Em
nosso estudo anterior, quando começamos a expor Filipenses 2.1-30 sob o seguinte tema: Uma experiência de vida com Cristo – “Cristo, o modelo cristão:
Regozijando-se no serviço humilde”. Estudamos os versículos de 1 a 4 com o
tema: Exortação à humildade e unidade em
Cristo.
Hoje,
continuando nossa exposição, vamos ver os vv.5-11
com o tema: A humilhação (kenosis) e a
exaltação de Jesus Cristo.
II. A humilhação
(kenosis) e a exaltação de Cristo – v.5-11
Em
seu primeiro texto poético (v.1-4), Paulo, enfatiza que a verdadeira unidade e
humildade cristã só é possível se os que se dizem cristãos estiverem de fato em
Cristo. Se eles verdadeiramente já foram
iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito
Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro
(Hebreus 6.4, 5). Por isso, ele diz, que eles deveriam pensar a mesma coisa,
ter o mesmo amor, serem unidos de alma e terem o mesmo sentimento. (v.2) Agora,
ele compõe um novo hino enfatizando o exemplo de Jesus Cristo, divido em seis
versos: Os três primeiros são uma
celebração a humildade e obediência de Cristo – v.6-8; Os três últimos uma celebração a sua exaltação –
v.9-11.
1. Celebrando a humildade
e obediência de Cristo – v.5-8
a. Tende
em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... (v.5) – O mesmo sentimento, aqui,
se refere à humilde disposição obediente
de Jesus Cristo. Frank Stagg afirma que o principal apelo de Paulo é que a disposição ou sentimento que governava
Jesus Cristo, também dominasse o seu povo.
ð Humildade é parte essencial desse
sentimento que deveria dominar o povo de Deus, mas, Paulo ressalta também a
abnegação ou auto sacrifício, que se coloca contra uma busca de interesses
próprios que estava querendo dominar a Igreja.
ð Esse sentimento em Cristo, isto é,
essa humildade e obediência em servir no corpo de Cristo, só era possível pelo
fato de os crentes já terem a mente de Cristo, como diz Paulo aos coríntios: Nós, porém, temos a mente de Cristo. (1
Coríntios 2.16).
ð Essa mente de Cristo precisa
transformar a nossa mente, como enfatiza Paulo aos romanos: “... transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus”. (Romanos 12.2b)
b. ... pois ele, subsistindo em forma
de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
(v.6)
ð A
palavra forma é a tradução da
palavra morphé. Termo grego que
enfatiza o relacionamento entre a forma exterior e a realidade interior,
mostrando-se a natureza interior na forma externa. Uma forma externa verdadeiramente indicativa da natureza interna da
qual ela brota. (Scofield)
ð Jesus Cristo não precisou abrir mão
da forma de Deus, isto é, colocar de lado a sua divindade, a fim de tomar a
forma humana. O fato de ele ter se tornado homem não significou que ele cessou
de ser Deus. Jesus, em sua encarnação, era Deus e nunca deixou de ser, ele
simplesmente abriu mão de privilégios e de uma situação favorável, mas não pôs
de lado sua natureza divina.
c. ...
antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança
de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se
humilhou, tornando-se
obediente até à morte e morte de cruz. (v.7, 8)
ð ...
a si mesmo se esvaziou...
– Essa frase deu origem à cristologia
kenótica segundo a qual, de certa forma, o Cristo preexistente entregou ou
abriu mão de sua divindade para tornar-se homem. Na verdade, se esvaziou refere-se ao fato de ele
ter derramado sua vida para Deus, em autonegação humilde e obediente,
recusando-se, de todas as formas, a agir egoisticamente.
ð O seu kenósis (esvaziamento) não foi a desistência da divindade, mas a
aceitação da servidão (Frank Stagg) – assumindo
a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens – v.7b. Esse pensamento é apoiado por 2 Coríntios 8.9 – pois
conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre
por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.
ð Charles Caldwell Ryrie diz: A
Kenosis de Cristo durante a sua encarnação não significa que ele tenha perdido
qualquer de seus atributos divinos, mas que ele assumiu as limitações da
humanidade – João 17.5; Mateus 24.36.
ð e,
reconhecido em figura humana
– Para Paulo, tanto a divindade como a humanidade de Jesus Cristo eram reais, a
ênfase nesta parte do texto sobre a humanidade de Jesus, sugere, segundo Scott,
que foi dessa maneira que os homens o reconheceram, simplesmente como homem –
Marcos 6.13; João 6.42; Romanos 5.15; 1 Timóteo 2.5.
ð ...
a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz – A linguagem na primeira parte
desta frase é paralela a do v.7 – a si
mesmo se esvaziou. Na Septuaginta estas palavras têm um paralelo em Isaías 53.8. Mas, cada ato ocorre pelo
livre exercício da vontade pessoal de Jesus Cristo.
ð Segundo Frank Stagg a essência desse
sentimento humilde de Cristo, era a sua disposição de não se apegar à igualdade
com Deus, mas, pelo contrário, ser obediente
até à morte e morte de cruz – v.8.
ð A cruz era o centro da pregação de
Paulo – mas nós pregamos a Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios – 1
Coríntios 1.23 (1.17, 18).
Paulo celebrava a encarnação de
Cristo porque ele via nisso a fidelidade da Palavra de Deus e a salvação para
os pecadores - Fiel é a palavra e digna
de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos
quais eu sou o principal.
( 1 Timóteo 1.15)
2. Celebrando a
Exaltação de Cristo – v.9-11
Essa segunda parte do hino, descreve
a exaltação da pessoa cuja completa abnegação a levou à cruz. No ensino de
Jesus a vida é encontrada quando se
perde, uma pessoa é humilhada quando se exalta e é exaltada quando se humilha
– Mateus 10.39; 23.12. O que Jesus
ensinou aos outros, ele mesmo personificou. Deus exaltou soberanamente aquele
que se dispôs a negar-se a si mesmo.
a. Pelo que também Deus o exaltou
sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome... (v.9) – Em sua humanidade o Filho de Deus
foi exaltado recebendo o nome Jesus,
que significa Yahweh Salva.
b. ... para que ao nome de Jesus se
dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra (v.10) – A exaltação sobremaneira de Cristo
não se limitou só ao nome Jesus, mas ao fato de que todo o joelho, nos céus, na
terra e debaixo da terra se dobrarão em adoração a Ele e que toda língua confesse que Jesus Cristo é
Senhor, para glória de Deus Pai. (v.11)
Concluindo
Jesus Cristo é adorado pela perfeita
harmonia de suas duas naturezas – a divina e a humana. O louvor que lhe é dado
de joelhos e numa singular confissão de fé, compreende sua humanidade (Jesus) e
sua divindade (Senhor) como no Evangelho de João 1.14 – E o Verbo se fez
carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória,
glória como do unigênito do Pai.
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