domingo, 15 de maio de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (8) - O ministério do evangelho da graça

Gálatas 4.12-20

No estudo anterior em Gálatas 4.1-11 com o tema: A condição do homem – sob a lei e em Cristo. Abordamos o assunto em três pontos: 1º) A condição do homem sob a lei e sob o mundo (escravizados)judeus e gentiosvv.1-3; 2º) A condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentiosvv.4-7; e 3º) Uma exortação aos filhos de Deus quanto a vida cristãvv.8-11.

Terminamos com três aplicações práticas: 1ª) Toda a pessoa tem a liberdade de ter e mudar de religião; 2ª) A doutrina da adoção pela graça, nos coloca na posição de filhos de Deus; e 3ª) Se somos filhos de Deus, somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.

Hoje, em Gálatas 4.12-20, veremos que Paulo se volta para o passado, para o tempo em que seu ministério do evangelho florescia na Galácia e o relacionamento entre ele o os novos irmãos dali era sadio. Portanto, há princípios sobre o ministério do evangelho e os relacionamentos, aqui, para aprendermos.

William Hendriksen considera essa uma das passagens mais emocionantes de todas as epístolas de Paulo. John Stott diz que em Gálatas 1-3 vemos Paulo, o apóstolo, o teólogo, o defensor da fé; agora vemos Paulo, o homem, o pastor, o apaixonado das almas. Warren Wiersbe realça que Paulo equilibra aqui repreensão e amor, passando das “palmadas” para os “abraços”. Para William Barclay, Paulo usa aqui o argumento do coração em vez de usar o argumento do intelecto.[1]

A passagem nos mostra um relacionamento cada vez mais profundo, um amor cada vez mais acendrado. Todo esse parágrafo enfatiza relacionamentos. Nos versículos 12 a 16 Paulo enfatiza a atitude dos gálatas para com ele, e nos versículos 17 a 20 sua própria atitude para com eles.[2]

Na verdade, até este ponto, a abordagem de Paulo foi impessoal e de confronto. Ele escreveu como um estudioso ou orador, utilizando argumentos e ilustrações para tornar sua mensagem compreensiva. Ele fez uso tanto da própria experiência como da dos gálatas para reforçar seu ensino. A abordagem do apóstolo muda dramaticamente em 4.12, passando da forma puramente doutrinária para a mais pessoal. De fato, nos versículos 12 a 20, Paulo faz uso de palavras mais fortes de afeição pessoal, se comparadas com as utilizadas em suas outras cartas.[3]

Timothy Keller vê três coisas nos vv.12, 13, sobre o ministério do evangelho: 1ª) O ministério do evangelho é culturalmente flexível; 2ª) O ministério do evangelho é transparente; e 3ª) O ministério do evangelho procura oportunidades na adversidade.[4]

vv.13 e 14 – Hernandes Dias Lopes fala de duas verdades que merecem destaque:

1ª) Paulo estava enfermo, porém não inativov.13. A enfermidade de Paulo enfraquecia seu corpo e doía em sua carne, mas não paralisava seus pés nem fechava seus lábios. A doença de Paulo não o tornou inativo; apenas mais quebrantado e dependente da graça. E provável que essa doença seja o mesmo espinho na carne mencionado em 2Coríntios 12.7. Possivelmente a enfermidade de Paulo era um problema de oftalmia, ou seja, um problema de visão.[5] (cf. At 9.8, 9, 17, 18; Gl 4.15; 6.11; At 23.1-5)

2ª) Paula estava enfermo, porém não rejeitadov.14. A doença de Paulo não foi um impedimento para o apóstolo nem uma barreira para as igrejas da Galácia. Estes, ao contrário, acolheram-no como um enviado de Deus, como um anjo de Deus, como um embaixador em nome de Cristo, como se fosse o próprio Cristo. Warren Wiersbe corretamente diz que é maravilhoso quando as pessoas aceitam os servos de Deus não em função de sua aparência exterior, mas sim porque são representantes do Senhor e trazem consigo a mensagem dele.[6]

vv.14b, 15 – Duas atitudes marcaram os crentes da Galácia nessa acolhida a Paulo, quando ele lhes pregou o evangelho pela primeira vez: Em primeiro lugar, Paulo foi recebido com honrav.14b; e em segundo lugar, Paulo foi recebido com empatia – v.15.

vv.16-18 – Dois pontos em destaque na rejeição de Paulo pelos gálatas:

1º) Paulo é considerado inimigo por causa da verdadev.16. A verdade que fere a consciência é o remédio que traz cura, mas o bálsamo da mentira é o veneno que mata. João Calvino diz que a verdade nunca é detestável, exceto em face da perversidade e malícia daqueles que não suportam ouvi-la. O ódio pela verdade transforma amigos em inimigos.[7]

2º) Paulo é abandonado por causa dos falsos mestresvv.17, 18. O propósito desses falsos mestres era afastar os crentes de Paulo e consequentemente da verdade do evangelho. Eles queriam que os crentes fossem fiéis a eles, e não a Cristo. Calvino diz que esse é o estratagema comum a todos os ministros de Satanás. Ao produzirem nas pessoas um desgosto por seu pastor, esperam, depois, atraí-las para si mesmos.[8]

vv.19, 20 – Quatro verdades podemos aprender aqui, com Paulo, sobre o ministério:

1ª) Um pastor deve aprofundar seus relacionamentos com os irmãosv.19a. Paulo, num tom pastoral, cheio de ternura, os chama de irmãos (v.12), filhos (v.19) e apresenta-se a eles como uma mãe (v.19). William Barclay diz que ninguém pode deixar de ver o profundo afeto dessas palavras: “Meus filhos”.[9]
2ª) Um pastor deve gerar filhos espirituaisv.19b. Paulo agoniza pelos crentes da Galácia até o fim, comparando seu sofrimento às dores de parto.[10]

3ª) Um pastor deve buscar a maturidade dos crentesv.19c. Paulo não se satisfaz em que Cristo habite neles; anseia ver Cristo formado neles e vê-los transformados à imagem de Cristo. Portanto, qualquer sistema religioso que não produza o caráter de Cristo na vida de seus adeptos não é totalmente cristão.[11]

4ª) Um pastor deve se preocupar com a imaturidade dos crentesv.20. Paulo não pode entender como eles saíram da escravidão dos deuses falsos para outra escravidão, a escravidão do legalismo judaico. Não consegue entender como eles deixaram a verdade para abraçar a mentira; como abandonaram seu pastor para dar guarida às bajulações dos falsos mestres. Calvino diz que, se os ministros do evangelho querem fazer alguma coisa, devem esforçar-se para formar a Cristo, e não eles próprios, em seus ouvintes.[12]

Concluindo

Paulo colocou seu ministério em risco ao falar a verdade aos gálatas sobre a justificação pela fé somente e sobre o engano do ensino dos judaizantes. Mas, para ele valeria a pena isso, pois seu objetivo era que Cristo seja formado em vós (v.19).

E nós, o que estamos dispostos a fazer pelo ministério do evangelho da graça de Deus?

Pr. Walter Almeida Jr.



[1] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade, Editora Hagnos, p. 183, 184.
[2] Lopes, p. 184.
[3] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 61.
[4] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015, p. 115, 116.
[5] Lopes, p. 187.
[6] Lopes, p. 188, 189.
[7] Lopes, p. 190.
[8] Lopes, p. 191.
[9] Lopes, p. 192.
[10] Lopes, p. 193.
[11] Lopes, p. 193, 194.
[12] Lopes, p. 195.

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