domingo, 14 de fevereiro de 2016

Estudos Bíblicos no Livro de Malaquias (6) - Servir e adorar a Deus corretamente exige obediência a sua Palavra

Malaquias 3.7-12

No estudo anterior em Malaquias 2.17-3.6 com o tema Servindo e adorando a Deus mesmo diante da incompreensão do bem e do mal, vimos () a declaração de Deus – O que Deus diz a respeito da atitude cética do seu povo (2.17a), () o questionamento do povo – Como o povo de Deus reage diante da incompreensão do bem e do mal (2.17b) e () a resposta de Deus – A solução apresentada por Deus ao seu povo (3.1-6).

Vimos, também, o v.6 que fala sobre a imutabilidade de Deus. Deus não muda em seu propósito de ter um povo, não muda em sua aliança com o seu povo. Em vez de destruir os filhos de Israel (Jacó) porque já não prestavam um culto que lhe fosse agradável, ele mesmo iria purificá-lo e julgar os que, dentre o seu povo, não o temiam e praticavam toda sorte de iniquidade.

E terminamos com as seguintes lições e aplicações: () O culto a Deus deve ser agradável a Ele; () Só cristãos lavados no sangue de Jesus prestam culto verdadeiro a Deus; () Vale a pena continuar a servir e cultuar a Deus mesmo que não entendamos completamente a questão do mal e do bem; () Devemos adorar a Deus na esperança daquele dia em que o adoraremos na eternidade.

O que temos visto até agora sobre a profecia do profeta Malaquias é que, ele e seus contemporâneos viveram em um período de espera, em que nada acontecia e Deus parecia ter esquecido seu povo que sofria de pobreza e da dominação estrangeira na pequena província de Judá. A rotina das cerimônias religiosas era continuada, mas sem zelo e entusiasmo. Gerações estavam passando sem receber o cumprimento das promessas e muitos estavam abandonando a fé.[1]

A profecia de Malaquias é particularmente importante para os muitos períodos de espera a na história humana e na vida de cada um. Ela nos ajuda a reconhecer as pressões e tentações destes períodos, o desgaste da fé que, termina em cinismo porque perdeu a comunhão com Deus. Ainda mais importante, ela mostra o caminho de volta para uma fé genuína e firme no Deus que não muda (3.6) e que convida os homens a voltarem para ele (3.7).[2]

Hoje, em nosso estudo, vamos ver Malaquias 3.7-12, com o tema: Servir e adorar a Deus corretamente exige obediência a sua Palavra. Seguindo a estrutura já conhecida do livro: (1º) Uma declaração de DeusA declaração de Deus a respeito da desobediência do seu povov.7; (2º) Um questionamento do povoO não reconhecimento do desvio e a falta de arrependimento do povovv.7-9; e (3º) Uma resposta de DeusUm chamado ao arrependimento por um desafiovv.10-12.

I. A declaração de Deus a respeito da desobediência do seu povo – v.7

Mais uma vez, através do profeta Malaquias, Deus, revela sua insatisfação em relação a desobediência do povo e mostra que isso não é coisa daquele momento, mas de uma longa data. É uma queixa pesarosa, por meio de uma constatação histórica: desde Abraão até a época de Malaquias há uma história recorrente de desobediência.[3]

Parafraseando, Deus diz ao povo: Vocês são iguais aos seus pais: abandonam as minhas leis e não as cumprem (v.7a). É por isso que estão passando por todos esses problemas – aflição financeira, falta de chuva, colheitas que não prosperam, pragas de gafanhotos devoradores.

Uma boa maneira de compreender esse texto é à luz da doutrina da aliança, porque o povo não estava cumprindo a sua parte na aliança que Deus fez com eles.

Deus faz suas alianças de modo soberano, sem consultar o homem, mas para o bem do homem. Com Noé Deus fez uma aliança de que não voltaria a destruir o mundo com um dilúvio, e como garantia daquele concerto Ele colocou o arco-íris nas nuvens (cf. Gn 9.8-17). Este tipo de aliança assume a forma de uma promessa incondicional. Assim foi a aliança que Deus fez com Abraão, primeiro para com sua posteridade biológica em Gn 15.4-6 e depois no sentido de seu descendente, Cristo – Gn 22.15-18. A Abraão Deus também deu a aliança da circuncisão (cf. Gn 17.10-14; At 7.8), um selo da justiça da fé (cf. Rm 4.11). A aliança com os filhos de Israel no Monte Sinai, por outro lado, foi condicional: se eles fossem obedientes e guardassem a lei, seriam abençoados; mas se fossem desobedientes, eles seriam amaldiçoados (cf. Dt 27-28)[4].

