domingo, 28 de fevereiro de 2016

Estudos Bíblicos na Carta aos Gálatas (1) - Introdução à Carta aos Gálatas

Gálatas 1.1-5
Introdução

Estamos vivendo dias em que está evidente, nos círculos cristãos, os extremos – legalismo e licenciosidade. A carta aos Gálatas apresenta a verdadeira liberdade cristã em oposição ao legalismo e ao libertinismo (licenciosidade descontrolada) (cf. 5.1-15).

Àqueles que querem levar Deus a sério, a carta aos Gálatas mostra o caminho para a verdadeira liberdade (cf. 5.1). Esta liberdade genuína não é nem legalismo nem anarquismo. Ela consiste de tornar-se cativo dos ensinamentos de Cristo, isto é, render-se ao Deus Trino como ele se revelou em Jesus Cristo para a salvação eterna.[1]

Timothy Keller, diz que Gálatas é uma explosão de alegria e liberdade que nos faz desfrutar de profundo significado, segurança e satisfação – a vida de bênçãos à qual Deus chamou o seu povo. Nessa carta, Paulo delineia a verdade bombástica de que o evangelho é o abecedário da vida cristã. Ele não é apenas a maneira pela qual se entra no reino; ele é a maneira pela qual se vive na condição de participante do reino. É a maneira pela qual Cristo transforma as pessoas, igrejas e comunidades. E isso quer dizer que os cristãos necessitam tanto do evangelho como os não cristãos.[2]

Por isso, Gálatas tem tudo a ver com o evangelho, do qual todos necessitamos ao longo da vida inteira. É onde Paulo explica que as verdades do evangelho modificam a vida de alto a baixo; que transformam nosso coração, nosso modo de pensar e nossa abordagem de absolutamente tudo.[3]

Na época em que Paulo escreveu essa carta, o termo Galácia era usado em dois sentidos: (1) o sentido geográfico ou étnico – indicando a região central da Ásia Menor onde os gauleses, povo celta que haviam migrado da Gália (a atual França) para aquela região no século 3º a.C. Suas principais cidades eram Távio, Ancira e Pessino. Essa região foi conquistada pelos romanos em 189 a.C., que permitiram uma certa independência local até 25 a.C., quando a Galácia se tornou uma província romana e teve seu território ampliado; (2) o sentido político – referindo-se a província romana da Galácia, organizada em 25 a.C., que teve sua área ampliada e, além dos territórios centrais e ao norte, foram acrescentados outros mais ao sul como as cidades de Antioquia (Pisídia), Icônio (Frígia), Listra e Derbe (cidades da Licaônia).

Em virtude de Atos e Gálatas não mencionarem qualquer cidade ou pessoa do norte da Galácia (étnica), é razoável crer que Paulo tenha endereçado essa epístola às igrejas localizadas na parte sul da província romana, mas fora da região étnica gálata.[4]

Portanto, a carta foi escrita por Paulo entre 49 e 52 d.C., aos novos cristãos da Galácia do Sul, possivelmente em Corinto, antes da chegada de Timóteo e Silas. Nessa mesma data, possivelmente, Paulo escreveu 1 e 2 Tessalonicenses. Isso tudo depois do Concílio de Jerusalém em c. 49 d.C. (cf. Gl 2.1; At 15.1-4; Gl 4.13).

Creio que as seguintes evidências internas na carta, são suficientes para estabelecer a autoria paulina da mesma: O nome de Paulo ocorre na saudação (1.1) e também no corpo da carta (5.2). Praticamente todo o capítulo 1 e o 2 são autobiográficos; os debates do capítulo 3 (3.1-6, 15) foram postos na primeira pessoa do singular; os apelos do capítulo 4 se referem diretamente às relações existentes entre os destinatários da epístola e o seu autor (4.11, 12-20); a intensidade do testemunho de Paulo aparece no capítulo 5 (5.2, 3); e a conclusão, no capítulo 6, termina com uma alusão aos sofrimentos do autor por amor a Cristo (6.17).[5]

