sábado, 30 de abril de 2016

Estudos Bíblico na Carta aos Gálatas (6) - A justificação pela fé é suficiente para a salvação (2)

... continuação...

II. O argumento do Antigo Testamento – vv.6-14

O apóstolo Paulo faz uma transição da experiência dos crentes da Galácia para as Escrituras. Ele tira os olhos do presente e volta-os para o passado. Equilibra a experiência subjetiva dos cristãos da Galácia com o ensinamento objetivo da Palavra inalterável de Deus. Vale ressaltar que não julgamos as Escrituras pela nossa experiência, mas testamos nossas experiências pelas Escrituras. Paulo passa a citar várias passagens do Antigo Testamento para provar que a salvação é pela fé em Cristo, não pelas obras da lei.[1]

Portanto, após argumentar sobre a experiência espiritual dos gálatas, Paulo utiliza argumentos do Antigo Testamento para fundamentar que a justificação pela fé, é a única maneira de Deus abençoar o homem.[2] Seus argumentos são:

1. Abração foi abençoado com a salvação pela fé – v.6.

Warren Wiersbe argumenta que Paulo começa citando Moisés para mostrar que a justiça de Deus foi “depositada na conta” de Abraão somente por sua crença na promessa de Deus (Gn 15.6). O termo “imputado”, em Gálatas 3.6 e Gênesis 15.6, tem o mesmo significado de Romanos 4.11, 22-24. A palavra grega significa “creditar na conta de alguém”. Quando um pecador crê em Cristo, a justiça de Deus é creditada em sua conta. Mais do que isso, os pecados dessa pessoa deixam de ser registrados nessa conta (Rm 4.1-8; 2Co 5.21). Assim, diante de Deus o histórico está sempre limpo e, portanto, o que creu não pode jamais ser julgado por seus pecados.[3] Assim, quem salvou Abraão foi Cristo que veio da linhagem de Abraão (Gl 3.15, 16).

2. Qualquer pessoa só pode ser salva pela fé em Cristo – v.7-9.[4]

Abraão é o pai da nação judaica e também o pai dos crentes. Ele foi justificado muito antes de a lei ser dada. Ele foi justificado pela fé, e não pelas obras da lei. Se o pai dos crentes foi justificado pela fé, por que seus filhos seriam justificados pelas obras da lei?

Aqui Paulo está citando Gênesis 12.3; Gn 22.17,18; At 3.25. Convém examinarmos que bênção era essa e como todas as nações viriam a herdá-la. A bênção é a justificação, a maior de todas as bênçãos, pois os verbos justificar e abençoar são usados como equivalentes no v.8. E o meio pelo qual a bênção seria herdada é a fé. Sendo assim, os gálatas já eram filhos de Abraão, não pela circuncisão, mas pela fé.

A salvação do começo ao fim se manteve sempre do mesmo jeito. Sempre foi pela fé e jamais pelas obras. Tanto os judeus como os gentios são salvos da mesma maneira. Ambos são salvos pela fé. Por isso, Deus preanunciou o evangelho a Abraão e nele abençoou todos os povos, de tal modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão. Os filhos de Abraão não são aqueles que têm o sangue judeu correndo em suas veias, mas os que têm a fé de Abraão habitando em seu coração.

3. Pela lei ou pelas obras ninguém será justificado (salvo) – vv.10-12.[5]

A lógica de Paulo é irresistível: Quem transgride o menor dos mandamentos da lei é maldito. Todos são culpados dessa transgressão. Logo, todos são malditos. Calvino é claro em afirmar que a lei justifica aquele que cumpre todos os seus mandamentos, enquanto a fé justifica aqueles que são destituídos do mérito das obras e confiam exclusivamente em Cristo.
Hernandes Dias Lopes, destaca três pontos importantes aqui:

1º) A lei impõe maldição (v.10). Aqueles que buscam a justificação pelas obras da lei estão debaixo de maldição, pois é essa a sentença que a lei impõe para aqueles que não permanecem em perfeita obediência aos seus preceitos. Paulo diz que só há dois caminhos pelos quais o homem pode ser salvo: o caminho da lei e o caminho da fé. O caminho da lei está baseado nas obras do homem e exige perfeição; como o homem não é perfeito, a lei o coloca debaixo de maldição. O caminho da fé descansa nas obras de Cristo e, porque ele é perfeito e realizou obras perfeitas, podemos ser salvos pela fé.

