Gálatas 4.12-20
No estudo anterior em Gálatas 4.1-11 com o tema: A condição do homem – sob a lei e em Cristo.
Abordamos o assunto em três pontos: 1º)
A condição do homem sob a lei e sob o
mundo (escravizados) – judeus e
gentios – vv.1-3; 2º) A
condição do homem em Cristo – filhos de Deus – tanto judeus como gentios – vv.4-7; e 3º) Uma exortação aos filhos
de Deus quanto a vida cristã – vv.8-11.
Terminamos com três aplicações práticas: 1ª) Toda
a pessoa tem a liberdade de ter e mudar de religião; 2ª) A doutrina da adoção pela
graça, nos coloca na posição de filhos de Deus; e 3ª) Se somos filhos de Deus,
somos também herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo.
Hoje, em Gálatas
4.12-20, veremos que Paulo se volta para o passado, para o tempo em que seu
ministério do evangelho florescia na Galácia e o relacionamento entre ele o os
novos irmãos dali era sadio. Portanto, há princípios sobre o ministério do
evangelho e os relacionamentos, aqui, para aprendermos.
William Hendriksen considera essa uma das passagens
mais emocionantes de todas as epístolas de Paulo. John Stott diz que em Gálatas
1-3 vemos Paulo, o apóstolo, o teólogo, o defensor da fé; agora vemos Paulo, o
homem, o pastor, o apaixonado das almas. Warren Wiersbe realça que Paulo
equilibra aqui repreensão e amor, passando das “palmadas” para os “abraços”. Para
William Barclay, Paulo usa aqui o argumento do coração em vez de usar o
argumento do intelecto.[1]
A passagem nos mostra um relacionamento cada vez mais
profundo, um amor cada vez mais acendrado. Todo esse parágrafo enfatiza relacionamentos.
Nos versículos 12 a 16 Paulo enfatiza a atitude dos gálatas para com ele, e nos
versículos 17 a 20 sua própria atitude para com eles.[2]
Na verdade, até este ponto, a abordagem de Paulo foi
impessoal e de confronto. Ele escreveu como um estudioso ou orador, utilizando
argumentos e ilustrações para tornar sua mensagem compreensiva. Ele fez uso
tanto da própria experiência como da dos gálatas para reforçar seu ensino. A
abordagem do apóstolo muda dramaticamente em 4.12, passando da forma puramente
doutrinária para a mais pessoal. De fato, nos versículos 12 a 20, Paulo faz uso
de palavras mais fortes de afeição pessoal, se comparadas com as utilizadas em
suas outras cartas.[3]
Timothy Keller vê três coisas nos vv.12, 13, sobre o ministério do evangelho: 1ª) O ministério do evangelho
é culturalmente flexível; 2ª) O ministério do evangelho é transparente;
e 3ª) O ministério do evangelho procura oportunidades na adversidade.[4]
vv.13 e 14 – Hernandes Dias Lopes fala de duas verdades que
merecem destaque:
1ª) Paulo estava
enfermo, porém não inativo – v.13.
A enfermidade de Paulo enfraquecia seu corpo e doía em sua carne, mas não
paralisava seus pés nem fechava seus lábios. A doença de Paulo não o tornou
inativo; apenas mais quebrantado e dependente da graça. E provável que essa
doença seja o mesmo espinho na carne mencionado em 2Coríntios 12.7. Possivelmente a enfermidade de Paulo era um
problema de oftalmia, ou seja, um problema de visão.[5]
(cf. At 9.8, 9, 17, 18; Gl 4.15; 6.11;
At 23.1-5)
2ª) Paula estava enfermo,
porém não rejeitado – v.14. A
doença de Paulo não foi um impedimento para o apóstolo nem uma barreira para as
igrejas da Galácia. Estes, ao contrário, acolheram-no como um enviado de Deus,
como um anjo de Deus, como um embaixador em nome de Cristo, como se fosse o
próprio Cristo. Warren Wiersbe corretamente diz que é maravilhoso quando as
pessoas aceitam os servos de Deus não em função de sua aparência exterior, mas
sim porque são representantes do Senhor e trazem consigo a mensagem dele.[6]
vv.14b, 15 – Duas atitudes marcaram os crentes da Galácia nessa
acolhida a Paulo, quando ele lhes pregou o evangelho pela primeira vez: Em primeiro lugar, Paulo foi recebido com honra – v.14b;
e em segundo lugar, Paulo foi recebido com empatia – v.15.
