domingo, 22 de setembro de 2013

Exposição da Carta de Judas (2) - Declaração de Propósito


Jd 3, 4

No estudo anterior vimos:

ü  Que Judas é o quatro livro mais curto do NT;
ü  Que o meu desejo no texto dessa carta é explicar, ilustrar e aplicar;
ü  Que Judas é uma das cartas gerais do NT;
ü  Que a carta mesmo indica o seu autor – Judas... (v.1);
ü  Que a Carta de Judas “é o único livro do Novo Testamento que se dedica exclusivamente a confrontar a apostasia, cujo significado é a deserção da fé bíblica verdadeira”[1]v.3, 17.
ü  Que o propósito da carta está declarado nos vv.3, 4;
ü  Que em nossa exposição da carta vamos usar a proposta de mensagem e esboço da carta de Judas defendida por Carlos Osvaldo: “Defender a fé do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com os hereges e dos deveres do crente em tempos de heresia”.[2]
ü  A saudação da Carta de Judas (vv.1, 2) do seguinte modo: Judas se apresenta e deseja aos crentes capacitação divina segundo a posição segura deles diante de Cristo.
ü  Concluímos com as seguintes aplicações: 1ª) Somos servos de Jesus e irmãos em Cristo como servos de Jesus devemos nos colocar a sua disposição para o seu serviço de aperfeiçoamento dos santos e como irmãos devemos servir uns aos outros dentro de nossas possibilidades; 2ª) Fomos salvos por iniciativa direta de Deus – nossa salvação não depende nós, mas exclusivamente de Deus que nos chamou, santificou e conserva (preserva). Como disse Paulo em Rm 8.30E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou; e 3ª) Recebemos capacitação diretamente de Deus para perseveramos na fé – essa capacitação para a perseverança na fé vem da graça de Deus e provem misericórdia, paz e amor para uma vida cristã autentica.

Hoje, nos vv.3, 4 vamos estudar sobre a Declaração de Propósito da Carta de Judas. E veremos que a sua apologia veio como uma reação ao ataque da heresia, a fim de motivar os crentes a defender a sua fé.

Veremos isso em três pontos: 1º) O propósito inicial de Judas fora comentar a vida cristãv.3a; 2º) O propósito efetivo de Judas era motivar seus leitores a lutar pela fé cristãv.3b; e 3º) O motivo para Judas escrever esta carta era o ataque da heresia contra a Igrejav.4.

I. O propósito inicial de Judas fora comentar a vida cristã – v.3a
Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência
acerca da salvação comum... (v.3a)

1. Amados... – esse termo “reflete a afeição pastoral de Judas pelos seus leitores”[3]. Temos vários exemplos dessa afeição pastoral em outros escritores do NT, como por exemplo: João1Jo 2.1; Pedro 1Pe 2.11; PauloFm v.1; etc.

2. ... procurando eu escrever-vos com toda a diligência... – Judas foi extremamente cuidadoso em escrever a sua carta. Ele sabia que estava escrevendo para igreja de Deus e não podia corromper a fé bíblica. Temos um bom exemplo desse cuidado em LucasLc 1.1-4; em PauloAt 20.26, 27.

3. ... acerca da salvação comum... – Judas tinha em mente, inicialmente, escrever sobre a salvação comum ou, como entendendo, um tratado sobre a vida cristã. Assim como Lucas escreveu um tratado sobre a vida de Jesus (At 1.1), Judas queria escrever um tratado doutrinário sobre a vida cristã.

ð Judas se propusera a escrever sobre salvação como “a bênção comum que todos os cristãos desfrutam... para enfatizar a unidade e a comunhão entre os cristãos e lembra-los de que Deus não faz acepção de pessoas”[4].

II. O propósito efetivo de Judas era motivar seus leitores a lutar pela fé cristã – v.3b
“... tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé
que uma vez foi entregue aos santos.” (v.3b)

1. ... tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos... – Judas não escreveu essa carta “por critério pessoal ou por qualquer disposição de humor. Sua carta tem uma fundamentação muito mais séria”[5], literalmente significa: vi-me forçado a escrever-vos.

ð Paulo usa essa mesma palavra necessidade em 1Co 9.16uma necessidade interior pesa sobre ele; por isso precisa evangelizar.

ð A vida cristã, porém, “está ameaçada, não por algo de fora, mas algo de dentro da própria igreja. Por essa razão a igreja precisa ser convocada, exortada, acordada e fortalecida para a luta[6].

ð A igreja dos primeiros séculos já enfrentava um combate à sua fé, ou seja, ao conteúdo sistemático de sua fé. Temos exemplos claros disso: PauloGl 1.6-9; Fp 3.19, 19; Cl 2.1-8; 16-18, 22, 23; 1Ts 4.1; 2Ts 2.1, 2; 1Tm 4.1; João 1Jo 4.1.

ð A exortação, aqui, é “para que os cristãos travassem uma guerra contra o erro em todas as suas formas e lutassem vigorosamente pela verdade”[7].

2. ... a batalhar pela fé que uma vez foi entregue aos santos. – Ao exortar seus leitores a batalhar pela fé, Judas usou um verbo grego (epagonizesthai) composto que dá a ideia de uma intensa batalha, de manter o inimigo a distância por meio de esforço concentrado e sem reservas.

