quinta-feira, 12 de maio de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (7) - A condição do homem – sob a lei e em Cristo

Gálatas 4.1-11

No estudo anterior em Gálatas 3.1-29 com o tema: A justificação pela fé é suficiente para a salvação, vimos os três argumentos paulinos para provar a suficiência da justificação pela fé: 1º) O argumento da experiência pessoal dos gálatasvv.1-5; 2º) O argumento do Antigo Testamento vv.6-14; e 3º) O argumento da Aliança e da Leivv.15-29.

Terminamos com três aplicações práticas: 1ª) As promessas e alianças incondicionais feitas por Deus são irrevogáveis; 2º) A lei nunca teve o poder de justificar o pecador, mas apenas de mostrar o seu pecado e apontar para Cristo o único justificador capaz; e 3º) Em Cristo somos todos herdeiros da promessa de Deus.

Hoje, em Gálatas 4.1-11, veremos que Paulo não muda sua defesa da justificação pela fé, ou seja, ele dá “continuidade ao argumento básico de que a salvação não é obtida por mérito humano, mas unicamente pela soberana graça de Deus por meio da fé”[1].

Paulo faz um contraste entre a condição do homem sob a lei (vv.1-3) e a sua condição em Cristo (vv.4-7), fundamentando nesse contraste uma exortação quanto à vida cristã (vv.8-11).[2]

Timothy Keller diz que, se quisermos entender quem é o cristão e porque ser cristão é um privilégio, temos de saber dar valor à adoção divina. Por meio do Filho de Deus, tornamo-nos filhos de Deus por direito legal (vv.4, 5), recebendo um novo status; e, por meio do Espírito, tornamo-nos filhos de Deus por experiência (vv.6, 7).[3]

Nosso tema de hoje é: A condição do homem – sob a lei e em Cristo. O abordaremos em três pontos: 1º) A condição do homem sob a lei e sob o mundo (escravizados)judeus e gentiosvv.1-3; 2º) A condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentiosvv.4-7; e 3º) Uma exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristãvv.8-11.

I.  A condição do homem sob a lei e sob o mundo (escravizados) – judeus e gentios – vv.1-3

Paulo usa o seu conhecimento da lei romana para mostrar a relação do homem com a lei mosaica, tanto judeus como gentios. Ele usa a imagem da criança que herda uma grande propriedade. A criança romana que herdava alguma coisa dependia de tutores até os 14 anos e, de certa forma, continuava dependendo de administradores até os 25 anos. Só então o jovem podia exercitar o controle completo e independente do seu patrimônio.[4]
Primeiro, Paulo fala da condição dos judeus que estão debaixo da escravidão da lei. Ele argumenta que sob a lei, os judeus eram como crianças ou servos (escravos), herdeiros menores que não podiam desfrutar da herança[5]vv.1, 2.

Segundo, Paulo fala da condição dos gentios que são escravos espirituais antes de se achegarem a Cristo (v.3). Em certo sentido, todos se encontram debaixo da lei, mesmo que nunca tenham ouvido falar da Bíblia ou de Moisés. Por que? Porque todos tentam desesperadamente viver à altura de determinados padrões. Todos são ansiosos e vivem sobrecarregados de pelas preocupações da vida. O relacionamento com o divino é distante e inexistente.[6]

Hernandes fala de três coisas no v.1: 1ª) v.1aHerdeiro, porém não livre; 2ª) v.1bHerdeiro, porém não dono de fato; 3ª) v.1cHerdeiro, porém não ainda.[7]

William Hendriksen diz que, assim como um menino desprovido de maturidade deve ser governado por regras e prescrições, também nós, antes que chegasse a luz do evangelho, estávamos escravizados aos rudimentos do mundo.[8]

II. A condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentios – vv.4-7

A escravidão do pecado é o estado natural do ser humano. Mas, na história e na experiência humana, Deus enviou seu Filho:

PrimeiroDeus enviou seu Filho na plenitude dos tempos (v.4a) – A vinda de Cristo ao mundo não foi casual. Ele veio na plenitude do tempo, o tempo predeterminado pelo Pai (v.2). Fritz Rienecker e Cleon Rogers enfatizam com razão: Deus preparou o mundo para a vinda de seu Filho naquela data específica da história. Isso indica que Deus é o Senhor da História e que age neste mundo para levar a cabo seus propósitos. Adolf Pohl disse: Não foi o tempo que colocou Deus em movimento, para que os povos estivessem maduros ou uma lei numérica se manifestasse, mas foi Deus quem fez o tempo andar. Tudo foi planejado desde a eternidade. A vinda de Cristo ao mundo fazia parte da agenda celeste, de um calendário estabelecido pelo próprio Deus Pai, que marcava a conclusão da antiga era e a aurora da nova.[9]

