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Em
nosso estudo anterior, vimos o significado da expressão bem-aventurança: aquela alegria ou felicidade interior,
independentemente das coisas externas da vida.
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Vimos,
também, que a expressão bem-aventurados aparece nove vezes nesse texto e chamou
muita a atenção dos ouvintes primários e a nossa também.
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Vimos,
ainda, as quatro verdades que a Bíblia ensina sobre as bem-aventuranças: Primeira – Bem-aventurança é algo que somente Deus pode dar – Sl 144.15; Segunda – Bem-aventurança é um estado que Deus deseja que seu povo desfrute –
Gn 1.27, 28; Nm 6.24-26; Terceira – Bem-aventurança não depende das
circunstancias da vida – Fp 4.10, 11; 2Co 7.4; 12.10; Quarta – Bem-aventurança está
relacionada à obediência a Palavra de Deus – Lc 11.27, 28; Sl 1.1.
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Observamos
que, a primeira bem-aventurança e a última fazem a mesma promessa – “porque deles é o reino dos céus” – Mt
5.3, 10. Sobre esse reino prometido por Jesus, consideramos quatro fatos: Primeiro – Ele é um reino eterno; Segundo
– Ele é um reino espiritual; Terceiro – Ele é um reino contemporâneo; Quarto
– Ele é um reino dinâmico.
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E,
assim, passamos a estudar as bem-aventuranças em dois pontos: 1º) As primeiras quatro, tratam do
relacionamento do cristão com Deus; e 2º)
As últimas quatro, do relacionamento do cristão com o seu próximo.
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Terminamos
com citação a Lutero que afirmou: É
preciso ter uma fome e sede de justiça que jamais possam ser reprimidas, ou
sustadas, ou saciadas, que não procurem nada e não se importem com nada a não
ser com a realização e a manutenção do que é justo, desprezando tudo o que
possa impedir a sua consecução. Se você não puder tornar o mundo completamente
piedoso, então faça o que você puder.
Hoje, vamos considerar o segundo e último
ponto de nosso estudo sobre as bem-aventuranças: O relacionamento do cristão com o
seu próximo.
II. O
relacionamento do cristão com o seu próximo – 5.7-12
1. v.7 – Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia.
O teólogo Richard Lenski afirma que o
substantivo eleos no grego, traduzido
por misericórdia, sempre trata da dor, da miséria e do desespero, que são
resultados do pecado e com isso ele faz uma distinção entre misericórdia e
graça, pois graça, charis no grego no NT, sempre lida com o pecado e com a
culpa propriamente ditos. A primeira concede alívio; a segunda, perdão; a
primeira cura e ajuda, a segunda purifica e reintegra.[1]
Assim, ser um cristão misericordioso é
colocar o seu coração na compaixão pelo sofrimento alheio, começando pela
situação moral e espiritual e indo até a questão socioeconômica. Ser
misericordioso, também, é estar pronto para perdoar.
Nosso Deus é um Deus misericordioso e dá
provas de misericórdia continuamente; os cidadãos do seu reino também devem
demonstrar misericórdia. Naturalmente, o mundo, pelo menos quando é fiel à sua
própria natureza, é cruel, como também a Igreja frequentemente o tem sido em
seu mundanismo.[2]
A BLH traduz esse versículo do seguinte
modo: Felizes os que tratam os outros com misericórdia — Deus os tratará com
misericórdia também! Jon Stott afirma sobre essa passagem assim: “Não que
possamos merecer a misericórdia através da misericórdia, ou o perdão através do
perdão, mas porque não podemos receber a misericórdia e o perdão de Deus se não
nos arrependermos, e não podemos proclamar que nos arrependemos de nossos
pecados se não formos misericordiosos para com os pecados dos outros. Nada nos
impulsiona mais ao perdão do que o maravilhoso conhecimento de que nós mesmos
fomos perdoados. Nada prova mais claramente que fomos perdoados do que a nossa
própria prontidão em perdoar. Perdoar e ser perdoado, demonstrar misericórdia e
receber misericórdia andam indissoluvelmente juntos...”.[3]
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Deus, nosso Pai, é misericordioso (Lc
6.36. Depois, leia Sl 136).
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Jesus, nosso Salvador, foi compassivo e misericordioso (Lc 4.40).
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Somos o povo eleito de Deus (Cl
3.12-13).
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Práticas religiosas sem misericórdia não agradam a Deus (Mt 23.23).
O mundo, quando à parte da influência cristã,
costuma ser extremamente individualista e egoísta; as pessoas não dão a mínima
para a dor e a calamidade dos outros; não sabem o que é
misericórdia.
Qual é a
bênção referida nesta bem-aventurança? “... alcançarão misericórdia”. Não nos tornamos merecedores da misericórdia de Deus quando exercemos misericórdia, ou do seu perdão quando perdoamos. A
misericórdia e o perdão de Deus são expressões da sua graça, e graça é favor imerecido. Todavia, ninguém pode receber a misericórdia e o perdão de Deus sem se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo, e
ninguém pode dizer sinceramente que se arrependeu dos seus
pecados
e não ser misericordioso, perdoando os pecados
dos outros. Nada nos encoraja mais a ser misericordiosos com outros,
para ajudar ou perdoar, do que saber que Deus, misericordiosamente e
graciosamente nos abençoa e perdoa cada dia. (Lm 3.22-23). A prova maior
de que fomos perdoados é a nossa disposição para perdoar. Esta quinta bem-aventurança pode ser relacionada com a terceira: “Bem-aventurados os mansos...” (RA) ou “Felizes as pessoas humildes...” (BLH). O “manso” ou “humilde” também é “misericordioso”,
pois, admitindo os próprios pecados, tem misericórdia dos
outros, quando pecam.