Gálatas, também, fornece informações históricas valiosas acerca da situação de Paulo (Gl 1 e 2), não mencionada em Atos, inclusive os três anos em que permaneceu na Arábia nabateana (1.17-18), a visita de 15 dias a Pedro após a estada na Arábia (1.18-19) a viagem para o Concilio de Jerusalém (2.1-10) e o confronto entre ele e Pedro (2.11-21).[6]

As igrejas a quem Paulo escreve a carta aos Gálatas, foram as que ele mesmo plantou na Galácia do Sul: Antioquia da Pisídia (At 13.14-50), Icônio (At 13.51-14.7; cf. 16.2), Listra (At 14.8-19; cf. 16.2) e Derbe (At 14.20-21; cf. 16.1). Essas igrejas foram plantadas durante a sua primeira viagem missionária e antes do Concílio de Jerusalém (cf. Gl 2.5). Ele só visitou a Galácia do Norte depois do Concílio de Jerusalém (cf. At 16.6).

Hernandes Dias Lopes mostra que o livro de Atos menciona cinco visitas de Paulo à cidade de Jerusalém depois de sua conversão (At 9.26; 11.30; 15.2; 18.22; 21.17). A primeira delas aconteceu três anos depois de sua conversão (At 9.26; G1 1.17, 18). A segunda visita ocorreu quando ele e Barnabé foram levar ofertas levantadas na igreja de Antioquia da Síria aos crentes pobres de Jerusalém (At 11.30). A terceira visita ocorreu por ocasião do Concílio de Jerusalém, quando os apóstolos e presbíteros decidiram que a causa judaizante laborava em erro (At 15.1-35). A quarta visita de Paulo a Jerusalém foi bem rápida, logo no final da segunda viagem missionária (At 18.22). A quinta e última visita do apóstolo à Jerusalém foi após sua terceira viagem missionária, quando ele levou aos pobres da Judeia a oferta levantada entre as igrejas da Macedônia e Acaia (At 21.17). Foi por ocasião da última visita que Paulo foi preso.[7]

Assim, em sua primeira viagem missionária, Paulo “havia evangelizado os gálatas, que alegremente receberam a palavra do evangelho. Depois que Paulo se foi, vieram mestres judaizantes, dizendo que o cristianismo era apenas um tipo de judaísmo melhorado, e que os cristãos gentios também deviam guardar a lei, se quisessem ser salvos (At 15.1, 5). Os gálatas os estavam seguindo e com isso se desviavam da verdade do evangelho. A epístola de Paulo aos Gálatas diz respeito a essa controvérsia judaizante, em função da qual se reuniu o Concílio de Jerusalém”[8] (At 15.1-35).

Surpreso com essa abertura dos gálatas a tal heresia condenatória (1.6), Paulo escreveu essa carta para defender a justificação pela fé e advertir essas igrejas sobre as terríveis consequências do abandono dessa doutrina essencial. Gálatas é a única epístola de Paulo que não contém elogios a seus leitores. Essa omissão clara reflete quão urgente era confrontar a apostasia e defender a doutrina essencial da justificação.[9]

O problema de acrescentar alguns preceitos da lei à fé como condição para a salvação é que esses falsos mestres estavam atacando o coração do próprio cristianismo. Os judaístas pensavam que nenhum gentio poderia ser salvo a menos que se tornasse primeiro judeu. O argumento de Paulo é que acrescentar alguns preceitos da lei à fé não apenas anula a própria lei e a fé (6.13), mas também rechaça a graça de Cristo (5.2-4). Essa tentativa de combinar o cristianismo com o judaísmo foi chamada por Paulo de “outro evangelho”, e o apóstolo o condena sem rodeios, dizendo que deveria ser “anátema” (1.7-9).[10]

Hernandes concorda com Everett Harrison quando ele diz que a porção doutrinária da epístola tem como intenção demonstrar que o crente não é justificado pelas obras da lei, mas por meio da fé em Cristo (2.16); que de todos os modos a lei não foi dada para esse propósito, senão preparar o caminho para a obra redentora de Cristo (3.19), e que o Espírito Santo que é dado aos crentes produz um fruto tão agradável que nenhum esforço carnal de guardar a lei pode rivalizar com ele (5.22).[11]

