domingo, 27 de abril de 2014

Boletim CBL Limeira - Nº 55 - 27/04/2014

A Justiça do Cristão

Mateus 5.17-20

Em nossos estudos anteriores, vimos que:

ð  Jesus, usando metáforas conhecidas, disse-lhes: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo...”
ð  A Igreja é o mundo são duas comunidades diferentes, mas relacionadas. A diferença é radical e imprescindível; a relação é necessária.
ð  Os crentes verdadeiros, os que têm ou estão desenvolvendo as características referidas nas bem-aventuranças, são como o sal: têm um tremendo poder de penetração e transformação. Ao passo que a humanidade é como a carne em processo de deterioração ou apodrecimento.
ð  Nós somos a luz do mundo por derivação, brilhamos com a luz de Cristo, como a Lua brilha com a luz do Sol. Isso acontece por meio das nossas “boas obras” ou “coisas boas que fazemos”.
ð  Terminamos afirmando que a nossa responsabilidade é dupla: “O sal e a luz têm coisas em comum: eles se dão e se gastam, e isto é o oposto do que acontece com qualquer tipo de religiosidade egocentralizada” (P. Thielicke).

Hoje, vamos estudar sobre a justiça do cristão – Mt 5.17-20.

[1]Jesus já falou sobre o Caráter do Cristão (descrito nas bem-aventuranças) e sobre a Influência do Cristão (que ele exerce no mundo, quando cultiva o referido caráter e pratica as boas obras; se é, de fato, “sal da terra” e “luz do mundo”). Agora, Jesus define melhor o teor destas boas obras. O termo usado é “justiça”, que, aqui, é sinônimo de obediência a Deus, prática da fé, vida cristã. Daí o título desta seção: A Justiça do Cristão. Este parágrafo do Sermão do Monte é muito importante, não só por sua definição de justiça, mas também porque nos ajuda a entender a relação entre Novo Testamento e Velho Testamento, entre Evangelho e Lei.

1. Cristo e a Lei (vv.17-18)

Jesus começa dizendo que ele não veio para “revogar a lei ou os profetas” (5.17). A expressão refere-se a todo o Velho Testamento (Mt 7.12). Alguns pensavam que Jesus estava revogando ou descumprindo a Lei (Mc 2.23-3.6). Até porque Jesus não se reportava tanto à autoridade de Moisés, como os mestres judaicos faziam. Falava com autoridade própria: “Em verdade (eu) vos digo...” (Mt 5.18; 6.2). E até corrigia os antigos mestres: “Vocês ouviram o que foi dito... Mas eu lhes digo...” (Mt 5.21-22, 27-28, 31-32. Ver Mt. 7.28-29).

Por tudo isso, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; ou como lemos na BLH, “não vim para revogar, vim para cumprir”, para dar-lhes sentido completo” (v. 17). Isto é importante porque faz-nos ver que há estreita relação entre Jesus e Moisés, Novo e Velho Testamentos.

Todavia, é preciso lembrar que o Velho Testamento contêm diversos tipos de ensinamentos. Mas Jesus veio “cumprir” todos eles.

a) Ensinos doutrinários – É o que os judeus chamam de Torá. O termo significa “instrução revelada”, mas é traduzido por Lei. O VT ensina sobre Deus, o homem, a salvação, etc., mas de maneira incompleta. Jesus completou-o e deu-lhe sentido com sua vida e obra. “O Velho Testamento é o Evangelho em botão; o Novo Testamento é o Evangelho em flor...” (Ryle).

b) Profecia preditiva Grande parte refere-se à vinda do Messias. Jesus “cumpriu” estas profecias. Iniciou seu ministério dizendo: “O tempo está cumprido...” (Mc 1.14 – cf. Jo 5.39; Mt 1.22; 2.23; 3.3, etc.) A morte de Jesus na cruz cumpriu todo o sistema cerimonial do Velho Testamento (sacerdócio e sacrifício). Então, as cerimônias cessaram.

c) Preceitos éticos, ou seja, a Lei moral de Deus Os mestres judaicos tinham ensinado e ainda estavam ensinando uma interpretação superficial e errada da Lei. Jesus retomou o original e lhe deu a profundidade e o significado pretendidos por Deus. Além disso, Jesus obedeceu à Lei! (Mt 5.21-22, 27-28). Portanto, ele não veio para descumprir ou abolir a Lei, mas para cumpri-la. E ensinou aos seus seguidores que eles também deveriam cumprir ou obedecer à Lei.

