Salmo 68
No estudo do Salmos Messiânicos, Salmo 48, o nosso
tema foi: O nosso Deus. Estudamos ele em quatro pontos: 1º) Deus
sendo exaltado na cidade messiânica de onde reinará sobre toda a terra (v.1-3); 2º) a ação dEle em derrotar
os inimigos de seu povo (v.4-7);
3º) a ação de graças pela vitória na cidade do nosso Deus (v.8-10); e 4º) a convocação para adorar
a Deus e confiar nEle (v.11-14).
No salmo messiânico de hoje é o Salmo 68. A referência messiânica
direta, que o identifica como salmo messiânico, é: Salmo 68.18 – Ef 4.8-10 (Rm 10.3-7).
Este salmo de Davi é um salmo de celebração de
vitória e inclui oração, ação de graças, lembranças históricas e imprecação.
Ele expressa a satisfação do povo de Deus pelo seu cuidado e pela sua majestade
no universo.
O Salmo
68 foi composto durante uma mudança. Mas quem estava mudando não era uma
pessoa, mas a “arca do testemunho”. Deus ordenou que ela fosse construída para
ficar dentro do tabernáculo, no lugar chamado “santo dos santos” (Êx 26.33).
Mas, devido ao pecado dos filhos de Eli e da negligência do pai, a arca foi
tomada pelos filisteus (1Sm 4.11). Ao ser devolvida, ela ficou na cidade de
Quiriate-Jearim (1Sm 7.1) desde os dias da adolescência de Samuel até o início
do reinado de Davi em Jerusalém, cerca de cem anos. A primeira tentativa de
levar a arca a Jerusalém não teve sucesso, pois Davi preparou um meio de
transporte irregular de acordo com a lei (2Sm 6.1-11). Mas, depois de três
meses abençoando sua nova morada, a arca foi transportada do modo prescrito por
Deus e chegou a Jerusalém em meio a uma explosão de alegria (2Sm 6.12-19;
1Cr 15.25-16.3).[1]
Quando
a arca já estava na tenda que Davi preparou para ela, ele ordenou que se
cantasse algo que se parece primeiro com o Salmo 105 (1Cr 16.8-22),
depois com o Salmo 96 (1Cr 16.23-33) e termina de um modo que lembra
o Salmo 106.47,48 (1Cr 16.35,36). Porém, ao que tudo indica, o Salmo
68 foi composto durante a viagem da arca para Jerusalém. Percebe-se isso
vendo que o texto começa com a declaração feita por Moisés na primeira viagem
da arca (Sl 68.1 cf. Nm 10.35). Em segundo lugar, Davi ambienta o
salmo em uma comitiva que chamou de “o cortejo do meu Deus”. Lembrando que a
arca simbolizava a presença e a habitação de Deus entre o povo da aliança, esse
cortejo representava a habitação divina no lugar correto e com a adoração
adequada. Foi um dia realmente marcante, digno de uma composição como
o Salmo 68. Por isso, podem-se ver alguns efeitos da presença de
Deus entre seu povo.[2]
Nosso tema de hoje é “Efeitos da Presença de
Deus”. 1º) O estabelecimento da justiça – vv.1-6; 2º) A concessão da graça
– vv.7-10; 3º) O anúncio da primazia divina (vv.11-16, 21-23);
4º) A salvação do seu povo –
vv.17-23; 5º) A adoração digna da glória divina – vv.24-35. O estudo tem como
texto base o Salmo 68 e o estudo, no salmo, feito pelo Pr. Thomas Tronco da
Igreja Batista Redenção.
I. O primeiro
efeito é o estabelecimento da
justiça – vv.1-6
1. O início da marcha da arca
(v.1)
se dá ao som do brado “Levanta-se Deus”. Esse levantar, segundo o texto,
promove a derrota dos inimigos.
2. v.2 – “... como se derrete a cera ante o fogo,
assim à presença de Deus perecem os iníquos”. A razão para o injusto perecer
diante de Deus é a atuação divina de conter o mal durante a História e puni-lo
definitivamente ao final dela.
3. Porém, a presença de Deus
não é temível, mas aprazível, para os que foram por ele justificados (v.3):
“Os justos, porém, se regozijam, exultam na presença de Deus e folgam de
alegria”.
4. vv.4, 5 – Por causa da justiça
promovida pelo Senhor, o salmista o louva. Louva aquele que protege os
desvalidos e oprimidos pelos injustos, pelo que Davi o chama de “Pai dos órfãos
e juiz das viúvas”.
5. Assim, a justiça de Deus é
bem distribuída (v.6): “Deus faz que o solitário more em família”, no sentido
de dar uma moradia segura a quem não tem, “só os rebeldes habitam em terra
estéril”.
II. O segundo
efeito da presença de Deus é a
concessão da graça – vv.7-10
1. vv.7, 8 – Davi, lembrando da jornada
israelita no deserto seco, recorda também da concessão do que era vital: “... também
os céus gotejaram à presença de Deus”.
2. v.9 – Para expressar o cuidado
bondoso de Deus, Davi usa a figura de uma copiosa chuva vinda de Deus para
matar a sede de Israel, herança do Senhor. Assim, o impossível aconteceu:
Israel conseguiu habitar no deserto por quatro décadas. Suas frequentes
murmurações desde que deixaram o Egito, dez vezes em cerca de um ano (Nm
14.22), certamente os desqualificavam como merecedores do sustento diário.