Myer Pearlman divide Gálatas do seguinte modo: (1) o apóstolo da liberdade (Gl 1-2); (2) a doutrina da liberdade (Gl 3-4); e (3) a vida de liberdade (Gl 5-6). Guillermo Hendriksen a divide assim: (1) a origem do evangelho (Gl 1-2); (2) a defesa do evangelho (Gl 3-4); e (3) a aplicação do evangelho (Gl 5-6). Hernandes afirma que (1) Paulo faz uma defesa pessoal (Gl 1-2); (2) uma defesa da teologia (Gl 1-2); e (3) uma defesa da ética cristã (Gl 5-6).[12] Para Arival, ela tem três divisões claras: (1) A origem do evangelhoGl 1-2; (2) A fundamentação teológica do evangelhoGl 3-4; (3) A aplicação prática do evangelhoGl 5-6. Warren W. Wiersbe observa três abordagens: (1) abordagem pessoal – a Graça e o Evangelho – Gl 1-2; (2) abordagem doutrinária – a Graça e a Lei – Gl 3-4; e (3) abordagem prática – a Graça e a Vida Cristã – Gl 5-6.[13] Já Charles Ryrie, diz que a justificação pela fé é (1) defendida (Gl 1-2), (2) explicada (Gl 3-4), e (3) aplicada (Gl 5-6).[14]

Para Arival, além do que já vimos, temos quatro motivos para estudar Gálatas: 1º) Ela nos ensina que só existe um Evangelho verdadeiro, revelado por Deus; 2º) Ela nos ensina que o homem não é justificado por obras e sim mediante a fé em Jesus Cristo; 3º) Ela nos ensina que Cristo nos libertou para andarmos e sermos guiados pelo Espírito Santo; e 4º) Ela nos ensina que somos livres para amar e servir aos nossos irmãos.[15]

Vamos ao texto no prefácio e saudação da carta[16].

Os judaizantes desencadearam, nas igrejas da Galácia, um poderoso ataque contra a autoridade do evangelho de Paulo. Eles contestavam o evangelho da justificação pela fé somente, insistindo na necessidade da circuncisão e na observação de certos preceitos da lei para a salvação (At 15.1, 5; Gl 1.7; 2.16). Tendo solapado o evangelho de Paulo, continuavam minando também a sua autoridade. Assim, uma santa indignação toma conta do apóstolo, pois sua vida e sua mensagem estão sendo impiedosamente atacadas por esses falsos mestres.[17]

Em outras palavras, esse grupo de falsos irmãos vinha ensinando aos cristãos gentios convertidos que eles eram obrigados a cumprir os costumes culturais judaicos da Lei Mosaica – em relação ao que comer, à circuncisão e às demais leis cerimoniais – a fim de agradar a Deus de verdade.[18] Paulo resiste, pessoalmente, a eles, ao apóstolo Pedro, que se tornara repreensível, e a Barnabé que se deixou levar pela sua dissimulação, em Antioquia da Síria (cf. 2.4, 11-21), e aqui na carta. Ele deixa claro que isso é uma rejeição completa de tudo o que é o evangelho! (cf. 1.6) A linguagem usada por Paulo, quase que em toda a carta, é incisiva.

v.1Paulo é um apóstolo – Por ser um apóstolo de Jesus Cristo e de Deus Pai, ele pôde escrever dessa forma aos irmãos da Galácia. Apóstolo é um homem enviado com autoridade divina imediata. A palavra grega apostolos dá ênfase ao fato de ser enviado.[19] A referida palavra já possuía uma conotação exata. Significava um mensageiro especial, com um status especial, desfrutando uma autoridade e um comissionamento que procediam de um organismo mais elevado que ele próprio. Porém, no uso neotestamentário, o termo “apóstolo” traz o sentido de alguém que falava com toda a autoridade daquele que o enviou. Sua importância ficava claramente condicionada pela posição de quem o enviou. Donald Guthrie diz que Paulo se apresenta como um embaixador, apresentando suas credenciais. Seu apostolado levava o carimbo da origem divina.[20]