vv.16-18 – Dois pontos em destaque na rejeição de Paulo pelos
gálatas:
1º) Paulo é
considerado inimigo por causa da verdade – v.16. A verdade que fere a consciência é o remédio que traz cura,
mas o bálsamo da mentira é o veneno que mata. João Calvino diz que a verdade
nunca é detestável, exceto em face da perversidade e malícia daqueles que não
suportam ouvi-la. O ódio pela verdade transforma amigos em inimigos.[7]
2º) Paulo é
abandonado por causa dos falsos mestres – vv.17, 18. O propósito desses falsos mestres era afastar os crentes
de Paulo e consequentemente da verdade do evangelho. Eles queriam que os
crentes fossem fiéis a eles, e não a Cristo. Calvino diz que esse é o
estratagema comum a todos os ministros de Satanás. Ao produzirem nas pessoas um
desgosto por seu pastor, esperam, depois, atraí-las para si mesmos.[8]
vv.19, 20 – Quatro verdades podemos aprender aqui, com Paulo,
sobre o ministério:
1ª) Um pastor deve
aprofundar seus relacionamentos com os irmãos – v.19a. Paulo, num tom pastoral, cheio de ternura, os chama de
irmãos (v.12), filhos (v.19) e apresenta-se a eles como uma
mãe (v.19). William Barclay diz que
ninguém pode deixar de ver o profundo afeto dessas palavras: “Meus filhos”.[9]
2ª) Um pastor deve
gerar filhos espirituais – v.19b.
Paulo agoniza pelos crentes da Galácia até o fim, comparando seu sofrimento às
dores de parto.[10]
3ª) Um pastor deve
buscar a maturidade dos crentes – v.19c.
Paulo não se satisfaz em que Cristo habite neles; anseia ver Cristo formado
neles e vê-los transformados à imagem de Cristo. Portanto, qualquer sistema
religioso que não produza o caráter de Cristo na vida de seus adeptos não é
totalmente cristão.[11]
4ª) Um pastor deve
se preocupar com a imaturidade dos crentes – v.20. Paulo não pode entender como eles saíram da escravidão dos
deuses falsos para outra escravidão, a escravidão do legalismo judaico. Não
consegue entender como eles deixaram a verdade para abraçar a mentira; como
abandonaram seu pastor para dar guarida às bajulações dos falsos mestres. Calvino
diz que, se os ministros do evangelho querem fazer alguma coisa, devem
esforçar-se para formar a Cristo, e não eles próprios, em seus ouvintes.[12]
Concluindo
Paulo colocou seu ministério em risco ao falar a
verdade aos gálatas sobre a justificação pela fé somente e sobre o engano do
ensino dos judaizantes. Mas, para ele valeria a pena isso, pois seu objetivo
era que Cristo seja
formado em vós (v.19).
E nós, o que estamos dispostos a fazer pelo
ministério do evangelho da graça de Deus?
Pr. Walter Almeida Jr.
[1] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da liberdade,
Editora Hagnos, p. 183, 184.
[2] Lopes, p. 184.
[3] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de
Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 61.
[4] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015,
p. 115, 116.
[5] Lopes, p. 187.
[7] Lopes, p. 190.
[8] Lopes, p. 191.
[9] Lopes, p. 192.
[10] Lopes, p. 193.
[11] Lopes, p. 193, 194.
Nenhum comentário:
Postar um comentário