Judas 1, 2
Quando
comecei a ler a carta de Judas, para preparação dos estudos expositivos pensei,
por um momento, que seria um pouco mais fácil do que nas outras cartas do Novo
Testamento, pela fato de ser ela o quatro livro mais curto dele – 2 João com 13 versículos, 3 João
com 15 versículos, Filemom com 25 versículos e Judas
com 28.
Mas,
como todo estudo sério das Escrituras requer muita oração, muita leitura e
meditação no próprio texto da Bíblia e vasta pesquisa em livros específicos
sobre o assunto, assim tem sido meu dia a dia para expor essa carta aos irmãos.
Como diria Stuart Olyott, em seu livro Ministrando como o Mestre, para explicar, ilustrar e aplicar sua
mensagem à nós hoje.
Para
situarmos o livro que é objeto de nosso estudo na literatura do Novo
Testamento, quero relembrar aos irmãos que dos 27 livros deste, 21 são epístolas
(cartas), ou pertencem a esse gênero literário. Eles são divididos da seguinte
forma:
1) Epístolas Paulinas (13)
a) Primeiras Epístolas
1
Tessalonicenses
2
Tessalonicenses
b) Grandes Epístolas
Romanos
1
Coríntios
2
Coríntios
Gálatas
c) Epístolas da Prisão
Efésios
Filipenses
Colossenses
Filemom
d) Epístolas Pastorais
1
Timóteo
2
Timóteo
Tito
2) Epístola aos Hebreus (1)
3) Epístolas Gerais (Universais) (7)
Tiago
1
Pedro
2
Pedro
1
João
2
João
3
João
Judas[1]
O título que recebe cada grupo está inspirado no
tema ou propósito geral das cartas que integram, ou nas circunstâncias que rodearam
a sua redação. A pergunta mais frequente sobre as cartas é: Porque elas são
classificadas dessa forma? Por isso é necessário um esclarecimento desse tipo
de classificação:
ü
Primeiras Epístolas – Porque faz referência
à época em que foram escritas. Não somente se considera que são os escritos
mais antigos de Paulo, mas também de todo o Novo Testamento.
ü
Grandes Epístolas – São as consideradas
de grande extensão de texto. Mas entre elas está inclusa a de Gálatas. A razão
está no seu estreito parentesco com Romanos.
ü
Epístolas da Prisão – Porque quando Paulo
redigiu estas cartas, se encontrava preso em algum lugar que a tradição sugere
terem sido dois: Roma e Éfeso.
ü
Epístolas Pastorais – Foram escritas no
tempo em que o Cristianismo, tendo já progredido na fixação da doutrina e na
elaboração da estrutura eclesiástica, precisava ordenar administrativa e
pastoralmente a sua vida e trabalho.
ü
Epístolas Universais
(Gerais)
– Este título foi dado no II Século, quando o cânon do Novo Testamento ainda
estava sendo formado. Significa que estas cartas não são dirigidas a um
destinatário determinado, mas aos crentes em geral.[2]
Na
época em que foi escrito o livro de Judas, havia uma diferença entre cartas
pessoais e cartas dirigidas as comunidades. As cartas pessoais eram chamadas de
cartas mesmo, mas, as cartas as comunidades eram chamadas de epístolas. Como em
nossa língua podemos chamar carta a todas as formas de carta, vamos chamar a
Epístola de Judas de, a Carta de Judas.
A
carta mesmo indica o seu autor – Judas,
servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, ... (v.1). Judas vem da palavra grega Iouda que é a tradução do termo hebraico (Yehûdâ) Judá.
Judas
era um nome comum na Palestina da época e pelo menos seis deles são citados
diretamente no Novo Testamento. (1) Judas, filho de Tiago, também chamado de Tadeu (apóstolo) – Mt 10.3; Lc
6.16; (2) Judas Iscariotes – Mt 10.14; (3)
Judas, irmão de Tiago, José e Simão, irmãos de Jesus – Mt 13.55; (4) Judas,
cristão da cidade de Damasco, onde Paulo se hospedou após a sua conversão –
At 9.10, 11; (5) Judas Barsabás, homem distinto entre os
irmãos – At 15.22; (6) Judas, o galileu, nos dias do
alistamento – At 5.37.
Judas,
o escritor da carta, é o irmão de Tiago e de Jesus. Ele era o mais novo dos irmãos,
segundo a ordem do texto de Mateus 13.55 – Não é este o filho do carpinteiro? e não
se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?
Os
irmãos de Jesus, Tiago, José, Simão e Judas não creram nele no período de seu
ministério terreno, mas, após sua morte e ressurreição eles se converteram e
passaram a ser pregadores itinerantes, juntamente com suas esposas – Jo 7.1-9;
1Co 9.15. Tiago se tornou um dos líderes da igreja em Jerusalém – At 15.13; Gl
1.19; Tg 1.1.
