Gálatas 4.1-11
No estudo anterior em Gálatas 3.1-29 com o tema: A justificação pela fé é suficiente para a
salvação, vimos os três argumentos paulinos para provar a suficiência da
justificação pela fé: 1º) O argumento da experiência pessoal dos
gálatas – vv.1-5; 2º) O
argumento do Antigo Testamento – vv.6-14;
e 3º) O argumento da Aliança e da Lei – vv.15-29.
Terminamos com três aplicações práticas: 1ª) As
promessas e alianças incondicionais feitas por Deus são irrevogáveis; 2º) A
lei nunca teve o poder de justificar o pecador, mas apenas de mostrar o seu
pecado e apontar para Cristo o único justificador capaz; e 3º) Em
Cristo somos todos herdeiros da promessa de Deus.
Hoje, em Gálatas
4.1-11, veremos que Paulo não muda sua defesa da justificação pela fé, ou
seja, ele dá “continuidade ao argumento básico de que a salvação não é obtida por
mérito humano, mas unicamente pela soberana graça de Deus por meio da fé”[1].
Paulo faz um contraste entre a condição do homem sob a
lei (vv.1-3) e a sua condição em
Cristo (vv.4-7), fundamentando nesse
contraste uma exortação quanto à vida cristã (vv.8-11).[2]
Timothy Keller diz que, se quisermos entender quem é o
cristão e porque ser cristão é um privilégio, temos de saber dar valor à adoção
divina. Por meio do Filho de Deus, tornamo-nos filhos de Deus por direito legal
(vv.4, 5), recebendo um novo status;
e, por meio do Espírito, tornamo-nos filhos de Deus por experiência (vv.6, 7).[3]
Nosso tema de hoje é: A condição do homem – sob a lei e em Cristo. O abordaremos em três
pontos: 1º) A condição do homem sob a lei e sob o mundo (escravizados) – judeus e gentios – vv.1-3; 2º) A condição do homem em Cristo – filhos de
Deus – tanto judeus como gentios – vv.4-7;
e 3º) Uma exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristã – vv.8-11.
I. A condição do homem sob a lei e sob o mundo
(escravizados) – judeus e gentios – vv.1-3
Paulo usa o seu conhecimento da lei romana para
mostrar a relação do homem com a lei mosaica, tanto judeus como gentios. Ele
usa a imagem da criança que herda uma grande propriedade. A criança romana que
herdava alguma coisa dependia de tutores até os 14 anos e, de certa forma,
continuava dependendo de administradores até os 25 anos. Só então o jovem podia
exercitar o controle completo e independente do seu patrimônio.[4]
Primeiro, Paulo fala da condição dos judeus que estão
debaixo da escravidão da lei. Ele argumenta que sob a lei, os judeus eram como
crianças ou servos (escravos), herdeiros menores que não podiam desfrutar da
herança[5]
– vv.1, 2.
Segundo, Paulo fala da condição dos gentios que são
escravos espirituais antes de se achegarem a Cristo (v.3). Em certo sentido, todos se encontram debaixo da lei, mesmo
que nunca tenham ouvido falar da Bíblia ou de Moisés. Por que? Porque todos
tentam desesperadamente viver à altura de determinados padrões. Todos são
ansiosos e vivem sobrecarregados de pelas preocupações da vida. O
relacionamento com o divino é distante e inexistente.[6]
Hernandes fala de três coisas no v.1: 1ª) v.1a – Herdeiro, porém não livre; 2ª) v.1b – Herdeiro, porém não dono de fato; 3ª) v.1c – Herdeiro, porém
não ainda.[7]
William Hendriksen diz que, assim como um menino
desprovido de maturidade deve ser governado por regras e prescrições, também
nós, antes que chegasse a luz do evangelho, estávamos escravizados aos
rudimentos do mundo.[8]
II. A
condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentios –
vv.4-7
A escravidão do pecado é o estado natural do ser
humano. Mas, na história e na experiência humana, Deus enviou seu Filho:
Primeiro – Deus enviou
seu Filho na plenitude dos tempos (v.4a)
– A vinda de Cristo ao mundo não foi casual. Ele veio na plenitude do tempo, o
tempo predeterminado pelo Pai (v.2).
Fritz Rienecker e Cleon Rogers enfatizam com razão: Deus preparou o mundo para
a vinda de seu Filho naquela data específica da história. Isso indica que Deus
é o Senhor da História e que age neste mundo para levar a cabo seus propósitos.
