quinta-feira, 16 de junho de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (11) - A prática da liberdade cristã

Gálatas 6

No estudo anterior em Gálatas 5 com o tema: A verdadeira liberdade do evangelho. Abordamos o assunto em dois pontos: 1º) A verdadeira liberdade do evangelho pode ser ameaçada pelo legalismo ou pela licenciosidadevv.1-15; e 2º) A verdadeira liberdade do evangelho está em andar no Espíritovv.16-26.

Terminamos afirmando que: (1) Todo crente tem que lutar para preservar a sua liberdade espiritual, principalmente por causa das ameaças dos falsos ensinos legalistas e licenciosos; (2) Todo crente vive uma luta espiritual interior da carne contra o Espírito, e que somente pela atuação do Espírito Santo na sua vida, é que ele pode vencer essa luta espiritual; e (3) Todo crente nasceu pelo Espírito, vive no Espírito e será vitorioso se andar no Espírito Santo.

No capítulo cinco, Paulo ensina que o cristão deve fazer a opção certa, entre viver na liberdade da graça ou na escravidão do legalismo (vv.1-12) e entre viver na carne ou andar no Espírito (vv.13-26). Agora, no capítulo 6, ele fala da opção entre viver para si mesmo ou para os outros (vv.1-10) e entre viver para glória de si mesmo ou para a glória de Deus (vv.11-18).[1]

Assim, no capítulo 5, Paulo tratou da vida no Espírito, agora ele passa a falar sobre a ética do Espírito. Paulo aplica princípios práticos de como essa vida no Espírito funciona. A lei de Cristo se cumpre no amor, e a igreja é a co­munidade do amor.[2]

O nosso tema hoje é: A prática da liberdade cristã. Abordaremos o assunto em dois pontos: 1º) A prática da liberdade cristã em relação aos outros vv.1-10; e 2º) A prática da liberdade cristã para a glória de Deus vv.11-18.

I. A prática da liberdade cristã em relação aos outros – vv.1-10

Para Hernandes Dias, há dois pontos importantes, aqui, à serem destacados sobre a igreja como uma comunidade de ajuda e socorro: (1) a igreja é uma comunidade terapêutica (vv.1-5) e (2) uma comunidade diaconal, ou seja, de serviço (vv.6-10).

Somos livres para amar os nossos irmãos em Cristo. O Espírito Santo produzirá em nós o fruto do amor, que se expressa por meio de cinco atitudes práticas:[3]

1) Recuperação dos irmãos caídos – v.1. Quatro lições preciosas: 1ª) Qualquer irmão pode ser surpreendido numa transgressão mesmo sem perceber a gravidade do seu erro (Jo 8.4); 2ª) O irmão que pensa estar em pé deve cuidar de si mesmo para não cair na tentação (1Co 10.12, 13); 3ª) Os irmãos espirituais (maduros que andam no Espírito) devem restaurar ou conduzir o irmão que caiu à sua posição anterior de integridade e pureza. “É preciso muito amor e coragem ao se aproximar de um irmão caído e procurar ajudá-lo. Jesus compara isso a uma cirurgia oftalmológica (Mt 7.1-5) – e quem se sente qualificado para tal procedimento?”[4]; 4ª) Toda restauração deve ser feita com espírito de mansidão, ou seja, sem a atitude de orgulho ou superioridade espiritual (Gl 5.23). “O cristão guiado pelo Espírito aborda a situação com um espírito de mansidão e de amor, enquanto o legalista demonstra uma atitude de orgulho e de condenação. O legalista não precisa "guardar-se", pois finge que jamais seria capaz de cometer tal pecado. No entanto, o cristão que vive pela graça sabe que ninguém está livre de cair. Sua atitude de humildade é decorrente da consciência das próprias fraquezas”[5].

2) Levar as cargas uns dos outros – vv.2-5. Cinco verdades indispensáveis: 1ª) Todos os crentes têm cargas pesadas a levar e Deus não quer que carreguem seus fardos sozinhos (v.2a, 5); 2ª) A lei de Cristo é que cada irmão deve ajudar o outro a levar as suas cargas (v.2a); 3ª) Todo irmão deve olhar para si como alguém que precisa do outro, não pensar que é autosuficiente (v.3); 4ª) Todo crente, além de ajudar a levar as cargas pesadas uns dos outros, tem o seu fardo pessoal que somente ele pode e deve levar (v.2a, 5); 5ª) Quem ama e ajuda o irmão cumpre a lei de Cristo (v.2b; cf. Jo 13.34; Gl 5.14; Tg 2.8).

