No
estudo anterior em Malaquias 2.1-9 com o tema Advertência sobre a fidelidade da pregação e do ensino da Palavra de
Deus no culto, vimos (1º) Um chamado ao arrependimento dos sacerdotes
infiéis na pregação e ensino – vv.1-3;
(2º) Uma menção a aliança levítica – vv.4-7; e (3º) O castigo dos sacerdotes infiéis que não se
arrependerem – vv.8, 9.
Terminamos
com as seguintes lições e aplicações: 1ª)
Deus zela pelo seu culto; 2ª) Uma
das principais funções do ministério da igreja é a instrução da Palavra de
Deus, seja na pregação ou no ensino; e 3ª)
É responsabilidade do povo de Deus não
aceitar um culto corrompido, no qual a Palavra de Deus não seja ensinada com
fidelidade.
Hoje,
continuando o estudo no livro de Malaquias, vamos ver Malaquias 2.10-16, com o tema: A
infidelidade a Deus quebra a aliança e profana o culto.
Temos
visto em Malaquias que Deus ama o seu
povo, que ele mesmo escolheu, e quer o melhor deles, quer ser honrado por eles
e, hoje, veremos que Ele exige fidelidade
deles.
Os
líderes espirituais do povo de Deus cometeram pecados horríveis (1.6-2.9), e levaram o povo a fazer o
mesmo. Eles transgrediram os preceitos da lei de Deus e profanaram a
instituição do sacerdócio levítico ao se casarem com mulheres estrangeiras e se
divorciarem da esposa de sua mocidade.[1]
Dois
aspectos muito ligados ao culto, tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos,
são a pureza e a identidade do povo de Deus. Deus deseja ser adorado por
verdadeiros crentes, por pessoas que de fato sejam seus filhos e esteja vivendo
vidas santas.[2]
Por
isso, Deus, pelo profeta Malaquias, aponta três pecados graves do seu povo: 1ª) eles
estavam quebrando a aliança firmada diante de Deus (vv.10, 13, 14); 2ª) eles estavam se casando com filhas de deuses
estranhos (v.11); e 3ª) estavam
repudiando suas mulheres (v.16).
O
profeta aponta essas três coisas como um empecilho ao culto a Deus, algo que
prejudicava e enfraquecia a nação. O mesmo podemos dizer da igreja, hoje. Quando
Deus é reduzido a uma pequena dimensão da vida do seu povo, e só é lembrado na
hora do culto, quando no dia a dia, na vida prática, seus princípios são
negligenciados ou ignorados, isso é um empecilho ao culto a Deus, algo que
prejudica e enfraquece a igreja de Deus.
I. A Infidelidade a Deus leva ao colapso
nas relações humanas e profana o culto – vv.10-12
1. v.10a – Primeiro, temos aqui, uma afirmação profunda sobre
a criação. Deus é o Criador, e por isso é o Pai de todos por criação (Gn 1.26-31; At 17.29; Ef 3.14, 15).
Porém, a ênfase aqui é sobre Deus como Pai de Israel por causa da aliança (cf. Ml 1.6;
Jr 2.27).
2. v.10b – A infidelidade na quebra da aliança pelo povo foi
dupla:
1ª) Na aliança feita com os patriarcas –
Abraão, Isaque e Jacó. “No sentido de
que a descendência deles seria povo exclusivo de Deus, um povo separado por
Deus e para Deus. Na medida em que o povo exclusivo de Deus começa a se
misturar com outros povos, está quebrando a aliança que Deus fez com os
patriarcas”.[3]
2ª) Na aliança feita com a esposa, com
os pais dela e os seus, voluntariamente.
No momento em que o homem israelita decidia abandonar a esposa para ficar com mulheres
estrangeiras, ele estava profanando essa aliança com sua família. “A falta de
fidelidade para com Deus leva ao colapso nas relações humanas”[4].
Os
casamentos com pessoas de outras nações pagãs violavam a relação especial que
havia entre de Deus e os judeus como Pai da nação (cf. Êx 4.22). Casamentos com pagãos eram proibidos ao povo de Israel – Êx 34.14-16; Dt 7.3.
Em
linhas gerais, o profeta aponta primeiro
para o fato de que os israelitas tinham uma aliança que Deus fez com seus pais,
de que ele seria Deus deles e que eles seriam seu povo. Em segundo lugar, ele
aponta para o fato de que as mulheres com quem os homens do povo de Deus tinham
se casado eram filhas do mesmo Deus e foram criadas pelo mesmo Pai. Então,
diante de tudo isso Malaquias pergunta: Por
que vocês estão sendo desleais? Por
que estão abandonando a mulher da sua mocidade?[5]
3. v.11 – Agora, a acusação divina é bem direta: Judá foi desleal e cometeu abominação – o santuário
de Deus foi profanado.
ð desleal – este verbo é usado cinco vezes nos vv.10-16. Ele é empregado em Jr 3.20 para se referir à infidelidade
marital.