Os apóstolos de Jesus Cristo (os 12 e Paulo) eram embaixadores ou mensageiros especiais escolhidos e treinados por Cristo para estabelecer os fundamentos da igreja primitiva e para ser os canais da completa revelação de Deus (Ef 2.20).[21] Portanto, não há sucessão apostólica, mas, a continuação do ensino dos apóstolos.[22]

Hernandes aponta quatro pontos aqui nos vv.1, 2a: 1º) Paulo tem consciência de sua autoridade apostólicav.1a; 2º) Paulo tem consciência de que sua autoridade apostólica não foi delegada por homens nem mesmo pela igrejav.1b; 3º) Paulo tem consciência de que sua autoridade apostólica procede tanto de Jesus Cristo como de Deus Paiv.1c; e 4º) Paulo tem consciência de que há outros parceiros no ministério, mas não com a mesma autoridadev.2a.[23]

Paulo ainda acrescenta no capítulo 1 de Gálatas quatro novos argumentos acerca da procedência do seu apostolado. Ele é apóstolo não pela aprovação das pessoas (1.10a); não para agradar as pessoas (1.10b); não segundo a maneira humana (1.11); e não recebido nem aprendido de seres humanos (1.12).[24]

v.2 – ... às igrejas da Galácia. As igrejas que Paulo plantou na Galácia do Sul: Antioquia da Pisídia (At 13.14-50), Icônio (At 13.51-14.7; cf. 16.2), Listra (At 14.8-19; cf. 16.2) e Derbe (At 14.20-21; cf. 16.1).

v.3[25]Uma saudação cristã, trazendo à baila as verdades essenciais do evangelho: a graça e a paz. Essas duas palavras são uma síntese do evangelho. A paz fala da natureza da salvação, e graça diz respeito à sua fonte. Martinho Lutero diz apropriadamente que a graça liberta do pecado, enquanto a paz acalma a consciência atribulada pelo pecado. Somente pela graça o pecado pode ser removido, e somente a paz pode acalmar a consciência culpada.

Se a graça é a raiz, a paz é o fruto. Se a graça é a fonte, a paz é o fluxo que corre dessa fonte. A graça é a causa da salvação, e a paz é o seu resultado. Por causa da graça temos a paz com Deus e a paz de Deus. William Hendriksen argumenta que a graça traz paz e a paz é tanto um estado (o da reconciliação com Deus) como uma condição (a convicção interior de que pela reconciliação está tudo bem).

Ambas, a graça e a paz, são dádivas tanto do Pai como do Senhor Jesus Cristo. Não geramos a graça nem criamos a paz. Essas bênçãos emanam do trono de Deus para nós, não por causa de quem somos ou fazemos, mas por causa de quem Deus é e do que ele fez por nós em Cristo Jesus.

Até mesmo uma saudação típica de Paulo atacava o sistema legalista judaizante; se a salvação fosse pelas obras, como eles alegavam, não seria pela graça e não poderia resultar em paz, visto que ninguém pode ter certeza de fazer obras boas o suficiente para estar eternamente seguro.[26]

v.4 – Paulo resume aqui o conteúdo da sua mensagem apostólica, focando na obra de Cristo, ou seja, a mensagem do evangelho. Três verdades são aqui ensinadas: 1ª) A natureza do evangelhoCristo morreu pelos nossos pecadosv.4aO qual se deu a si mesmo por nossos pecados; 2ª) O objetivo do EvangelhoCristo morreu para nos libertar deste mundov.4b... para nos livrar do presente século mau; e 3ª) A origem do EvangelhoCristo morreu de acordo com a vontade de Deusv.4csegundo a vontade de Deus nosso Pai.[27] Não há nenhum indicativo de qualquer outra motivação ou causa para a missão de Cristo, exceto a vontade de Deus. Não há nada em nós que mereça. A salvação é pura graça.[28]

v.5 – Por isso, o único que recebe glória para todo o sempre é Deus. O evangelho bíblico, o evangelho que Paulo prega e ensina deixa claro que a salvação, do início ao fim, é obra de Deus. O chamado, o plano, a ação, a obra são todos seus. Assim, é ele que merece toda a glória, em todo o tempo.[29]