SegundoDeus enviou seu filho nascido de mulher (v.4b) – Isto é, um ser humano de verdade. “Precisava ser Deus para oferecer um sacrifício perfeito e de valor infinito, e também precisava ser homem, para nos representar. William Hendriksen esclarece que, para nos salvar, Jesus Cristo precisava ter em uma só Pessoa tanto a natureza divina como a humana; a divina para poder dar a seu sacrifício um valor infinito; e a humana, porque, já que foi um homem, Adão, que pecou, um homem devia pagar pelo pecado e entregar sua vida a Deus em perfeita obediência”[10].
TerceiroDeus enviou seu Filho nascido sob a lei (v.4c) – Calvino disse: O Filho de Deus, que por direito era isento de toda sujeição, tornou-se sujeito à lei. Por quê? Ele fez isso em nosso lugar, a fim de obter a liberdade para nós. Um homem livre, ao constituir-se fiador, redime o escravo; ao pôr em si mesmo as algemas, ele as tira do outro. De modo semelhante, Cristo decidiu tornar-se obrigado a cumprir a lei, a fim de obter isenção para nós.[11]

QuartoDeus enviou seu Filho para remir (resgatar) os que estavam debaixo da lei (v.5a) – O nosso resgate foi o propósito da vinda de Cristo ao mundo (1.4; 3.13; 4.5). Avinda de Cristo ao mundo foi uma missão resgate, o qual se deu por meio de sua morte. O propósito de Deus de enviar seu Filho ao mundo foi não apenas nos libertar do maior mal, mas também abençoar-nos com o maior bem. A palavra “resgatar” significa libertar mediante um preço. O Filho de Deus, então, como nosso fiador, representante e substituto, assumiu o nosso lugar, pagou o nosso resgate com o seu sangue e nos livrou do cativeiro da lei e de sua maldição. A redenção tem um aspecto duplo: a libertação da escravidão à lei e a libertação para alguma coisa melhor – neste caso, para a filiação.[12]

A vinda do Filho de Deus produziu quatro gloriosos resultados. Porque Jesus veio ao mundo, quatro coisas acontecem com os crentes: 1ª) Os crentes são adotados como filhos de Deusv.5b; 2ª) Os crentes recebem o Espírito Santov.6a; 3ª) Os crentes recebem acesso direto a Deus (intimidade)v.6b; e 4ª) Os crentes se tornam herdeiros de Deusv.7.

III. Uma exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristã – vv.8-11

1. vv.8-10 – John Stott sintetiza esse apelo de Paulo aos gálatas: Se vocês eram escravos e agora são filhos, se não conheciam a Deus, mas agora vieram a conhecê-lo e são conhecidos dele, como podem retornar à antiga escravidão? Como podem deixar-se escravizar pelos espíritos muito elementares dos quais Jesus Cristo os resgatou? Warren Wiersbe diz que os gálatas largaram a escola da graça para se matricular no jardim da infância da lei. Abriram mão da liberdade em troca da servidão. Desistiram do poder do evangelho em troca da fraqueza da lei; abdicaram da riqueza do evangelho em troca da pobreza da lei.[13]

2. v.11 – Paulo expressa aqui uma frustração sincera em relação atitude dos gálatas. O abandono do verdadeiro evangelho por outro evangelho (1.6) e o abandono da liberdade da graça para a escravidão do legalismo (4.9) eram processos em andamento na igreja da Galácia. Paulo estava vendo seu trabalho missionário ser esvaziado pela influência nociva dos falsos mestres judaizantes; em vez de crescerem na liberdade com a qual Cristo os libertara, os crentes deslizavam de volta à antiga escravidão, embora a vida cristã seja a vida de filhos, e não de escravos; de liberdade, e não de escravidão.[14]

Concluindo

Três aplicações:

1)   Toda a pessoa tem a liberdade de ter e mudar de religião.
2)   A doutrina da adoção pela graça, nos coloca na posição de filhos de Deus.
3)   Se somos filhos de Deus, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.

Três perguntas para refletirmos:

1)   Será que uma pessoa que conhece verdadeiramente a Cristo, o abandona?
2)   Qual a importância de lembrarmos daquilo que éramos antes de conhecer a Jesus?
3)   Qual o futuro dos filhos de Deus?

(Cf. Jo 6.66-71; Dt 15.15; 1Jo 3.1-3)


Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 08/05/16



[1] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 53.
[2] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da Liberdade Cristã, Editora Hagnos, 2011, p. 164, 165.
[3] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015, p. 93.
[4] Keller, p. 100.
[5] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas & Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 17.
[6] Keller, p. 101.
[7] Lopes, p. 167.
[8] Lopes, p. 168.
[9] Lopes, p. 170.
[10] Lopes, p. 171.
[11] Lopes, p. 172.
[12] Lopes, p. 173.
[13] Lopes, p. 176.
[14] Lopes, p. 179.

Nenhum comentário:

Postar um comentário