ð abominação – o termo hebraico aqui refere-se às práticas
religiosas idolatras sendo, também, muito usado em Deuteronômio (cf. Dt 7.25, 26; 12.31; 13.14; 18.12). Ele
pode igualmente referir-se à transgressão sexual (cf. Lv 18.22, 26, 29, 30; Dt 24.4)
ð profanou o santuário – a palavra hebraica traduzida por santuário
também pode ser entendida como referindo-se ao próprio povo (cf. santa semente – Is 6.13; Ed 9.2). Trata-se do povo que é amado por Deus e que se
corrompe pela desobediência em suas práticas matrimoniais. Aqui não se trata de
um santuário qualquer, mas do santuário
do Senhor, o qual ele ama.
ð ... e se casou com a filha de deus estranho. – Esta frase refere-se ao
casamento com uma mulher ainda comprometida com um deus estranho, ou seja, uma
idólatra fora da aliança com Deus (cf. Gn
24.3, 4; Êx 34.12-16; Dt 7.3, 4; Js 23.12; 1Rs 11.1-10).[6]
Essa
frase em outras versões: v.11b – casou com adoradora de
deus estranho (ARA) – homens casaram-se com mulheres
que adoram deuses estrangeiros (NVI) – os homens casaram com mulheres que adoram ídolos (NTLH) – casando-se com mulheres
pagãs, que adoram imagens (VIVA).
A
idólatra era considerada filha do deus a quem adorava (cf. Jr. 2.27). É comum os profetas combinarem os conceitos de adultério
e idolatria ou adultério físico e espiritual. Quando não se tornavam prosélitas
sinceras do judaísmo, as mulheres pagãs conduziam seus maridos à idolatria e,
desse modo, contaminavam o culto em Israel (cf. Jr. 3.5-7). Os judeus que casavam com mulheres idólatras profanavam
o templo de Deus e a comunidade da aliança (cf. 1Rs 11.1-6). Tanto Esdras (Ed
9.2-15) quanto Neemias (Ne 13.23-29)
tiveram que tratar desse pecado.[7] A
proibição de casamento com não crentes, continua no Novo Testamento – cf. 1Co 7.39; 2Co 6.14.
Portanto,
os homens de Israel estava se casando com mulheres que não adoravam nem temiam
a Deus. Eles estavam trazendo essas mulheres em lugar de suas esposas, das
quais, inclusive, estavam se separando para ficar com elas. Por isso, o profeta
de Deus diz que, é uma abominação trazê-las para o culto a Deus nessa
circunstância, como se elas fizessem parte do povo de Deus. A profanação, aqui,
está no fato de que esses maridos traziam suas mulheres para adorar a Deus,
mas, mesmo estando no meio do povo de Deus, o coração delas estava apegado a
seus ídolos. Malaquias diz que isso é profanação.[8]
4. v.12 – O SENHOR destruirá das tendas de Jacó o homem que
fizer isto... – o termo destruirá (ACF) ou eliminará (ARA), refere-se, nesse contexto,
ao fato de que “os atos adúlteros de divórcio e o casamento misto
desqualificavam, os que tais pecados praticavam, como participantes dos
direitos e privilégios da comunidade de Israel e tornavam suas ofertas
inaceitáveis”[9].
Mais
uma vez temos uma referência ao culto, eles faziam tudo o que foi denunciado e
ainda vinha participar do culto com suas mulheres idolatras e traziam suas
ofertas, como se nada tivesse acontecido ou acontecendo.
A
forma proverbial que se segue – o que
vela, e o que responde, e o que apresenta uma oferta – indica que todos
estavam incluídos, sem exceção. O texto em outras versões: (ARA) seja quem for, e o que apresenta ofertas;
(NVI)
seja ele quem for, mesmo que esteja
trazendo ofertas; (NTLH) sejam quem
forem, mesmo que apresentem ofertas; (VIVA) todo aquele
que fizer isso, seja ele sacerdote ou homem comum!
II. A Infidelidade à Deus leva ao
cinismo e cauterização da consciência – vv.13-16
1. v.13 – Agora, Deus, através do profeta, anuncia que não
aceita o culto que estava sendo oferecido. Não adiantaria de nada cobrir o altar do SENHOR de lágrimas, com choro e
com gemidos, pois o pecado havia
fechado a porta que dava acesso a Deus.
Eles
haviam rompido seus laços matrimoniais e desobedecido à instrução de Deus para
se manterem separados dos ídolos. Por causa dessa dupla deslealdade, suas
ofertas, ou seja, seu culto não passava de escárnio hipócrita. Uma vez que
somente os sacerdotes tinham acesso aos altares, sua culpa era maior e sua
hipocrisia era ainda mais inadmissível.[10]
Existe
uma relação estreita entre a minha vida, a minha conduta moral e o culto que
Deus aceita[11]
(cf. Mt 5.23, 24. Rm 12).
2. v.14a – Apesar da séria advertência, cinicamente, eles
param de chorar e perguntam: Por quê?