3. v.10 – Exatamente aí que agiu a
graça de Deus vinda da sua presença no meio daquela nação. O fato de os
israelitas terem morado no deserto tanto tempo e sobrevivido pela ação graciosa
de Deus revela, por si só, o caráter do Senhor: “... em tua bondade, ó Deus,
fizeste provisão para os necessitados”.
III. O terceiro
é o anúncio da primazia divina – vv.11-16 (21-23)
1. vv.11, 12 – Davi recorda, ainda, da conquista de Canaã por
ordem de Deus. O resultado foi uma incrível vitória sobre os cananitas: “Reis
de exércitos fogem e fogem”.
2. v.13 – O que vem a seguir é de difícil interpretação, mas
parece que o salmista se refere ao enriquecimento dos israelitas à custa do
despojo obtido nas vitórias promovidas por Deus.
3. v.14 – Tudo isso acontece porque o poder de Deus é maior
que o dos adversários do seu povo, pelo que é chamado de Todo-poderoso. Essa
ideia combina com a citação subsequente do Zalmon, um monte próximo a Siquém e
com a menção da palavra monte seis vezes nos vv.15,16.
4. vv.15, 16 – Os montes representavam refúgios seguros, fortalezas
impenetráveis e o local de habitação e adoração dos deuses, alguns deles eram
tão altos que tinham geleiras. Assim, o que o salmista faz é mostrar a primazia
de Deus quando se faz presente entre seu povo que, sem dificuldades, derruba as
fortalezas inimigas e frustra as falsas esperanças dos deuses desses povos. Por
isso, só o monte em que o Senhor se faz presente, Sião, é vitorioso no final
(v.16).
IV. O quarto é a salvação do seu
povo – vv.17-23
1. vv.17, 18 – A próxima memória de Davi vem do período dos juízes
no qual Israel sofreu opressão nas mãos de seis povos vizinhos. O salmista
parece ter em mente a ordem de Débora a Baraque, em seu cântico (Jz 5.12):
“Captura os teus cativos”. Essa virada militar – vencer o povo que antes vencia
e capturar quem antes era o autor de capturas – é atribuída a Deus (v.18): “...
levaste cativo o cativeiro...”.
2. vv. 19, 20 – Assim, os reinos opressores que cobravam impostos e
obediência das tribos israelitas foram agora despojados e tributados por Deus.
O jugo dos inimigos representou salvação para o povo da aliança, pelo que diz o
salmista: O nosso Deus é o Deus libertador; com Deus, o SENHOR, está o
escaparmos da morte. Essa salvação se deve à presença de Deus com seu povo
(v.17): No meio deles, está o Senhor.
3. vv.21-23 – Aqui, com realismo típico da época, os resultados
da vitória são descritos quando o Senhor derrota os seus adversários e dá ao
seu povo os frutos da conquista, tudo é justificado em bases morais.[3]
V. O quinto efeito da presença de Deus
é a adoração digna da glória divina – vv.24-35
1. v.24 – Com as bênçãos do passado vívidas na mente, o
salmista participa do transporte da arca para o monte Sião, em Jerusalém.
2. v.25 – O cortejo segue em meio ao louvor alegre e
reverente.
3. vv.26, 27 – As tribos de Israel bendizem o Senhor e participam
do transporte da arca que representa sua presença no meio do povo.
4. vv.28-32 – O louvor ao Altíssimo é tão merecido que pessoas de
outros reinos prestam culto ao Senhor no local da sua habitação. Por isso, o
salmista conclama: Reinos da terra, cantai a Deus, salmodiai ao Senhor – v.32.
5. vv.33-35 – A razão da ordem é que a soberania de Deus se vê
presente em Israel, pelo que o salmista encerrou com a frase mais lógica diante
da glória do Deus presente entre os homens: “Ó Deus, tu és tremendo nos teus
santuários; o Deus de Israel, ele dá força e poder ao povo. Bendito seja Deus!”
(v.35).
Concluindo
Que
glorioso deve ter sido caminhar ao lado do cortejo de Deus rumo a Jerusalém em
meio à linda solenidade! Que sensação devem ter sentido os israelitas ao ver a
arca entrando na tenda preparada para ela em meio a tantas aclamações! Porém,
apesar de não termos hoje, como igreja de Cristo, uma arca e um tabernáculo que
marquem a presença de Deus no meio do seu povo, temos a mesma certeza da
presença do Todo-poderoso por onde quer que formos (At 7.48,49; 17.24 cf. 1Rs
8.27; Sl 139.7-10); temos a promessa de Cristo de que estaria conosco todos os
dias até o fim (Mt 28.20); e somos habitação do próprio Espírito Santo (1Co
6.19; Ef 1.13,14). Sendo assim, os mesmo efeitos da presença de Deus devem se
repetir em nossa vida, tanto de modo individual como coletivo. Portanto, que
haja realmente em nós esperança de justiça divina e um proceder justo da nossa
parte, confiança na graça maravilhosa de Deus, defesa pública da supremacia de
Deus, fé salvadora unida ao evangelismo dedicado e, finalmente, uma adoração
tão sincera, piedosa e dedicada de maneira que o mundo sem Cristo fique
surpreso por ver a mudança de vida de homens pecadores e a glória de Deus
louvada por bocas pequenas demais para glorificá-lo o bastante. Afinal, ele
realmente está presente entre nós.[4]
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