Paulo passa das obrigações sociais do cristão (v.2) para a responsabilidade que cada pessoa tem por sua alma (v.5). Na comunhão cristã, as cargas são compartilhadas uns com os outros em amor, mas há certa carga que é peculiar ao próprio indivíduo. Warren Wiersbe alerta que devemos ajudar uns aos outros a carregar os grandes pesos da vida, mas há certas responsabilidades pessoais que cada pessoa deve carregar sozinha. Cada soldado deve levar a própria mochila.[6]

3) Cuidar dos pastores – v.6. Quem recebe bens espirituais deve compar­tilhar e repartir bens materiais. Esse princípio está meridianamente claro nas Escrituras.

O apóstolo Paulo pergunta: “Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais?” (1Co 9.11 ARA). Os mestres fiéis que repartem com seus alunos a Palavra de Deus devem receber deles recompensas materiais. Calvino diz que é desditoso defraudar dos meios de sobrevivência aqueles por cuja instrumentalidade nossa alma é alimentada; e recusar uma recompensa terrena àqueles de quem recebemos bênçãos celestiais. O mesmo autor ainda salienta: “Um dos artifícios de Satanás é privar de sustento os ministros piedosos, de modo que a igreja fique destituída desse tipo de ministro”. O apóstolo Paulo é enfático: “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam; E que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós.” (1Ts 5.12, 13). E Paulo ainda exorta: “Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm 5.17 ARA).[7]

Quanto a essa matéria do sustento daqueles que ensinam a Palavra, dois extremos devem ser evitados: a ganância por parte do obreiro e a usura por parte da igreja. Há obreiros que fazem do ministério do ensino da Palavra um meio de enriquecimento. O propósito principal deles não é cuidar das ovelhas de Cristo, mas apascentar a si mesmos. Paulo diz à igreja de Corinto: “... não vou atrás dos vossos bens, mas procuro a vós outros” (2Co 12.14 ARA). Diz ainda aos presbíteros de Éfeso: “De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes” (At 20.33). Entretanto, há igrejas que sonegam a seus ministros o sustento devido. A igreja de Corinto, por exemplo, que era generosa com os falsos obreiros (2Co 11.20), sonegou a Paulo o seu sustento (2Co 11.8, 9). Nesse quesito, a igreja de Corinto acabou tornando-se inferior às demais igrejas (2Co 12.13).[8]

4)  Cuidado com o que se semeia – v.7-8. John Stott diz que há três esferas da experiência cristã nas quais Paulo vê o princípio da semeadura e da colheita operando: 1) o ministério cristão (6.6); 2) a santidade crista (6.7, 8); 3) a prática do bem do cristão (6.9, 10).[9]

v.7 – Tudo o que plantamos, nós colhemos. O homem é livre para escolher, mas não é livre para escolher as consequências do que escolhe. Esta é a lei da causa e efeito. Colhemos exatamente a mesma natureza daquilo que semeamos. Querer subverter esse princípio é tentar zombar de Deus.[10]

v.8 – Só há duas semeaduras: semeamos para a carne ou para o Espírito; e apenas duas colheitas: colhemos corrup­ção ou vida eterna. Quem semeia para a própria carne não pode colher vida eterna; quem semeia para o Espírito não pode colher corrupção. A raiz determina o fruto, e não o fruto a raiz. Semear para a própria carne significa buscar a satisfação das necessidades desta vida, sem nenhuma consi­deração pela vida futura, mas semear no Espírito significa buscar os valores da vida que permanece.

William Hendriksen diz que semear para a carne significa deixar que a velha natureza se expresse livremente, enquanto semear no Espírito significa deixar que o Espírito se expresse como ele quer. Já os termos “corrupção” e “vida eterna” devem ser entendidos em um sentido duplo: qualitativo e quantitativo. Do ponto de vista quantitativo, os dois são parecidos: ambos durarão para sempre. A “corrupção”, por exemplo, longe de indicar uma aniquilação, assinala uma “destruição eterna” (2Ts 1.9). A vida eterna tem de igual forma uma duração eterna (Mt 25.46). Qualitativamente, e isso tanto a respeito da alma como do corpo, as duas expressões compõem um forte contraste. Os que semeiam para a carne serão levantados para a vergonha e a condenação eterna (Dn 12.2). Sua morada será nas trevas exteriores (Mt 8.11, 12). Entretanto, aqueles que semearam para o Espírito resplandecerão como a luz do firmamento e como as estrelas eternamente (Dn 12.3).

