Gálatas 3.1-29
No estudo anterior em Gálatas 2.11-21 com o tema: Vivendo conforme a verdade do Evangelho,
vimos que viver assim significa viver: 1º)
Sem hipocrisia e sem medo – vv.11-14; 2º) Justificado pela fé em
Cristo – vv.15-19; 3º)
Sem
anular a graça de Deus – vv.20, 21.
Terminamos dizendo que: A graça diz: “Não há distinção! Todos são pecadores, e todos podem ser
salvos pela fé em Cristo”. A lei diz: “Há distinção. A graça de Deus não é
suficiente; também precisamos da lei”. O argumento de Paulo é que a volta à lei
anula a cruz. Enquanto a lei diz: “Faça!”, a graça diz: “Já foi feito!”
Temos visto em nossos estudos que, Paulo apresentou
aos gálatas o evangelho da graça soberana levando a eles a verdade de que a
salvação é recebida por meio da fé na obra expiatória de Cristo na cruz e nada
mais. Entretanto, esses crentes estavam sendo levados pela correnteza e
aceitavam um substituto inferior e impotente baseado nos antigos padrões rituais
e cerimoniais mosaicos, os quais a nova Aliança em Cristo tornara inválidos, e
que, mesmo sob a antiga Aliança, não tinham poder para salvar. Por terem
permitido ser enganados, esses crentes lançavam aos incrédulos iludidos ao seu
redor o pensamento de que o cristianismo era uma questão de lei em vez de fé.
Eles roubaram de si mesmos a plenitude das bênçãos de Deus e corriam o risco de
roubar ao mundo o conhecimento do único caminho de salvação.[1]
Hoje, vamos estudar Gálatas 3.1-29 com o seguinte tema: A justificação pela fé é suficiente para a salvação.
Nessa passagem, Paulo relembra aos gálatas que a
experiência do crente com o Senhor Jesus Cristo, o Espírito Santo e Deus Pai é
a evidência inquestionável de ser graciosamente aceito por Deus mediante a fé
pessoal na perfeita e completa obra de Cristo, independentemente de qualquer
complementação humana. Paulo usa Abraão como prova de que a salvação nunca vem
por qualquer outro caminho que não o da graça mediante a fé. Até mesmo o Antigo
Testamento ensina a justificação pela fé.[2]
A falta de firmeza da igreja gerou um profundo
desgosto no apóstolo, e ele, de forma contundente, exorta a igreja e faz uma
robusta defesa da doutrina da justificação pela fé. John Stott diz que o
afastamento dos gálatas do evangelho era não apenas uma espécie de traição
espiritual (1.6), mas também um ato
de loucura (3.1). Isso porque o
conteúdo do evangelho é Cristo, e este crucificado. O evangelho oferece a
justificação (3.8) e o dom do Espírito
(3.2-5). O evangelho exige não
obras, mas fé. Recebemos o Espírito pela fé (3.2-5) e somos justificados pela fé (3.8). Assim é o verdadeiro evangelho do Antigo e do Novo
Testamento, o evangelho que o próprio Deus começou a pregar a Abraão (3.8) e que o apóstolo Paulo continuou
pregando em seu tempo. E a apresentação de Jesus Cristo crucificado diante dos
olhos dos homens. Nessa base tanto a justificação como o dom do Espírito são
oferecidos. E se exige apenas a fé.[3]
Assim, Paulo apresenta, aqui, três argumentos para
provar a suficiência da justificação pela fé: 1º) O argumento da
experiência pessoal dos gálatas – vv.1-5;
2º) O argumento do Antigo Testamento – vv.6-14; e 3º) O argumento da Aliança e da Lei – vv.15-29.
I. O
argumento da experiência pessoal dos gálatas – vv.1-5
Esses cinco primeiros versículos fazem uma afirmação
extraordinária, muito negligenciada pelos cristãos, mas absolutamente crítica
para eles. Não somos apenas salvos pelo evangelho, mas também crescemos pelo
evangelho. Paulo está dizendo que não começamos pela fé para depois prosseguir
em nosso crescimento por meio das obras. Não apenas somos justificados pela fé
em Cristo, somos também santificados por ela. Nunca deixamos o evangelho para
trás.[4]
No v.1, Paulo
faz duas solenes advertências: 1ª) abandonar
o evangelho da graça é consumada insensatez – Ó gálatas insensatos!...