Em outras palavras, estavam dizendo: Por que Deus não aceita o nosso culto? Não estamos trazendo
ofertas, não estamos aqui presentes, por que Deus não aceita?[12]
Isso
é o que o Novo Testamento chama de mente cauterizada pelo pecado e por
ensinamentos errôneos – cf. 1Tm 4.1-5.
3. v.14b-16 – A resposta de Deus ao porquê do povo, aponta não
somente para toda aquela questão do casamento misto, mas também para a questão
do divórcio e da quebra da aliança pela infidelidade. Ele dá três motivos pelos
quais não aceita a quebra da aliança matrimonial, ou seja, o divórcio:
1º) Quebra a aliança matrimonial (v.14b) – Deus é testemunha entre a união de um homem com uma
mulher pelos laços sagrados do matrimonio. “O profeta destaca a iniquidade ao
mencionar o compromisso legal do contrato de casamento, uma aliança firmada
diante de Deus como testemunha”[13] (cf. Gn 31.50; Pv 2.17; Mt 19.6).
2º) Contraria o propósito da criação
– (v.15) – “Considerando que o
propósito de Deus exigia que o homem e a mulher fossem uma só carne, qualquer
ruptura no casamento contraria a vontade de Deus”[14] (cf. Gn 1.27; 2.24; Mt 19.4-6). O divórcio
quebra o propósito que Deus planejou desde a criação para o homem e a mulher.
Somente um homem e uma mulher podem ser um só. Por isso o texto diz e fez ele somente um, e porque somente um? Porque o objetivo
de Deus, é que eles, pela aliança matrimonial, se tornassem um só. Por isso o casamento não pode ser entre dois
homens nem entre duas mulheres. Deus fez os dois – homem e mulher – e dos dois
ele fez um só. Deus fez assim para manter a descendência messiânica imaculada. “Foi com o fim de assegurar Seus propósitos para uma
descendência piedosa, um povo dirigido por uma aliança com uma religião pura. O divórcio só viria prejudicar os propósitos
criativos de Deus”[15]. Portanto,
o divórcio contraria o plano original de Deus.
3º) Porque é semelhante a um ato de
violência (v.16) – Com essa
declaração enérgica, o Senhor enfatiza o que vem dizendo até aqui. Na verdade,
Deus considera o divórcio sem justificativa e um pecado hediondo que deixa marcas
da sua perversidade como o sangue de uma vítima que mancha as roupas de seu
assassino.[16]
A referência a roupa, também, se refere ao fato de que o divórcio retirava da
esposa a proteção e a tratava com crueldade.
A
lei previa e regulamentava essa prática, mas Deus afirmou que isso se devia à
dureza do coração humano (cf. Dt 24.1-4;
Mt 19.8).
Portanto,
em nenhuma situação Deus aprecia o divórcio, uma vez que ele sempre envolve a
quebra da aliança e a violação do seu propósito. Por causa da dureza do coração
pecaminoso humano, no entanto, Deus permite o divórcio em apenas dois casos,
conforme entendo: em caso de adultério (cf. Mt 19.9) e quando um cônjuge descrente resolve abandonar,
irremediavelmente, o cônjuge crente (cf. 1Co
7.15).[17]
Concluindo
Por
duas vezes Deus diz aos homens para que cuidem de si mesmos e não sejam infiéis
– vv.15, 16. O que isso significa?
Significa que devem vigiar o coração, os olhos, obedecer à Palavra de Deus,
seguir o que ele manda, ser de fato o cabeça do lar, amar sua mulher como
Cristo ama a Igreja. Se os homens cuidarem de si mesmos a situação será bem
diferente.[18]
Duas
lições podemos aprender aqui: 1ª) Que
Deus zela pela identidade do seu povo – por isso ele é claro nas Escrituras
sobre os relacionamentos que devemos ter, não somente na área afetiva, mas em
todas áreas que possam atrapalhar a nossa fé e prejudicar a igreja; 2ª) Que
há uma relação fundamental entre a nossa vida pessoal e moral e o culto que
prestamos a Deus – por isso Deus se preocupa e nos instrui nas Escrituras
quanto ao nosso testemunho onde quer que estejamos.
A
advertência e o chamado ao arrependimento estão claros no v.16b – ... portanto guardai-vos em vosso espírito, e não
sejais desleais.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 31/01/16
[1] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1182.
[2] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a
mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 74.
[3] Lopes, p. 77.
[4] Bíblia de Estudo de Genebra, ECC e SBB, 2004, p. 1090.
[5] Lopes, p. 78. (Negritos e itálicos meus)
[6] Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1091.
[7] MacArthur, p. 1183.
[8] Lopes, p. 79.
[9] MacArthur, p. 1183.
[10] MacArthur, p. 1183.
[11] Lopes, p. 81.
[12] Lopes, p.81.
[13] MacArthur, p. 1183.
[14] Comentário Bíblico Moody, Mateus, p. 92.
[15] Comentário Bíblico Moody, Malaquias, p. 10.
[16] MacArthur, p. 1183.
[17] Lopes, p. 84.
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