domingo, 13 de setembro de 2015

Estudos Bíblicos na Carta aos Hebreus (5) - Uma compreensão correta do Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo

Hebreus 5

Em nosso estudo anterior sobre O perigo da apostasia e o repouso (descanso) prometido, vimos:

ð Que o autor reconhece que os seus leitores originais são crentes verdadeiros;
ð Que privilégio de ser chamado por Deus, pelo seu Evangelho, traz consigo responsabilidades: considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão. (v.1d)
ð Que a apostasia começa no coração, ou seja, nos afetos e pensamentos, no interior da pessoa; e apostatar é não ficar firme em Cristo e seu evangelho até o final (vv.6, 14). É afastar-se do Deus vivo (v.12). Como resultado, a pessoa não é mais reconhecida como pertencendo a Cristo e deixa de entrar no descanso prometido a todos que lhe pertencem (v.6b, 14; 4.1).
ð Que se evita a apostasia primeiramente pelo reconhecimento de que nenhuma pessoa que professa ser crente entrará no céu se não perseverar na fé até o fim.
ð Que é necessário crer nas boas novas para desfrutar da promessa de entrar no descanso de Deus, pois o que levou muitos dos israelitas a não desfrutarem da terra prometida foi não crer na Palavra Deus.
ð Terminamos com três lições sobre o repouso (descanso) prometido: 1ª) Para entrar no repouso prometido por Deus é preciso crer na Palavra de Deus – vv.3-11. 2ª) A Palavra de Deus é que fortalece a nossa fé para permanecermos no repouso de Deus – vv.12-13. 3ª) O repouso de Deus é garantido para aqueles que tem o grande sumo sacerdote, Jesus Cristo, o Filho de Deus, como seu Salvador e Senhor – vv.14-16.

Hoje, vamos estudar Hebreus 5 com o tema: Uma compreensão correta do Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo. Faremos isso em dois pontos: 1º) Qualificações do Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo – vv.1-10; e 2º) Uma advertência sobre a caminhada da fé com o Sumo Sacerdote – vv.11-14.

O ministério de Cristo como sumo sacerdote é o tema mais proeminente na Carta aos Hebreus e certamente teve um impacto profundo sobre os seus primeiros leitores. No judaísmo, o sumo sacerdócio era o ofício religioso mais importante de todos[1], pois ele tinha como tarefa representar o homem perante Deus[2].

I. Qualificações do Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo – vv.1-10

Antes um esclarecimento: a diferença entre o sacerdote e o sumo sacerdote era de liderança, pois o sumo sacerdote era o líder dos sacerdotes. Essa liderança estava associada à sua idade, pois o mais velho entre eles exercia esse ofício que era de regime vitalício e começou com o chamado de Arão. Assim, o sumo sacerdote era substituído após a sua morte pelo seu parente mais próximo e mais velho, o seu primogênito (Cf. Êx 28, 29; Lv 8-10).

O autor começa sua argumentação apresentando as quatro qualificações para um homem ser um sumo sacerdote dentre os homens nos vv.1, 2: 1ª) Ser um homem escolhido e nomeado diretamente por Deusv.1a (cf. Êx 28.29; Lv 8-10; Nm 16.18); 2ª) Estar apto a representar o seu povo perante Deusv.1b; 3ª) Ser capaz de condoer-se dos pecadoresv.2; 4ª) Reconhecer sua condição de pecador diante de Deus e dos homens que representav.3. “O fato de ser humano e pecador faz do sumo sacerdote uma pessoa uma pessoa solidaria e misericordiosa com as pessoas que ele representa”.[3] Era uma honra dada por Deus ser chamado para o sacerdócio – v.4.

Agora, nos vv.5-10, o autor explica a relação entre o sacerdócio de Arão e o de Cristo, apresentando o de Cristo como superior. Ele apresenta cinco argumentos para o sumo sacerdócio de Jesus Cristo ser superior: 1º) Jesus Cristo é o Filho de Deus que se fez homemv.5 (cf. Sl 110; Gl 4.4, 5); 2º) Jesus Cristo foi escolhido diretamente por Deus na eternidadev.6, 10; 3º) Jesus Cristo recebeu um sacerdócio eternov.6b (cf. Gn 14.18; Sl 110.1, 4; Zc 6.13); 4º) Jesus Cristo é compassivo e misericordioso com os pecadores mesmo ser ter pecado vv.7, 8; cf. 4.14-16; 5º) Jesus Cristo oferece um sacrifício perfeito que não precisa ser repetidov.9; cf. 7.22-28.

Nosso Senhor Jesus Cristo é maravilhosamente grande tanto em sua pessoa (quem ele é) quanto em sua obra (o que ele fez e está fazendo). Tudo a seu respeito, tudo ligado a ele, é vastamente grandioso, glorioso e impressionante.
Stuart Olyott[4]

II. Uma advertência sobre a caminhada da fé com o Sumo Sacerdote – vv.11-14

Continuando, o autor, que não poupou palavras ao falar da apostasia e insistiu que aqueles irmãos, judeus convertidos, se expusessem à Palavra de Deus e continuassem olhando para o Senhor Jesus Cristo, buscando-o como sumo sacerdote, agora faz uma séria advertência sobre a caminhada de fé daqueles irmãos, ou seja, ele os exorta sobre a situação do crescimento espiritual deles.

