sábado, 30 de abril de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (6) - A justificação pela fé é suficiente para a salvação (3)

Gálatas 3.1-29 (vv.15-29)

III. O argumento da Promessa (Aliança) e da Lei – vv.15-29

Os falsos mestres que estavam pervertendo o Evangelho em Gálatas, aos quais Paulo estava combatendo, não aceitavam o princípio de sola fides (justificação somente pela fé). Insistiam em que o homem precisava contribuir com sua salvação. Consequentemente, acrescentavam à fé as obras da lei como outro fundamento essencial para o indivíduo ser aceito por Deus.[1]

Mas, como diz John Stott, não podemos colocar Abraão e Moisés um contra o outro, nem a promessa e a lei, uma contra a outra, como se tivéssemos de rejeitar uma para aceitar a outra. Se Deus é o autor de ambas, deve ter tido algum propósito para elas. Qual é, então, a relação entre a promessa e a lei? Nos versículos 15 a 18 Paulo diz que a lei não anulou a promessa e nos versículos 19 a 22 diz que a lei iluminou a promessa. Nos versículos 23 e 24 Paulo descreve o que éramos sob a lei, e nos versículos 25 a 29, o que somos em Cristo. A lei não nos salva, mas nos toma pela mão e nos leva a Cristo, o Salvador.[2]

Na verdade, não há questão mais prática do que essa do relacionamento do cristão com a lei de Deus.[3] Portanto, o terceiro argumento paulino para convencer os irmãos da Galácia a não abandonar o evangelho da graça de Deus, envolve a promessa e a lei.

Temos aqui quatro verdades essências nos argumentos de Paulo:[4]

1º) A lei não anula a promessa – Isso por pelo menos quatro razões:

() Qualquer aliança feita é irrevogável legalmentev.15. Calvino diz: “Se os contratos humanos são tidos como obrigatórios, quanto mais obrigatória é a aliança que Deus estabeleceu”. Ora, se o testamento de um homem não pode ser alterado nem modificado, muito menos as promessas de Deus, que são imutáveis[5].

() Deus fez a promessa a Abração e a seu descendentev.16. Convém observar que não foi Abraão quem fez uma aliança com Deus; antes, foi Deus quem fez uma aliança com Abraão, uma aliança de graça. A aliança repousa exclusivamente em Cristo. Se Cristo é o fundamento da aliança, segue-se que esta é gratuita. A lei tomava em consideração os homens e as suas obras; enquanto a promessa leva em conta a graça de Deus e a fé[6] (cf. Rm 4.13, 14).

() Deus fez a aliança da fé antes de dar a leiv.17. A promessa de fé precede o pacto da lei. Abraão foi justificado pela fé mais de quatro séculos antes de a lei ser dada. A aliança da fé tem suas raízes na eternidade, uma vez que antes de ela ter sido dada a Abraão no tempo, foi dada a Cristo na eternidade. Porque a promessa da justificação pela fé veio antes da lei, ela não pode ser ab-rogada pela lei. Warren Wiersbe ressalta que, em virtude de Deus ter feito sua promessa pactuai com Abraão por meio de Cristo, nem mesmo Moisés pode mudar essa aliança. Não se pode acrescentar coisa alguma a ela nem tirar coisa alguma dela[7].

() Deus concedeu a herança, gratuitamente, pela promessa e não pela leiv.18. A herança concedida a Abraão foi a justificação, e ele não foi justificado pela lei, mas pela fé, e isso, gratuitamente. Abraão não mereceu nem conquistou essa herança; ele a recebeu gratuitamente pela fé. William Hendriksen está absolutamente correto quando diz que a salvação é um dom gratuito de Deus, e não uma conquista do homem[8] (cf. Rm 6.23; Ef 2.8-10).

2º) A lei não é maior que a promessaela simplesmente revela o pecadovv.19-21.

A lei mostra ao pecador o seu pecado e o motiva a buscar a graça de Deus que está em Jesus Cristo. Temos aqui, duas lições importantes: () A lei foi temporária até que Jesus Cristo viesse; e () A lei exigiu um mediador (cf. At 7.53 – os anjos e Moisés). Na aliança feita com Abraão o próprio Deus, em Cristo, entrou na aliança como mediador (cf. 2Tm 2.15; Hb 8.6; 9.15; 12.24).