2. O cristão e a Lei – Jesus acrescenta: Mt 5.18-20. Note três coisas:

a) Nesta passagem, Jesus não está ensinando o caminho da salvação ou como podemos alcançar o céu. Ninguém jamais se salvará tentando obedecer à Lei de Deus. Mas Jesus está dizendo como devem viver os que crêem nele e o seguem, os que já estão salvos. Noutras passagens ele ensina que a salvação é alcançada pela fé somente (Jo 3.16,36). Saulo de Tarso, antes de se converter a Cristo, foi zeloso praticante da Lei... e também o mais terrível perseguidor dos cristãos! (At 22.3-15). Convertido, tornou-se Paulo, o Apóstolo, um dos homens mais santos e um dos maiores pregadores na história do Cristianismo. Escreveu várias cartas que fazem parte do Novo Testamento. Nestas, ele enfatiza que o pecador é justificado (feito justo, perdoado, purificado) e salvo pela fé e não pelas obras, crendo em Cristo e não esforçando-se para obedecer à Lei (Rm 3.21-24).

b) Há uma conexão vital entre a Lei de Deus e o Reino de Deus. Os cidadãos do Reino, as pessoas que crêem em Deus e em Cristo, que se submetem à vontade de Deus e a Cristo como Senhor de suas vidas, externam sua fé e submissão obedecendo à Lei de Deus. Para dizer de outro modo, os cristãos verdadeiros praticam os ensinos da Palavra de Deus – At 26.20; 1Co 5.17. Pedro chamou os cristãos de “filhos da obediência” (1Pe 1.14). A desobediência deliberada e constante à Lei, isto é, à vontade de Deus, é indício de falta de arrependimento sincero, de fé genuína, de conversão verdadeira, de salvação. Por isso, Jesus concluiu este parágrafo do Sermão do Monte dizendo: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus” ou “Pois eu afirmo que vocês só entrarão no Reino de Deus, se forem mais fieis [em fazer a vontade de Deus] do que os professores da Lei e os fariseus” (BLH).

c) No Reino dos Céus haverá distinções entre os salvos. Dependendo da vida que viveram como cristãos, de sua maior ou menor obediência aos ensinos da Palavra de Deus, eles serão considerados “grandes” ou “menores” (v.19). A distinção levará em conta, também, os esforços de cada um no sentido de ensinar aos outros a viverem de acordo com a Palavra de Deus.

Concluindo

O restante de Mt 5, que estudaremos na próxima lição, refere-se a alguns itens da Lei, como eram ensinados aos judeus e como foram reinterpretados e aprofundados por Jesus. Essa é a justiça do Cristão.

Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira, 26/04/2014


[1] A partir daqui, segue um resumo e adaptação livre do livro de John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997, preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001.

sábado, 12 de abril de 2014

Os relacionamentos dos cristãos: com Deus e com o próximo (2)

Mateus 5.7-12

ð Em nosso estudo anterior, vimos o significado da expressão bem-aventurança: aquela alegria ou felicidade interior, independentemente das coisas externas da vida.

ð Vimos, também, que a expressão bem-aventurados aparece nove vezes nesse texto e chamou muita a atenção dos ouvintes primários e a nossa também.

ð Vimos, ainda, as quatro verdades que a Bíblia ensina sobre as bem-aventuranças: PrimeiraBem-aventurança é algo que somente Deus pode dar – Sl 144.15; SegundaBem-aventurança é um estado que Deus deseja que seu povo desfrute – Gn 1.27, 28; Nm 6.24-26; TerceiraBem-aventurança não depende das circunstancias da vida – Fp 4.10, 11; 2Co 7.4; 12.10; QuartaBem-aventurança está relacionada à obediência a Palavra de Deus – Lc 11.27, 28; Sl 1.1.