5) Não se cansar de fazer o bem – v.9, 10. Quatro lições importantes:

1ª) Devemos fazer o bem a todos, priorizando os nossos irmãos – vv.9a, 10b; 2ª) Um irmão carente não é um problema, mas uma oportunidade de fazer o bem. “Paulo nos instrui a não nos cansarmos de ajudar ao nosso próximo, de praticar boas ações e de exercer generosidade, pois o vasto número de necessitados nos sucumbe; e os pedidos que se acumulam sobre nós, vindos de todos os lados, exaurem a nossa paciência. Nosso fervor é abrandado pela frieza de outras pessoas”[11]; 3ª) Podemos nos cansar ou desistir de fazer o bem por vários motivos – pessoais, recursos, decepção com pessoas, etc. – v.9c. “Não é apenas o pecado que cansa; fazer o bem também pode produzir cansaço. Nem sempre praticar o bem traz recompensas imediatas. Nem sempre quem recebe o bem reconhece e agradece a seu benfeitor. Por isso, muitos estão cansados na obra e da obra. Neste mundo há os que fazem o mal, os que pagam o bem com o mal, e os que pagam o bem com o bem e o mal com o mal. Mas nós devemos fazer o bem, pagar o mal com o bem e jamais nos cansarmos de fazer o bem”[12]; 4ª) De todo o bem que fizermos seremos recompensados – v.9b. “A semeadura muitas vezes é feita com lágrimas, mas a colheita é certa, segura e jubilosa (SI 126.5, 6). Ela pode demorar, mas não falhará. A recompensa da semeadura é prometida pelo próprio Deus”[13].

Hernandes Dias diz que, com respeito à prática do bem, devemos observar aqui três coisas: O tempo. Calvino diz que nem toda estação é própria para lavrar e semear. Os agricultores ativos e prudentes observarão o tempo apropriado e não permitirão indolentemente que esse tempo se torne inútil. A necessidade do próximo é a oportunidade escancarada diante dos nossos olhos. O alcance. Devemos fazer o bem a todos, e não apenas a um grupo seleto. Não deve existir barreira étnica, cultural nem religiosa para a prática do bem. Nosso amor deve estender-se a todos. A prioridade. Devemos fazer o bem a todos, mas a prioridade é assistir os da família da fé. A nossa maior prioridade é nossa família, pois aquele que não cuida da sua família é pior do que os incrédulos (1Tm 5.8). Depois devemos cuidar dos domésticos da fé (6.10), do nosso próximo de forma geral (6.2) e até mesmo dos nossos inimigos (Rm 12.20).[14]

II. A prática da liberdade cristã para a glória de Deus – vv.11-18

Nas últimas palavras da epístola, Paulo faz um contraste entre a falsa e a verdadeira religião; entre os falsos ministros e os ministros verdadeiros. Ele já havia deixado claro que era necessário escolher entre a escravidão e a liberdade (5.1-12), entre a carne e o Espírito (5.13-26), entre o viver para si mesmos e viver para os outros (6.1-10). Agora, apresenta um quarto contraste: viver em função do louvor dos homens ou viver para a glória de Deus (6.11-18). Com isso, o apóstolo trata da questão da motivação.[15]
Portanto, Paulo conclui a sua carta aos Gálatas escrevendo de próprio punho (v.11b). Frequentemente ele escrevia o versículo final de uma epístola com sua própria mão (cf. 1Co 16.21; Cl 4.18; 2Ts 3.17). Isso parece sugerir que, nessa altura da escrita, Paulo tomou a pena da mão do amanuense, e escreveu os oito versículos finais da epístola em caracteres grandes e cheios, talvez para efeito da ênfase.[16] Tamanha é a preocupação do apóstolo que os gálatas compreendam a mensagem dessa carta que ele toma a pena e escreve de próprio punho um parágrafo inteiro de conclusão.[17]

