Daniel 1
Ao
ler o livro “Ouse ser Firme – O livro de
Daniel” de Stuart Olyott, publicado pela Editora Fiel, e a série de estudos em Daniel “A vida espiritual em uma cultura secular” de Bill Crowder, fui mais uma vez estimulado a ler o livro de
Daniel “pelo valor do próprio livro e ver que sua mensagem é para o nosso tempo”.[1]
Os primeiros seis capítulos do livro são narrativos e
os últimos seis são “repletos de símbolos aparentemente misteriosos, sobre os
quais tem havido grande controvérsia, mas que, de fato, não são difíceis. O
livro inteiro é bastante prático – especialmente para crentes que se encontram
solitários, mesmo estando entre colegas de escola, ou de trabalho, ou entre
seus familiares e amigos”.[2]
Daniel, “a partir de 7.2, escreve
de maneira autobiográfica, na primeira pessoa do singular e deve ser
distinguido dos outros três ‘Daniéis’ do Antigo Testamento”[3] (cf. 2Cr
3.1; Ed 8.2; Ne 10.6). Veja o texto: Falou
Daniel e disse: Eu estava olhando, durante a minha visão da noite, e eis que os
quatro ventos do céu agitavam o mar Grande.
Antes de vermos o capítulo um de
Daniel, vamos ver, brevemente, um panorama histórico que levou o povo de Deus até
ao cativeiro babilônico em 605 a.C., que foi quando veio Nabucodonosor – No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei
de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e a sitiou. (v.1)
Tudo
começou quando Deus escolheu um homem, Abraão, “e prometeu que por meio dele e
de sua descendência todas as famílias da terra seriam abençoadas”.[4]
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Essa nação foi
para o Egito e permaneceu lá quatrocentos anos;
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Depois desse
período, a nação saiu do Egito e guiada por um homem, também chamado por Deus,
Moisés, peregrinou no deserto onde recebeu a Lei de Deus – Lei Cerimonial, Lei
Civil e Lei Moral (Dez Mandamentos);
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Após a
peregrinação no deserto, sob a liderança de Josué, a nação de Israel entrou na
terra prometida e antes da morte deste, a terra foi conquistada, em grande
parte, e dividida entre as doze tribos;
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Dai chegamos à
época dos juízes, homens a quem Deus levantou para livrar a nação de sucessivos
conquistadores;
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Veio, então, o
período dos reis – Saul, Davi, Salomão e Roboão;
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No inicio do
reinado de Roboão a nação se dividiu em duas: Reino do Norte – Israel ou
Efraim, com dez tribos e sua capital foi Samaria; Reino do Sul – Judá, com duas
tribos e sua capital foi Jerusalém.
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No Reino do
Norte, em suas várias dinastias, nenhum rei temente a Deus se assentou no
trono. As dez tribos foram levadas em cativeiro, em 722 a.C., pela Assíria,
após serem advertidas seriamente por Deus através do seus profetas quanto à sua
apostasia. Infelizmente, com o tempo, perderam a sua identidade como povo de
Deus.
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No Reino do Sul, todos
os seus reis foram da dinastia davídica. Mas, apesar disso, a nação teve altos
e baixos em sua vida espiritual e infelizmente, também, a apostasia cresceu. E
cresceu a tal ponto que, Deus, pelos seus profetas, advertiu muitas vezes a
nação que, se não houvesse arrependimento, haveria julgamento, mas seus avisos
não foram ouvidos.
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Assim, então, do
além do horizonte, em 605 a.C., veio Nabucodonosor. E durante os vinte e três
anos seguintes, em quatro estágios sucessivos, ele levou quase todo o povo de
Judá para a Babilônia.
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E, as margens dos
rios da Babilônia, o povo de Deus se assentava e chorava, quando se lembrava de
Sião – Salmo 137.1-6.
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Mas, dentro dessa
nação apostata, existia um pequeno grupo de pessoas que se mantinham fiéis a
Deus, como os profetas haviam predito. Esse pequeno remanescente fiel viveu
durante os 70 anos do cativeiro, amando a Deus e vivendo para agradá-lo, mesmo
na longínqua Babilônia.
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Nos dias do
cativeiro, esse pequeno grupo fiel foi representado por Daniel, Hananias,
Misael e Azarias. Numa época em que ninguém mais se importava, Deus e sua
Palavra continuavam a ter importância para este pequeno grupo.