ð Observamos que, a primeira bem-aventurança e a última fazem a mesma promessa – “porque deles é o reino dos céus” – Mt 5.3, 10. Sobre esse reino prometido por Jesus, consideramos quatro fatos: PrimeiroEle é um reino eterno; Segundo Ele é um reino espiritual; TerceiroEle é um reino contemporâneo; QuartoEle é um reino dinâmico.

ð E, assim, passamos a estudar as bem-aventuranças em dois pontos: 1º) As primeiras quatro, tratam do relacionamento do cristão com Deus; e 2º) As últimas quatro, do relacionamento do cristão com o seu próximo.

ð Terminamos com citação a Lutero que afirmou: É preciso ter uma fome e sede de justiça que jamais possam ser reprimidas, ou sustadas, ou saciadas, que não procurem nada e não se importem com nada a não ser com a realização e a manutenção do que é justo, desprezando tudo o que possa impedir a sua consecução. Se você não puder tornar o mundo completamente piedoso, então faça o que você puder.

Hoje, vamos considerar o segundo e último ponto de nosso estudo sobre as bem-aventuranças: O relacionamento do cristão com o seu próximo.

II. O relacionamento do cristão com o seu próximo – 5.7-12

1. v.7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.

O teólogo Richard Lenski afirma que o substantivo eleos no grego, traduzido por misericórdia, sempre trata da dor, da miséria e do desespero, que são resultados do pecado e com isso ele faz uma distinção entre misericórdia e graça, pois graça, charis no grego no NT, sempre lida com o pecado e com a culpa propriamente ditos. A primeira concede alívio; a segunda, perdão; a primeira cura e ajuda, a segunda purifica e reintegra.[1]

Assim, ser um cristão misericordioso é colocar o seu coração na compaixão pelo sofrimento alheio, começando pela situação moral e espiritual e indo até a questão socioeconômica. Ser misericordioso, também, é estar pronto para perdoar.

Nosso Deus é um Deus misericordioso e dá provas de misericórdia continuamente; os cidadãos do seu reino também devem demonstrar misericórdia. Naturalmente, o mundo, pelo menos quando é fiel à sua própria natureza, é cruel, como também a Igreja frequentemente o tem sido em seu mundanismo.[2]

A BLH traduz esse versículo do seguinte modo: Felizes os que tratam os outros com misericórdia — Deus os tratará com misericórdia também! Jon Stott afirma sobre essa passagem assim: “Não que possamos merecer a misericórdia através da misericórdia, ou o perdão através do perdão, mas porque não podemos receber a misericórdia e o perdão de Deus se não nos arrependermos, e não podemos pro­clamar que nos arrependemos de nossos pecados se não formos misericordiosos para com os pecados dos outros. Nada nos impulsiona mais ao perdão do que o maravilhoso conhecimento de que nós mesmos fomos perdoados. Nada prova mais claramente que fomos perdoados do que a nossa própria prontidão em perdoar. Perdoar e ser perdoado, demonstrar misericórdia e receber misericórdia andam indissoluvelmente juntos...”.[3]

Devemos ser misericordiosos por que:[4]

ð Deus, nosso Pai, é misericordioso (Lc 6.36. Depois, leia Sl 136).
ð Jesus, nosso Salvador, foi compassivo e misericordioso (Lc 4.40).
ð Somos o povo eleito de Deus (Cl 3.12-13).
ð Práticas religiosas sem misericórdia não agradam a Deus (Mt 23.23).

O mundo, quando à parte da influência cristã, costuma ser extremamente individualista e egoísta; as pessoas não dão a mínima para a dor e a calamidade dos outros; não sabem o que é misericórdia.