(3.1). As igrejas da Galácia
estavam perdendo o juízo, agindo sem discernimento, desprovidas de
capacidade de racionar com clareza. A palavra grega anoetos, “insensatos”,
significa tolo, espiritualmente néscio e descreve uma ação sem
sabedoria. Donald Guthrie diz que essa palavra sugere não só incapacidade de
pensar quanto falha em fazer uso dos poderes mentais.[5]
MacArthur diz que a palavra se refere não à falta de inteligência, mas à falta
de obediência (cf. Lc 24.25; 2Tm 6.9)[6];
2ª) dar ouvidos aos falsos mestres é ser desencaminhado pela mentira – ...quem vos fascinou... (3.1). A palavra grega usada aqui, abaskanen, carrega a ideia de procurar
prejudicar alguém mediante palavras malignas[7];
desencaminhar mediante bajulação e falsas promessas; o termo sugere um apelo às
emoções[8].
Adolf Pohl diz que a conversa fiada dos falsos mestres praticamente hipnotizou
os crentes da Galácia de tal forma que eles não ofereceram nenhuma resistência
a essa falsa doutrina (cf. 2.4, 14; 2Co
11.19, 20).[9]
Paulo começa sua argumentação apelando para a
experiência dos crentes da Galácia. Faz a eles cinco perguntas retóricas para
mostrar que, desde o início até o fim da vida cristã, eles haviam sido salvos
pela fé, e não pelas obras da lei.[10]
Então, para despertar os irmãos da demência espiritual, ele argumenta sobre a
própria experiência deles apontando quatro experiências espirituais deles:
1ª) Experiência
– Eles contemplaram a Jesus crucificado
pela pregação (v.1).[11]
Paulo expôs o evangelho da cruz aos gálatas de maneira tão clara e
compreensiva, como se estivesse utilizando o método audiovisual. A ênfase dele
é que a sua pregação não foi obscura, mas uma imagem nítida e vivida de Jesus.
É como se eles tivessem visto a Cristo face a face.
Aqui nos vv.1-3,
Paulo lembra aos cristãos da Galácia como foi que eles se entregaram a Cristo,
provenientes do paganismo. Um cristão não é alguém que sabe sobre Jesus, mas
alguém que o viu na cruz. A ênfase da mensagem não é como viver, mas o que
Jesus fez na cruz por nós. Nosso coração se emociona quando vemos não só que
ele morreu, mas que morreu por nós. Entendemos o sentido de sua obra em nosso
favor. Somos salvos por uma apresentação racionalmente clara e comovente da
obra de Cristo em nosso favor.[12]
Matthew Henry diz que os gálatas tiveram a mensagem da
cruz pregada a eles e a Ceia do Senhor ministrada entre eles e, em ambas,
Cristo crucificado foi manifestado a eles. Warren Wiersbe afirma que Paulo
apresentou Cristo abertamente aos gálatas, com grande ênfase em sua morte na
cruz pelos pecadores. Eles ouviram essa verdade, creram nela e obedeceram; como
resultado, nasceram de novo e passaram a fazer parte da família de Deus. John
Stott tem razão quando diz que o evangelho não é uma instrução generalizada acerca
do Jesus da história, mas uma proclamação específica do Cristo crucificado. O
evangelho não é um bom conselho aos homens, mas as boas-novas acerca de Cristo;
não é um convite para se fazer alguma coisa, mas uma declaração do que Deus já
fez; não é uma exigência, mas uma oferta.[13]
2ª)
Experiência – Eles receberam a pessoa do Espírito Santo, após crerem no
Evangelho (vv.2, 3). Paulo destaca aqui dois aspectos da obra do Espírito
Santo na vida do crente: (1º) A
conversão do crente é obra do Espírito Santo. O batismo como Espírito Santo ou
o recebimento da pessoa do Espírito Santo pelo crente acontece no momento da
sua conversão (cf. 1Co 12.13; Ef 1.13,
14). O ato de receber o Espírito Santo não está condicionado à prática da
lei, mas à fé na Palavra de Deus que lhe foi pregada (cf. At 2.37, 38); e (2º) A
santificação do crente ou o seu aperfeiçoamento espiritual é obra do Espírito
Santo. É uma insensatez tremenda achar que o crente pode se santificar pela
obediência a princípios cerimoniais da lei. Só o Espírito pode completar a obra
que Ele mesmo começou (cf. Fp 1.6; Rm
8.9).
