João 13.1-5
O estilo de vida marcado pelo amor
doador
Introdução
Para
muitos cristãos o Evangelho de João é o livro mais precioso do Novo Testamento.
Como literatura, ele é a biografia mais fascinante de Jesus. Teologicamente, o
texto mais profundo acerca da divindade de Jesus.
Para
efeitos didáticos pode ser divido em três partes: 1ª) Parte – O Ministério Público
de Jesus, seus discursos e seus milagres – João 1-12; 2ª) Parte – O Ministério Particular de Jesus, suas instruções aos
discípulos mais íntimos – João 13-17 – os quais estava preparando para serem
seus apóstolos, oferecendo um conjunto de prioridades pelas quais deveriam
pautar suas vidas sob a orientação do Espírito Santo; e 3ª) Parte – A Paixão de Jesus, o
Filho de Deus, sua missão redentora é vindicada por sua morte
expiatória e sua ressurreição – João 18-21.
Meu
objetivo é estudar o capítulo de 13
com os irmãos. Esse capítulo faz parte dos capítulos (13-17) que os comentaristas chamam de a Sementeira das Epístolas do
Novo Testamento, pelo fato de que, praticamente, todas as doutrinas
desenvolvidas nelas estão originalmente presentes nos ensinos de Jesus nesses
cinco capítulos.
Como
o ensino de Jesus não era apenas teórico, mas prático, também, houve espaço
para que os discípulos fizessem perguntas. Eles fizeram sete perguntas a Jesus:
1)
João 13.6 – Aproximou-se,
pois, de Simão Pedro, e este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim?
2)
João 13.25 –
Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe:
Senhor, quem é?
3)
João 13.36 –
Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais?
4)
João 13.37 –
Replicou Pedro: Senhor, por que não posso seguir-te agora?
5)
João 14.5 – Disse-lhe
Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho?
6)
João 14.22 –
Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para
manifestar-te a nós e não ao mundo?
7)
João 16.17, 18
– Então, alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que vem a ser isto
que nos diz: Um pouco, e não mais me vereis, e outra vez um pouco, e
ver-me-eis; e: Vou para o Pai? Diziam, pois: Que vem a ser esse – um pouco? Não compreendemos o que quer dizer.
O
discipulado, como vemos aqui, “não acontece pelo viéis do discurso, mas do diálogo,
pela conversação”.[1]
Jesus, na formação dos seus discípulos, aproveitou todas as oportunidades que surgiram
no cotidiano deles e daí, do ensino da vida diária, extraiu o conteúdo para a
formação adequada, apresentando-os “com uma argumentação simples, direta e não
abstrata”[2].
Em
João 13, vemos Jesus em quatro relacionamentos:
1) com seu Pai celestial – vv.1-5;
2) com Simão Pedro – vv.6-11;
3) com todos os discípulos – vv.12-17;
e 4) com Judas Iscariotes – vv.18-35).
Em parte dessa, podemos descobrir uma mensagem especial, uma verdade espiritual
para nos ajudar em nossa vida cristã.[3]
Em
João 13.1-5, quando Jesus começa a
lavar os pés dos 12 discípulos, ele ensina que a melhor maneira de sermos
parecidos com Ele é servindo como Ele serviu, isto é, assumindo o Seu estilo de
vida que foi marcado pelo amor doador.
“John
Stott, refletindo sobre o discípulo radical afirma que a semelhança com Cristo
é o propósito de Deus para o seu povo. O propósito eterno (Rm 8.29), o
propósito histórico (2Co 3.18) e o propósito escatológico de Deus (1Jo 3.2) é
nos transformar à semelhança de Jesus”[4].
Nos
vv.1-3, João enfatiza o que Jesus
sabia e estava sentindo naquele momento, enquanto nos vv.4, 5, ele enfatiza o que Jesus fez. Diante disso, surgem três
perguntas: Em seu estilo de vida marcado
pelo amor doador: 1ª) O que Jesus sabia naquele momento? 2ª) O
que Jesus sentiu naquele momento? 3º)
O que Jesus fez naquele momento?
Em seu estilo de vida marcado pelo amor
doador:
I. O que Jesus sabia naquele momento?
(v.1-3)
1. Ele sabia que era chegada a sua hora de morrer – v.1a. (Jo 12.23; 17.1) Jesus sabia que "era chegada a sua
hora". Mais do que qualquer evangelista, João ressaltou como Jesus viveu
dentro de um "cronograma divino" e fez a vontade do Pai. Observe o
desenvolvimento desse tema:[5]
ð
2.4b – Ainda não é chegada a minha hora.
ð
7.30b – ...porque ainda não era chegada a sua hora.
ð
8.20b – ...porque não era ainda chegada a sua hora.
ð
12.23 – É chegada
a hora em que o Filho do homem há de ser glorificado.
ð
13.1b – ... sabendo Jesus que era chegada a sua
hora...
ð
17.1a – Pai, é chegada a hora...