2º) A lei produz frustração (v.11). A lógica de Paulo é irrefutável: “E evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (ARA). Aqueles que buscam a salvação pelas obras da lei não têm esperança. Já entram nessa corrida derrotados. Ninguém, jamais, conseguiu alcançar o padrão exigido pela lei. Por isso, ninguém é justificado diante de Deus pela lei. Ela só pode gerar frustração. Concordo com William Barclay, quando ele diz que o caminho da lei e o da fé são totalmente antitéticos; não se pode dirigir a vida por ambos ao mesmo tempo; uma escolha é imperativa e necessária. A única escolha lógica e sensata é abandonar a vida do legalismo e entrar pelo caminho da fé. O v.11 é uma citação de Habacuque 2.4, repetida por Paulo em Romanos 1.17. William Hendriksen explica que depender da lei significa depender de si mesmo. Exercer a fé significa depender de Cristo.

3º) A lei exige perfeição (v.12). A lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom (Rm 7.12). Aquele que observar os preceitos da lei, por eles viverá (v.12). O problema é que somos pecadores e não conseguimos cumprir as demandas da lei. Warren Wiersbe diz que a lei não é um “bufê religioso” do qual as pessoas escolhem o que lhes agrada. Tiago escreveu: “Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos” (Tg 2.10). Paulo, citando Deuteronômio 27.26, diz que maldito é todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no livro da lei, para praticá-las (3.10). Paulo declara que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado (Rm 3.20). O papel da lei não é salvar o pecador, mas mostrar o seu pecado, tomá-lo pela mão e levá-lo ao Salvador (3.24).

4. A justificação é através de Jesus Cristo que se fez maldito por nós – vv.13, 14.[6]

Tendo afirmado que a justificação é pela fé, Paulo agora diz que é por intermédio de Cristo. Somos justificados por causa do sacrifício de Cristo e recebemos essa justificação pela fé.

John Stott tem razão quando diz que a maldição foi transferida de nós para Cristo. Ele a colocou voluntariamente sobre si mesmo, a fim de nos libertar dela. E essa transferência da maldição que explica o horrível grito de abandono e solidão que ele enunciou na cruz. Estou de pleno acordo com a declaração de Adolf Pohl de que Cristo não se fez maldição porque transgrediu a lei. Ao contrário, foi obediente até a morte e morte de cruz. Ele “...se ofereceu sem mácula a Deus” (Hb 9.14), “...sem defeito e sem mácula” (1Pe 1.19). Porém, se não suportou a maldição por si, ele a suportou por nós, “...o justo pelos injustos” (1Pe 3.18).

Hernandes aponta quatros pontos importantes aqui: 1º) A justificação tem como causa meritória o sacrifício expiatório de Cristo (v.13); 2º) A justificação implica a plena satisfação das demandas da lei (v.13); 3º) A justificação redunda em resgate da maldição da lei (v.13). 4ª) A justificação pela fé é a bênção de Abraão destinada a todos os que creem (v.14).

Portanto, Deus não tem duas formas de salvar o pecador. Abraão foi justificado pela fé, e assim todos os gentios recebem essa bênção de Abraão, a justificação, pela fé. A justificação é em Cristo, e não à parte de Cristo. O Espírito prometido, que nos convence do pecado, da justiça e do juízo, nos é dado pela fé, e não pelas obras da lei.

Warren Wiersbe diz que esses dois versículos são um excelente resumo de tudo o que Paulo vem dizendo ao longo de sua argumentação. A lei coloca os pecadores sob maldição? Cristo nos redime dessa maldição! Desejamos a bênção de Abraão? Ela é recebida por meio de Cristo! Desejamos o dom do Espírito, mas somos gentios? Por meio de Cristo, esse dom é concedido aos gentios! Tudo aquilo de que precisamos encontra-se em Cristo! Não há motivo algum para voltar a Moisés.

Três aplicações práticas:

Aprendemos que: 1º) Abraão foi justificado pela fé e não pelas suas obras; 2º) Qualquer pessoa pode ser salva, mas somente pela graça mediante a fé em Cristo; e 3º) A fé salvadora é aquela que aceita a salvação que Cristo realizou na cruz.



[1] Lopes, p. 136.
[2] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas & Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 13, 14. Esse ponto segue os pontos do comentário da 3ª lição nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[3] Lopes, p. 137.
[4] Lopes, p. 138,139. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[5] Lopes, p. 139-141. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[6] Lopes, p. 142-144. Esse ponto segue literalmente o comentário do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.

Nenhum comentário:

Postar um comentário