Os judaizantes estavam pervertendo o evangelho ao acrescentar as obras e os méritos humanos à perfeita e cabal obra de Cristo. Com isso, buscavam glória para si mesmos. Mas a obra de Cristo foi completa e perfeita. Nada podemos acrescentar a ela e não podemos buscar para nós mesmos nenhuma glória. Por isso, Paulo combate os falsos mestres que minimizavam a obra da redenção de Deus e assim roubavam sua glória, ao mesmo tempo em que se volta a Deus para exaltá-lo, dizendo que somente a ele pertence a glória pelos séculos dos séculos.[30]

Concluindo – Lições:

1) Uma igreja bíblica é plantada com a pregação e o ensino do genuíno evangelho do Senhor Jesus Cristo (vv.3, 4);

2) Uma igreja bíblica pode ser enganada por um evangelho falso, ensinado por falsos irmãos legalistas ou libertinos que se passem por mestres piedosos (v.6);

3) Uma igreja bíblica não busca glória para si mesma, mas dá toda a glória ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém. (1Tm 1.17; v.5)

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 28/02/16




[1] Hendriksen, William. Comentário do Novo Testamento – Gálatas, Editora Cultura Cristã, 1999, p. 10.
[2] Keller, Timothy. Gálatas para você, Vida Nova, 2015, p. 9.
[3] Keller, p. 10.
[4] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de Deus (Estudos Bíblicos de John MacArthur), Editora Cultura Cristã, 2011, p. 6.
[5] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da Liberdade Cristã, Editora Hagnos, 2011, p. 14.
[6] MacArthur, p. 6.
[7] Lopes, p. 17
[8] Lopes, p. 11.
[9] MacArthur, p. 6.
[10] Lopes, p. 20, 21.
[11] Lopes, p. 21.
[12] Lopes, p. 25.
[13] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas & Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 3.
[14] Ryrie, Charles. A Bíblia Anotada e Expandida, Mundo Cristão e SBB, 2007, p. 1140.
[15] Casimiro, p. 3.
[16] Em nossos estudos na carta de Paulo aos Gálatas, vamos seguir a exposição de Timothy Keller no livro Gálatas para você e a exposição de Hernandes Dias Lopes no seu livro Gálatas – a carta da liberdade cristã.
[17] Lopes, p. 31, 32.
[18] Keller, p. 14.
[19] Keller, p. 14.
[20] Lopes, p. 32, 33.
[21] MacArthur, p.10.
[22] Casimiro, p. 4.
[23] Lopes, p. 32-36.
[24] Lopes, p. 34.
[25] Lopes, p. 39, 40. Este comentário segue literalmente a exposição do livro nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[26] MacArthur, p. 11.
[27] Casimiro, p. 4.
[28] Keller, p. 17.
[29] Keller, p. 17.
[30] Lopes, p. 44, 45.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Estudos Bíblicos no Livro de Malaquias (7) - Vale a pena servir e adorar a Deus de acordo com a sua Palavra

Malaquias 3.13-4.6

No estudo anterior em Malaquias 3.7-12, com o tema: Servir e adorar a Deus corretamente exige obediência a sua Palavra. Seguindo a estrutura já conhecida do livro, vimos: (1º) Uma declaração de DeusA declaração de Deus a respeito da desobediência do seu povov.7; (2º) Um questionamento do povoO não reconhecimento do desvio e a falta de arrependimento do povovv.7-9; e (3º) Uma resposta de DeusUm chamado ao arrependimento por um desafiovv.10-12.