William Barclay diz que vemos aqui, ao mesmo tempo, a força e a debilidade da lei. Sua força está em que ela define o pecado; sua debilidade em que ela nada pode fazer para remediá-lo. A lei é como um espelho que mostra a sujeira do nosso rosto, mas não a remove. A lei é como um prumo que mostra a sinuosidade da nossa vida, mas não a endireita. A lei é como uma luz que mostra o obstáculo do caminho, mas não o remove. A lei é como uma tomografia computadorizada que mostra os tumores escondidos em nossas entranhas, mas não é o bisturi que os cirurgia. A lei torna o homem consciente do seu pecado e de sua condenação. Como diz John Stott, a função da lei não é conceder a salvação, mas convencer os homens de sua necessidade.[9]

3º) A lei serviu como prisão (sob custódia) e como aio (pedagogo, guia, auxiliar) para levar a Jesus Cristovv.23-25.

Antes de a fé vir, ou seja, antes de Cristo morrer pelos nossos pecados, os homens eram prisioneiros sob a lei. O termo grego phroureo, sob tutela, significa sob custódia, guardado em prisão. Essa palavra significa proteger com guardas militares. Quando aplicada a uma cidade, era usada tanto no sentido de manter o inimigo fora como de guardar os habitantes dentro, para não fugirem ou desertarem. A lei nos mantinha na prisão, confinados e prisioneiros. A lei mostra o homem exatamente onde ele caiu. Acusa-o e condena-o. A lei não tem nenhum poder para tirar esse homem da prisão nem para lhe dar vida. A única esperança do pecador é surgir alguém para libertá-lo da prisão. Foi isso que Cristo fez![10]

A palavra grega paidagogos significa literalmente tutor, guia, guardião de crianças. O paidagogos era um disciplinador severo, contratado para realizar um serviço, com o menino tendo de lhe obedecer. William Barclay esclarece que o paidagogos também tinha a obrigação de cuidar para que o menino não caísse nas tentações ou nos perigos da vida e adquirisse as qualidades essenciais de um homem.[11]

Vale ressaltar que o aio não era o pai da criança. Seu trabalho era preparar essa criança para a maturidade. Quando a criança a atingisse, a função do aio deixaria de ser necessária. Da mesma forma, a lei foi uma preparação para a chegada de Cristo. O papel da lei é levar o homem a Cristo, o verdadeiro Mestre, o único que pode libertar, perdoar e salvar. O papel da lei é levar os homens a Cristo, a fim de que sejam justificados por fé; mas, tendo vindo a fé, já não permanecem mais subordinados ao aio. A lei é o aio, o pedagogo ou o guardião que prepara o homem para ver sua necessidade de Cristo e o conduz a Cristo. Em outras palavras, a lei era uma preparação para Cristo, e a lei era temporária.[12]

4º) A lei não pode fazer o que a promessa fazo cumprimento da promessa nos uniu a Cristovv.26-29. Paulo conclui sua argumentação da superioridade da promessa sobre a lei, mostrando quatro coisas que a promessa nos dá e que a lei não nos pode dar: () Ser filho de Deus pela fé em Cristov.26; () Ser revestido por Cristo, isto é, receber o caráter, a mente e o poder dele para testemunharv.27 (cf. Lc 24.49; 1Co 2.16; Ef 4.22-31); () Ser um em Cristo com todos os crentes, isto, a fé em Cristo elimina todas as distinções e preconceitosv.28 (cf. At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.25; Tg 2.1, 9; 1Pe 1.17); () Ser herdeiro da promessa – v.29. Essa promessa fala da herança da justificação, da salvação e da bem-aventurança eterna[13] (cf. Rm 8.15-17).

Concluindo

Três aplicações práticas:

Aprendemos que: 1ª) As promessas e alianças incondicionais feitas por Deus são irrevogáveis; 2º) A lei nunca teve o poder de justificar o pecador, mas apenas de mostrar o seu pecado e apontar para Cristo o único justificador capaz; e 3º) Em Cristo somos todos herdeiros da promessa de Deus.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 30/04/16


[1] Lopes, p. 147.
[2] Lopes, p. 148.
[3] Keller, p. 80.
[4] Casimiro, p. 15, 16. Aqui uso os pontos principais do comentário da 3ª lição nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos julgados necessários.
[5] Lopes, p. 149.
[6] Lopes, p. 150.
[7] Lopes, p. 151.
[8] Lopes, p. 151.
[9] Lopes, p. 151, 152.
[10] Lopes, p. 157.
[11] Lopes, p. 158, 159.
[12] Lopes, p. 159.
[13] Lopes, p. 161.


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