Malaquias 3.7-12
No
estudo anterior em Malaquias 2.17-3.6 com o tema Servindo e adorando a Deus mesmo diante da incompreensão do bem e do
mal, vimos (1º) a declaração de Deus – O que Deus diz a
respeito da atitude cética do seu povo (2.17a), (2º) o questionamento do povo
– Como o povo de Deus reage diante da incompreensão do bem e do mal (2.17b) e (3º)
a
resposta de Deus – A solução apresentada
por Deus ao seu povo (3.1-6).
Vimos,
também, o v.6 que fala sobre a imutabilidade de Deus. Deus não muda em
seu propósito de ter um povo, não muda em sua aliança com o seu povo. Em vez de
destruir os filhos de Israel (Jacó) porque já não prestavam um culto que lhe
fosse agradável, ele mesmo iria purificá-lo e julgar os que, dentre o seu povo,
não o temiam e praticavam toda sorte de iniquidade.
E
terminamos com as seguintes lições e aplicações: (1ª) O culto a Deus deve ser
agradável a Ele; (2ª) Só cristãos lavados no sangue de Jesus
prestam culto verdadeiro a Deus; (3ª)
Vale a pena continuar a servir e cultuar
a Deus mesmo que não entendamos completamente a questão do mal e do bem; (4ª) Devemos
adorar a Deus na esperança daquele dia em que o adoraremos na eternidade.
O
que temos visto até agora sobre a profecia do profeta Malaquias é que, ele e
seus contemporâneos viveram em um período de espera, em que nada acontecia e
Deus parecia ter esquecido seu povo que sofria de pobreza e da dominação estrangeira
na pequena província de Judá. A rotina das cerimônias religiosas era
continuada, mas sem zelo e entusiasmo. Gerações estavam passando sem receber o
cumprimento das promessas e muitos estavam abandonando a fé.[1]
A
profecia de Malaquias é particularmente importante para os muitos períodos de
espera a na história humana e na vida de cada um. Ela nos ajuda a reconhecer as
pressões e tentações destes períodos, o desgaste da fé que, termina em cinismo
porque perdeu a comunhão com Deus. Ainda mais importante, ela mostra o caminho de
volta para uma fé genuína e firme no Deus que não muda (3.6) e que convida os homens a voltarem para ele (3.7).[2]
Hoje,
em nosso estudo, vamos ver Malaquias
3.7-12, com o tema: Servir e adorar
a Deus corretamente exige obediência a sua Palavra. Seguindo a estrutura já
conhecida do livro: (1º) Uma declaração de Deus – A declaração de Deus a respeito da
desobediência do seu povo – v.7;
(2º) Um questionamento do povo – O
não reconhecimento do desvio e a falta de arrependimento do povo – vv.7-9; e (3º) Uma resposta de Deus
– Um chamado ao arrependimento por um
desafio – vv.10-12.
I. A declaração de Deus a respeito da
desobediência do seu povo – v.7
Mais
uma vez, através do profeta Malaquias, Deus, revela sua insatisfação em relação
a desobediência do povo e mostra que isso não é coisa daquele momento, mas de
uma longa data. É uma queixa pesarosa, por meio de uma constatação histórica:
desde Abraão até a época de Malaquias há uma história recorrente de
desobediência.[3]
Parafraseando,
Deus diz ao povo: Vocês são iguais aos seus pais: abandonam as
minhas leis e não as cumprem (v.7a). É por isso que estão passando
por todos esses problemas – aflição financeira, falta de chuva, colheitas que
não prosperam, pragas de gafanhotos devoradores.
Uma
boa maneira de compreender esse texto é à luz da doutrina da aliança, porque o
povo não estava cumprindo a sua parte na aliança que Deus fez com eles.
Deus
faz suas alianças de modo soberano, sem consultar o homem, mas para o bem do
homem. Com Noé Deus fez uma aliança de que não voltaria a destruir o mundo com
um dilúvio, e como garantia daquele concerto Ele colocou o arco-íris nas nuvens
(cf. Gn 9.8-17). Este tipo de
aliança assume a forma de uma promessa incondicional. Assim foi a aliança que
Deus fez com Abraão, primeiro para com sua posteridade biológica em Gn 15.4-6 e depois no sentido de seu
descendente, Cristo – Gn 22.15-18. A
Abraão Deus também deu a aliança da circuncisão (cf. Gn 17.10-14; At 7.8), um selo da justiça da fé (cf. Rm 4.11). A aliança com os filhos de
Israel no Monte Sinai, por outro lado, foi condicional: se eles fossem
obedientes e guardassem a lei, seriam abençoados; mas se fossem desobedientes,
eles seriam amaldiçoados (cf. Dt 27-28)[4].