Mas, Deus que é misericordioso e grande em perdoar, faz um apelo exatamente nos termos da aliança: ... tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós, diz o SENHOR dos Exércitos (v.7b). O verbo hebraico usado por Malaquias aqui é o verbo padrão do hebraico para arrependimento, que significa dará meia volta. Assim, parafraseando, o texto poderia ser escrito do seguinte modo: arrependei-vos e eu os perdoarei. Podemos, então, ver aqui os termos da aliança em ação. Deus está tratando o povo nos termos da aliança que haviam celebrado.[5]

II. O não reconhecimento do desvio e a falta de arrependimento do povo – vv.7-9

Na maior parte da história de Israel, nos períodos dos juízes, dos reis e dos profetas, vemos um povo rebelde contra Deus, que se esquecia da aliança, inclinava-se para outros deuses, voltava as costas para o culto a Deus e aderia a um culto sincrético a deuses estranhos, provocando a ira de Deus.[6] Apesar disso, Deus os amava e os chamou ao arrependimento declarando isso mais de uma vez:

ð Eu vos tenho amado, diz o SENHOR. (v.2a) – isto é, Eu sempre os amei!
ð ... tornai-vos para mim, e eu me tornarei para vós, diz o SENHOR dos Exércitos. (v.7b), isto é, arrependei-vos e eu os perdoarei.

Mas, a resposta do povo de Judá foi, de novo, um questionamento cínico de uma mente cauterizada: ... mas vós dizeis: Em que havemos de tornar? Em que te roubamos? (vv.7c, 8) O que temos aqui é um povo que não reconhecia o seu pecado, na verdade, eles não reconheciam que tinha se desviado dos caminhos do Senhor.

Por isso, o método usado por Deus, através do profeta, de acordar a consciência e convencê-la do pecado consiste em destacar uma ou mais manifestações de atitudes indignas. Ele faz a seguinte pergunta: Roubará o homem a Deus? E recebe a seguinte resposta do povo: Em que te roubamos? Daí a afirmação de Deus: Nos dízimos e nas ofertas. (v.8)

Parece um absurdo essa afirmação de Deus, pois como uma pessoa poderia roubar ao Deus todo-poderoso? Mas, quando nos lembramos dos termos da aliança, vemos que não é impossível um homem roubar a Deus, pois um dos seus preceitos é que aqueles que estavam sob a aliança deveriam honrar a Deus com os seus bens – no caso com um percentual de dez por cento de tudo aquilo que recebesse. Segundo os termos da aliança, se sua propriedade prosperasse, seu rebanho se multiplicasse, ou se sua produção de cereais aumentasse, a pessoa havia de separar dez por cento de tudo, porque pertencia a Deus. E a isso somava-se ainda outras ofertas especiais, ofertas voluntarias, ofertas de gratidão.[7]

A lei decretou que um décimo de tudo que era produzido era santo para o Senhor (cf. Lv 27.30, 32), destinado aos levitas (cf. Nm 18.25), que davam um décimo para os sacerdotes (cf. Nm 18.28). Da legislação de Deuteronômio fica claro que outras pessoas também se beneficiavam disto, e que a cada três anos era realizada uma festa da comunidade na época da recolha dos dízimos, para a qual eram convidados os necessitados e os levitas (cf. Dt 14.28, 29). Quando os dízimos não eram pagos sofriam também a viúva, os órfãos e os estrangeiros.[8] A palavra usada para oferta, é terûmâ, que geralmente se aplica às ofertas espontâneas, às primícias, ao meio siclo pago ao santuário e às porções do sacrifício que eram reservadas aos sacerdotes (cf. Êx 30.13; Lv 7.14; Nm 15.19-21; 18.26-29).[9]

Deus mencionou os dízimos e ofertas como um exemplo, para mostrar ao povo em que este havia quebrado a aliança e porque ele tem tudo a ver com o culto a Deus, pois esses dízimos e essas ofertas deveriam ser levados ao culto.[10]

Agora, no v.9, vemos a causa de tudo o que o povo estava passando – Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. A maldição aqui é específica e refere-se àquela maldição mencionada em Ml 2.2 e Dt 28. Deus estava trazendo sobre toda a nação a maldição da aliança, a espada da aliança.

O verbo traduzido por roubar no hebraico significa se apossar com violência daquilo que pertence a outrem. Era exatamente isso que estava acontecendo, Deus estava sendo roubado nesse sentido, uma vez que os dízimos e ofertas eram dele, e não do povo.[11]

III. Um chamado ao arrependimento por um desafio – vv.10-12

Deus responde ao povo chamando-os ao arrependimento por um desafio. Se Israel se arrependesse e voltasse a cultuar a Deus corretamente, trazendo seus dízimos e ofertas nos termos da Lei, Deus perdoaria o seu povo e o abençoaria abundantemente.