E terminamos com as seguintes lições e aplicações: () A desobediência aos ensinos da Palavra de Deus leva o povo de Deus a servi-lo e adora-lo de modo superficial e hipócrita; () O culto da igreja é verdadeiro e aceitável quando é oferecido completamente a Deus como um sacrifício vivo, dedicado ao seu serviço e agradável a ele. Esta é a verdadeira adoração que devem oferecer a Deus; e () A obediência a Deus nos termos da Nova Aliança no sangue de Jesus, traz bênção e a desobediência que quebra essa aliança, maldição.

Temos, agora, diante de nós o último texto profético antes de João Batista, isto é, quatrocentos anos antes dele começar seu ministério como a voz do que clama no deserto. Também, este é o último diálogo de Deus com o povo de Israel por meio do profeta Malaquias, e é similar ao que vimos em Ml 2.77-3.5. Nessa conversa de Deus com seu povo, temos as últimas palavras Dele no Antigo Testamento.

O diálogo gira em torno do problema do mal, a teodiceia. O povo volta a questionar a Deus sobre a lei da causa e do efeito neste mundo, que parece não estar sendo bem aplicada. A conclusão a que o povo chegou ao observar o seu dia a dia foi a seguinte questão: Qual é a vantagem de cultuar a Deus, servi-lo e andar nos seus caminhos?[1]

No diálogo anterior onde o povo questionou se valeria a pena servir a Deus, o Senhor respondeu que ele mesmo viria habitar no meio de seu povo e o purificaria, assim como os sacerdotes, para que eles prestassem um culto que lhe fosse agradável, e que se colocaria contra aqueles do seu povo que praticavam o mal (cf. Ml 2.17-3.5).[2]

Agora, Deus responde que vale a pena servi-lo e informa, por intermédio do profeta Malaquias, sobre o dia que ele preparou, no qual vai resolver esse problema de uma vez por todas, mostrando que ele faz, sim, a diferença entre o justo e o mau; entre o que serve a Deus e o que não serve.[3]

O que vemos aqui é que, além de questionar a Deus (2.17), serem desleais à aliança com Deus (2.11), desobedecer à sua lei (2.9), profanar o seu altar (1.7, 12) e desprezar o nome dele (1.6), o povo e os sacerdotes corrompidos haviam falado abertamente contra o Senhor. Apesar de tudo o que Deus havia prometido (3.10-12), o povo se queixava de que a obediência à lei de Deus não trazia nenhuma recompensa (3.14) e afirmou que somente os arrogantes e perversos prosperavam (3.15).[4]

Portanto, hoje, em nosso último estudo em Malaquias, vamos ver Malaquias 3.13-4.6, com o tema: Vale a pena servir e adorar a Deus de acordo com a sua Palavra. Veremos isso em três pontos, seguindo a já conhecida estrutura do livro: (1º) Uma declaração de DeusDeus declara a sua decepção com o seu povo3.13a; (2º) Um questionamento do povoQueixa audaciosa e blasfema de um povo dividido3.13b-16; e (3º) Uma resposta de DeusDeus preparou um dia em que julgará o mundo com justiça3.17-4.6.

I. Deus declara a sua decepção com o seu povo – 3.13a

Esta é a última vez, no livro, que Deus faz uma queixa do povo de Israel. Os questionamentos do povo em cada afirmação de Deus foram os seguintes: 1) Deus nos ama mesmo? 2) Em que estamos profanando o culto a Deus? 3) Por que Deus não aceita nossa oferta? 4) Por que Deus não aceita nossos sacerdotes? 5) Em que estamos desagradando a Deus? 6) Em que estamos roubando a Deus? 7) Em que estamos difamando a Deus?