Qual é a bênção referida nesta bem-aventurança? “... alcançarão misericórdia”. Não nos tornamos merecedores da misericórdia de Deus quando exercemos misericórdia, ou do seu perdão quando perdoamos. A misericórdia e o perdão de Deus são expressões da sua graça, e graça é favor imerecido. Todavia, ninguém pode receber a misericórdia e o perdão de Deus sem se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo, e ninguém pode dizer sinceramente que se arrependeu dos seus pecados e não ser misericordioso, perdoando os pecados dos outros. Nada nos encoraja mais a ser misericordiosos com outros, para ajudar ou perdoar, do que saber que Deus, misericordiosamente e graciosamente nos abençoa e perdoa cada dia. (Lm 3.22-23). A prova maior de que fomos perdoados é a nossa disposição para perdoar. Esta quinta bem-aventurança pode ser relacionada com a terceira: “Bem-aventurados os mansos...” (RA) ou “Felizes as pessoas humildes...” (BLH). O “manso” ou “humilde” também é “misericordioso”, pois, admitindo os próprios pecados, tem misericórdia dos outros, quando pecam.

2. v.8Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.

Obviamente Jesus estava falando de pureza interior, e esta afeta: 1) O comportamento moral. Veja a oração de Davi depois de cometer adultério (Sl 51.4,6,7); 2) A prática religiosa. Veja o que Jesus disse aos lideres religiosos de sua época, porque não eram puros de coração. Mt 23.25-28. Isto é hipocrisia! 3) Os relacionamentos – O coração puro garante um relacionamento confiável.

A relação entre uma coisa e outra está clara no Sl 24.3-5. Vivemos numa época em que ser limpo de coração ou puro é um desafio!

Qual é a bênção referida nesta bem-aventurança? “... eles verão a Deus”. Deus é espírito e não pode ser visto (1Tm 1.7). Não obstante, esta passagem garante que os crentes verdadeiros, os limpos de coração, “verão a Deus”. Como? Estas palavras têm duas explicações: 1ª) Desde já, subjetivamente, com os olhos da féEf 1.17-18; e 2ª) No futuro mediante uma compreensão mais aperfeiçoada que teremos de Deus, em sua presença, nos céus1Co 13.12.[5]

3. v.9Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus.

[6]A sequência de ideias – “os que têm o coração puro” e “os pacificadores” é natural, pois uma das causas mais frequentes de conflito entre as pessoas é a falta de verdade, de sinceridade, e transparência. O pacificador tem que atentar para três coisas:

1ª) O caráter pacificador é obra do Espírito Santo (Gl 5.22-23).

2ª) O pacificador paga um preço alto para viver em paz com as pessoas. Deus pagou o preço maior (Jo 3.16; 2Co 5.18-19). Não existe paz barata!

3ª) O pacificador, mesmo pagando o preço, não terá paz com todos à sua volta (Rm 12.18).

Qual é a bênção referida nesta bem-aventurança? “... serão chamados filhos de Deus”. Ver Mt 5.43-45. Deus, nosso Pai, é “Deus da paz” (Rm 15.33). Seus filhos devem ser da paz também. Jesus foi e é “Príncipe da Paz” (Is 9.6). Seus seguidores devem ser pacificadores como ele foi. Um exemplo do espírito nada pacificador dos discípulos, no começo, e do espírito pacificador de Jesus está em Lc 9.51-56.

4. v.10-12Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

Por mais que nos esforcemos por viver em paz com as pessoas, sempre haverá os que se recusam a viver em paz conosco. Alguns opõem-se a nós e nos perseguem. Fazem isso justamente porque somos cristãos, porque somos diferentes, porque temos fome e sede de justiça ou de fazer a vontade e Deus (v.10), ou simplesmente porque somos seguidores de Jesus (v.11). Ver Jo 15.18-20.

Como devemos reagir? Com regozijo! (Mt 5.11-12). Jesus mencionou três razões para isto. E estas, juntas, são a bênção relacionada com esta bem-aventurança. Os cristãos podem e devem regozijar-se quando perseguidos por sua fé:

1ª) Porque “deles é o reino dos céus”. Isto significa, primeiramente, que eles têm o privilégio de viver na esfera do reino, conhecendo e obedecendo a vontade de Deus. E isto é bem-aventurança! É a mesma bênção prometida aos “pobres de espírito”. Significa, também, que “uma grande recompensa ou herança está guardada para eles, nos céus”.