Não
há na carta “evidência alguma, nem mesmo pistas, acerca de onde ele (Judas)
estava na época em que escreveu a carta”[3] e qual
eram os seus destinatários primários. Mas, pelo motivo declarado da carta nos vv.3, 4, “embora a sua localização não
esteja designada no texto, a natureza específica do erro que ela combatia
sugere uma destinação localizada. A semelhança com o conteúdo de 2Pedro aponta
para o centro-norte da Ásia Menor como a residência dos destinatários, em
acordo com 1Pedro 1.1 e 2Pedro 1.1.”[4]
A
apostasia doutrinária e moral discutida por Judas nos vv.4-18, corresponde em muito à de 2Pedro 2.1-3.4. Acredita-se que 2Pedro foi escrita antes de Judas
por dois motivos: 1º) 2Pedro antecipa a vinda dos falsos mestres
(2Pe 2.1, 2; 3.3), enquanto Judas trata da chagada desses
falsos mestres (vv.4, 11, 12, 17, 18);
e 2º) Judas faz uma citação direta de 2Pe 3.3 e reconhece que é de
um apóstolo – vv.17, 18.[5]
Sendo
assim, podemos sugerir que a carta foi escrita em Jerusalém por volta do ano 60
d.C., depois da morte de Nero e da luta por poder entre os generais romanos e
antes da destruição da cidade em 70 d.C.
A
Carta de Judas “é o único livro do Novo Testamento que se dedica exclusivamente
a confrontar a apostasia, cujo significado é a deserção da fé bíblica
verdadeira”[6]
– v.3, 17. Esses apostatas expostos
por Judas são descritos, também, em outras partes do Novo Testamento – 2Ts
2.10; Hb 10.29; 2Pe 2.1-22; 1Jo 2.18-23.
Em
seu combate a apostasia e seus proponentes, Judas, exorta os irmãos a lutarem
por sua fé com discernimento e uma defesa rigorosa da verdade bíblica. Ele tem
como exemplo: Jesus – Mt 7.15ss;
16.6-12; 24.11ss; Paulo – At
20.29-30; 1Tm 4.1; 2Tm 3.1-5; 4.3, 4; Pedro
– 2Pe 2.1, 2; 3.3, 4; e João – 1Jo
4.1-6; 2Jo 6-11.
Judas
está repleta de ilustrações do Antigo Testamento: 1) o êxodo – v.5; 2) a rebelião de Satanás
– v.6; 3) Sodoma e Gomorra – v.7; 4) a morte de Moisés – v.9; 5) Caim – v.11a; 6) Balaão – v.11b; 7) Coré – v.11c; 8) Enoque – vv.14, 15; 9) Adão – v.14. Judas “também faz alusão a
algumas tradições judaicas não bíblicas”[7] (literatura
pseudepigráfica – A Assunção de Moisés e O Livro de Enoque) – v.6; 9, 14, 15.
O
propósito da carta está declarado nos v.3
– Amados, procurando eu escrever-vos com
toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos,
e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos. Ao
exortar seus leitores a batalhar pela fé
que uma vez foi dada aos santos, Judas usou um verbo grego (epagonizesthai) composto que dá a ideia
de uma intensa batalha, de manter o inimigo a distância por meio de esforço
concentrado e sem reservas. Isso mostra a seriedade da situação na igreja local
para onde Judas escreveu – v.4 – Porque se introduziram alguns, que já antes
estavam escritos para este mesmo juízo, homens ímpios, que convertem em dissolução
a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo.
Judas
busca alcançar seu propósito recapitulando
para seus leitores o trágico destino de hereges e libertinos na história sacra
(vv.5-7), revendo o caráter, a
conduta e a condenação dos hereges (vv.8-16) e relembrando-os da necessidade de estarem conscientes do problema,
serem constantes na obediência e serem compassivos para com os que vacilam
frente ao erro (vv.17-23). Assim, o propósito da carta pode ser formulado do seguinte
modo: Estimular os crentes a defender a
fé cristã contra a heresia (antinomianismo) recapitulando o juízo de Deus sobre
os hereges, revendo o caráter dos adversários e relembrando-os dos seu deveres
frente ao erro.[8]
Para
nossa exposição do texto vamos usar a proposta de mensagem e esboço da carta de
Judas defendida por Carlos Osvaldo: “Defender a fé do erro exige consciência dos
desígnios de Deus para com os hereges e dos deveres do crente em tempos de
heresia”.[9]
O
esboço simplificado da carta que vamos usar é o seguinte:
I. Saudação – Judas se
apresenta e deseja aos crentes capacitação divina segundo a posição segura
deles diante de Cristo – vv.1, 2.
II. Declaração de Propósito – A atual
apologia veio como uma reação ao ataque da heresia, a fim de motivar os crentes
a defender a sua fé – vv.3, 4.
III. Recapitulação – Defender a fé
do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com os hereges, visto que
foram marcados pela severa punição por suas variadas formas de rebelião – vv.5-7.
IV. Revisão – Defender a fé
do erro exige consciência dos desígnios de Deus para com os hereges na medida
em que apostatas contemporâneos se encaixam no padrão histórico na sua conduta,
seu caráter e sua condenação – vv.8-11.
