domingo, 1 de setembro de 2013

Atributos de Deus – garantia do cumprimento de suas promessas


Salmo 89

Nosso Salmo Messiânico anterior foi o Salmo 72, e o tema foi: uma oração de Salomão para que seu reinado seja caracterizado por: justiça (vv.1-4), paz (vv.5-7), poder (vv.8-11), compaixão (vv.12-15), e prosperidade (vv.16-17). As notas finais do livro, são de louvor (vv.18-20) e encerram o Segundo Livro de Salmos.

Nosso Salmo Messiânico, de hoje, é o Salmo 89. Ele é terceiro salmo mais longo da Bíblia, o primeiro e o 119 e o segundo o 78. “É considerado um salmo messiânico porque descreve a aliança eterna entre Deus e Davi, o qual tem sua validade e seu cumprimento definitivo somente em Jesus Cristo”[1]. As referências são: Salmo 89.3, 4 – Lucas 1.31-33; Salmo 89.20-29 – At 13.34; 2Tm 2.8.

O autor desse salmo é Etã, o que, “de acordo com o dicionário de nomes de Abraham Meister, significa Deus é durabilidade, persistência. Não foi por acaso que este salmo, que fala da aliança eterna de Deus com Davi, foi escrito por um homem com esse nome”[2].

Basta conhecer um pouco do Antigo Testamento para que se identifique essa aliança estabelecida por Deus para com seu servo Davi, conhecida como “aliança davídica” (2Sm 7.11-16 cf. Sl 89.3). Ela previa um reinado perpétuo da dinastia de Davi sem, contudo, ignorar o pecado dos seus descendentes. Entretanto, a certeza da perpetuidade do trono davídico superava qualquer incerteza baseada na disciplina temporal dos reis de Judá e até no hiato temporal que envolveu a queda desse trono.

Esse salmo foi escrito em tempos de disciplina de um rei de Judá, descendente de Davi. O trono israelita sofreu um golpe (v.38) e os palácios e fortalezas reais foram derrubados (v.40). Tudo ao redor promove sofrimento e desesperança no que tange ao futuro da monarquia israelita. Mas é justamente nessa situação que os efeitos da promessa de Deus se fazem sentir no meio do seu povo. Assim, o salmista Etã olha para a aliança e vê nela alguns atributos de Deus ligados ao cumprimento daquilo que Deus garantiu realizar.[3]

Nosso estudo de hoje enfatizará os atributos de Deus que garantem o cumprimento das suas promessas nas Escrituras, não somente na aliança davídica, mas em todas as suas alianças e dispensações.
Esses atributos são: 1º) Fidelidadevv.1-5; 2º) Podervv.6-18; 3º) Bondadevv.19-29; 4º) Graçavv.30-37; 5º) Santidadevv.38-51; e 6º) Glóriav.52.

I. Fidelidade no cumprimento da promessa – vv.1-5

Certamente, a palavra “fidelidade” recebe um destaque especial no salmo, sendo utilizada nada menos que sete vezes (vv.1, 2, 5, 8, 24, 33, 49).

Se essa verdade é afirmada ao longo de todo o salmo, os primeiros versículos do texto a enfatizam sem parcimônia, não apenas pelo uso da palavra “fidelidade”, mas pela afirmação das consequências naturais de Deus ser fiel.

Uma das consequências da fidelidade do Senhor é o tempo de duração do cumprimento da promessa – “para sempre” (v.2)

v.3 – foi uma aliança pessoal!

A ênfase pretendida não deixa que o salmista fale disso apenas uma vez nesse trecho inicial (v.4): “A tua semente estabelecerei para sempre” – adiante daqui, a palavra traduzida como “para sempre” reaparece nos vv.28, 36, 37, 52.

Outro modo, ainda no v.4, de afirmar a perpetuidade do cumprimento da promessa é dizer que o trono seria estabelecido “de geração em geração”. Por essa causa, também o louvor a Deus duraria para sempre e por todas as gerações (v.1, 5).

II. Poder para garantir o prometido – vv.6-18

O salmista afirma a supremacia do Deus verdadeiro e único, ao qual nada, nem ninguém pode se igualar (v.6).

Ele é superior aos anjos, pelo que eles o temem e louvam (vv.6, 7).

Seu poder controla tudo que existe (vv.8, 9) e a grandeza da criação revela a ausência de limitações no Criador (vv.11, 12).

Esse poder se revela soberano também sobre a história das nações e dos exércitos (vv.10, 13-18).

Olhando sob esse prisma, o salmista vai interpretar as tragédias dos seus dias como “propósitos de Deus” e não como efeito de “incapacidade divina de dominar a história”. É baseado nessa mesma visão que o salmista – e todos nós – pode confiar na promessa de Deus a na fidelidade do seu cumprimento.[4]

III. Bondade concedida ao seu povo no cumprimento da promessa – vv.19-29

v.19Se o assunto é a aliança de Deus com Davi, o texto lembra que nem sempre Davi foi grande. Davi foi escolhido por Deus do meio do povo e elevado a realeza.

