Em
nosso estudo anterior, sobre o quinto mandamento:
ð
Citamos ações
práticas, que creio, estão inclusas nessa exigência: honrar aos pais ouvindo; honrar
aos pais considerando; e honrar aos
pais obedecendo em submissão.
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Vimos, pela Palavra
de Deus que, se por um lado, filhos devem honrar seus pais, devotando-lhes a
obediência devida, por outro, os pais, investidos de autoridade, devem
exercê-la de modo responsável e respeitoso, cuidando para não abusarem dela,
provocando os filhos a ira.
ð
Observamos que,
embora as primeiras implicações do quinto mandamento digam respeito à vida
familiar, ele expressa, também, a necessidade, o valor e a importância da
autoridade de um modo geral e exige daqueles que estão investidos ou sujeitos à
autoridade, que se portem como pais e filhos.
ð
Terminamos
afirmando que, a correta relação entre
pais e filhos é fundamental para o bem estar da alma. Por meio de Cristo, pais
e filhos, podem reaproximar-se uns dos
outros. O poder de Deus, pela sua Palavra, é suficiente para encher de amor a
ambos, para perdão e restauração.
Nosso
estudo de hoje é sobre o sexto
mandamento – Êxodo 20.13 – Não
matarás.
Esse
mandamento proíbe o homicídio doloso e culposo e “demonstra a elevada
prioridade que Deus dá à vida humana”.[1] Ele se
revela como o autor da vida desde Gênesis e é o único que possui autoridade
para tirá-la – Gn 1.1-2.1, 17; Dt 32.39.
Para
uma compreensão correta do sexto mandamento precisamos de uma base teísta para
a valorização da vida. O reducionismo
biológico, embora reafirme que o homem é um ser racional, trata o ser
humano como um simples animal conduzido unicamente pela lei da sobrevivência do
mais apto, onde matar o fraco deixa de ser amoral e se torna encaminhamento
natural e até necessário. A cosmologia
mística, por sua vez, assenta-se sobre a ideia, ainda que não articulada
conscientemente, de que tudo o que existe é divino, ou seja, o panteísmo. Ainda
que propondo algo diferente do reducionismo biológico, a cosmologia mística nos
conduz a resultados semelhantes.[2] Assim,
não há um alicerce adequado para a dignidade humana por esses caminhos.
A
Bíblia ensina que a vida humana é preciosa porque é criação singular de Deus. “Pela
estrutura do relato de Gênesis, que parte do simples para o complexo, da
preparação do arcabouço pertinente à vida, até o clímax da criação no sexto
dia, quando surge o homem”[3] (Gn 1.1-31 (cf. 1.26, 27), o relato é
cuidadoso e destaca a criação das coisas conforme ou segundo a sua espécie – Gn 1.11, 12, 21, 24, 24, 25. Mas, em Gn 1.26 fica claro que o ser humano é
uma criatura distinta das demais.
Assim,
a dignidade humana não pode ser constatada a partir de um paradigma meramente
biológico (materialismo), nem muito menos místico (panteísmo), mas, sim a
partir da aceitação de um Deus criador e pessoal, que fez o ser humano à sua
imagem e semelhança (Gn 1.26, 27).
Esse é o único lastro consistente para a articulação de qualquer conceito da
dignidade da vida humana. Esse ponto de vista é chamado de Teísmo Cristão.
Mas,
o sexto mandamento, também, revela e coíbe o ímpeto homicidada existente no
coração humano por causa da queda. Vemos que nos primeiros capítulos da Bíblia,
a morte é mencionada quatro vezes: Em Gn
2.17 – apresentada como possibilidade;
em Gn 3.19 – apontada com resultado imediato da queda, ou como destino; e em Gn 4, a morte é um fato por duas vezes
– 4.8, 23 – isso demonstra a
existência de um ímpeto homicida no coração humano decaído.
O
Senhor Jesus ensinou em Mc 7.21 que
o coração humano depravado pelo pecado é a fonte do homicídio. Assim, esse
mandamento é dado a fim de revelar e estancar essa fonte.
