem de Deus, Oseias vai atrás dela e faz com que ela volte a ser a sua esposa.

Essa experiência triste leva Oseias a compreender e a proclamar, com vigor e eloquência, o amor de Deus para com o seu povo desobediente e rebelde (4-14). O pecado de Israel e de Judá é duplo: 1º) em vez de adorarem o Senhor, o seu Deus, eles passaram a adorar os deuses da fertilidade, porque pensavam que esses deuses lhes dariam terras frutíferas e animais férteis; e 2º) em vez de dependerem do Senhor para salvá-los dos seus inimigos, eles foram buscar a ajuda dos países mais fortes, especialmente o Egito e a Assíria (14.3).

Oseias anuncia que Deus vai castigar o seu povo. Em palavras solenes e duras (9.15-17), ele condena o povo de Israel e o povo de Judá e promete que Deus os abandonará e os entregará nas mãos dos seus inimigos. Mas, assim como a sua justiça, o amor de Deus é forte e grande: Deus não abandonará o seu povo para sempre, e virá o dia em que ele será, de novo, o Deus deles e eles serão seus filhos (11.1-11). Com toda razão, Oseias é chamado de “o profeta do amor de Deus”.

A mensagem mais importante deste livro é que Deus ama o seu povo com amor que não tem fim. Deus é como um marido dedicado, que vai atrás da sua esposa infiel (cf. 2.14-23); é como um pai ou uma mãe, que nunca abandona o filho, por mais rebelde que ele seja (11.1-4, 8-9). Em todo o Antigo Testamento, estas são as mais eloquentes passagens a respeito do amor de Deus pelo seu povo. Esse perfeito amor proclamado por Oseias se fez carne em Jesus na plenitude dos tempos (cf. Gl 4.4).

Mas Deus respeita a liberdade do ser humano e não força o seu povo a aceitar o seu amor. É preciso, no entanto, que eles confessem os seus pecados e se arrependam, e, assim, voltem para ele. A última mensagem de Oseias para o povo é justamente esta: “Converte-te, ó Israel, ao SENHOR teu Deus; porque pelos teus pecados tens caído. Tomai convosco palavras, e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Tira toda a iniquidade, e aceita o que é bom; e ofereceremos como novilhos os sacrifícios dos nossos lábios.” (14.1, 2). Na versão NTLHPovo de Israel, volte para o SENHOR, seu Deus! Você caiu porque pecou. Voltem para Deus e orem assim: “Perdoa todos os nossos pecados, ouve a nossa oração, e os nossos louvores serão o sacrifício que te ofereceremos.

Carlos Osvaldo diz que, o livro expressa uma dupla manifestação de amor exclusivista, em cinco ciclos de julgamento e livramento ou salvação: 1º) Ciclo: Julgamento1.2-9Salvação1.10-2.1; 2º) Ciclo: Julgamento2.2-13Salvação2.14-3.5; 3º) Ciclo: Julgamento4.1-5.14Salvação5.15-6.3; 4º) Ciclo: Julgamento6.4-11.7Salvação11.8-12.11; e 5º) Ciclo: Julgamento12.12-13.16Salvação14.1-9.[8]

A maioria dos estudiosos pensa que o mais provável é que o livro tenha sido escrito em Judá, o Reino do Sul, depois da conquista de Samaria, a capital do Reino do Norte, pelos assírios em c. 722 a.C.

Os textos mais conhecidos de Oseias são:

Os 4.6; 6.3-6 – A importância do conhecimento de Deus, não apenas intelectual, mas experimental e verdadeiro, com consequente transformação de vidas.

Os 11.1 – Essa palavra profética, historicamente, testemunha a libertação de Israel do cativeiro egípcio por mãos de Moisés, mas também revela que o Messias, filho de Deus, passaria um tempo pelo Egito e de lá seria trazido pelo Senhor (Mt 2.13-15).

Os 13.14 – Falando da vitória de Jesus sobre a morte, texto lembrado por Paulo em 1Co 15.55.

As verdades mais importantes do livro são: 1ª) Deus sofre quando seu povo lhe é infiel; 2ª) Deus não pode tolerar o pecado; e 3ª) Deus nunca deixará de amar os seus e, consequentemente, quer que os que o abandonaram voltem para ele.[9]

O esboço para o estudo do livro que vamos usar é o seguinte:

Prólogo – 1.1-3

1.    O profeta Oseias – v.1
2.    Sua mensagem – v.2a
3.    Sua esposa – v.2b, 3a

I. Fidelidade e Infidelidade –  Oséias e Gômer – 1.4-3.5

II. Fidelidade e Infidelidade –  Deus e Israel – 1.4-10.15

III. Perdão e Restauração – 11.1-14.8

Epílogo – 14.9

Hoje, nos vv.1-3 com o tema o profeta, sua mensagem e a sua esposa, vamos começar no estudo do livro de Oseias.