O livro de Daniel “revela como podemos permanecer
fiéis a Deus em um ambiente hostil. Mostra-nos como viver para Deus quando tudo
está contra nós”.[6]
“É possível uma pessoa viver para
Deus quando as circunstâncias lhe são totalmente contrárias. Espiritualidade e
integridade de caráter não exigem condições ideais para se desenvolverem. Não
são plantas que se desenvolvem sob a proteção da estufa, mas crescem melhor
quando expostas à neve, ao vento, ao granizo, à seca e ao sol escaldante”.[7]
Pense em Daniel, um garoto que tinha entre 14 e 15
anos, quando foi levado para Babilônia onde foi submetido a uma forma de
instrução poderosa e sutil para afastar-se do Deus vivo. Esteve rodeado pelo
mal, na juventude, na maturidade e na velhice. Quase não há tentação conhecida
que ele não tenha enfrentado, entretanto, propôs em seu coração que agradaria a
Deus e nunca se apartou desse propósito. Por isso, vemos que, é possível
vivermos para Deus em um mundo hostil, pois, a verdadeira santidade pode
desenvolver-se e florescer diante de condições não ideais.[8]
Ao pensarmos em dificuldades, de quais
nos lembramos ao não ser das nossas?! Esse livro de Daniel “nos denuncia
completamente. Prova que a verdadeira espiritualidade nunca dependeu de
circunstâncias fáceis”.[9]
Qual foi o segredo de Daniel? Foi
simples:
1º) Oração – Dn 2.17-19 – o
que Daniel fez antes de interpretar o sonho de Nabucodonosor?; Dn 6.10 – porque houve uma conspiração
contra Daniel?; Dn 9 – qual o
assunto desse capítulo? “Uma adequada vida de oração é uma parte do segredo de
permanecer fiel a Deus em um mundo hostil”[10].
2º) Leitura
das Escrituras – Dn 9.2 – o que
Daniel fazia? Dn 9.11 e 13 – a que
Daniel se referiu ali? Daniel lia a conhecia as Escrituras. Ele permaneceu
firme servindo a Deus em um mundo hostil, simplesmente, porque lia sua Bíblia e
orava.[11]
Precisamos
enfatizar a prática dessas verdades simples hoje, pois uma grande parte do povo
de Deus pensa que, o segredo de uma vida cristã firme e fiel está em uma nova e
excepcional experiência com Deus. O que mais ouvimos hoje são aquelas frases de
efeito do tipo: “O melhor de Deus está por vir!” “O mais de Deus”.
Mas,
o que nos diz o capítulo um de Daniel? Ele, assim como o último capitulo, é
breve! É uma narrativa simples e direta e nos ensina lições que não deveríamos
esquecer nunca. O capítulo um se divide em quatro partes: 1º) A ida de Nabucodonosor a
Jerusalém – vv.1, 2; 2º) A
apresentação de Daniel e seus três companheiros – Hananias, Misael e Azarias
– vv.3-7; 3º) A posição ocupada por
Daniel e seus três companheiros – vv.8-16;
e 4º) O resultado da ação corajosa e espiritual de Daniel e os três – vv.17-21.
I. A ida de Nabucodonosor a Jerusalém –
vv.1, 2
Em
605 a.C. Nabucodonosor se torna rei da Babilônia e marcha contra Jerusalém –
sitia, invade, derrota e a faz cativa, levando para a sua terra o que deseja e
quer.
Por
oito anos Jeoaquim ainda permanece em Jerusalém, mas depois é completamente
destituído e humilhado.
O
templo é saqueado e os seus tesouros são levados para a Babilônia. Agora,
aquilo em que a apostasia confiava não mais tem valor, está totalmente
devastado.
Ao
invés de confiar em Deus o povo estava confiando no templo. Estavam certos de
que não importava como vivessem o templo os salvaria. Mas, isso não aconteceu!
Deus
é o único Senhor! Nada pode substituí-lo! Substituir Deus por algo feito por
mãos humanas é idolatria! E a idolatria derrotou o povo de Deus!
O
primeiro mandamento da Lei de Deus é: Não
terás outros deuses diante de mim. (v.3)
O Breve Catecismo de Westminster ao definir quais sãos os deveres exigidos no
primeiro mandamento afirma: Os deveres
exigidos no primeiro mandamento são: conhecer e reconhecer Deus como único
verdadeiro Deus, e nosso Deus; cultuá-lo e glorifica-lo como tal, pensar e
meditar nele, lembrar-nos dele, altamente apreciá-lo, honrá-lo, adorá-lo,
escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e teme-lo; crer nele, confiando, esperando,
deleitando-nos e regozijando-nos nele; ter zelo por ele; invocá-lo, dando-lhe
todo louvor e agradecimentos, prestando-lhe toda obediência e submissão do
homem todo; ter cuidado de o agradar em tudo, e tristeza quando ele é ofendido
em qualquer coisa; e andar humildemente com ele.[12]
Assim,
o primeiro mandamento nos ensina que “nada
deve ser considerado como mais amável ou importante do que Deus. Colocar
qualquer coisa à sua frente é idolatria”.[13] E
idolatria “é inventar ou ter alguma coisa
em que se deposite confiança, em lugar ou ao lado do único e verdadeiro Deus, que
se revelou na sua Palavra”.[14]
II. A apresentação de Daniel e seus três
companheiros – vv.3-7
Esses
versículos apresentam os principais personagens do livro – Nabucodonosor, seus assessores e Daniel, Hananias, Misael e Azarias.
A
estratégia do Rei Nabucodonosor – “deportar a nobreza de cada nação conquistada
e integrá-las no serviço público da Babilônia”[15]. Foi
esse o método que ele usou quando conquistou Judá – v.3.
Os
selecionados para o abrangente programa de reeducação teriam acompanhamento e
treinamento vip – vv.4, 5. A idade
exigida para a reeducação pelos babilônios era entre 14 e 15 anos.
