Em nossos estudos anteriores, vimos que:
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Jesus, usando metáforas conhecidas, disse-lhes: “Vós sois o sal da terra...
Vós sois a luz do mundo...”
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A Igreja é o mundo são duas comunidades diferentes, mas relacionadas.
A diferença é radical e imprescindível; a relação é necessária.
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Os crentes verdadeiros, os que têm ou estão desenvolvendo as
características referidas nas bem-aventuranças, são como o sal: têm um tremendo poder de penetração e
transformação. Ao passo que a
humanidade é como a carne em processo de deterioração ou apodrecimento.
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Nós somos a luz do mundo por derivação, brilhamos com a luz de Cristo,
como a Lua brilha com a luz do Sol. Isso acontece por meio das nossas “boas obras” ou “coisas boas que fazemos”.
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Terminamos afirmando que a nossa responsabilidade é dupla: “O sal e a luz têm coisas em comum: eles se
dão e se gastam, e isto é o oposto do que acontece com qualquer tipo de
religiosidade egocentralizada” (P. Thielicke).
Hoje, vamos estudar sobre a justiça do cristão – Mt
5.17-20.
[1]Jesus já falou sobre o Caráter do Cristão (descrito
nas bem-aventuranças) e sobre a Influência
do Cristão (que ele exerce no mundo,
quando cultiva o referido caráter e pratica as boas obras; se é, de fato, “sal
da terra” e “luz do mundo”). Agora, Jesus define melhor o teor destas boas
obras. O termo usado é “justiça”,
que, aqui, é sinônimo de obediência a Deus, prática da fé, vida cristã. Daí o
título desta seção: A Justiça do Cristão.
Este parágrafo do Sermão do Monte é muito
importante, não só por sua definição de justiça, mas também porque nos ajuda a
entender a relação entre Novo Testamento e Velho Testamento, entre Evangelho e
Lei.
1. Cristo e
a Lei (vv.17-18)
Jesus começa dizendo que ele não veio para “revogar a lei ou os profetas” (5.17). A
expressão refere-se a todo o Velho Testamento (Mt 7.12). Alguns pensavam que Jesus
estava revogando ou descumprindo a Lei (Mc 2.23-3.6). Até porque Jesus não se
reportava tanto à autoridade de Moisés, como os mestres judaicos faziam. Falava
com autoridade própria: “Em verdade (eu)
vos digo...” (Mt 5.18; 6.2). E até corrigia os antigos mestres: “Vocês ouviram o que foi dito... Mas eu lhes
digo...” (Mt 5.21-22, 27-28, 31-32. Ver Mt. 7.28-29).
Por tudo isso, Jesus disse: “Não penseis que
vim revogar a lei ou os profetas; ou como lemos na BLH, “não vim para
revogar, vim para cumprir”, para dar-lhes sentido completo” (v. 17). Isto é importante porque
faz-nos ver que há estreita
relação entre Jesus e Moisés, Novo e Velho Testamentos.
Todavia,
é preciso lembrar que o Velho Testamento contêm diversos tipos de ensinamentos.
Mas Jesus veio “cumprir” todos eles.
a) Ensinos
doutrinários
– É o que os judeus chamam de Torá. O termo significa “instrução revelada”, mas é traduzido por Lei. O VT ensina sobre Deus,
o homem, a salvação, etc., mas de maneira incompleta. Jesus completou-o e
deu-lhe sentido com sua vida e obra. “O
Velho Testamento é o Evangelho em botão; o Novo Testamento é o Evangelho em flor...”
(Ryle).
b) Profecia
preditiva
– Grande parte refere-se à vinda do
Messias. Jesus “cumpriu” estas
profecias. Iniciou seu ministério dizendo: “O tempo está cumprido...” (Mc 1.14 – cf. Jo 5.39; Mt 1.22; 2.23;
3.3, etc.) A morte de Jesus na cruz cumpriu todo o sistema cerimonial do Velho
Testamento (sacerdócio e sacrifício). Então, as cerimônias cessaram.
c)
Preceitos éticos, ou seja, a Lei moral de Deus – Os mestres judaicos tinham ensinado e ainda estavam ensinando uma
interpretação superficial e errada da Lei. Jesus retomou o original e lhe deu a
profundidade e o significado pretendidos por Deus. Além disso, Jesus obedeceu à
Lei! (Mt 5.21-22, 27-28). Portanto, ele não veio para descumprir ou abolir a
Lei, mas para cumpri-la. E ensinou aos seus seguidores que eles também deveriam
cumprir ou obedecer à Lei.
2. O cristão e a Lei – Jesus acrescenta: Mt
5.18-20. Note três coisas:
a) Nesta passagem, Jesus não está ensinando o caminho da salvação ou como
podemos alcançar o céu. Ninguém jamais se salvará tentando obedecer à Lei de
Deus. Mas Jesus está dizendo como devem viver os que crêem nele e o seguem, os
que já estão salvos. Noutras passagens ele ensina que a salvação é alcançada
pela fé somente (Jo 3.16,36). Saulo de
Tarso, antes de se converter a Cristo, foi zeloso praticante da Lei... e também
o mais terrível perseguidor dos cristãos! (At
22.3-15). Convertido, tornou-se Paulo, o Apóstolo, um dos homens mais
santos e um dos maiores pregadores na história do Cristianismo. Escreveu várias
cartas que fazem parte do Novo Testamento. Nestas, ele enfatiza que o pecador é
justificado (feito justo, perdoado, purificado) e salvo pela fé e não pelas
obras, crendo em Cristo e não esforçando-se para obedecer à Lei (Rm 3.21-24).
b) Há uma conexão vital entre a Lei de Deus e o Reino de Deus. Os cidadãos
do Reino, as pessoas que crêem em Deus e em Cristo, que se submetem à vontade
de Deus e a Cristo como Senhor de suas vidas, externam sua fé e submissão
obedecendo à Lei de Deus. Para dizer de outro modo, os cristãos verdadeiros
praticam os ensinos da Palavra de Deus – At 26.20; 1Co 5.17. Pedro chamou os
cristãos de “filhos da obediência” (1Pe
1.14). A desobediência deliberada e constante à Lei, isto é, à vontade de Deus,
é indício de falta de arrependimento sincero, de fé genuína, de conversão
verdadeira, de salvação. Por isso, Jesus concluiu este parágrafo do Sermão do
Monte dizendo: “Se a vossa justiça não
exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”
ou “Pois eu afirmo que vocês só entrarão no Reino de Deus, se forem mais fieis
[em fazer a vontade de Deus] do que os professores da Lei e os fariseus”
(BLH).
c) No Reino dos Céus haverá distinções entre os salvos. Dependendo da vida que viveram como cristãos, de sua
maior ou menor obediência aos ensinos da Palavra de Deus, eles serão
considerados “grandes” ou “menores” (v.19).
A distinção levará em conta, também, os esforços de cada um no sentido de
ensinar aos outros a viverem de acordo com a Palavra de Deus.
Concluindo
O
restante de Mt 5, que estudaremos na próxima lição, refere-se a alguns itens da
Lei, como eram ensinados aos judeus e como foram reinterpretados e aprofundados
por Jesus. Essa é a justiça do Cristão.
Pr. Walter Almeida Jr.
CBL
Limeira, 26/04/2014
[1] A partir daqui, segue um resumo e adaptação livre do livro de John
Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição,
1997, preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001.
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