Mas,
Deus que é misericordioso e grande em perdoar, faz um apelo exatamente nos
termos da aliança: ... tornai-vos para mim, e eu
me tornarei para vós, diz o SENHOR dos Exércitos (v.7b). O verbo hebraico usado por Malaquias aqui é o
verbo padrão do hebraico para arrependimento,
que significa dará meia volta. Assim, parafraseando, o texto poderia ser
escrito do seguinte modo: arrependei-vos e eu os perdoarei. Podemos, então, ver aqui os termos da aliança em ação.
Deus está tratando o povo nos termos da aliança que haviam celebrado.[5]
II. O não reconhecimento do desvio e a
falta de arrependimento do povo – vv.7-9
Na
maior parte da história de Israel, nos períodos dos juízes, dos reis e dos
profetas, vemos um povo rebelde contra Deus, que se esquecia da aliança,
inclinava-se para outros deuses, voltava as costas para o culto a Deus e aderia
a um culto sincrético a deuses estranhos, provocando a ira de Deus.[6] Apesar
disso, Deus os amava e os chamou ao arrependimento declarando isso mais de uma
vez:
ð Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. (v.2a) –
isto é, Eu sempre os amei!
ð
... tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós, diz
o SENHOR dos Exércitos. (v.7b), isto é, arrependei-vos e eu os perdoarei.
Mas,
a resposta do povo de Judá foi, de novo, um questionamento cínico de uma mente
cauterizada: ... mas vós dizeis: Em que havemos de tornar? Em que te roubamos? (vv.7c, 8) O que temos aqui é um povo que não reconhecia o seu
pecado, na verdade, eles não reconheciam que tinha se desviado dos caminhos do
Senhor.
Por
isso, o método usado por Deus, através do profeta, de acordar a consciência e
convencê-la do pecado consiste em destacar uma ou mais manifestações de
atitudes indignas. Ele faz a seguinte pergunta: Roubará o homem a Deus? E recebe a seguinte resposta do povo: Em que te roubamos? Daí a afirmação de
Deus: Nos dízimos e nas ofertas. (v.8)
Parece
um absurdo essa afirmação de Deus, pois como uma pessoa poderia roubar ao Deus
todo-poderoso? Mas, quando nos lembramos dos termos da aliança, vemos que não é
impossível um homem roubar a Deus, pois um dos seus preceitos é que aqueles que
estavam sob a aliança deveriam honrar a Deus com os seus bens – no caso com um
percentual de dez por cento de tudo aquilo que recebesse. Segundo os termos da
aliança, se sua propriedade prosperasse, seu rebanho se multiplicasse, ou se
sua produção de cereais aumentasse, a pessoa havia de separar dez por cento de
tudo, porque pertencia a Deus. E a isso somava-se ainda outras ofertas
especiais, ofertas voluntarias, ofertas de gratidão.[7]
A
lei decretou que um décimo de tudo que era produzido era santo para o Senhor
(cf. Lv 27.30, 32), destinado aos
levitas (cf. Nm 18.25), que davam um
décimo para os sacerdotes (cf. Nm 18.28).
Da legislação de Deuteronômio fica claro que outras pessoas também se
beneficiavam disto, e que a cada três anos era realizada uma festa da
comunidade na época da recolha dos dízimos, para a qual eram convidados os
necessitados e os levitas (cf. Dt 14.28,
29). Quando os dízimos não eram pagos sofriam também a viúva, os órfãos e
os estrangeiros.[8]
A palavra usada para oferta, é terûmâ, que geralmente se aplica às ofertas espontâneas, às primícias, ao meio siclo pago ao santuário e às porções do sacrifício que eram
reservadas aos sacerdotes (cf. Êx 30.13;
Lv 7.14; Nm 15.19-21; 18.26-29).[9]
Deus
mencionou os dízimos e ofertas como um exemplo, para mostrar ao povo em que
este havia quebrado a aliança e porque ele tem tudo a ver com o culto a Deus,
pois esses dízimos e essas ofertas deveriam ser levados ao culto.[10]
Agora,
no v.9, vemos a causa de tudo o que
o povo estava passando – Com maldição sois
amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. A maldição aqui é específica e refere-se àquela
maldição mencionada em Ml 2.2 e Dt 28. Deus estava trazendo sobre toda
a nação a maldição da aliança, a espada da aliança.
O
verbo traduzido por roubar no hebraico significa se apossar com violência
daquilo que pertence a outrem. Era exatamente isso que estava acontecendo, Deus
estava sendo roubado nesse sentido, uma vez que os dízimos e ofertas eram dele,
e não do povo.[11]
III. Um chamado ao arrependimento por um
desafio – vv.10-12
Deus
responde ao povo chamando-os ao arrependimento por um desafio. Se Israel se
arrependesse e voltasse a cultuar a Deus corretamente, trazendo seus dízimos e
ofertas nos termos da Lei, Deus perdoaria o seu povo e o abençoaria
abundantemente.