V. Recordação – Defender a fé
do erro exige consciência dos deveres dos crentes em tempos de heresia – vv.17-23.
VI. Doxologia – O Deus que é
completamente capaz de guardar os Seus até que se unam a Ele na glória, é digno
de todo o louvor e majestade por meio de Jesus Cristo – vv.24, 25.[10]
Saudação
Judas se
apresenta e deseja aos crentes capacitação divina
segundo a
posição segura deles diante de Cristo.
1. Judas se apresenta como servo de
Cristo e irmão de Tiago – v.1a.
Judas
se apresenta de forma tradicional, ele diz quem
é, “descreve aqueles a quem está escrevendo e ora pelo crescimento espiritual
deles”[11].
A
carta começa com uma tríade (conjunto de três pessoas, coisas, formações,
órgãos, acordes, no caso, aqui, grupo de
três palavras que ocorrem juntas), que é uma das características dessa
carta, “a identificação de Judas pelo
nome, pelo relacionamento com Jesus (servo), e pelo relacionamento com a igreja
como o irmão Tiago”[12].
2. Judas identifica seus leitores com a
obra salvadora de Deus – v.1b.
Os
irmãos também são descritos com uma tríade, que enfatiza sua condição passada (chamados),
seu estado presente (santificados,
amados) e sua segurança futura
(conservados, guardados).
Essa
descrição destaca o quanto a salvação é inteiramente de Deus e resultado direto
de sua soberania, seu amor e seu poder, com um escopo que vem da eternidade,
passa pelo tempo e volta para a eternidade. (Rm 8.30; 1Pe 1.3-5)
3. Judas deseja e ora pelos irmãos por
capacitação divina na medida da sua posição e do desafio diante deles – v.2.
Temos
aqui uma saudação diferente das que encontramos nas outras cartas. Geralmente
as cartas paulinas e as gerais trazem a seguinte saudação: Graça e paz ou Graça, misericórdia
e paz. Judas substitui a palavra graça
por amor e forma a terceira tríade da
carta – Misericórdia,
e paz, e amor vos sejam multiplicados. (v.2)
Essa
saudação que expressa o desejo e é uma oração de Judas, é um elo com a tríade
do v.1: o chamado de Deus traz misericórdia, o seu amor envolve o seu povo e o
seu poder de guardar dá paz. Mas também expressa uma forma trinitária –
Deus o Pai, traz misericórdia, o Filho concede a paz e o Espirito Santo dá o
amor.[13]
Somente
aqui essas três qualidades aparecem tão próximas. Onde prevalecem a lei e as
obras, há fracasso e morte, mas onde prevalece a graça, há misericórdia, paz e
amor em abundância[14] – “...
vos sejam multiplicados.” (v.2b) – Ef
2.4; Hb 4.16; Rm 5.1; 5.5.
Concluindo – Aplicações:
1ª) Somos servos de Jesus e irmãos em
Cristo – como servos de Jesus devemos nos colocar a sua disposição para o seu
serviço de aperfeiçoamento dos santos e como irmãos devemos servir uns aos
outros dentro de nossas possibilidades.
2ª) Fomos salvos por iniciativa direta
de Deus – nossa salvação não depende
nós, mas exclusivamente de Deus que nos chamou, santificou e conserva
(preserva). Como disse Paulo em Rm 8.30
– E aos que predestinou a estes também
chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a
estes também glorificou.
3ª) Recebemos capacitação diretamente de
Deus para perseveramos na fé – essa
capacitação para a perseverança na fé vem da graça de Deus e provem
misericórdia, paz e amor para uma vida cristã autentica.
Pr. Walter Almeida Jr.
Limeira –SP – 14/09/13
[1] Almeida, Bíblia de Estudo de. SBB, 1999, NT p. 216.
[2] Ibid., p. 216.
[3] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
2009, p. 2119.
[4] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento
no Novo Testamento, Hagnos, 2008, p. 579.
[5] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1771.
[6] MacArthur, p. 1771.
[7] Almeida, p. 368.
[8] Pinto, p. 581.
[9] Ibid., p.585.
[10] Ibid., p. 585-588.
[11] Carson, p. 2121.
[12] Pinto, p. 581.
[13] Carson, p. 2121.
[14] MacArthur, p. 1772.
Ótimo estudo, edificou-me muito e a me ajudou a dirimir algumas duvidas, e também deu-me um melhor embasamento para um trabalho teológico sobre a carta de Judas que estou fazendo.
ResponderExcluirÓtimo estudo, edificou-me muito e a me ajudou a dirimir algumas duvidas, e também deu-me um melhor embasamento para um trabalho teológico sobre a carta de Judas que estou fazendo.
ResponderExcluirQue bênção meu irmão. Que o Senhor o abençoe em seu estudo.
ExcluirEmbora escrita ainda no primeiro século, essa Carta é tão atual, quanto as heresias que tentam minar a nossa Fé na Graça e Musericórdia do nosso Deus.Satanás nunca desiste dos seus astutos intentos... Só a Palavra de Deus para nos alertar de suas armadilhas.
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