Qual era a "hora" determinada por Deus? Era
a hora em que Cristo seria glorificado por meio de sua morte, ressurreição e
ascensão.[6]
2. Ele sabia que Judas iria traí-lo – v.2. (v.11, 27)
3. Ele sabia da sua exaltação – v.3.
A exaltação aqui compreendia toda a autoridade no céu e na terra e a
consciência da sua origem e do seu destino eterno. (Mt 28.18)
É
impressionante como o Evangelho de João revela a humildade de Jesus, mesmo quando
exalta sua divindade – cf. Jo 5.19, 30;
6.38; 7.16; 8.50; 14.24). E sua expressão suprema de humildade foi a morte na
cruz.[7]
4. Ele sabia da discussão dos discípulos sobre quem deles seria o maior –
Lc 22.24.
“O poder é algo sedutor. Principalmente o poder sobre
seres humanos. A sede pelo poder desperta e alimenta nos homens os sentimentos
mais primitivos. O poder pode destruir ou criar. Dependendo do caráter do
indivíduo, haverá diferentes formas ou apresentações do poder. Se tivermos uma
pessoa de bom caráter, o poder será exercido em favor dos outros. Se tivermos
uma pessoa de má índole, o poder será expresso de uma forma manipuladora e
maléfica”.[8]
II. O que Jesus sentiu naquele momento?
(v.1b)
“... tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os
até ao fim.”
1. Amor pelos seus que estavam no mundo. Temos aqui dois aspectos
importantes do amor de Jesus:
a.
Primeiro
aspecto – o amor salvador pela humanidade
– João 3.16; Tt 2.11-14.
b.
Segundo
aspecto – o amor cuidadoso pelos seus
filhos – Hb 12.1-13.
c.
Jesus, em sua
oração em João 17, mostra esses dois aspectos do amor de Deus – Jo 17.6-19;
20-21.
2. A expressão “amou-os até o fim” tem dois significados:
a.
1º) indica intensidade – amor ao máximo,
completo, pleno, absoluto, perfeito, sem reservas.
b.
2º) indica temporalidade – amou até ao fim
da sua vida humana perfeita.
“A mola mestra da vida de Jesus foi o amor. Tudo que
Jesus fez foi por amor.
Jesus amou aos doze, de forma inabalável, até a sua
consumação na cruz,
onde Ele ama ao extremo”.[9]
III. O que Jesus fez naquele momento?
(v.4, 5)
O que Jesus sabia e sentiu naquele momento, determinou
a sua atitude. Olhando esses versículos entendemos que “a verdadeira história
da Paixão já começou na última ceia de Jesus com seus discípulos. O lava-pés
torna-se símbolo de toda a ação de Jesus em sua Paixão. Jesus demonstra que o
verdadeiro amor não vive de palavras, mas atitude, e sua voz pode ser uma
lágrima ou um brilho no olhar”.[10]
A
atitude de Jesus ensina três lições: de um estilo de vida marcado pelo amor
doador:
1. Primeira Lição: O amor doador
é ação – só Jesus tomou a iniciativa de lavar os pés – v.4, 5a. (Mc
10.43-45)
2. Segunda Lição: O amor doador
é humilde – “o amor de Jesus torna-se visível em sua ternura e ações de
humildade”[11].
(v.4, 5 – Conf.: Fp 2.5-8)
3. Terceira Lição: O amor doador é
altruísta – v.4, 5. Qual a recompensa de Jesus por lavar os pés dos seus
discípulos? (Rm 5.8)
Concluindo
O
discípulo de Jesus, que se torna discipulador, “precisa cultivar um amor
doador, sendo altruísta, um amor que não procura seus interesses. Jesus amou os
seus discípulos o tempo todo, embora soubesse que um deles era o traidor, outro
o negaria e todos o abandonariam na cruz. O amor sempre esteve presente nos
seus relacionamentos, palavras e atitudes, suportando, tolerando, perdoando e
purificando”[12].
Antes
de deixá-los, Jesus expressou o seu amor por eles de forma extraordinária e
assim revelou para todas as gerações de cristãos que o fundamento de toda a
vida de um discípulo dele, bem como o seu serviço no reino de Deus é o amor
genuíno.
Para aplicação:
Três lições, de um estilo de vida marcado pelo amor
doador:
1. Primeira Lição: O amor doador é ação.
Então, vamos
agir ao invés de ficar esperando outros agirem!
2. Segunda Lição: O amor doador é
humilde.
Então, vamos
agir sem desejar aplausos!
3. Terceira Lição: O amor doador é
altruísta – v.4, 5.
Então, vamos
agir sem esperar retorno!
Pr. Walter Almeida Jr.
IBLA – Jd. das Palmeiras
Dezembro de 2016
[1] Lima, Josadak. O Padrão do Mestre, AD Santos, 2012, p.
2.
[2] Ibid., p. 3.
[3] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo –
Novo Testamento 1 – João, Ed. Geográfica, 2007, p. 443.
[4] Casimiro, Arival Dias, Estudos Expositivos em João –
Capítulo 12 a 21, 2011, p. 12.
[5] Wiersbe, p. 443.
[7] Wiersbe, p. 444.
[8] Josadak, p. 8.
[10] Ibid., p. 6.
[11] Ibid., p. 7.
[12] Ibid., p. 5.
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