Ao
contrário do padrão bíblico normal, o povo é convidado a provar a Deus (cf. Is 7.11, 12; 1Rs 18.20-46). Se o
honrassem ao deixar de roubar dele e mostrassem arrependimento sincero
entregando-lhe o que era devido, o Senhor derramaria sobre eles bênçãos em
grande abundância (cf. Pv 11.24, 25),
os protegeria dos gafanhotos (devorador) e os tornaria bem-aventurados aos
olhos das nações (cf. Is 62.4).[12]
v.10a – Trazei todos os dízimos à
casa do tesouro... – Os
israelitas não estavam apenas sonegando a entrega dos dízimos, mas, quando iam
para o culto para não dizer que não estavam levando o dízimo, levavam e davam
apenas parte dele.[13] Por
isso, a expressão todos os dízimos, ou
todo dízimo, não parte dele. Essa atitude
do povo, deixava os sacerdotes desprovidos de sustento que eram obrigados a
deixar o ministério e trabalhar nos campos. Assim, vida religiosa do povo era
prejudicada e os pobres e estrangeiros sofriam (cf. Ne 13.10, 11). A verdadeira iniquidade, porém, encontrava-se no
fato de que essa desobediência correspondia a roubar a Deus, o verdadeiro rei
da teocracia de Israel. A casa dom tesouro era um local no templo usado para
armazenar os dízimos das colheitas e os animais ofertados pelo povo (cf. 2Cr 31.11; Ne 10.38, 39; 12.44; 13.21).
Era a tesouraria do templo.[14]
O
desafio de Deus para o povo era o seguinte: Obedeçam
a minha aliança, sejam obedientes à minha palavra, tragam todos os dízimos, não
apenas parte dele.
v.10b – ... para que haja mantimento
na minha casa... Aqui, Deus diz o objetivo da entrega dos dízimos e
ofertas na sua casa – para o sustento do ministério e para ajudar as viúvas e
os órfãos. Assim, a sonegação estava gerando um problema social, pois os
ministros do templo, os órfãos e a viúvas estavam sendo desamparados.
v.10c-12 – Deus iria abençoá-los, se eles fossem fiéis, de maneira tríplice:
1ª)
v.10c – Ele diz que abrirá as janelas dos ceús – essa expressão abrir as janelas dos céus no Antigo
testamento significa enviar chuvas. Portanto, Ele enviaria chuva suficiente
para regar a terra e gerar uma colheita abençoada a ponto de faltar lugar para
armazenar tudo.
2ª)
v.11a – Ele diz por causa de vós repreenderei o devorador, e ele
não destruirá os frutos da vossa terra – o
devorador ou a praga devoradora era um tipo de gafanhoto. Há mais de 80 tipos
de gafanhotos no Oriente Médio. O profeta Joel menciona 4 tipos de gafanhotos
em seu livro – o cortador (lagarta), o
migrador (gafanhoto), o devorador (locusta) e o destruidor (pulgão) – cf. Jl 1.4; 2.25. Deus, com o seu poder e
providência impediria que essas pragas chegassem à colheita.
3ª) v.11b – Ele diz que a vossa vide
no campo não será estéril – A plantação de uvas era
outra fonte de renda do povo. Das uvas, o povo fazia vinho, passas e se
utilizava delas como alimento. Elas eram essências na alimentação do povo.
Contudo, com a falta de chuva, a vinha não produzia frutos, ficava estéril.
Mas, Deus promete abençoar a colheita de uvas também.[15]
Assim,
por causa de todas essas bênçãos, a prosperidade viria e todas as nações
chamariam o povo de Deus de bem-aventurados;
porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos (v.12).
Concluindo – Lições e aplicações:
1) A
desobediência aos ensinos da Palavra de Deus leva o povo de Deus a servir e a adorar de modo superficial e hipócrita;
2) O culto da
igreja é verdadeiro e aceitável quando é oferecido completamente a Deus como
um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a
verdadeira adoração que devem oferecer a Deus;
3) A obediência
a Deus nos termos da Nova Aliança no sangue de Jesus, traz bênção e a
desobediência que quebra essa aliança, maldição.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 14/02/16
[1] Baldwin, Joyce G. Série Cultura Cristã – Ageu,
Zacarias e Malaquias, Vida Nova e Mundo Cristão, 1972, p. 176.
[2] Ibid., p. 176.
[3] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a
mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 113.
[4]
http://www.respondi.com.br/2009/03/o-que-sao-os-concertos-ou-aliancas-da.html
[5] Lopes, p. 114.
[6] Lopes, p. 113.
[7] Lopes, p. 114.
[8] Baldwin, p. 206.
[9] Comentário Bíblico Moody, Malaquias, p. 12, 13.
[10] Lopes, p. 115.
[11] Lopes, p. 116.
[12] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1184.
[13] Lopes, p. 117.
[14] MacArthur, p. 1185.
[15] Lopes, p. 120.
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