2ª) Porque a perseguição acontece quando e porque estamos fazendo a vontade de Deus e seguindo a Cristo (v.11). Os cristãos, às vezes, são punidos ou perseguidos merecidamente, por agirem mal, e, todavia, atribuem tal “perseguição” ao fato de serem crentes. Mas não é o caso. Ver 1Pe 2.12.

3ª) Porque a perseguição é um sinal de genuinidade, um certificado de autenticidade cristã, “pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (v. 12b). Ver Lc 6.22-23 e 26, notando os termos “os profetas” e “os falsos profetas”. O chamado Irmão André (conhecido como Contrabandista de Deus), falando no Brasil sobre a Igreja Perseguida, nos antigos países comunistas, manifestou sua estranheza ante o fato que, no Ocidente, a Igreja não é perseguida, e citou 2Tm 3.12.

Essa perseguição é pela busca de ser um cristão autêntico e procurar tomar as decisões baseados nos princípios bíblicos. Contudo, precisamos perseverar e permanecer no propósito de ser um filho de Deus. A perseguição irá acontecer, mas não devemos desistir. Felizes são os que vivem desta maneira.

Concluindo

Nas bem-aventuranças, Jesus apresenta um desafio fundamental ao mundo não-cristão e ao seu ponto de vista, e exige que seus discípulos adotem o seu sis­tema de valores, totalmente diferente. Como Thielicke disse, "qualquer pessoa que entre em comunhão com Jesus tem de passar por uma reavaliação de valores".

Tal inversão dos valores humanos é básica na religião bíblica. Os métodos do Deus das Escrituras parecem uma confusão para os homens, pois exaltam o humilde e humilham o orgulhoso; chamam de primeiros, os últimos, e de últimos, os primeiros; atribuem grandeza ao servo, despedem o rico de mãos vazias e declaram que os mansos serão seus herdeiros. A cultura do mundo e a contracultura de Cristo estão em total desarmonia uma com a outra. Resumindo, Jesus parabeniza aqueles que o mundo mais despreza, e chama de "bem-aventurados" aqueles que o mundo rejeita.[7]


Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira, 28/12/13.



[1] Stott, John R. W. Contracultura Cristã, A mensagem do Sermão do Monte, ABU Editora, 1981, p. 23.
[2] Ibid., p. 23.
[3] Ibid., p. 23.
[7] Stott, p. 27.

A influência do cristão

Mateus 5.13-16

Em nossos estudos anteriores, vimos que:

ð O Sermão do Monte é um autêntico pronunciamento de Jesus. Seu conteúdo é relevante para o mundo moderno e seus padrões foram estabelecidos para serem cumpridos pelos cidadãos do Reino, aqueles que passaram pelo novo nascimento e fazem parte da família de Deus.[1]

ð O valor e a autoridade do Sermão do Monte está no Mestre que o proferiu. Ele é mais importante que o seu próprio ensino e precisamos tomar consciência disso e aceitar e praticar os Seus ensinos.

ð Na sua introdução em Mateus 5.1, 2, temos a identidade e a personalidade do Mestre Jesus, a identificação de seus ouvintes primários e a sua pedagogia.

ð O significado da expressão bem-aventurança: aquela alegria ou felicidade interior, independentemente das coisas externas da vida. Essa expressão aparece nove vezes nesse texto e chamou muito a atenção dos ouvintes primários e a nossa também.

ð As quatro verdades que a Bíblia ensina sobre as bem-aventuranças: PrimeiraBem-aventurança é algo que somente Deus pode dar – Sl 144.15; SegundaBem-aventurança é um estado que Deus deseja que seu povo desfrute – Gn 1.27, 28; Nm 6.24-26; TerceiraBem-aventurança não depende das circunstancias da vida – Fp 4.10, 11; 2Co 7.4; 12.10; QuartaBem-aventurança está relacionada à obediência a Palavra de Deus – Lc 11.27, 28; Sl 1.1.