Para Hernandes Dias, o que Paulo quis dizer com a expressão: “Vede com que letras grandes vos escrevi por minha mão”, foi: 1º) Para demonstrar sua ênfaseO que ele está es­crevendo não pode passar despercebido. É matéria de valor capital. É mensagem vital para a igreja. John Stott, entre outras coisas, é de opinião que Paulo usou letras grandes deliberada e simplesmente por questão de ênfase, para chamar a atenção e despertar a mente, como se, hoje em dia, usasse letras maiúsculas ou sublinhasse as palavras; e 2º) Para demonstrar sua defici­ência física – Paulo tinha uma grave deficiên­cia visual (cf. Gl 4.13-15) e por isso não podia escrever senão usando letras grandes. Warren Wiersbe diz que, se o apóstolo so­fria mesmo de algum problema de visão, esse parágrafo de encerramento certamente tocou ainda mais fundo no cora­ção de seus leitores.[18]

Para Wiersbe, neste parágrafo, Paulo apresenta três figuras distintas: o legalista (vv.12, 13), nosso Senhor Jesus Cristo (vv.14-16) e o próprio apóstolo Paulo (vv.17, 18).

Creio que o objetivo paulino era impactar a mente daqueles irmãos para que não cedessem aos argumentos dos judaizantes legalistas. Temos aqui o “último apelo de Paulo para que os gálatas mantenham confiança no evangelho para a salvação e o vivenciem dia após dia”[19]. Por isso ele usa o argumento da motivação ministerial. Porque os legalistas queriam submeter os cristãos à circuncisão? Qual era motivação deles? Qual era a motivação de Paulo?

1. A motivação dos legalistas era receber a glória dos homens – vv.12, 13

Hernandes Dias afirma que esses falsos mestres legalistas, em primeiro lugar, buscavam a aprovação dos homens para escaparem da perseguiçãov.12.[20] Calvino conjectura que esses homens não se importavam com a edificação dos crentes; eram guiados por desejos ambiciosos de conquistar o aplauso popular.

Esses homens bajulavam os judeus, mas perturbavam a igreja toda em favor de seu próprio ensino e não sentiam nenhum escrúpulo em colocar um jugo tirânico sobre a consciência das pessoas, para que ficassem livres de inquietações físicas. O medo da cruz os levou a corromperem a genuína pregação da cruz. Donald Guthrie afirma que os judaizantes lutavam para alcançar um meio-termo entre a posição judaico não-cristã do judaísmo ortodoxo e a posição cristã não judaica de Paulo.

Envolver-se com um Messias que havia sido morto na cruz era colocar os pés numa estrada crivada de espinhos e expor-se a grande perseguição. Esses mestres queriam circuncidar os crentes da Galácia para livrar a própria pele. Os legalistas, que enfatizavam a circuncisão em lugar da crucificação, granjearam muitos adeptos. Sua religião era bem aceita, pois evitava a vergonha da cruz.

Por que a cruz de Cristo provoca perseguições e enraivece tanto o mundo? É porque a cruz diz algumas verdades muito desagradáveis acerca de nós mesmos, isto é, nós somos pecadores, estamos sob a maldição da lei de Deus e não podemos salvar a nós mesmos. Cristo assumiu o nosso pecado e a maldição exatamente porque não havia outra forma de nos vermos livres deles. A cruz nos reduz a nada. Ela fura o balão da nossa vaidade. Fere mortalmente o nosso orgulho e a nossa soberba. É ao pé da cruz que voltamos ao nosso tamanho normal, diz John Stott.

Em segundo lugar, os falsos mestres revelam suas três principais características: arrogância, constrangimento (persuasão) e hipocrisia.

ð Por sua arrogância eles tinham como objetivo usar os irmãos como objeto de promoção pessoal. Na verdade, eles queriam mostrar boa aparência na carne e se gloriarem na vossa carne (vv.12a, 13b).[21]

ð Em sua persuasão eles constrangiam os irmãosv.12b. O verbo obrigar (constranger – ARA) dá a ideia de persuasão intensa e até mesmo força (cf. Gl 2.14). O significado é de constranger contra a vontade, e é um termo forte. Indica que os judaizantes eram extremamente persuasivos ou constrangedores e estavam convencendo os gálatas de que o legalismo era a melhor escolha que poderiam fazer. Sempre que Paulo apresentava a Palavra, ele o fazia de modo verdadeiro e sincero, sem truques de oratória nem recursos argumentativos (cf. 1Co 2.1-5; 2Co 4,1-5).[22]

