II. O
argumento do Antigo Testamento – vv.6-14
O apóstolo Paulo faz uma transição da experiência dos
crentes da Galácia para as Escrituras. Ele tira os olhos do presente e volta-os
para o passado. Equilibra a experiência subjetiva dos cristãos da Galácia com o
ensinamento objetivo da Palavra inalterável de Deus. Vale ressaltar que não
julgamos as Escrituras pela nossa experiência, mas testamos nossas experiências
pelas Escrituras. Paulo passa a citar várias passagens do Antigo Testamento
para provar que a salvação é pela fé em Cristo, não pelas obras da lei.[1]
Portanto, após argumentar sobre a experiência
espiritual dos gálatas, Paulo utiliza argumentos do Antigo Testamento para
fundamentar que a justificação pela fé, é a única maneira de Deus abençoar o
homem.[2]
Seus argumentos são:
1. Abração
foi abençoado com a salvação pela fé – v.6.
Warren Wiersbe argumenta que Paulo começa citando
Moisés para mostrar que a justiça de Deus foi “depositada na conta” de Abraão
somente por sua crença na promessa de Deus (Gn 15.6). O termo “imputado”, em Gálatas 3.6 e Gênesis 15.6, tem o
mesmo significado de Romanos 4.11, 22-24.
A palavra grega significa “creditar na conta de alguém”. Quando um pecador crê
em Cristo, a justiça de Deus é creditada em sua conta. Mais do que isso, os
pecados dessa pessoa deixam de ser registrados nessa conta (Rm 4.1-8; 2Co 5.21). Assim, diante de
Deus o histórico está sempre limpo e, portanto, o que creu não pode jamais ser
julgado por seus pecados.[3]
Assim, quem salvou Abraão foi Cristo que veio da linhagem de Abraão (Gl 3.15, 16).
Abraão é o pai da nação judaica e também o pai dos
crentes. Ele foi justificado muito antes de a lei ser dada. Ele foi justificado
pela fé, e não pelas obras da lei. Se o pai dos crentes foi justificado pela
fé, por que seus filhos seriam justificados pelas obras da lei?
Aqui Paulo está citando Gênesis 12.3; Gn 22.17,18; At 3.25. Convém examinarmos que bênção
era essa e como todas as nações viriam a herdá-la. A bênção é a justificação, a
maior de todas as bênçãos, pois os verbos justificar
e abençoar são usados como
equivalentes no v.8. E o meio pelo
qual a bênção seria herdada é a fé. Sendo assim, os gálatas já eram filhos de
Abraão, não pela circuncisão, mas pela fé.
A salvação do começo ao fim se manteve sempre do mesmo
jeito. Sempre foi pela fé e jamais pelas obras. Tanto os judeus como os gentios
são salvos da mesma maneira. Ambos são salvos pela fé. Por isso, Deus
preanunciou o evangelho a Abraão e nele abençoou todos os povos, de tal modo
que os da fé são abençoados com o crente Abraão. Os filhos de Abraão não são
aqueles que têm o sangue judeu correndo em suas veias, mas os que têm a fé de
Abraão habitando em seu coração.
A lógica de Paulo é irresistível: Quem transgride o
menor dos mandamentos da lei é maldito. Todos são culpados dessa transgressão.
Logo, todos são malditos. Calvino é claro em afirmar que a lei justifica aquele
que cumpre todos os seus mandamentos, enquanto a fé justifica aqueles que são
destituídos do mérito das obras e confiam exclusivamente em Cristo.
Hernandes Dias Lopes,
destaca três pontos importantes aqui:
1º) A lei
impõe maldição (v.10). Aqueles que buscam a justificação pelas obras da lei estão
debaixo de maldição, pois é essa a sentença que a lei impõe para aqueles que
não permanecem em perfeita obediência aos seus preceitos. Paulo diz que só há
dois caminhos pelos quais o homem pode ser salvo: o caminho da lei e o caminho
da fé. O caminho da lei está baseado nas obras do homem e exige perfeição; como
o homem não é perfeito, a lei o coloca debaixo de maldição. O caminho da fé
descansa nas obras de Cristo e, porque ele é perfeito e realizou obras
perfeitas, podemos ser salvos pela fé.