I. O profeta Oseias – v.1

1.    Palavra do SENHOR, que foi dirigida... – Oseias não se constituiu profeta nem foi apontado por homem algum. Ele é profeta de Deus.[10] Esse tipo de introdução, expressando a divina autoridade do profeta também aparece em[11] Jl 1.1; Am 1.3; Ob 1.1; Jn 1.1; Mq 1.1; Ag 1.2; Zc 1.1; Ml 1.1. No Novo Testamento o apóstolo Paulo usou dessa afirmação também em suas cartas – cf. Ex.: Gl 1.1.

2.    ... Oseias, filho de Beeri, ... – Era muito comum, em Israel, o nome Oseias. Assim foi chamado o último rei do Reino do Norte. O significado do nome é: Deus salva, ou salvação, e é equivalente a Josué e Jesus. O nome do profeta já trazia em si um chamado ao arrependimento e uma semente de esperança. É considerado o Jeremias de Israel e o apóstolo João do Antigo Testamento. Oséias era filho de Beeri, cujo nome significa meu poço ou minha fonte.[12] Ele não é mencionado em nenhum outro lugar nas Escrituras, mas Moody afirma que, desde cedo os escritores judeus o tem identificado com Beera (1Cr 5.6), que foi levado para o exílio por Tiglate-Pileser.[13]

3.    ... nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel. Oseias cita o nome de quatro reis de Judá e de apenas um rei de Israel, Jeroboão II. Os reis de Judá, obviamente, pertenciam a dinastia de Davi, única dinastia aceita pelo Senhor (cf. 1Rs 11.36; 15.4).[14] Oseias foi profeta em Israel durante o longo governo de Jeroboão II. Esse rei governou em Samaria por 41 anos, tendo não apenas o mais longo reinado, bem como o mais próspero. Nesse tempo, no Reino do Sul governaram Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias.[15]

O ministério de Oseias deve ter ultrapassado as fronteiras do reinado de Jeroboão II, uma vez que anuncia o fim da dinastia de Jeú (1.4, 5). Zacarias, filho de Jeroboão, foi o último membro dessa dinastia. Após a morte do grande monarca Jeroboão II, Israel entrou em rápido declínio. Três reis foram assassinados por seus sucessores. Conspiração e traição marcaram esse reino até sua completa derrota em 722 a.C., quando foi levado cativo pela Assíria.[16]

Oseias foi contemporâneo de Amós. Ambos profetizaram no final do melhor dos tempos e nas bordas do pior dos tempos em Israel.[17] Ele profetizou para o Reino do Norte (Israel, ou Efraim), durante o período em que Isaías estava profetizando em Judá (1.1; cf. Is 1.1). Amós (Am 1.1), era nativo de Judá que profetizou em Israel. Oseias foi, entretanto, o profeta que escreveu para o Reino do Norte, o seu próprio povo. Portanto, Amós e Oseias profetizaram durante os anos finais do Reino do Norte, exatamente como Jeremias de Jerusalém profetizou durante as últimas horas da história de Judá.[18]

II. Sua mensagem – v.2a

1.    v.2aO princípio da palavra do SENHOR por meio de Oseias. Oseias é profeta de Deus. Ele não criou a mensagem; a mensagem lhe foi dada. Ele não era a fonte da mensagem, apenas o seu instrumento. Sua autoridade procedia de Deus. Sua mensagem emanava do próprio Deus. Quando Oseias falava, era o próprio Deus falando ao povo. Dionísio Pape diz: “O profeta do Senhor é sempre a sua mensagem. Proclama a mensa­gem verbalmente, mas também a vive na carne”. David Hubbard diz que o próprio Oseias é um sinal para o povo, um símbolo profético da ira de Deus e do seu amor na restauração. Quando Deus falou por intermédio de Oseias, a primeira mensagem não foi dirigida ao povo, mas ao próprio profeta. O profeta é o primeiro público-alvo da própria mensagem recebida de Deus.[19]

Foi num cenário de luxo e de lixo, de glória humana e opróbrio espiritual, de ascendência econômica e decadência moral, que Deus levantou Oseias para confrontar os pecados da nação e chamá-la ao arrependimento. A riqueza sem Deus é pior do que a pobreza. A riqueza sem Deus afasta o homem da santidade mais do que a escassez. Dionísio Pape diz que os períodos de grande prosperidade são geralmente acompanhados de declínio moral.[20]

Nesse rápido declínio moral, todas as classes da socie­dade se desmoralizaram. Os príncipes, amantes da riqueza e do luxo, viviam desenfreados no pecado. Os sacerdotes, que deveriam ensinar a verdade ao povo, tornaram-se ban­didos truculentos e cheios de avareza. As coisas foram de mal a pior, até que o profeta ex­clamou: “porque na terra não verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro. (4.1, 2).[21]

Que época para se servir ao Senhor! O homicídio, a idolatria e a imoralidade corriam soltos pela terra, e ninguém parecia interessado em ouvir a Palavra de Deus! Para completar, Deus ordenou que seu profeta se casasse e constituísse uma família![22]

III. Sua esposa – v.2b, 3a

v.2b – Esse texto do casamento do profeta Oseias é um dos mais polêmicos e controversos que há na Bíblia. Não há consenso entre os estudiosos acerca do significado do seu casamento nem mesmo da identidade de sua mulher.