Ao contrário do padrão bíblico normal, o povo é convidado a provar a Deus (cf. Is 7.11, 12; 1Rs 18.20-46). Se o honrassem ao deixar de roubar dele e mostrassem arrependimento sincero entregando-lhe o que era devido, o Senhor derramaria sobre eles bênçãos em grande abundância (cf. Pv 11.24, 25), os protegeria dos gafanhotos (devorador) e os tornaria bem-aventurados aos olhos das nações (cf. Is 62.4).[12]

v.10aTrazei todos os dízimos à casa do tesouro... – Os israelitas não estavam apenas sonegando a entrega dos dízimos, mas, quando iam para o culto para não dizer que não estavam levando o dízimo, levavam e davam apenas parte dele.[13] Por isso, a expressão todos os dízimos, ou todo dízimo, não parte dele. Essa atitude do povo, deixava os sacerdotes desprovidos de sustento que eram obrigados a deixar o ministério e trabalhar nos campos. Assim, vida religiosa do povo era prejudicada e os pobres e estrangeiros sofriam (cf. Ne 13.10, 11). A verdadeira iniquidade, porém, encontrava-se no fato de que essa desobediência correspondia a roubar a Deus, o verdadeiro rei da teocracia de Israel. A casa dom tesouro era um local no templo usado para armazenar os dízimos das colheitas e os animais ofertados pelo povo (cf. 2Cr 31.11; Ne 10.38, 39; 12.44; 13.21). Era a tesouraria do templo.[14]

O desafio de Deus para o povo era o seguinte: Obedeçam a minha aliança, sejam obedientes à minha palavra, tragam todos os dízimos, não apenas parte dele.

v.10b – ... para que haja mantimento na minha casa... Aqui, Deus diz o objetivo da entrega dos dízimos e ofertas na sua casa – para o sustento do ministério e para ajudar as viúvas e os órfãos. Assim, a sonegação estava gerando um problema social, pois os ministros do templo, os órfãos e a viúvas estavam sendo desamparados.

v.10c-12 – Deus iria abençoá-los, se eles fossem fiéis, de maneira tríplice:

1ª) v.10cEle diz que abrirá as janelas dos ceús – essa expressão abrir as janelas dos céus no Antigo testamento significa enviar chuvas. Portanto, Ele enviaria chuva suficiente para regar a terra e gerar uma colheita abençoada a ponto de faltar lugar para armazenar tudo.

2ª) v.11a – Ele diz por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra – o devorador ou a praga devoradora era um tipo de gafanhoto. Há mais de 80 tipos de gafanhotos no Oriente Médio. O profeta Joel menciona 4 tipos de gafanhotos em seu livro – o cortador (lagarta), o migrador (gafanhoto), o devorador (locusta) e o destruidor (pulgão) – cf. Jl 1.4; 2.25. Deus, com o seu poder e providência impediria que essas pragas chegassem à colheita.

3ª) v.11b – Ele diz que a vossa vide no campo não será estérilA plantação de uvas era outra fonte de renda do povo. Das uvas, o povo fazia vinho, passas e se utilizava delas como alimento. Elas eram essências na alimentação do povo. Contudo, com a falta de chuva, a vinha não produzia frutos, ficava estéril. Mas, Deus promete abençoar a colheita de uvas também.[15]

Assim, por causa de todas essas bênçãos, a prosperidade viria e todas as nações chamariam o povo de Deus de bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos (v.12).

Concluindo – Lições e aplicações:

1) A desobediência aos ensinos da Palavra de Deus leva o povo de Deus a servir e a adorar de modo superficial e hipócrita;

2) O culto da igreja é verdadeiro e aceitável quando é oferecido completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que devem oferecer a Deus;

3) A obediência a Deus nos termos da Nova Aliança no sangue de Jesus, traz bênção e a desobediência que quebra essa aliança, maldição.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 14/02/16




[1] Baldwin, Joyce G. Série Cultura Cristã – Ageu, Zacarias e Malaquias, Vida Nova e Mundo Cristão, 1972, p. 176.
[2] Ibid., p. 176.
[3] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 113.
[4] http://www.respondi.com.br/2009/03/o-que-sao-os-concertos-ou-aliancas-da.html
[5] Lopes, p. 114.
[6] Lopes, p. 113.
[7] Lopes, p. 114.
[8] Baldwin, p. 206.
[9] Comentário Bíblico Moody, Malaquias, p. 12, 13.
[10] Lopes, p. 115.
[11] Lopes, p. 116.
[12] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1184.
[13] Lopes, p. 117.
[14] MacArthur, p. 1185.
[15] Lopes, p. 120.

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