Para ele os irmãos não haviam crescido espiritualmente, estavam ainda nos primeiros passos da vida cristã, quando já deveriam serem até mestres pelo tempo de convertidos, e isso por pura indolência com a Palavra de Deus (v.12). Assim, ele, apresenta as causas da imaturidade daqueles irmãos:

1ª) Negligência em relação à Palavra de Deus – v.11 – Aqueles irmãos não estavam compreendendo que, o que o Senhor Jesus fez por eles era superior a qualquer outra coisa, simplesmente, pelo fato deles estarem sendo lentos em aprenderem a Palavra de Deus. Essa negligência foi gerada pelo fato estarem dando mais importância à sua antiga maneira de viver do que à nova vida em Cristo Jesus. (Hb 6.12; 2Co 5.17; Tg 1.25; 1Tm 4.13-16)

2ª) A pouca importância dada à prática vida cristã – v.12 – Os irmãos, pelo tempo de vida cristã, já deveriam ser mestres da vida cristã e estarem aptos para ensinarem os mais novos na fé, mas por conta do descaso com os princípios da nova vida, estavam com a necessidade de que alguém os ensinassem, de novo, quais são os princípios elementares das Escrituras, ou seja, as coisas mais básicas da fé cristã. (Cl 2.6, 7)

3ª) A falta de interesse pelo crescimento espiritual – v.12b, 13a – Isto é demonstrado pelo autor, metaforicamente, quando diz e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino, ou seja, eles tinham um tempo de vida e de ensino cristão que, normalmente, lhes dariam condições de entenderem os ensinos bíblicos cristãos mais profundos, mas, por falta de maturidade, não conseguiam nem entender que nosso Senhor Jesus Cristo é chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque (v.10). (2Tm 3.14-17)

4ª) A falta de discernimento espiritual – v.14 – Por conta da negligência com a Palavra de Deus, a pouca importância dada à prática vida cristã e a falta de interesse pelo crescimento espiritual não estava sendo desenvolvido naqueles irmãos, o que seria normal pelo tempo de vida cristã que tinham, os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal. Esses cristãos estavam desprovidos de discernimento bíblico e teológico, ou seja, não tinha a capacidade de discernir entre o mal e o bem por falta do conhecimento, da sabedoria, da obediência e da prática da Palavra de Deus. (1Co 2.14; Jd v.22; Cl 2.8, 18-23)

Concluindo

Esses últimos quatro versículos do capítulo 5 são muito importantes para nós porque destacam a importância de perseverar, de continuar firmes e nos mostram como saber quando estamos fazendo isso. Nos mostram, também, como medir se estamos progredindo espiritualmente ou não.[5]

Que o Senhor nos ajude a combater o bom combate, acabar a carreira e guardar a fé!

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 10/09/15




[1] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha, Editora Cultura Cristã, 2012, p. 43.
[2] Ibid., p. 44.
[3] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica – Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 6ª Lição, p. 28.
[4] Olyott, p. 46.
[5] Olyott, p. 48.

domingo, 6 de setembro de 2015

Estudos Bíblicos na Carta aos Hebreus (4 - continuação) - O perigo da apostasia e o descanso prometido

continuação...
II. O repouso (descanso) prometido – 4.1-16

Continuando a exortação sobre a possibilidade da apostasia aos seus leitores originais, o autor, chama a atenção para o fato de que, embora deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás. (v.1) Ele quer dizer, também, creio: cuidado pois a promessa de Deus não vai cair por terra se você nunca creu ou se deixou de crer nela.

Ele insiste em que é necessário crer nas boas novas para desfrutar da promessa de entrar no descanso de Deus, pois o que levou muitos dos israelitas a não desfrutarem da terra prometida foi não crer na Palavra Deus – v.2 (Rm 10.17).

Aprendemos três lições aqui no v.2: 1ª) A Palavra de Deus é pregada para que nos beneficiemos dela (2Tm 3.16, 17; 1Ts 2.13; 1Pe 1.23); 2ª) Muitos dos que ouvem a Palavra de Deus não aproveitam o que ouvem (Tg 1.22; Mt 7.24-27; 2Tm 3.1-9); 3ª) A incredulidade na Palavra de Deus é a causa do não aproveitamento da promessa (v.2b; Rm 11.20-24).

Nos vv.3-16 temos três lições sobre o repouso (descanso) prometido:

1ª) Para entrar no repouso prometido por Deus é preciso crer na Palavra de Deus – vv.3-11.

Na Palavra de Deus temos o que chamamos de “tipos, ou seja, modelos ou figuras das realidades espirituais. Um tipo representa uma realidade espiritual, mas não é essa realidade”[1]. O autor para falar do repouso eterno – o céu, na presença de Deus, que gozarão aqueles que se convertem a Cristo, usa desse artificio.

