No
estudo anterior vimos:
ü
Que Judas é o quatro
livro mais curto do NT;
ü
Que o meu desejo
no texto dessa carta é explicar, ilustrar
e aplicar;
ü
Que Judas é uma
das cartas gerais do NT;
ü
Que a carta mesmo
indica o seu autor – Judas... (v.1);
ü
Que a Carta de
Judas “é o único livro do Novo Testamento que se dedica exclusivamente a
confrontar a apostasia, cujo significado é a deserção da fé bíblica verdadeira”[1] – v.3, 17.
ü
Que o propósito
da carta está declarado nos vv.3, 4;
ü
Que em nossa
exposição da carta vamos usar a proposta de mensagem e esboço da carta de Judas
defendida por Carlos Osvaldo: “Defender a fé do erro exige consciência dos
desígnios de Deus para com os hereges e dos deveres do crente em tempos de
heresia”.[2]
ü
A saudação da
Carta de Judas (vv.1, 2) do seguinte
modo: Judas se apresenta e deseja aos
crentes capacitação divina segundo a posição segura deles diante de Cristo.
ü
Concluímos com as
seguintes aplicações: 1ª) Somos servos
de Jesus e irmãos em Cristo – como
servos de Jesus devemos nos colocar a sua disposição para o seu serviço de
aperfeiçoamento dos santos e como irmãos devemos servir uns aos outros dentro
de nossas possibilidades; 2ª) Fomos
salvos por iniciativa direta de Deus – nossa salvação não depende nós, mas
exclusivamente de Deus que nos chamou, santificou e conserva (preserva). Como
disse Paulo em Rm 8.30 – E aos que predestinou a estes também
chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a
estes também glorificou; e 3ª)
Recebemos capacitação diretamente de Deus para perseveramos na fé – essa
capacitação para a perseverança na fé vem da graça de Deus e provem
misericórdia, paz e amor para uma vida cristã autentica.
Hoje,
nos vv.3, 4 vamos estudar sobre a Declaração de Propósito da Carta de Judas.
E veremos que a sua apologia veio como
uma reação ao ataque da heresia, a fim de motivar os crentes a defender a sua
fé.
Veremos
isso em três pontos: 1º) O propósito inicial de Judas fora comentar a
vida cristã – v.3a; 2º) O
propósito efetivo de Judas era motivar seus leitores a lutar pela fé cristã
– v.3b; e 3º) O motivo para Judas
escrever esta carta era o ataque da heresia contra a Igreja – v.4.
I. O propósito inicial de Judas fora
comentar a vida cristã – v.3a
Amados, procurando eu escrever-vos com toda a
diligência
acerca da salvação comum... (v.3a)
1. Amados... – esse termo “reflete a afeição pastoral de Judas pelos seus
leitores”[3]. Temos
vários exemplos dessa afeição pastoral em outros escritores do NT, como por
exemplo: João – 1Jo 2.1; Pedro – 1Pe 2.11; Paulo – Fm v.1; etc.
2. ... procurando eu escrever-vos com toda a diligência... – Judas foi
extremamente cuidadoso em escrever a sua carta. Ele sabia que estava escrevendo
para igreja de Deus e não podia corromper a fé bíblica. Temos um bom exemplo
desse cuidado em Lucas – Lc 1.1-4; em Paulo – At 20.26, 27.
3. ... acerca da salvação comum... – Judas tinha em mente, inicialmente,
escrever sobre a salvação comum ou, como entendendo, um tratado sobre a vida
cristã. Assim como Lucas escreveu um tratado sobre a vida de Jesus (At 1.1), Judas queria escrever um
tratado doutrinário sobre a vida cristã.
ð
Judas se
propusera a escrever sobre salvação como “a bênção comum que todos os cristãos
desfrutam... para enfatizar a unidade e a comunhão entre os cristãos e
lembra-los de que Deus não faz acepção de pessoas”[4].
II. O propósito efetivo de Judas era
motivar seus leitores a lutar pela fé cristã – v.3b
“... tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos
a batalhar pela fé
que uma vez foi entregue aos santos.” (v.3b)
1. ... tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos... – Judas não
escreveu essa carta “por critério pessoal ou por qualquer disposição de humor.
Sua carta tem uma fundamentação muito mais séria”[5], literalmente
significa: vi-me forçado a escrever-vos.
ð
Paulo usa essa
mesma palavra necessidade em 1Co 9.16 – uma necessidade interior pesa sobre ele; por isso precisa evangelizar.
ð
A vida cristã, porém,
“está ameaçada, não por algo de fora, mas algo de dentro da própria igreja. Por
essa razão a igreja precisa ser
convocada, exortada, acordada e fortalecida para a luta”[6].
ð
A igreja dos
primeiros séculos já enfrentava um combate à sua fé, ou seja, ao conteúdo
sistemático de sua fé. Temos exemplos claros disso: Paulo – Gl 1.6-9; Fp 3.19,
19; Cl 2.1-8; 16-18, 22, 23; 1Ts 4.1; 2Ts 2.1, 2; 1Tm 4.1; João
– 1Jo 4.1.
ð
A exortação,
aqui, é “para que os cristãos travassem uma guerra contra o erro em todas as
suas formas e lutassem vigorosamente pela verdade”[7].
2. ... a batalhar pela fé que uma vez foi entregue aos santos. – Ao
exortar seus leitores a batalhar pela fé, Judas usou um verbo grego (epagonizesthai)
composto que dá a ideia de uma intensa
batalha, de manter o inimigo a distância por meio de esforço concentrado e sem
reservas.
