domingo, 21 de fevereiro de 2016

Estudos Bíblicos no Livro de Malaquias (7) - Vale a pena servir e adorar a Deus de acordo com a sua Palavra

Malaquias 3.13-4.6

No estudo anterior em Malaquias 3.7-12, com o tema: Servir e adorar a Deus corretamente exige obediência a sua Palavra. Seguindo a estrutura já conhecida do livro, vimos: (1º) Uma declaração de DeusA declaração de Deus a respeito da desobediência do seu povov.7; (2º) Um questionamento do povoO não reconhecimento do desvio e a falta de arrependimento do povovv.7-9; e (3º) Uma resposta de DeusUm chamado ao arrependimento por um desafiovv.10-12.

E terminamos com as seguintes lições e aplicações: () A desobediência aos ensinos da Palavra de Deus leva o povo de Deus a servi-lo e adora-lo de modo superficial e hipócrita; () O culto da igreja é verdadeiro e aceitável quando é oferecido completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que devem oferecer a Deus; e () A obediência a Deus nos termos da Nova Aliança no sangue de Jesus, traz bênção e a desobediência que quebra essa aliança, maldição.

Temos, agora, diante de nós o último texto profético antes de João Batista, isto é, quatrocentos anos antes dele começar seu ministério como a voz do que clama no deserto. Também, este é o último diálogo de Deus com o povo de Israel por meio do profeta Malaquias, e é similar ao que vimos em Ml 2.77-3.5. Nessa conversa de Deus com seu povo, temos as últimas palavras Dele no Antigo Testamento.

O diálogo gira em torno do problema do mal, a teodiceia. O povo volta a questionar a Deus sobre a lei da causa e do efeito neste mundo, que parece não estar sendo bem aplicada. A conclusão a que o povo chegou ao observar o seu dia a dia foi a seguinte questão: Qual é a vantagem de cultuar a Deus, servi-lo e andar nos seus caminhos?[1]

No diálogo anterior onde o povo questionou se valeria a pena servir a Deus, o Senhor respondeu que ele mesmo viria habitar no meio de seu povo e o purificaria, assim como os sacerdotes, para que eles prestassem um culto que lhe fosse agradável, e que se colocaria contra aqueles do seu povo que praticavam o mal (cf. Ml 2.17-3.5).[2]

Agora, Deus responde que vale a pena servi-lo e informa, por intermédio do profeta Malaquias, sobre o dia que ele preparou, no qual vai resolver esse problema de uma vez por todas, mostrando que ele faz, sim, a diferença entre o justo e o mau; entre o que serve a Deus e o que não serve.[3]

O que vemos aqui é que, além de questionar a Deus (2.17), serem desleais à aliança com Deus (2.11), desobedecer à sua lei (2.9), profanar o seu altar (1.7, 12) e desprezar o nome dele (1.6), o povo e os sacerdotes corrompidos haviam falado abertamente contra o Senhor. Apesar de tudo o que Deus havia prometido (3.10-12), o povo se queixava de que a obediência à lei de Deus não trazia nenhuma recompensa (3.14) e afirmou que somente os arrogantes e perversos prosperavam (3.15).[4]

Portanto, hoje, em nosso último estudo em Malaquias, vamos ver Malaquias 3.13-4.6, com o tema: Vale a pena servir e adorar a Deus de acordo com a sua Palavra. Veremos isso em três pontos, seguindo a já conhecida estrutura do livro: (1º) Uma declaração de DeusDeus declara a sua decepção com o seu povo3.13a; (2º) Um questionamento do povoQueixa audaciosa e blasfema de um povo dividido3.13b-16; e (3º) Uma resposta de DeusDeus preparou um dia em que julgará o mundo com justiça3.17-4.6.

I. Deus declara a sua decepção com o seu povo – 3.13a

Esta é a última vez, no livro, que Deus faz uma queixa do povo de Israel. Os questionamentos do povo em cada afirmação de Deus foram os seguintes: 1) Deus nos ama mesmo? 2) Em que estamos profanando o culto a Deus? 3) Por que Deus não aceita nossa oferta? 4) Por que Deus não aceita nossos sacerdotes? 5) Em que estamos desagradando a Deus? 6) Em que estamos roubando a Deus? 7) Em que estamos difamando a Deus?