ð A primeira bem-aventurança e a última fazem a mesma promessa – “porque deles é o reino dos céus” – Mt 5.3, 10. Sobre esse reino prometido por Jesus, consideramos quatro fatos: PrimeiroEle é um reino eterno; Segundo Ele é um reino espiritual; TerceiroEle é um reino contemporâneo; QuartoEle é um reino dinâmico.

ð Podemos estudar as bem-aventuranças em dois pontos: 1º) As primeiras quatro, tratam do relacionamento do cristão com Deus; e 2º) As últimas quatro, do relacionamento do cristão com o seu próximo.

ð Lutero afirmou: É preciso ter uma fome e sede de justiça que jamais possam ser reprimidas, ou sustadas, ou saciadas, que não procurem nada e não se importem com nada a não ser com a realização e a manutenção do que é justo, desprezando tudo o que possa impedir a sua consecução. Se você não puder tornar o mundo completamente piedoso, então faça o que você puder.

Terminamos com a seguinte afirmação: “Façamos do padrão de Jesus o nosso padrão de vida. Falemos a Palavra com autoridade. Tenhamos um caráter integro: Amemos mesmo quando não esperamos receber amor, façamos o bem sem esperar recompensas. Tenhamos como objetivo supremo da nossa vida fazer a vontade do Pai, obedecer à Sua Palavra, obedecer aos Seus ensinamentos”.[2]

Hoje, vamos estudar sobre a influência do cristão – Mt 5.13-16. As metáforas do sal e da luz falam da influência que os cristãos podem e devem exercer no mundo.

Assim, [3]em seguida às bem-aventuranças, que descrevem o caráter do cristão, Jesus passou a dizer aos seus discípulos que eles poderiam exercer uma forte influência sobre o mundo, se cultivassem aquele caráter. Usando metáforas conhecidas, disse-lhes: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo...” A necessidade da luz é óbvia. E o sal tem uma variedade de usos. É condimento e preservativo. No passado, antes do invento da refrigeração, ele era usado principalmente para preservar a carne do apodrecimento. E na verdade ainda o é, como na charque e na carne-de-sol. É o sal que o conserva e lhe dá sabor.

1. Igreja e mundo: duas comunidades distintas

As duas comunidades são diferentes, mas relacionadas. A diferença é radical e imprescindível; a relação é necessária. Explicando:

ü O sal tem características próprias, que o distinguem da carne e outros alimentos. Só é útil fora do saleiro e quando nos alimentos; é assim que lhes dá sabor e os preserva.

ü A luz possui suas próprias características, que a distinguem das trevas. Só é útil quando nas trevas; é assim que as dissipa.

Evidentemente, a humanidade é insossa e está apodrecendo; precisa do sal.
O mundo é tenebroso e perdido e precisa de luz.

Estes esclarecimentos são importantes porque, hoje em dia, é simpático e teologicamente mais elegante deixar indefinidas as fronteiras e as diferenças entre as duas comunidades, igreja e mundo.

2. O sal da terra (5.13)

Isto significa que os crentes verdadeiros, os que têm ou estão desenvolvendo as características referidas nas bem-aventuranças, são como o sal: têm um tremendo poder de penetração e transformação. Ao passo que a humanidade é como a carne em processo de deterioração ou apodrecimento. Os cristãos podem retardar esse processo ou mesmo revertê-lo, ainda que não totalmente.
Deus estabeleceu outras influências restringentes na humanidade, tais com o Estado e a Família. Estas e outras instituições exercem uma influência sadia sobre a sociedade. Entretanto, Deus planejou que a mais poderosa força inibidora do pecado fosse a Igreja.