Há várias interpretações sobre a natureza do casamento de Oseias com Gômer. As duas interpretações principais são: 1ª) Gômer era uma mulher casta antes do casamento, mas tornou-se infiel depois do matrimônio; e 2ª) Gômer já era uma mulher prostituta antes do profeta se casar com ela.

Creio que Gômer teve a experiência de ser uma prostituta cultual do templo de Baal, o deus cananeu da fertilidade. Mas, foi pedida em casamento pelo profeta Oseias e abandonou por um tempo a prostituição.

É importante destacar que, Oseias está representando o amor incompreensível de Deus a um povo infiel. Quando Deus chamou Abrão para formar por meio dele uma gran­de nação, tirou-o do meio de um povo idólatra (cf. Gn 11.31-12.9). Warren Wiersbe diz que, Deus chamou Israel quando ele se encontrava na idolatria, "casou-se" com ela no monte Sinai quando o povo aceitou sua aliança (cf. Êx 19-21); mais tarde se entristeceu por ela abandoná-lo e trocá-lo pelos falsos deuses da terra de Canaã. Assim como Gômer, Israel começou como idolatra, "casou-se" com Jeová e acabou voltando a idolatria.[23]

Uma observação interessante de Wiersbe é que ainda que se casar com uma prostituta não o fosse a coisa mais prudente a fazer, esse tipo de casamento só era proibido a sacerdotes (cf. Lv 21.7). Salmom casou-se com Raabe, a prostituta que se tornou bisavó do rei Davi e antepassada de Jesus Cristo (cf. Mt 1.4, 5).

v.3a – Oseias não desobedece, não questiona nem protela a ordem de Deus. A resposta de Oseias é imediata: “Foi, pois, e tomou a Gômer, filha de Diblaim...” (v.3). Nada se diz a respeito dos sentimentos de Oseias nem sobre o processo pelo qual ele cumpriu a ordem.[24]

Concluindo[25]

O povo de Deus havia se tornado surdo para a voz do Senhor e não se importava mais com sua aliança. O Senhor chamou seus servos, os profetas, a fazer coisas incomuns – “serem sermões práticos" – para que o povo despertasse e ouvisse o que Deus tinha a dizer. Só então poderiam ser poupados da disciplina e do julgamento divinos.

No entanto, nenhum profeta pregou um "sermão prático" mais doloroso que Oseias. Ele foi instruído a casar-se com uma prostituta chamada Gômer que lhe deu três filhos. Então, Gômer abandonou-o para juntar-se com outro homem, e coube a Oseias a responsabilidade humilhante de comprar de volta sua própria esposa. O que vem a ser tudo isso? Trata-se de um retrato muito claro daquilo que o povo de Israel havia feito com o seu Deus, prostituindo- se com ídolos e cometendo "adultério espiritual".

Uma vez que o povo de Deus, nos dias de hoje, se vê diante da mesma tentação (Tg 4.4), devemos considerar aquilo que Oseias escreveu a seu povo. Cada uma das pessoas desse drama - Oseias, Gômer e os filhos, nos ensina uma lição espiritual importante sobre o Deus a quem Israel estava desobedecendo e entristecendo.


Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 26/06/16




[1] Renê, Pr. Lucas. Apostila Panorama do Antigo Testamento, ETBL, 2015, p. 39-42. Este ponto, p. 38-41, é uma compilação da apostila nas páginas citadas, com cortes e acrescimentos considerados necessários para a apostila essa apostila.
[2] Bíblia de Estudo Almeida, SBB, 1999, p. 723.
[3] Bíblia de Estudo Nova Tradução na Linguagem de Hoje, SBB, 2005, p. 1398-1400. Este ponto segue a introdução aos Livros Proféticos da Bíblia de Estudo NTLH, nas páginas já citadas, com cortes e acrescimentos considerados necessários para a apostila.
[4] Bíblia de Estudo NTLH, p. 1866.
[5] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em ação, Editora Hagnos, p. 12.
[6] Lopes, p. 13-27.
[7] Bíblia de Estudo NTLH, p. 1866-1867. Este ponto segue os pontos de introdução ao livro de Oséias, nas páginas já citadas, com cortes e acrescimentos considerados necessários para a apostila.
[8] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento – O Argumento de Oséias, Hagnos, 2006, p. 695.
[9] Bíblia de Estudo Scofield. Holy Bible, 2009, SP, p. 783.
[10] Lopes, p. 11.
[11] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1099.
[12] Lopes, p. 14.
[13] Moody, Comentário Bíblico. Oséias, p. 4.
[14] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 391.
[15] Lopes, p. 20.
[16] Lopes, p. 21.
[17] Lopes, p. 7.
[18] Moody, p. 1, 3.
[19] Lopes, p. 32, 36.
[20] Lopes, p. 18.
[21] Lopes, p. 18.
[22] Wiersbe, p. 391.
[23] Lopes, p. 36.
[24] Lopes, p. 37.
[25] Wiersbe, p. 391.

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