2.
v.8
– Bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus.
Obviamente
Jesus estava falando de pureza interior, e esta afeta: 1) O comportamento moral. Veja a oração
de Davi depois de cometer adultério (Sl 51.4,6,7);
2) A prática religiosa. Veja o que Jesus disse aos lideres
religiosos de sua época, porque não eram puros
de coração. Mt 23.25-28. Isto é hipocrisia! 3)
Os
relacionamentos – O coração puro garante um
relacionamento confiável.
A relação
entre uma coisa e
outra está clara no Sl 24.3-5. Vivemos numa época em
que ser limpo de coração ou puro é
um desafio!
Qual é a
bênção referida nesta bem-aventurança? “... eles verão a Deus”. Deus é espírito e não pode ser visto (1Tm 1.7). Não obstante,
esta passagem garante que os crentes verdadeiros, os limpos
de coração,
“verão a Deus”. Como? Estas palavras têm duas explicações: 1ª) Desde já, subjetivamente, com
os olhos da fé
– Ef 1.17-18; e 2ª) No
futuro mediante uma compreensão mais aperfeiçoada
que teremos de Deus, em sua presença, nos céus – 1Co 13.12.[5]
3. v.9 – Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus.
[6]A sequência de
ideias – “os que têm o coração puro” e “os pacificadores” é natural, pois uma
das causas mais frequentes de conflito entre as pessoas é a falta de verdade,
de sinceridade, e transparência. O pacificador tem que atentar para três
coisas:
1ª) O
caráter pacificador é obra do Espírito Santo (Gl 5.22-23).
2ª) O
pacificador paga um preço alto para viver em paz com as pessoas. Deus pagou o
preço maior (Jo 3.16; 2Co 5.18-19). Não existe paz barata!
3ª) O
pacificador, mesmo pagando o preço, não terá paz com todos à sua volta (Rm
12.18).
Qual é a bênção referida nesta
bem-aventurança?
“... serão chamados filhos de Deus”. Ver
Mt 5.43-45. Deus, nosso Pai, é “Deus
da paz” (Rm 15.33). Seus filhos devem ser da paz também. Jesus foi e é
“Príncipe da Paz” (Is 9.6). Seus seguidores devem ser pacificadores como ele
foi. Um exemplo do espírito nada pacificador dos discípulos, no começo, e do
espírito pacificador de Jesus está em Lc
9.51-56.
4.
v.10-12
– Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque
deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e
perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim
perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Por mais que nos esforcemos por viver em
paz com as pessoas, sempre haverá os que se recusam a viver em paz conosco.
Alguns opõem-se a nós e nos perseguem. Fazem isso justamente porque somos
cristãos, porque somos diferentes, porque temos fome e sede de justiça ou de
fazer a vontade e Deus (v.10), ou simplesmente porque somos seguidores de Jesus
(v.11). Ver Jo 15.18-20.
Como devemos reagir? Com regozijo! (Mt
5.11-12). Jesus mencionou três razões para isto. E estas, juntas, são a bênção
relacionada com esta bem-aventurança. Os cristãos podem e devem regozijar-se
quando perseguidos por sua fé:
1ª) Porque “deles é o reino dos céus”. Isto
significa, primeiramente, que eles têm o privilégio de viver na esfera do
reino, conhecendo e obedecendo a vontade de Deus. E isto é bem-aventurança! É a
mesma bênção prometida aos “pobres de espírito”. Significa, também, que “uma
grande recompensa ou herança está guardada para eles, nos céus”.
2ª) Porque a perseguição acontece quando e
porque estamos fazendo a vontade de Deus e seguindo a Cristo (v.11). Os cristãos, às vezes, são
punidos ou perseguidos merecidamente, por agirem mal, e, todavia, atribuem tal
“perseguição” ao fato de serem crentes. Mas não é o caso. Ver 1Pe 2.12.
3ª) Porque a perseguição é um sinal de
genuinidade, um certificado de autenticidade cristã, “pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (v. 12b). Ver Lc 6.22-23 e 26, notando os termos “os profetas” e “os falsos
profetas”. O chamado Irmão André (conhecido como Contrabandista de Deus),
falando no Brasil sobre a Igreja Perseguida, nos antigos países comunistas,
manifestou sua estranheza ante o fato que, no Ocidente, a Igreja não é
perseguida, e citou 2Tm 3.12.
Essa perseguição é pela busca de ser um
cristão autêntico e procurar tomar as decisões baseados nos princípios
bíblicos. Contudo, precisamos perseverar e permanecer no propósito de ser um
filho de Deus. A perseguição irá acontecer, mas não devemos desistir. Felizes
são os que vivem desta maneira.
Concluindo
Nas bem-aventuranças, Jesus apresenta um
desafio fundamental ao mundo não-cristão e ao seu ponto de vista, e exige que
seus discípulos adotem o seu sistema de valores, totalmente diferente. Como
Thielicke disse, "qualquer pessoa
que entre em comunhão com Jesus tem de passar por uma reavaliação de valores".
Tal inversão dos valores humanos é básica
na religião bíblica. Os métodos do Deus das Escrituras parecem uma confusão
para os homens, pois exaltam o humilde e humilham o orgulhoso; chamam de
primeiros, os últimos, e de últimos, os primeiros; atribuem grandeza ao servo,
despedem o rico de mãos vazias e declaram que os mansos serão seus herdeiros. A
cultura do mundo e a contracultura de Cristo estão em total desarmonia uma com
a outra. Resumindo, Jesus parabeniza aqueles que o mundo mais despreza, e chama
de "bem-aventurados" aqueles que o mundo rejeita.[7]
Pr. Walter Almeida
Jr.
Limeira, 28/12/13.
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