O
sexto mandamento da Lei de Deus é desafiador para as relações humanas. O ensino
do Senhor Jesus sobre a dignidade humana, como imagem de Deus, traz uma
advertência séria sobre isso – Mt 5.21,
22; cf. Hb 12.14-17. Para ele, a
ira abrigada na alma já é um homicídio em potencial. Jesus afirma, ainda, que a falta de acerto na
relação com próximo impede o culto – Mt
5.23-26; cf. Is 58.3, 4.
O
mandamento confronta o ódio que leva ao desejo de vingança, ambição
desenfreada, banalização da vida humana e autocomiseração. O ódio ou a raiva
pode manifestar-se de três modos: 1º)
Em fúria – claramente publicado; 2º) em
indiferença ou trato polido – percebido por alguns; e 3º) disfarçado sob um verniz
de amabilidade – sutilmente oculto. Em todos os casos há violência, que
pode ser: agressão física, moral, psíquica e espiritual. O ódio produz obsessão (onde se dedica todas as
energias à destruição ou apagamento do outro), distanciamento (quando se considera o outro morto), doença mental (quando obcecado pelo mal
do outro, se adoece) e doença espiritual (falta de comunhão com Deus).[4]
Mesmo
sabendo que no mundo em que vivemos teremos inimigos, pela defesa de nossa fé e
dos princípios morais absolutos da Palavra de Deus, a Bíblia nos constrange a
buscarmos a paz com todos os homens e depositar nossas causas nas mãos de Deus
– Mt 5.9; Rm 12.9-21.
O
sexto mandamento implica, também, em nosso
cuidado pessoal e na função social das autoridades constituídas, isto é, em
que não devemos fazer mal a nós mesmos e isso coíbe tanto o ato extremo do
suicídio quanto o descuido com nosso equilíbrio pessoal, e que as autoridades
constituídas receberam a incumbência de manter a ordem social e, para isso,
podem e somente elas podem, usar a força para coibir o mal e motivar o bem.[5] (cf. Ef 5.29; 1Tm 4.16; At 20.2, 3; Rm 13.4)
No
controverso tema do uso da violência em legitima defesa, o Senhor Jesus
recomenda a vigilância – Mt 24.43; Lc
22.35-38.
Concluindo
No
Catecismo de Heidelberg, pergunta 105, temos: O que Deus exige
no sexto mandamento?
Que eu não
devo desonrar, odiar, ferir ou matar meu próximo, seja eu pessoalmente, ou por
meio de outros, mas que devo abandonar todo desejo de vingança; e também que eu
não fira a mim mesmo, e nem deliberadamente me exponha a qualquer perigo. Para
isso, as autoridades dispõem de armas para evitar homicídios.
No
Catecismo Maior de Westminster, pergunta 135, temos: Quais são os
deveres exigidos no sexto mandamento?
... a justa
defesa (da vida) contra a violência; a paciência em suportar a mão de Deus; o sossego de
espírito, a alegria de coração e o uso sóbrio da comida, da bebida, de remédios,
do sono, do trabalhos e dos recreios; pensamentos caridosos, amor, compaixão,
mansidão, benignidade, bondade, comportamento e palavras pacíficos, brandos e
corteses; a longanimidade; a prontidão para se reconciliar, suportando
pacientemente e perdoando as injúrias, pagando o mal com o bem; confortar e
socorre os aflitos; e proteger e defender os inocentes.
Creio
que, por último, o mandamento sugere
sentimentos, atitudes, hábitos e comportamentos construtivos.[6]
Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira, 08/03/14
[1] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
2009, p. 172.
[2] Lição “Os Dez Mandamentos – Os Preceitos do Deus da
Aliança”, Editora Cultura Cristã, 1º Trimestre de 2014, Lição 7, p. 35.
[3] Ibid., p. 36.
[4] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do
discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 16.
[5] Ibid., p. 16.
[6] Ibid., p. 17.
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