Ao dizer “dentre o povo”, a ideia é que Davi não era diferente dos demais, a não ser no fato de Deus o ter separado para realizar nele seus planos benéficos. Por isso, o que sobressai aqui não são as qualidades do rei, mas a bondade de Deus rendida a ele.[5]

A generosidade divina para com o menino que se tornou rei se revelou na nomeação real pelo Senhor (v.20), na capacitação para o cargo (v.21), no sucesso militar (vv.22, 23), no crescimento como servo de Deus e como rei distinto na história (vv.24-27) e na aliança perpétua que Deus fez com ele (vv.28, 29).[6]

IV. A graça de caráter incondicional no cumprimento da promessa – vv.30-37

vv.30, 31 – Não havia nada em Davi e na sua posteridade que os fizesse merecer essas inauditas bênçãos de Deus. O salmista vai assegurar que merecimento não é a causa das bênçãos, mas, sim, a promessa divina. Notamos isso quando o salmista relata a previsão da infidelidade dos descendentes de Davi que se assentariam em seu trono.

v.32 – Mas, quando isso ocorresse, haveria punição.

v.33Contudo, a promessa do trono perpétuo nunca perderia seu valor e Deus nunca desistiria de cumpri-la (2Sm 7.15).

vv.34-37 Assim, o cumprimento da promessa de Deus não estava atrelado ao merecimento da descendência de Davi, mas ao caráter fiel do próprio Senhor, demonstrando coerência entre o conceito da graça, favor imerecido de Deus, e a incondicionalidade, ou seja, ausência de condições favoráveis no homem que levem Deus a beneficiá-lo.[7]

V. Santidade no tratamento com o seu povo – vv.38-51

v.38, 39 – O fato de Deus estar disciplinado o povo de modo severo, não significa que tenha se tornado infiel ou tenha desconsiderado a aliança que fez. Pelo contrário, continua sendo fiel ao que prometeu, já que previu punição aos pecados.

Deus, em sua santidade, não pode aceitar o pecado como se fosse algo normal,
nem pode conviver com a iniquidade. Portanto, apesar da certeza do cumprimento da promessa de um trono davídico permanente, os dias do salmista foram marcados pela disciplina aos pecados do rei de Judá.

Isso foi sentido na ira de Deus contra o rei dos dias do salmista (v.38), na queda e destruição das fortalezas reais (v.40), no seu escarnecimento pelos inimigos vitoriosos (vv.41-44) e no seu sofrimento e perda de alegria figurados por um envelhecimento precoce (v.45).

Eis a razão do clamor do escritor pela mudança da sorte de Israel baseado na esperança de uma restauração futura (vv.46-51).[8]

VI. Glória de Deus no cumprimento da aliança prometida – v.52

A expressão “Bendito seja o Senhor” é utilizada para louvar a Deus diante da revelação do seu caráter e da aplicação do seu poder e graça.

Não se trata de mera constatação histórica, mas da percepção da glória majestosa de Deus, a qual leva o homem a se curvar em louvor diante dele. Essa consciência no salmista é tão grande quanto seu impulso de adorar o Senhor, pelo que encerra o versículo bradando “Amém, e amém”, atestando a exatidão de toda a verdade a respeito da fidelidade gloriosa do soberano.

Concluindo

Nós, filhos de Deus, não somos descendentes da linhagem real de Davi, mas não poderia haver maior relevância desse salmo para nossas vidas. Isso porque o cumprimento da promessa da perpetuidade da descendência real de Davi se cumpre na volta de Cristo, filho de Davi segundo a carne (Rm 1.3), para estabelecer o reino prometido (Lc 1.32), trazer julgamento sobre a impiedade e promover justiça e paz no mundo (Is 42.1-4; Mt 25.31, 32; At 17.31; Ap 19.11). Além de trazer ao mundo a justiça que ansiamos e aguardamos, por sua graça tomaremos parte nessa tarefa real e na herança de Cristo (Rm 8.17; 1Co 6.3; 2Tm 2.12; Ap 5.10).[9]

Por isso, ainda que vivamos em dias nos quais a promessa, apesar da sua confiabilidade, ainda não se vê em pleno cumprimento, não desanimemos de esperar, nem de viver como quem aguarda a vida gloriosa. Antes, nos encorajemos mutuamente e renovemos, a cada dia, nossa fidelidade para com o Deus fiel. E, como quem vai reinar, sigamos o mesmo caminho do nosso rei, que seguiu primeiro para a cruz para, posteriormente, subir ao trono.

Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira 01/09/13


[1] Lieth, Norbert. Salmos Messiânicos, Actual Edições, 2010, p. 243.
[2] Ibid., p. 243, 244.
[3] Tronco, Pr. Thomas. Estudo do Salmo 89, IBR, (1).
[4] Ibid., (2)
[5] Ibid., (3).
[6] Ibid., (4).
[7] Ibid., (5).
[8] Ibid., (6).
[9] Ibid., (7)

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