Ele usa o sétimo dia após a criação (v.4), o dia de descanso (shabbat) (v.4), a terra prometida – Canãa (v.6-9), a paz de Deus no coração e na consciência que todo crente experimenta quando se converte a Cristo (v.3a; Rm 5.1; Fp 4.7; Cl 3.15), para falar do céu – o repouso seguro daqueles que são salvos por Jesus (vv.9-11; 1Pe 5.10; Ap 14.12, 13).

Esse é o repouso que Deus dá, por isso é chamado de meu repouso no Sl 95.11, usado pelo autor aqui. “Para os cristãos, o repouso de Deus inclui a sua paz, a certeza da salvação, a confiança no seu poder e a garantia de um lar celestial no futuro”[2] (cf. Mt 11.28-30).

Creio que “é hora de pensarmos mais no céu. Às vezes conseguimos vislumbres da Cidade Celestial enquanto caminhamos em nossa jornada até lá. Ainda não chegamos lá. Mas se continuarmos andando, se continuarmos em frente, chegaremos lá! Nada nos deixará de fora exceto a descrença, isto é, a resistência à Palavra de Deus que pode nos levar a desistir de Cristo em algum momento”[3] (v.11).

2ª) A Palavra de Deus é que fortalece a nossa fé para permanecermos no repouso de Deus – vv.12-13.

Para o autor é necessário ao cristão expor-se à Palavra de Deus, pois ela mostra como realmente somos em nosso interior mais profundo. Ela trata de nossos pensamentos e até mesmo de nossas intenções – v.12, 13. Temos aqui cinco qualidades da Palavra: 1ª) Ela é divina – sua origem é o próprio Deus; 2ª) Ela é fonte de vidapossui vida em si mesma e produz vida onde é lida, pregada e ensinada; 3ª) Ela é eficazprodutiva e eficiente naquilo a que se propõe; 4ª) Ela é penetrante e cortante – nada resiste ao seu poder de penetração, pois consegue atingir o mais profundo do ser humano. Até aquilo que parece ser inseparável, coisas parecidas e aparentemente confusas – alma e espirito, juntas e medulas; 5ª) Ela é discernente e reveladora – tem o poder de chegar nos aspectos mais profundos e íntimos da personalidade humana e distinguir e julgar seus pensamentos e convicções mais secretos. Ela expõe o interior revelando ao homem tudo aquilo que está em seu coração. (cf. 1Co 10.4, 5)

Essa é a particular Palavra de Deus que o autor de Hebreus quer que os seus leitores ouçam. O que está dito nos vv.12, 13 pode se aplicar tanto à Palavra de Deus pregada como à Palavra de Deus escrita. Por isso, quando confrontados pela Palavra de Deus somos confrontados pelo próprio Deus[4], porque não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas.

3ª) O repouso de Deus é garantido para aqueles que tem o grande sumo sacerdote, Jesus Cristo, o Filho de Deus, como seu Salvador e Senhor – vv.14-16.

A exaltação de Jesus e sua entrada no céu são a base para o chamado à que retenhamos firmemente a nossa confissão (v.14b). A sua experiência humana o qualifica para ser compassivo e misericordioso para com aqueles que se achegam com confiança ao trono da graça (v.15, 16a).[5]

O ensino sobre o sumo sacerdócio de Jesus Cristo que começa aqui, tem como objetivo fundamental “encorajar a perseverança contra o pecado e a incredulidade. Somos encorajados a nos apegar a todos os recursos espirituais disponíveis a nós em Cristo”[6].

Aqui, também, temos três lições importantes para aprender: 1ª) Jesus, o Filho de Deus, está no céu diante de Deus como nosso sumo sacerdote v.14. Ele está lá por nós e nos levará para lá também, por isso apeguemo-nos com toda a firmeza à fé que professamos v.14c (NVI); Hb 7.24-26; Jo 14.3; 17.24; 2ª) Jesus é o nosso sumo sacerdote compassivo e misericordioso – v.15. Ele está acessível. Ele é poderoso e perfeitamente qualificado para nos ajudar, pois já esteve exatamente onde estamos, contudo, jamais se contaminou por nenhuma espécie de pecado[7]; 3ª) Jesus tornou acessível nosso acesso ao trona da graça – v.16. No seu trono há graça e força sobrenatural na hora da necessidade. Em Cristo há perdão, acolhimento, compaixão e ajuda. A misericórdia e a graça estão disponíveis para nós no Seu trono. Assim, o nosso repouso eterno está garantido pelo grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus. (v.14b)

Concluindo – Nesse estudo vimos o segredo da perseverança: “O velho caminho de amar a Bíblia e vir ao Senhor Jesus em oração. Não há necessidade de procurar segredos ou coisas espetaculares, pois isso não existe. Temos que continuar sempre vindo a Cristo por meio de sua Palavra e em oração, publicamente, em particular, como casais, como família, como irmãos. Ninguém que está próximo de Cristo pode falhar em ir ao lugar onde ele está – no céu!”[8]



[1] Olyott, p. 40.
[2] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1693.
[3] Olyott, p. 40.
[4] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, SP, 2009, p. 1997.
[5] Ibid., p. 1997.
[6] Ibid., p. 1998.
[7] Olyott, p. 41.
[8] Olyott, p. 42.