Agora Deus encerra se declarando decepcionado com o que diz o seu povo a seu respeito: As vossas palavras foram agressivas para mim, diz o SENHOR..., ou como em outras versões e paráfrases: As vossas palavras foram duras para mim, diz o SENHOR (ARA); Vocês têm dito palavras duras contra mim”, diz o Senhor. (NVI); O SENHOR diz: Vocês falaram mal de mim (NTLH); Vocês têm sido arrogantes e orgulhosos comigo", diz o Senhor. (VIVA)

II. Queixa audaciosa e blasfema de um povo dividido – 3.13b-16

Temos, aqui, mais uma vez estampado o cinismo do povo de Judá – Que temos falado contra ti? Ora, o povo estava comentando pela rua e até em momentos de adoração o seguinte: É bobagem adorar e obedecer a Deus. Qual é a vantagem de obedecer suas Leis, de ficar triste e chorar por causa de nossos pecados? Daqui em diante, no que nos diz respeito, a lei é esta: Felizes os arrogantes e orgulhosos. Porque são os maus que prosperam e os que desafiam o castigo de Deus nada sofrem de mau. (vv.14, 15 VIVA)

Mas, só uma parte do povo estava sendo hipócrita desse modo e não reconhecendo seus pecados e se arrependendo deles corretamente. Esses eram os que com uma reclamação audaciosa e blasfema afirmavam que é inútil servir e adorar a Deus. Para que continuar nas formas da lei cerimonial? A opinião geral estava perigosamente perto da conclusão de que o culto a Deus podia muito bem ser interrompido. Contudo os israelitas, mais uma vez fingindo piedade, perguntavam: Que temos falado contra ti?[5]

Aqui se torna evidente que nem todo o povo da aliança levantou suas vozes contra Deus para acusá-lo de injustiça. O povo justo e temente a Deus encontraria, no dia do Senhor, a libertação, a vitória e ricas bênçãos.[6]

Porém, no v.16, o profeta diz que há uma parte do povo que estava vivendo na mesma situação dos demais, mas que, ao invés de acusarem a Deus continuavam tementes a Ele. Malaquias diz: Então aqueles que temeram ao SENHOR falaram frequentemente um ao outro; e o SENHOR atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dele, para os que temeram o SENHOR, e para os que se lembraram do seu nome. Portanto, os que obedeciam e amavam o Senhor falavam muito dEle uns aos outros. O Senhor tinha à sua frente um livro onde Ele registrava os nomes dos que O obedeciam e gostavam de pensar nEle. (VIVA)

Esse memorial ou livro, pode ser uma referência ao livro da vida no qual os nomes dos filhos de Deus estão registrados. (cf. Êx 32.32-34; Ne 13.14; Sl 69.28; Dn 12.1; Fp 4.3; Ap 3.5; 17.8; 20.12, 15; 21.27) Os persas tinham o costume de registrar num livro todos os atos de uma pessoa que deveria ser recompensada no futuro (cf. Et 6.1, 2). O salmista também tinha conhecimento desse livro (cf. Sl 56.8).[7]

III. Deus preparou um dia em que julgará o mundo com justiça – 3.16-4.6

Contudo, em meio a essa geração perversa e incrédula, Deus preservou um remanescente fiel. Havia uma parcela do povo que temia ao Pai, que praticava o encorajamento mutuo e se lembrava do nome do Senhor (vv.16, 17). Deus os considerava um tesouro particular, e promete que os pouparia em um tempo de julgamento que se aproxima (v.18). No devido tempo, Deus manifestará claramente a diferença entre o perverso e o justo, entre o que serve a Deus e o que não o serve.[8]

No v.17 o termo traduzido como serão meus é enfático no hebraico, e significa que remanescente fiel pertencerá a Deus e será o seu tesouro especial. O mesmo termo é usado nas seguintes passagens: Êx 19.5; Dt 7.6; 14.2; 26.18; Sl 135.4. Eles serão poupados por Deus em meio ao castigo (cf. Sl 103.13).[9] O termo naquele dia poderia se traduzir: no dia em que eu agir. O dia virá quando Deus agir, quando a justiça for partilhada. O Dia do Senhor será um dia terrível (cf. 1.15-18), mas os justos têm a certeza confortadora de que seja como for esse dia, Deus livrará os seus (cf. Sl. 91:7).[10]