A eficácia do sal está condicionada à sua salinidade (Veja 5.13b). O sal (cloreto de sódio) é um produto químico estável, resistente. Não obstante, pode ser contaminado por impurezas, tornando-se, então, inútil e até perigoso. Da mesma forma o cristão. A salinidade do cristão é o seu caráter conforme descrito nas bem-aventuranças; é discipulado cristão verdadeiro, visível em atos e palavras. Se o cristão for contaminado pelas impurezas do mundo, ele perde a salinidade, ou seja, sua capacidade de influenciar e mudar o mundo à sua volta.

3. A luz do mundo (5.14-16)

Jesus disse também: “Vocês são a luz para o mundo...” Mais tarde ele diria: “Eu sou a luz do mundo...” (Jo 8.12). Portanto, nós somos a luz do mundo por derivação, brilhamos com a luz de Cristo, como a Lua brilha com a luz do Sol (Fp 2.15). Isso acontece por meio das nossas “boas obras” ou “coisas boas que fazemos” (v. 16). Essas “boas obras” envolvem tudo o que fazemos por amor a Cristo e aos nossos semelhantes, e também nossa maneira de ser, agir e reagir. É a luz de Cristo brilhando no mundo através de nós! A eficácia da luz está condicionada à sua intensidade e posição. Jesus acrescentou: “Ninguém acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine a todos os que estão na casa” (vv.14-15 BLH). A luz de Cristo, que está em nós, não pode ser escondida dentro da igreja. Ela é útil lá fora, no mundo, nas trevas.

Concluindo – Responsabilidade dupla

Nossa responsabilidade é dupla: “O sal e a luz têm coisas em comum: eles se dão e se gastam, e isto é o oposto do que acontece com qualquer tipo de religiosidade egocentralizada” (P. Thielicke).

ð O mundo está apodrecendo! (cf. Rm 1). Como sal, os cristãos têm a responsabilidade de inibir ou mesmo impedir a deterioração da família, da igreja e da sociedade. Têm que expressar-se, indignar-se e protestar mais... (Ação negativa)

ð O mundo está nas trevas! Como luz, os cristãos têm a responsabilidade de mostrar, pela pregação da Palavra de Deus e por suas obras, que tudo pode ser diferente e melhor, e mostrar o Caminho. (Ação positiva).

Perguntas para reflexão: 1) Quais são as funções do sal e da luz, respectivamente? 2) Qual é a função do cristão no mundo, como sal e luz? 3) Por que é importante, hoje em dia, enfatizar que Igreja e Mundo são comunidades totalmente diferentes? 4) A que estão condicionadas a eficácia do sal, da luz e a do cristão, no mundo? 5) Você diria que tem sido sal da terra e luz do mundo?

Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira – 12/04/14




[1] Stott, John R. W. Contracultura Cristã, A mensagem do Sermão do Monte, ABU Editora, 1981, p. 11.
[2] Oliveira, Profa. Odila Braga de. O Sermão do Monte, Lição 1, Editora Cristã Evangélica, p.7-9.
[3] A partir daqui, segue um resumo e adaptação livre do livro de John Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997. Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001.

sábado, 5 de abril de 2014

Décimo Mandamento

Êxodo 20.17

No estudo anterior, o do nono mandamento:

ð  Vimos que, no nono mandamento, juntamente com o terceiro, somos lembrados de que as nossas palavras têm consequências emocionais, sociais e espirituais. “O que dizemos pode preservar, defender, condenar ou destruir uma pessoa. Mais ainda, pode dividir ou unir uma comunidade.

ð  Vimos, também, as proibições do nono mandamentos: a mentira; juízos falsos e calunias; boatos falsos, fofocas e tagarelices; insultos, xingamento e maledicência; e falsidade e falsos profetas.

ð  E os deveres exigidos pelo nono mandamento: amar e falar a verdade; zelar pela boa reputação do próximo; e domínio próprio.

ð  Terminamos citando o puritano Thomas Brooks (1608-1680) que disse o seguinte: “... nós conhecemos os metais pelo som que produzem e os homens por aquilo que falam!”. Na verdade, as palavras que saem da boca de um homem são uma expressão bem clara de quem ele é de fato. Deus se preocupa muito com as palavras que proferimos por isso ele nos deu o nono mandamento.