2º) A lei
produz frustração (v.11). A lógica de Paulo é irrefutável:
“E evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo
viverá pela fé” (ARA). Aqueles que buscam a salvação pelas obras da lei não têm
esperança. Já entram nessa corrida derrotados. Ninguém, jamais, conseguiu
alcançar o padrão exigido pela lei. Por isso, ninguém é justificado diante de
Deus pela lei. Ela só pode gerar frustração. Concordo com William Barclay,
quando ele diz que o caminho da lei e o da fé são totalmente antitéticos; não
se pode dirigir a vida por ambos ao mesmo tempo; uma escolha é imperativa e
necessária. A única escolha lógica e sensata é abandonar a vida do legalismo e
entrar pelo caminho da fé. O v.11 é
uma citação de Habacuque 2.4,
repetida por Paulo em Romanos 1.17. William
Hendriksen explica que depender da lei significa depender de si mesmo. Exercer
a fé significa depender de Cristo.
3º) A lei
exige perfeição (v.12). A lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom (Rm 7.12). Aquele que observar os preceitos
da lei, por eles viverá (v.12). O
problema é que somos pecadores e não conseguimos cumprir as demandas da lei.
Warren Wiersbe diz que a lei não é um “bufê religioso” do qual as pessoas
escolhem o que lhes agrada. Tiago escreveu: “Pois qualquer que guarda toda a
lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10). Paulo, citando Deuteronômio 27.26, diz que maldito é todo aquele
que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las
(3.10). Paulo declara que pela lei
vem o pleno conhecimento do pecado (Rm
3.20). O papel da lei não é salvar o pecador, mas mostrar o seu pecado,
tomá-lo pela mão e levá-lo ao Salvador (3.24).
Tendo afirmado que a justificação é pela fé, Paulo
agora diz que é por intermédio de Cristo. Somos justificados por causa do
sacrifício de Cristo e recebemos essa justificação pela fé.
John Stott tem razão quando diz que a maldição foi
transferida de nós para Cristo. Ele a colocou voluntariamente sobre si mesmo, a
fim de nos libertar dela. E essa transferência da maldição que explica o
horrível grito de abandono e solidão que ele enunciou na cruz. Estou de pleno
acordo com a declaração de Adolf Pohl de que Cristo não se fez maldição porque
transgrediu a lei. Ao contrário, foi obediente até a morte e morte de cruz. Ele
“...se ofereceu sem mácula a Deus” (Hb 9.14), “...sem defeito e sem mácula” (1Pe
1.19). Porém, se não suportou a maldição por si, ele a suportou por nós,
“...o justo pelos injustos” (1Pe 3.18).
Hernandes aponta quatros pontos importantes aqui: 1º) A
justificação tem como causa meritória o sacrifício expiatório de Cristo (v.13); 2º) A justificação implica a
plena satisfação das demandas da lei (v.13);
3º) A justificação redunda em resgate da maldição da lei (v.13). 4ª) A justificação pela fé é
a bênção de Abraão destinada a todos os que creem (v.14).
Portanto, Deus não tem duas formas de salvar o
pecador. Abraão foi justificado pela fé, e assim todos os gentios recebem essa
bênção de Abraão, a justificação, pela fé. A justificação é em Cristo, e não à
parte de Cristo. O Espírito prometido, que nos convence do pecado, da justiça e
do juízo, nos é dado pela fé, e não pelas obras da lei.
Warren Wiersbe diz que esses dois versículos são um
excelente resumo de tudo o que Paulo vem dizendo ao longo de sua argumentação.
A lei coloca os pecadores sob maldição? Cristo nos redime dessa maldição!
Desejamos a bênção de Abraão? Ela é recebida por meio de Cristo! Desejamos o
dom do Espírito, mas somos gentios? Por meio de Cristo, esse dom é concedido
aos gentios! Tudo aquilo de que precisamos encontra-se em Cristo! Não há motivo
algum para voltar a Moisés.
Três
aplicações práticas:
Aprendemos que: 1º)
Abraão foi justificado pela fé e não
pelas suas obras; 2º) Qualquer pessoa pode ser salva, mas somente
pela graça mediante a fé em Cristo; e 3º)
A fé salvadora é aquela que aceita a
salvação que Cristo realizou na cruz.
[1] Lopes, p. 136.
[2] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas &
Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 13, 14. Esse ponto segue
os pontos do comentário da 3ª lição nas páginas já citadas, com cortes e
acréscimos necessários ao ensino local.
[3] Lopes, p. 137.
[4] Lopes, p. 138,139. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[5] Lopes, p. 139-141. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[6] Lopes, p. 142-144. Esse ponto segue literalmente o
comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
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