ð Os judaizantes não eram apenas arrogantes e persuasivos, mas também hipócritas (v.13). Exigiam dos outros aquilo que não praticavam. Falavam uma coisa e faziam outra. Pertenciam ao mesmo grupo dos fariseus, sobre os quais Jesus disse: “...porque dizem e não fazem” (Mt 23.3). Jesus chamou esse grupo de hipócritas (Mt 23.13-15, 23-29) e raça de víboras (Mt 23.33). Paulo os condena por sua desonestidade; não tinham intenção alguma de guardar a Lei, mesmo que pudessem. Ele desmascara esses hipó­critas, mostrando que sua reverência à lei era apenas uma máscara para encobrir seu verdadeiro objetivo: ganhar mais convertidos para a sua causa. Tudo o que eles desejavam era ter estatísticas para relatar e receber mais glórias para si mesmos.[23]

John Stott observa que, ao se concentrarem na circunci­são, os judaizantes cometeram outro erro, pois a circuncisão não era apenas um ritual exterior e físico; era também uma obra humana, realizada por um ser humano em outro ser hu­mano. Mais do que isso: como símbolo religioso, a circunci­são obrigava as pessoas a guardarem a lei (At 15.5). A religião humana começava com uma obra humana (circuncisão) e continuava com mais obras humanas (obediência à lei).[24]

Mas, o que importa de verdade não é se uma pessoa foi circundada ou batizada, mas se ela nasceu de novo e é nova criatura. O que importa não é o externo, mas o interno; não é o símbolo, mas o simbolizado; não é o batismo com água, mas o batismo do Espírito.[25]

2. A motivação de Paulo era a glória de Deus – vv.14-18

Paulo faz um contraste entre os falsos mestres que se gloriavam na carne, e ele, ministro verdadeiro, que se gloriava exclusivamente na cruz de Cristo. Paulo conhecia a Pessoa da cruz – Jesus é mencionado pelo menos 45 vezes nessa carta. Paulo conhecia o poder da cruz – a cruz deixou de ser uma pedra de tropeço para ele e se tornou a pedra fundamental de sua mensagem. Paulo conhecia o propósito da cruz – esse propósito era mostrar ao mundo a Igreja de Deus, formado de judeus e gentios.[26]

A cruz não era uma coisa da qual Paulo procurava fugir; antes, era o motivo de seu orgulho. Enquanto os falsos mestres se gloriavam na carne, Paulo se gloriava na cruz (v.14). Não podemos gloriar-nos em nós mesmos e na cruz ao mesmo tempo. Temos de escolher. Só quando nos humilharmos e nos reconhecermos como pecadores que merecem o inferno, deixaremos de nos gloriar em nós mesmos, buscaremos a salvação na cruz e passaremos o restante de nossos dias gloriando-nos na cruz.[27]

Arival aponta três motivos pelos quais Paulo se gloriava na cruz:[28]

1º) Porque a cruz deu origem a uma nova criatura (v.15) – A morte de Cristo na cruz gera novas criaturas em Cristo (2Co 5.17). Pelo poder da cruz de Cristo, um novo homem é gerado espiritualmente (Jo 3.1-8).

2º) Porque a cruz deu origem a um novo povo (v.16). Com a cruz um novo povo foi formado, uma nova família foi constituída. O Israel de Deus não é mais a nação judaica (Rm 9.1-13), mas a Igreja de Deus que Jesus comprou na cruz com o seu sangue, composta por pessoas de todas as nações (Ef 2.11-22; 3.6). Essa “igreja tem uma regra para a sua orientação (v.16b). A palavra grega para regra é kanon, que significa uma vara de medir ou régua. Era a medida padrão do carpinteiro. A igreja tem uma regra pela qual se orientar. É o cânon da Escritura, a doutrina dos apóstolos, a doutrina da cruz de Cristo. Essa é a regra pela qual a igreja deve andar e continuamente julgar-se e reformar-se. A igreja só tem paz e só desfruta da misericórdia quando anda em conformidade com a verdade revelada de Deus. A paz é a serenidade de coração, que é a porção de todos aqueles que têm sido justificados pela fé (Rm 5.1). A paz e a misericórdia são inseparáveis. Se a misericórdia de Deus não fosse manifesta a seu povo, o povo jamais haveria gozado a paz”[29].