Lutero diz que a própria experiência dos gálatas
estava contra eles, a saber, eles receberam o Espírito Santo, não por meio da
observância da lei, mas pela fé no evangelho. Nenhuma pessoa pode tornar-se
crista sem o Espírito Santo, pois se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse
tal não é dele (Rm 8.9). O crente é
nascido do Espírito (Jo 3.5),
regenerado pelo Espírito (Tt 3.5),
selado pelo Espírito (Ef 1.13, 14),
habitado pelo Espírito (1Co 3.17) e
batizado no corpo de Cristo pelo Espírito (1Co
12.13). Deve andar no Espírito (5.16)
e ser cheio do Espírito (Ef 5.18).[14]
3º)
Experiência – Eles sofreram por causa da fé em Jesus Cristo (v.4). Os
crentes da Galácia sofreram no começo da vida cristã nas mãos dos pagãos e
também nas mãos dos judeus radicais (cf. At
13.45, 50; 14.2-6, 19-22). Sofrer por causa da justiça é bem-aventurança.
Porém, se eles estavam afastando-se do evangelho que no começo abraçaram, esse
sofrimento havia sido em vão. Quando sofremos pelo evangelho, devemos
alegrar-nos. Isso porque a nossa leve e momentânea tribulação produzirá para
nós eterno peso de glória (2Co 4.14-16).
Os sofrimentos do tempo presente não se comparam às glórias a serem reveladas
em nós (Rm 8.18).[15]
Por isso Paulo pergunta: Será que as coisas pelas
quais vocês passaram não serviram para nada? Não é possível! (v.4 NTLH).
4ª) Experiência – Eles
receberam as intervenções milagrosas de Deus (v.5). O evangelho chegou aos crentes da Galácia com manifestação de poder e
prodígios (At 14.3). Mesmo diante
das provas mais amargas, os discípulos transbordavam de alegria e do Espírito
Santo (At 13.52). Tanto a dádiva do
Espírito como a operação de milagres chegaram à igreja da Galácia pela pregação
da fé, e não pelas obras da lei. O Pai continua a suprir o Espírito em poder e
em bênção, e isso é feito pela fé, não pelas obras da lei. Esses milagres
incluem transformações extraordinárias na vida dos crentes, bem como maravilhas
no meio da igreja.[16]
O Espírito Santo opera quando os cristãos não confiam
nas próprias obras, mas antes, consciente e continuamente, descansam só em
Cristo para serem aceitos e alcançar a plenitude. Paulo vincula o Espírito e o
Evangelho nos termos mais inseparáveis. O Espírito opera à medida que você
aplica e usa o evangelho.[17]
A maneira como o Espírito Santo entra deveria ser a mesma como ele avança em
nossa vida – pela graça, mediante a fé.
(v.5; Ef 2.8)
Três lições
e aplicações: 1ª) Ter fé no evangelho não é
simplesmente concordar com as afirmações sobre o Cristo crucificado, mas parar
de tentar obter a salvação por outro meio, no caso aqui – a observância da lei;
2ª) O Espírito Santo não opera separado do evangelho. O evangelho é o canal
e a forma do poder do Espírito operar na vida do cristão; e 3ª) O
caminho para o progresso como cristão é o arrependimento constante e a
erradicação do sistema baseado na justiça pelas obras.
[1] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de
Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 33.
[2] MacArthur, p. 34.
[3] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da Liberdade
Cristã, Editora Hagnos, 2011, p. 129, 130.
[4] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015,
p. 67.
[5] Lopes, p. 130.
[6] MacArthur, p. 34.
[7] Lopes, p. 131.
[8] MacArthur, p. 34.
[10] Lopes, p. 131.
[11] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas &
Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 12-16. Esse ponto segue
literalmente o comentário da 3ª lição nas páginas já citadas, com cortes e
acréscimos necessários ao ensino local.
[12] Keller, p. 68.
[13] Lopes, p. 132, 133.
[14] Lopes, p. 133, 134.
[15] Lopes, p. 135.
[16] Lopes, p. 135, 136.
[17] Keller, p. 71.
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