Adolf Pohl disse: Não foi o tempo que colocou Deus em movimento, para que os
povos estivessem maduros ou uma lei numérica se manifestasse, mas foi Deus quem
fez o tempo andar. Tudo foi planejado desde a eternidade. A vinda de Cristo ao
mundo fazia parte da agenda celeste, de um calendário estabelecido pelo próprio
Deus Pai, que marcava a conclusão da antiga era e a aurora da nova.[9]
Segundo – Deus enviou
seu filho nascido de mulher (v.4b)
– Isto é, um ser humano de verdade. “Precisava ser Deus para oferecer um
sacrifício perfeito e de valor infinito, e também precisava ser homem, para nos
representar. William Hendriksen esclarece que, para nos salvar, Jesus Cristo
precisava ter em uma só Pessoa tanto a natureza divina como a humana; a divina
para poder dar a seu sacrifício um valor infinito; e a humana, porque, já que
foi um homem, Adão, que pecou, um homem devia pagar pelo pecado e entregar sua
vida a Deus em perfeita obediência”[10].
Terceiro – Deus enviou
seu Filho nascido sob a lei (v.4c)
– Calvino disse: O Filho de Deus, que por direito era isento de toda sujeição,
tornou-se sujeito à lei. Por quê? Ele fez isso em nosso lugar, a fim de obter a
liberdade para nós. Um homem livre, ao constituir-se fiador, redime o escravo;
ao pôr em si mesmo as algemas, ele as tira do outro. De modo semelhante, Cristo
decidiu tornar-se obrigado a cumprir a lei, a fim de obter isenção para nós.[11]
Quarto – Deus enviou
seu Filho para remir (resgatar) os que estavam debaixo da lei (v.5a) – O nosso resgate foi o
propósito da vinda de Cristo ao mundo (1.4;
3.13; 4.5). Avinda de Cristo ao mundo foi uma missão resgate, o qual se deu
por meio de sua morte. O propósito de Deus de enviar seu Filho ao mundo foi não
apenas nos libertar do maior mal, mas também abençoar-nos com o maior bem. A palavra
“resgatar” significa libertar mediante um preço. O Filho de Deus, então, como
nosso fiador, representante e substituto, assumiu o nosso lugar, pagou o nosso
resgate com o seu sangue e nos livrou do cativeiro da lei e de sua maldição. A
redenção tem um aspecto duplo: a libertação da escravidão à lei e a libertação
para alguma coisa melhor – neste caso, para a filiação.[12]
A vinda do Filho de Deus produziu quatro gloriosos
resultados. Porque Jesus veio ao mundo, quatro coisas acontecem com os crentes:
1ª) Os crentes são adotados como filhos de Deus – v.5b; 2ª) Os crentes recebem o Espírito Santo – v.6a; 3ª) Os crentes recebem acesso
direto a Deus (intimidade) – v.6b;
e 4ª) Os crentes se tornam herdeiros de Deus – v.7.
III. Uma
exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristã – vv.8-11
1. vv.8-10 – John Stott sintetiza esse apelo de Paulo aos
gálatas: Se vocês eram escravos e agora
são filhos, se não conheciam a Deus, mas agora vieram a conhecê-lo e são
conhecidos dele, como podem retornar à antiga escravidão? Como podem deixar-se
escravizar pelos espíritos muito elementares dos quais Jesus Cristo os resgatou?
Warren Wiersbe diz que os gálatas largaram a escola da graça para se matricular
no jardim da infância da lei. Abriram mão da liberdade em troca da servidão.
Desistiram do poder do evangelho em troca da fraqueza da lei; abdicaram da
riqueza do evangelho em troca da pobreza da lei.[13]
2. v.11 – Paulo expressa aqui uma frustração sincera em
relação atitude dos gálatas. O abandono do verdadeiro evangelho por outro
evangelho (1.6) e o abandono da
liberdade da graça para a escravidão do legalismo (4.9) eram processos em andamento na igreja da Galácia. Paulo estava
vendo seu trabalho missionário ser esvaziado pela influência nociva dos falsos
mestres judaizantes; em vez de crescerem na liberdade com a qual Cristo os
libertara, os crentes deslizavam de volta à antiga escravidão, embora a vida
cristã seja a vida de filhos, e não de escravos; de liberdade, e não de
escravidão.[14]
Concluindo
Três
aplicações:
1)
Toda a pessoa
tem a liberdade de ter e mudar de religião.
2)
A doutrina da
adoção pela graça, nos coloca na posição de filhos de Deus.
3)
Se somos
filhos de Deus, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.
Três
perguntas para refletirmos:
1)
Será que uma
pessoa que conhece verdadeiramente a Cristo, o abandona?
2)
Qual a
importância de lembrarmos daquilo que éramos antes de conhecer a Jesus?
3)
Qual o futuro
dos filhos de Deus?
(Cf. Jo 6.66-71; Dt 15.15; 1Jo 3.1-3)
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 08/05/16
[1] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de
Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 53.
[2] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da Liberdade
Cristã, Editora Hagnos, 2011, p. 164, 165.
[3] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015,
p. 93.
[4] Keller, p. 100.
[5] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas &
Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 17.
[6] Keller, p. 101.
[7] Lopes, p. 167.
[8] Lopes, p. 168.
[9] Lopes, p. 170.
[11] Lopes, p. 172.
[12] Lopes, p. 173.
[13] Lopes, p. 176.
Nenhum comentário:
Postar um comentário