ð ... pela fé... – corresponde a todo o conteúdo da verdade revelada acerca da salvação contida nas Escrituras – Gl 1.23; Ef 4.5, 13; Fp 1.27; 1Tm 4.1.

ð Aqui temos um chamado para conhecer a sã doutrina – Ef 4.14; Cl 3.16; 1Pe 2.2; 1jo 2.12-14; um chamado a discernir a verdade do erro – 1Ts 5.20-22; um chamado a dispor-se a confrontar e atacar o erro – 2Co 10.3-5; Fp 1.7, 27; 1Tm 1.18; 6.12; 2Tm 1.13; 4.7, 8; Tt 1.3.

ð Isso exige do cristão um esforço mental para compreender e ensinar a Palavra de Deus de modo correto e um esforço moral para aplicar esse entendimento ao comportamento diário – 1Pe 1.13-16; 2Pe 1.5-9.

ð ... que uma vez foi entregue... – “Por quem a fé nesse sentido é entregue aos santos? Inicialmente pelos apóstolos. Em última análise, porém, é o próprio Deus que nos prepara e concede o fundamento e conteúdo da fé[8] – cf. 1Co 11.23. O “conjunto de verdades definitivamente entregue, do qual nada se devia acrescentar”[9] – Gl 1.23. Também “sublinha a conclusão da revelação de Deus em Cristo”[10].

ð ... aos santos. – os cristãos são aqui identificados como santos, uma vez que são separados do pecado para Deus – 1Co 1.2.

III. O motivo para Judas escrever esta carta era o ataque da heresia contra a Igreja – v.4
Porque se introduziram alguns, que já antes estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus,
único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. (v.4)

1. v.4a – Porque se introduziram alguns... – A palavra grega pareisduein que é usada aqui, é extremamente expressiva. Emprega-se para as palavras lisonjeadoras e sedutoras do advogado ardiloso que se infiltram nas mentes dos juízes e jurados; usa-se para um proscrito que retorna e entra secretamente no país que o expulsou; emprega-se para referir-se a um processo sutil e paulatino de penetração de inovações na vida de um país, que finalmente mina e acaba com as leis ancestrais. Indica sempre uma secreta, furtiva insinuação de algo prejudicial numa sociedade ou numa situação concreta.

Esses que furtivamente se infiltraram nas igrejas, fingindo ser verdadeiros, e que, por fora, pareciam ser verdadeiros cristãos e mestres da Palavra, tinham como objetivo desviar o povo de Deus. Eram apóstatas fraudulentos inspirados por Satanás, que se passavam por ministros da justiça de Deus, estavam na igreja primitiva e estão hoje na igreja do nosso século – 2Co 11.12-15.

2. v.4b – ... que já antes estavam escritos para este mesmo juízo... – Não apenas Judas afirma que a condenação destes indivíduos estava prevista e era certa, mas os outros escritores do NT – Rm 3.8; 2Tm 3.13; 2Pe 2.1-22.

3. v.4c – ... homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. Aqui Judas apresenta três características dos falsos mestres apostatas e seus ensinos destruidores:

ð 1º) homens ímpios – não eram pessoas desconhecedoras da Palavra de Deus, mas conhecedores que pervertem e negam o real sentido da Palavra de Deus, como em 2Tm 3.1-9.

ð 2º) deturpam a graça de Deus – é o ensino gnóstico antinomiano que enfatiza que o corpo é mal e corrupto e mesmo aqueles que foram alcançados pela graça e são salvos, podem se entregar a concupiscência da carne, pois quanto mais pecam mais a graça de Deus é abundante para nos perdoar. Paulo em Romanos 6 corrige esse falso ensino.

ð 3º) negam a divindade e o poder salvador de Jesus Cristo – ao deturparem a graça de Deus, seu ensino falso se volta para a negação da divindade de Jesus e o seu poder de salvar o seu povo dos pecados deles. Esse ensino estavam tão forte naquela época que os apóstolos e os escritores sacros não pouparam palavras e foram muitos enfáticos e firmes em combatê-lo – 1Jo 2.18-29; 2Jo 7-11.

ð “Os apóstatas  os falsos mestres e as falsas religiões sempre deturpam o que a Escritura declara que é verdadeiro a respeito do Senhor e Salvador Jesus Cristo”[11].

Concluindo – Aplicações:

1ª) Devemos nos manter firmes na fé bíblica que abraçamos desde o início em nossa caminhada cristã;

2ª) Devemos ensinar a fé bíblica para a salvação e edificação de todos;

3ª) Devemos combater o erro doutrinário que vem contra a fé bíblica.

Pr. Walter Almeida Jr.



[1] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1771.
[2] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 585.
[3] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, 2009, p. 2121.
[4] MacArthur, p. 1772.
[5] Boor, Warner de. Carta de Judas, Comentário Esperança, Editora Evangélica Esperança, 2008, p. 10.
[6] Ibid., p. 11.
[7] MacArthur, p. 1772.
[8] Boor, p. 11.
[9] Ryrie, Charles Caldwell. A Bíblia Anotada, Editora Mundo Cristão, 1995, p. 1585.
[10] Carson, p. 2121.
[11] MacArthur, p. 1773.

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