No v.18Então voltareis e vereis a diferença... A história tem evidenciado sobejamente o fato de que tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6.7); e continuará sendo assim. Só olhos cegos ou obstinação persistente pode defender a tese de que Deus não faz distinção entre o justo e o ímpio na dispensação de bênçãos.[11]

4.1-3 – Os três primeiros versículos do capítulo quatro dão continuidade a ideia dos versículos finais do capítulo três, ou seja, o castigo dos ímpios e o livramento dos justos. As palavras finais do profeta (cf. 3.17; 4.1, 3, 5) trazem quatro referências escatológicas ao Dia do Senhor (cf. Is 13.6; Jl 2.11, 31; Sf 1.14) que prenunciam a vinda do Senhor Jesus para castigar (cf. Ap 19.11-21).[12]

No v.1 o profeta usa a figura da fornalha como símbolo do juízo de Deus naquele grande dia, o dia da ira de Deus e do castigo eterno para os ímpios. Várias vezes na Bíblia o dia do juízo, o julgamento e o castigo dos ímpios, é comparado a um fogo, uma fornalha. O inferno é comparado na Bíblia a um fogo que não se apaga, a um lago que arde com fogo e enxofre, e há no texto bíblico várias outras maneiras de descrever o destino dos perversos, todas elas relacionadas com o fogo.[13] (cf. Mt 3.10-12; 2Ts 1.8;  2Pe 3.7, 12; Jd v.7; Ap 20.9-15; 21.8)

No v.2 são descritas três coisas que Deus fará com os que são dele: 1ª) Deus irá poupá-los; 2ª) Deus lhes dará a justiça que tanto almejam e a salvação como o sol que nasce; e 3ª) Deus lhes dará grande alegria e exultação.

No v.3 o quadro é de grande alegria onde prevalece a justiça perfeita, com os perversos totalmente destruídos, jogados no lago de fogo, e os justos desfrutando de bênçãos ininterruptas do Deus da aliança[14], e não um dia de vingança do povo de Deus, pois a vingança pertence a Deus (cf. Lc 21.22; Rm 12.19; 2Ts 1.8; Hb 10.30).

O profeta Malaquias termina sua mensagem profética relembrando os pontos principais da sua profecia: lembrem-se da Lei de Moisés (v.4), da promessa de envio do profeta Elias (v.5a, 6) e do dia da vinda do Senhor (v.5b).

Concluindo

Malaquias começou seu livro com o anúncio do amor efetivo de Deus. No entanto, o texto termina com a ameaça de uma maldição. A dupla ênfase de Malaquias, na misericórdia e no juízo, ressoa no pronunciamento de Paulo em Romanos 11.22aConsiderai, pois, a bondade e a severidade de Deus.[15]

Augustus Nicodemus no final do seu comentário de Malaquias, fala sobre seis princípios do culto a Deus no livro: 1º) O culto é a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus; 2º) Devemos cultuar a Deus independentemente das circunstancias; 3º) Devemos cultuar a Deus da forma que ele revelou; 4º) Devemos cultuar a Deus com a atitude apropriada; 5ª) Devemos dar a Deus nosso melhor no culto; e 6º) A aceitação do nosso culto depende também da nossa vida moral e espiritual.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 20/02/16


[1] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 127,
[2] Lopes, p. 127.
[3] Lopes, p. 127.
[4] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1185.
[5] Comentário Bíblico Moody, Malaquias, p. 13.
[6] Moody, p. 13.
[7] MacArthur, p. 1185.
[8] Manço, Davi Miguel. Revista Expressão (Aluno) – Profetas da Restauração, Editora Cultura Cristã, p. 63.
[9] MacArthur, p. 1185.
[10] Moody, p. 14.
[11] Moody, p. 14.
[12] MacArthur, p. 1185.
[13] Lopes, p. 136.
[14] Moody, p. 15.
[15] Bíblia de Estudo de Genebra, ECC e SBB, 2004, p. 1093.

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