3º) Porque a cruz de origem a um novo estilo de vida (v.17). Fomos crucificados com Cristo. E nessa identificação estamos também crucificados para o mundo e o mundo para nós. Morremos para o mundo, e o mundo morreu para nós. Perdemos o encanto pelo mundo, e o mundo perdeu o encanto por nós. Merrill Tenney diz que, tão certo como Cristo morreu e dessa maneira cortou a conexão entre ele mesmo e o mundo, o crente é emancipado das cadeias com as quais o mundo o trazia algemado. Porque o mundo está crucificado para nós, o crente jamais precisa seguir pelo caminho do mundo, isto é, pelo caminho do pecado, da corrupção, da morte e do julgamento. Jesus morreu para libertar-nos do mundo. Porque estamos crucificados para o mundo, o crente rejeita as atrações e prazeres do mundo. Por essa causa o crente torna-se uma pessoa não atraente para o mundo.[30]

Concluindo

Paulo levava as marcas de Jesus em seu corpo e a graça de Jesus em seu espírito. Sem dúvida essas marcas (v.17) foram os ferimentos que ele recebeu em diversas perseguições por amor a Cristo.[31] “Ao ler 2Co 11.18-33, não é difícil entender essa declaração, pois Paulo sofreu fisicamente por Cristo de várias maneiras e em vários lugares”[32]. Somente aqui se diz que ele recebeu dos judeus 195 açoites e foi três vezes fustigado com varas pelos romanos. Paulo foi apedrejado na cidade de Listra, na província da Galácia (At 14.19). Paulo foi preso em Filipos, Jerusalém, Cesáreia e Roma. Seu sofrimento pelo evangelho e os ferimentos que seus perseguidores lhe infligiram e as cicatrizes que ficaram eram as “marcas de Jesus”. Essas eram suas verdadeiras credenciais, e isso bastava. Por essa razão, Adolf Pohl chegou a dizer que em Paulo não somente se podia ouvir, mas ao mesmo tempo se podia ver a mensagem da cruz.[33]

Paulo começa a carta com a graça (1.3) e a termina com a graça (6.18). Toda a carta foi dedicada ao tema da graça de Deus, seu favor imerecido a pecadores indignos. Essa graça só pode ser realmente desfrutada quando atinge o nosso espírito. Portanto, devemos pedir a Deus que prepare em nossa alma uma habitação para a sua graça.[34]


Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 17/06/16




[1] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas & Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 25.
[2] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade, Editora Hagnos, p. 255.
[3] Casimiro, p. 25, 26. Esse ponto segue literalmente o comentário da lição nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[4] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo – Novo Testamento 1 – Gálatas, Ed. Geográfica, 2007, p. 944.
[5] Wiersbe, p. 944.
[6] Lopes, p. 262.
[7] Lopes, p. 264, 265.
[8] Lopes, p. 265, 266.
[9] Lopes, p. 264-266. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[10] O contexto mostra que Paulo ainda está tratando do sustento dos ministros fiéis da Palavra. Deixar de investir no sustento daqueles que se afadigam na Palavra é sonegar a semente da vida a esse solo que produz bênçãos espirituais. De acordo com Calvino, essa passagem contém evidência de que o costume de menosprezar os ministros fiéis não surgiu em nossos dias. Mas esse menosprezo não ficará impune.
[11] Lopes, p. 268.
[12] Lopes, p. 267, 268.
[13] Lopes, p. 268.
[14] Lopes, p. 268, 269.
[15] Lopes, p. 272.
[16] Davidson, F. Novo Comentário da Bíblia, 1963, Bible Software theWord, Gálatas 6.11.
[17] Wiersbe, p. 948.
[18] Lopes, p. 273, 274.
[19] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015, p. 189.
[20] Lopes, p. 274-276. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[21] Casimiro, p. 27.
[22] Wiersbe, p. 949.
[23] Lopes, p. 277.
[24] Lopes, p. 278.
[25] Lopes, p. 277.
[26] Lopes, p. 278.
[27] Lopes, p. 279.
[28] Casimiro, p. 28. Esse ponto segue literalmente o comentário da lição na página já citada, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[29] Lopes, p. 283.
[30] Lopes, p. 279, 280.
[31] Lopes, p. 284.
[32] Wiersbe, p. 951.
[33] Lopes, p. 284.
[34] Lopes, p. 285.

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