Agora Deus encerra se declarando decepcionado com o que diz o seu povo a seu respeito: As vossas palavras foram agressivas para mim, diz o SENHOR..., ou como em outras versões e paráfrases: As vossas palavras foram duras para mim, diz o SENHOR (ARA); Vocês têm dito palavras duras contra mim”, diz o Senhor. (NVI); O SENHOR diz: Vocês falaram mal de mim (NTLH); Vocês têm sido arrogantes e orgulhosos comigo", diz o Senhor. (VIVA)

II. Queixa audaciosa e blasfema de um povo dividido – 3.13b-16

Temos, aqui, mais uma vez estampado o cinismo do povo de Judá – Que temos falado contra ti? Ora, o povo estava comentando pela rua e até em momentos de adoração o seguinte: É bobagem adorar e obedecer a Deus. Qual é a vantagem de obedecer suas Leis, de ficar triste e chorar por causa de nossos pecados? Daqui em diante, no que nos diz respeito, a lei é esta: Felizes os arrogantes e orgulhosos. Porque são os maus que prosperam e os que desafiam o castigo de Deus nada sofrem de mau. (vv.14, 15 VIVA)

Mas, só uma parte do povo estava sendo hipócrita desse modo e não reconhecendo seus pecados e se arrependendo deles corretamente. Esses eram os que com uma reclamação audaciosa e blasfema afirmavam que é inútil servir e adorar a Deus. Para que continuar nas formas da lei cerimonial? A opinião geral estava perigosamente perto da conclusão de que o culto a Deus podia muito bem ser interrompido. Contudo os israelitas, mais uma vez fingindo piedade, perguntavam: Que temos falado contra ti?[5]

Aqui se torna evidente que nem todo o povo da aliança levantou suas vozes contra Deus para acusá-lo de injustiça. O povo justo e temente a Deus encontraria, no dia do Senhor, a libertação, a vitória e ricas bênçãos.[6]

Porém, no v.16, o profeta diz que há uma parte do povo que estava vivendo na mesma situação dos demais, mas que, ao invés de acusarem a Deus continuavam tementes a Ele. Malaquias diz: Então aqueles que temeram ao SENHOR falaram frequentemente um ao outro; e o SENHOR atentou e ouviu; e um memorial foi escrito diante dele, para os que temeram o SENHOR, e para os que se lembraram do seu nome. Portanto, os que obedeciam e amavam o Senhor falavam muito dEle uns aos outros. O Senhor tinha à sua frente um livro onde Ele registrava os nomes dos que O obedeciam e gostavam de pensar nEle. (VIVA)

Esse memorial ou livro, pode ser uma referência ao livro da vida no qual os nomes dos filhos de Deus estão registrados. (cf. Êx 32.32-34; Ne 13.14; Sl 69.28; Dn 12.1; Fp 4.3; Ap 3.5; 17.8; 20.12, 15; 21.27) Os persas tinham o costume de registrar num livro todos os atos de uma pessoa que deveria ser recompensada no futuro (cf. Et 6.1, 2). O salmista também tinha conhecimento desse livro (cf. Sl 56.8).[7]

III. Deus preparou um dia em que julgará o mundo com justiça – 3.16-4.6

Contudo, em meio a essa geração perversa e incrédula, Deus preservou um remanescente fiel. Havia uma parcela do povo que temia ao Pai, que praticava o encorajamento mutuo e se lembrava do nome do Senhor (vv.16, 17). Deus os considerava um tesouro particular, e promete que os pouparia em um tempo de julgamento que se aproxima (v.18). No devido tempo, Deus manifestará claramente a diferença entre o perverso e o justo, entre o que serve a Deus e o que não o serve.[8]

No v.17 o termo traduzido como serão meus é enfático no hebraico, e significa que remanescente fiel pertencerá a Deus e será o seu tesouro especial. O mesmo termo é usado nas seguintes passagens: Êx 19.5; Dt 7.6; 14.2; 26.18; Sl 135.4. Eles serão poupados por Deus em meio ao castigo (cf. Sl 103.13).[9] O termo naquele dia poderia se traduzir: no dia em que eu agir. O dia virá quando Deus agir, quando a justiça for partilhada. O Dia do Senhor será um dia terrível (cf. 1.15-18), mas os justos têm a certeza confortadora de que seja como for esse dia, Deus livrará os seus (cf. Sl. 91:7).[10]