Era
parte da política babilônica mudar os nomes de todos os selecionados para a
reeducação e treinamento especial – vv.6,
7.
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Daniel que
significa “Deus é meu juiz”, recebeu o nome de Beltessazar que significa
“Guarda dos segredos ocultos de Bel” ou “Bel protege o Rei”.
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Hananias que
significa “O Senhor é Gracioso”, recebeu o nome de Sadraque que significa
“Ordem de Aku” outro deus babilônico.
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Misael que
significa “Quem é como o Senhor”, recebeu o nome de Mesaque que significa “Quem
é como Aku” ou uma antiga forma do nome da deusa Vênus.
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Azarias que
significa “O Senhor é meu ajudador ou o que me auxilia”, recebeu o nome de
Abede-Nego que significa “Servo de Nego” também chamado de Nebo, o deus da
vegetação.
Olhando
os quatro nomes originais dos jovens, vemos que dois deles terminam em “el”, que indica um dos nomes de Deus e
dois que terminam em “ias”, uma
versão abreviada do nome Jeová. Os babilônios alteraram os seus nomes para
outros que se referiam as suas divindades pagas – Bel, Marduque, Vênus e Nebo.
O
processo de reeducação alimentar, intelectual, psicológica e espiritual durava
três anos. Afastados de seus lares, instruídos a esquecer de Deus e reeducados intensivamente
numa cultura pagã, o que aconteceria a estes jovens? Resistiriam ales a
pressão? Permaneceriam fieis ao seu Deus e ao que sabiam ser correto? Ou
sucumbiriam?[16]
III. A posição ocupada por Daniel e seus
três companheiros – vv.8-16
O
que levou o povo para o cativeiro foi o pecado de idolatria. O exílio era um
castigo por todos os pecados da nação. O principal pecado deles foi a idolatria.
Agora,
diante daqueles jovens fora colocado um dos principais atos idolatras dos
babilônios – suas refeições, que eram
todas oferecidas aos seus deuses. Aqueles rapazes faziam parte do
remanescente fiel, aquele pequeno grupo do povo de Deus, que se recusou à
pratica da idolatria. Se não se envolveram antes com ela, não seria agora que o
fariam.
A
linguagem do v. 8 demonstra cautela.
Daniel foi firme, mas foi educado e gentil! O caráter de Daniel é visto no fato
de não ter desistido e não ter voltado atrás
– vv.11-14.
Os
vv.15 e 16 mostram o efeito da dieta
de Daniel e de seus companheiros. “Isso
nos mostra que ninguém perde coisa alguma quando se recusa a comprometer sua fé.”[17]
Se
Daniel e seus três companheiros tivessem se comprometido no início de suas
vidas na Babilônia, como reagiriam ao serem confrontados mais tarde? “Por terem
honrado a Deus em uma coisa pequena, puderam honrá-lo também nas questões mais
importantes. Pessoas caem em pecados sérios somente porque aprenderam a tolerar
pecados menores.”[18]
Concluindo – O resultado da ação
corajosa e espiritual de Daniel e os três – vv.17-21
Nos
vv.17 a 21 temos o resultado
imediato da ação corajosa e espiritual dos jovens. O curso terminou e eles
foram aprovados com louvor. Colocaram a Deus acima de todas as outras
considerações e Ele os honrou despertando em suas vidas dons que nem imaginavam
possuir. Mas a Daniel Deus, também, concedeu outro dom que se destacaria mais
tarde na história. Escute o versículo na versão BLH – ... mas a Daniel deu também o dom de explicar visões e sonhos. (v.17b)
Se
não vivermos para Deus agora, nenhum de nós poderá fazer com que uma posição
mais elevada se torne valiosa para Ele. Se não estamos dispostos a permanecer
firmes e comprometidos com Ele em coisas pequenas, como o faremos nas grandes?
E possível ser fiel no muito, sem primeiro ter sido fiel no pouco? Se não
podemos resistir a tentações comparativamente pequenas, o que faremos quando
elas forem intensificadas?[19]
Para
Olyott, o ensino central deste capítulo pode ser resumido em 1Samuel 2.30b – ...
aos que me horam, honrarei, porém os que
me desprezam serão desmerecidos.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBLAJP
– 07/05/2017
[1] Olyott, Stuart. Ouse ser Firme – O Livro de Daniel,
Editora Fiel, Segunda Edição 2011, p. 9.
[2] Ibid., p. 9.
[3] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1073.
[4] Olyott, p. 11.
[5] Olyott, síntese das páginas 11 a 13.
[6] Olyott, p. 13.
[7] Ibid., p. 14.
[8] Ibid., p. 14.
[9] Ibid., p. 15.
[10] Ibid., p. 15.
[11] Ibid., 15.
[12] Catecismo Maior de Westminster, Pergunta 104.
[13] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do
discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 12.
[14] Catecismo de Heidelberg, pergunta 95.
[15] Olyott, p. 19.
[16] Olyott, p. 21.
[17] Ibid., p. 23.
[18] Ibid., p. 24.
[19] Olyott, p. 26.
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