Nosso estudo de hoje é sobre o décimo mandamento – Êxodo 20.17 – Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo.

O décimo mandamento trata da raiz dos demais pecados: a cobiça do coração. Por isso esse último mandamento do decálogo focaliza o pecado da cobiça. O mandamento nos constrange a questionar a origem de nossas motivações e ações. (cf. Mt 7.21, 22)

Observando os seis últimos mandamentos, percebemos que eles são interligados. Reflita comigo: Por cobiça os homens desonram aos pais, matam, adulteram, furtam e mentem. Cobiçar é muito mais que querer; é querer sem freios, é querer caprichosamente – tudo à minha volta deve dobrar-se, imediatamente, ao meu desejo; é ansiar desastrosamente – obterei isso, nem que me destrua e a outros no processo.[1] (cf. Tg 1.13-16)

Portanto, o décimo mandamento é voltado diretamente para o coração e a mente de cada ser humano. Ao proibir a cobiça, o mandamento, não apenas define o que devemos fazer, mas também como devemos pensar. Claramente, ele nos pede para olharmos profundamente para dentro de nós mesmo e refletirmos no que vemos. Ele trata especificamente dos pensamentos que ameaçam as relações e que podem potencialmente prejudicar a nos mesmos e às pessoas ao nosso redor.[2] (cf. 1Tm 6.7-10)

A cobiça é muito mais grave do que uma enfermidade social. Quando a ganância, a avareza, a luxúria e o eu são colocados acima de Deus na vida de uma pessoa, a cobiça passa a ser idolatria, segundo as Escrituras – Cl 3.5-11; Ef 5.5; Fp 2.3, 4; Tg 4.2.

Há um ditado que diz: a grama do vizinho sempre é mais verde. Infelizmente esta é a atitude de muitos crentes. Eles olham para a vida sempre com a perspectiva que a vida do próximo é melhor que a sua. Agindo assim eles demonstram ingratidão para com as dádivas de Deus e cobiça para com as coisas do próximo. Esse tipo de atitude constitui em quebra do décimo mandamento.

Martinho Lutero afirmava que o décimo mandamento pretende dar o último golpe naqueles que pensam estar de pé, depois dos nove mandamentos precedentes.[3] Porque ele cria que esse mandamento se opõe a toda e qualquer forma de legalismo.

Concluindo

O cristão precisa orientar os seus desejos na direção certa.  O Senhor Jesus instrui, no Sermão do Monte, como fazer isso – Mt 6.19-34. Os relacionamentos adequados e produtivos, a sabedoria e o entendimento espiritual são exemplos dos tesouros duradouros que Deus quer que nós desejemos[4]Pv 2.3-6; 8.11, 19-21.

O Breve Catecismo de Westminster, nas perguntas 80 e 81, afirma:

O décimo mandamento exige pleno contentamento com a nossa condição, bem como disposição para com o nosso próximo e tudo o que lhe pertence; e proíbe todo descontentamento com a nossa condição, todo movimento de inveja ou pesar à vista da prosperidade do nosso próximo e todas as tendências ou afeições desordenadas a alguma coisa que pertence a ele. (cf. Hb 13.5; Fp 4.11; Rm 12.15)

O Catecismo de Heidelberg, pergunta 113, O que o décimo mandamento exige de nós?

Que nem mesmo a menor inclinação ou pensamento contra qualquer dos mandamentos de Deus nunca surja no nosso coração, mas que sempre odiemos o pecado com todo o nosso coração, e nos deleitemos em toda a justiça.

Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira 05/04/14



[1] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 26.
[2] Os Dez Mandamentos, Igreja de Deus Unida, EUA, 2012, p. 64-66.
[3] Lição “Os Dez Mandamentos – Os Preceitos do Deus da Aliança”, Editora Cultura Cristã, 1º Trimestre de 2014, Lição 12, p. 55.
[4] Os Dez Mandamentos, Igreja de Deus Unida, EUA, 2012, p. 68.