ð
... pela fé... –
corresponde a todo o conteúdo da verdade revelada acerca da salvação contida
nas Escrituras – Gl 1.23; Ef 4.5, 13; Fp 1.27; 1Tm 4.1.
ð
Aqui temos um chamado para conhecer a sã doutrina –
Ef 4.14; Cl 3.16; 1Pe 2.2; 1jo 2.12-14; um
chamado a discernir a verdade do erro – 1Ts 5.20-22; um chamado a dispor-se a confrontar e atacar o erro – 2Co 10.3-5; Fp
1.7, 27; 1Tm 1.18; 6.12; 2Tm 1.13; 4.7, 8; Tt 1.3.
ð
Isso exige do
cristão um esforço mental para compreender e ensinar a Palavra de Deus de modo
correto e um esforço moral para aplicar esse entendimento ao comportamento
diário – 1Pe 1.13-16; 2Pe 1.5-9.
ð
... que uma vez
foi entregue... – “Por quem a fé nesse sentido é entregue aos santos?
Inicialmente pelos apóstolos. Em última análise, porém, é o próprio Deus que nos prepara e concede o fundamento e conteúdo da fé”[8] – cf.
1Co 11.23. O “conjunto de verdades definitivamente entregue, do qual nada se
devia acrescentar”[9]
– Gl 1.23. Também “sublinha a conclusão da revelação de Deus em Cristo”[10].
ð
... aos santos. –
os cristãos são aqui identificados como santos, uma vez que são separados do
pecado para Deus – 1Co 1.2.
III. O motivo para Judas escrever esta
carta era o ataque da heresia contra a Igreja – v.4
Porque se introduziram alguns, que já antes estavam
escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução a
graça de Deus, e negam a Deus,
único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. (v.4)
1. v.4a – Porque se introduziram alguns... – A palavra grega pareisduein que é usada aqui, é
extremamente expressiva. Emprega-se para as
palavras lisonjeadoras e sedutoras do advogado ardiloso que se infiltram nas
mentes dos juízes e jurados; usa-se para um proscrito que retorna e entra
secretamente no país que o expulsou; emprega-se para referir-se a um processo
sutil e paulatino de penetração de inovações na vida de um país, que finalmente
mina e acaba com as leis ancestrais. Indica sempre uma secreta, furtiva
insinuação de algo prejudicial numa sociedade ou numa situação concreta.
Esses que furtivamente se infiltraram nas igrejas, fingindo ser verdadeiros, e que,
por fora, pareciam ser verdadeiros cristãos e mestres da Palavra, tinham como
objetivo desviar o povo de Deus. Eram apóstatas fraudulentos inspirados por
Satanás, que se passavam por ministros da justiça de Deus, estavam na igreja
primitiva e estão hoje na igreja do nosso século – 2Co 11.12-15.
2. v.4b – ... que já antes estavam escritos para este mesmo
juízo... – Não apenas Judas afirma que a condenação destes indivíduos estava
prevista e era certa, mas os outros escritores do NT – Rm 3.8; 2Tm 3.13; 2Pe 2.1-22.
3. v.4c – ... homens ímpios, que convertem em dissolução a
graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.
Aqui Judas apresenta três características dos falsos mestres apostatas e seus
ensinos destruidores:
ð
1º) homens ímpios – não eram pessoas desconhecedoras da Palavra de Deus, mas
conhecedores que pervertem e negam o real sentido da Palavra de Deus, como em
2Tm 3.1-9.
ð
2º) deturpam a graça de Deus – é o ensino gnóstico antinomiano que enfatiza que o
corpo é mal e corrupto e mesmo aqueles que foram alcançados pela graça e são
salvos, podem se entregar a concupiscência da carne, pois quanto mais pecam
mais a graça de Deus é abundante para nos perdoar. Paulo em Romanos 6 corrige esse falso ensino.
ð
3º) negam a divindade e o poder salvador de Jesus
Cristo – ao deturparem a graça de
Deus, seu ensino falso se volta para a negação da divindade de Jesus e o seu
poder de salvar o seu povo dos pecados deles. Esse ensino estavam tão forte
naquela época que os apóstolos e os escritores sacros não pouparam palavras e
foram muitos enfáticos e firmes em combatê-lo – 1Jo 2.18-29; 2Jo 7-11.
ð
“Os apóstatas os
falsos mestres e as falsas religiões sempre deturpam o que a Escritura declara
que é verdadeiro a respeito do Senhor e Salvador Jesus Cristo”[11].
Concluindo – Aplicações:
1ª) Devemos nos manter firmes na fé bíblica que abraçamos desde o
início em nossa caminhada cristã;
2ª) Devemos
ensinar a fé bíblica para a
salvação e edificação de todos;
3ª) Devemos
combater o erro doutrinário que vem contra a fé bíblica.
Pr. Walter Almeida Jr.
[1] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1771.
[2] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento
no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 585.
[3] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
2009, p. 2121.
[4] MacArthur, p.
1772.
[5] Boor, Warner de. Carta de Judas, Comentário Esperança, Editora Evangélica
Esperança, 2008, p. 10.
[6] Ibid., p. 11.
[7] MacArthur, p. 1772.
[8] Boor, p. 11.
[9] Ryrie, Charles Caldwell. A Bíblia Anotada, Editora
Mundo Cristão, 1995, p. 1585.
[10] Carson, p. 2121.
[11] MacArthur, p. 1773.
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