No v.18Então voltareis e vereis a diferença... A história tem evidenciado sobejamente o fato de que tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6.7); e continuará sendo assim. Só olhos cegos ou obstinação persistente pode defender a tese de que Deus não faz distinção entre o justo e o ímpio na dispensação de bênçãos.[11]

4.1-3 – Os três primeiros versículos do capítulo quatro dão continuidade a ideia dos versículos finais do capítulo três, ou seja, o castigo dos ímpios e o livramento dos justos. As palavras finais do profeta (cf. 3.17; 4.1, 3, 5) trazem quatro referências escatológicas ao Dia do Senhor (cf. Is 13.6; Jl 2.11, 31; Sf 1.14) que prenunciam a vinda do Senhor Jesus para castigar (cf. Ap 19.11-21).[12]

No v.1 o profeta usa a figura da fornalha como símbolo do juízo de Deus naquele grande dia, o dia da ira de Deus e do castigo eterno para os ímpios. Várias vezes na Bíblia o dia do juízo, o julgamento e o castigo dos ímpios, é comparado a um fogo, uma fornalha. O inferno é comparado na Bíblia a um fogo que não se apaga, a um lago que arde com fogo e enxofre, e há no texto bíblico várias outras maneiras de descrever o destino dos perversos, todas elas relacionadas com o fogo.[13] (cf. Mt 3.10-12; 2Ts 1.8;  2Pe 3.7, 12; Jd v.7; Ap 20.9-15; 21.8)

No v.2 são descritas três coisas que Deus fará com os que são dele: 1ª) Deus irá poupá-los; 2ª) Deus lhes dará a justiça que tanto almejam e a salvação como o sol que nasce; e 3ª) Deus lhes dará grande alegria e exultação.

No v.3 o quadro é de grande alegria onde prevalece a justiça perfeita, com os perversos totalmente destruídos, jogados no lago de fogo, e os justos desfrutando de bênçãos ininterruptas do Deus da aliança[14], e não um dia de vingança do povo de Deus, pois a vingança pertence a Deus (cf. Lc 21.22; Rm 12.19; 2Ts 1.8; Hb 10.30).

O profeta Malaquias termina sua mensagem profética relembrando os pontos principais da sua profecia: lembrem-se da Lei de Moisés (v.4), da promessa de envio do profeta Elias (v.5a, 6) e do dia da vinda do Senhor (v.5b).

Concluindo

Malaquias começou seu livro com o anúncio do amor efetivo de Deus. No entanto, o texto termina com a ameaça de uma maldição. A dupla ênfase de Malaquias, na misericórdia e no juízo, ressoa no pronunciamento de Paulo em Romanos 11.22aConsiderai, pois, a bondade e a severidade de Deus.[15]

Augustus Nicodemus no final do seu comentário de Malaquias, fala sobre seis princípios do culto a Deus no livro: 1º) O culto é a celebração pública e visível da aliança que temos com Deus; 2º) Devemos cultuar a Deus independentemente das circunstancias; 3º) Devemos cultuar a Deus da forma que ele revelou; 4º) Devemos cultuar a Deus com a atitude apropriada; 5ª) Devemos dar a Deus nosso melhor no culto; e 6º) A aceitação do nosso culto depende também da nossa vida moral e espiritual.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 20/02/16


[1] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 127,
[2] Lopes, p. 127.
[3] Lopes, p. 127.
[4] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1185.
[5] Comentário Bíblico Moody, Malaquias, p. 13.
[6] Moody, p. 13.
[7] MacArthur, p. 1185.
[8] Manço, Davi Miguel. Revista Expressão (Aluno) – Profetas da Restauração, Editora Cultura Cristã, p. 63.
[9] MacArthur, p. 1185.
[10] Moody, p. 14.
[11] Moody, p. 14.
[12] MacArthur, p. 1185.
[13] Lopes, p. 136.
[14] Moody, p. 15.
[15] Bíblia de Estudo de Genebra, ECC e SBB, 2004, p. 1093.