domingo, 31 de janeiro de 2016

Estudos Bíblicos no Livro de Malaquias (4) - A infidelidade a Deus quebra a aliança e profana o culto

Malaquias 2.10-16

No estudo anterior em Malaquias 2.1-9 com o tema Advertência sobre a fidelidade da pregação e do ensino da Palavra de Deus no culto, vimos () Um chamado ao arrependimento dos sacerdotes infiéis na pregação e ensinovv.1-3; () Uma menção a aliança levíticavv.4-7; e () O castigo dos sacerdotes infiéis que não se arrependeremvv.8, 9.

Terminamos com as seguintes lições e aplicações: 1ª) Deus zela pelo seu culto; 2ª) Uma das principais funções do ministério da igreja é a instrução da Palavra de Deus, seja na pregação ou no ensino; e 3ª) É responsabilidade do povo de Deus não aceitar um culto corrompido, no qual a Palavra de Deus não seja ensinada com fidelidade.

Hoje, continuando o estudo no livro de Malaquias, vamos ver Malaquias 2.10-16, com o tema: A infidelidade a Deus quebra a aliança e profana o culto.

Temos visto em Malaquias que Deus ama o seu povo, que ele mesmo escolheu, e quer o melhor deles, quer ser honrado por eles e, hoje, veremos que Ele exige fidelidade deles.

Os líderes espirituais do povo de Deus cometeram pecados horríveis (1.6-2.9), e levaram o povo a fazer o mesmo. Eles transgrediram os preceitos da lei de Deus e profanaram a instituição do sacerdócio levítico ao se casarem com mulheres estrangeiras e se divorciarem da esposa de sua mocidade.[1]

Dois aspectos muito ligados ao culto, tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos, são a pureza e a identidade do povo de Deus. Deus deseja ser adorado por verdadeiros crentes, por pessoas que de fato sejam seus filhos e esteja vivendo vidas santas.[2]

Por isso, Deus, pelo profeta Malaquias, aponta três pecados graves do seu povo: 1ª) eles estavam quebrando a aliança firmada diante de Deus (vv.10, 13, 14); 2ª) eles estavam se casando com filhas de deuses estranhos (v.11); e 3ª) estavam repudiando suas mulheres (v.16).

O profeta aponta essas três coisas como um empecilho ao culto a Deus, algo que prejudicava e enfraquecia a nação. O mesmo podemos dizer da igreja, hoje. Quando Deus é reduzido a uma pequena dimensão da vida do seu povo, e só é lembrado na hora do culto, quando no dia a dia, na vida prática, seus princípios são negligenciados ou ignorados, isso é um empecilho ao culto a Deus, algo que prejudica e enfraquece a igreja de Deus.

I. A Infidelidade a Deus leva ao colapso nas relações humanas e profana o culto – vv.10-12

1. v.10a – Primeiro, temos aqui, uma afirmação profunda sobre a criação. Deus é o Criador, e por isso é o Pai de todos por criação (Gn 1.26-31; At 17.29; Ef 3.14, 15). Porém, a ênfase aqui é sobre Deus como Pai de Israel por causa da aliança (cf. Ml 1.6; Jr 2.27).

2. v.10b – A infidelidade na quebra da aliança pelo povo foi dupla:

1ª) Na aliança feita com os patriarcas – Abraão, Isaque e Jacó. “No sentido de que a descendência deles seria povo exclusivo de Deus, um povo separado por Deus e para Deus. Na medida em que o povo exclusivo de Deus começa a se misturar com outros povos, está quebrando a aliança que Deus fez com os patriarcas”.[3]

2ª) Na aliança feita com a esposa, com os pais dela e os seus, voluntariamente. No momento em que o homem israelita decidia abandonar a esposa para ficar com mulheres estrangeiras, ele estava profanando essa aliança com sua família. “A falta de fidelidade para com Deus leva ao colapso nas relações humanas”[4].

Os casamentos com pessoas de outras nações pagãs violavam a relação especial que havia entre de Deus e os judeus como Pai da nação (cf. Êx 4.22). Casamentos com pagãos eram proibidos ao povo de Israel – Êx 34.14-16; Dt 7.3.

Em linhas gerais, o profeta aponta primeiro para o fato de que os israelitas tinham uma aliança que Deus fez com seus pais, de que ele seria Deus deles e que eles seriam seu povo. Em segundo lugar, ele aponta para o fato de que as mulheres com quem os homens do povo de Deus tinham se casado eram filhas do mesmo Deus e foram criadas pelo mesmo Pai. Então, diante de tudo isso Malaquias pergunta: Por que vocês estão sendo desleais? Por que estão abandonando a mulher da sua mocidade?[5]

3. v.11 – Agora, a acusação divina é bem direta: Judá foi desleal e cometeu abominação – o santuário de Deus foi profanado.

ð desleal – este verbo é usado cinco vezes nos vv.10-16. Ele é empregado em Jr 3.20 para se referir à infidelidade marital.
ð abominação – o termo hebraico aqui refere-se às práticas religiosas idolatras sendo, também, muito usado em Deuteronômio (cf. Dt 7.25, 26; 12.31; 13.14; 18.12). Ele pode igualmente referir-se à transgressão sexual (cf. Lv 18.22, 26, 29, 30; Dt 24.4)
ð profanou o santuário – a palavra hebraica traduzida por santuário também pode ser entendida como referindo-se ao próprio povo (cf. santa sementeIs 6.13; Ed 9.2). Trata-se do povo que é amado por Deus e que se corrompe pela desobediência em suas práticas matrimoniais. Aqui não se trata de um santuário qualquer, mas do santuário do Senhor, o qual ele ama.
ð ... e se casou com a filha de deus estranho.Esta frase refere-se ao casamento com uma mulher ainda comprometida com um deus estranho, ou seja, uma idólatra fora da aliança com Deus (cf. Gn 24.3, 4; Êx 34.12-16; Dt 7.3, 4; Js 23.12; 1Rs 11.1-10).[6]

Essa frase em outras versões: v.11b casou com adoradora de deus estranho (ARA) – homens casaram-se com mulheres que adoram deuses estrangeiros (NVI) – os homens casaram com mulheres que adoram ídolos (NTLH) – casando-se com mulheres pagãs, que adoram imagens (VIVA).

A idólatra era considerada filha do deus a quem adorava (cf. Jr. 2.27). É comum os profetas combinarem os conceitos de adultério e idolatria ou adultério físico e espiritual. Quando não se tornavam prosélitas sinceras do judaísmo, as mulheres pagãs conduziam seus maridos à idolatria e, desse modo, contaminavam o culto em Israel (cf. Jr. 3.5-7). Os judeus que casavam com mulheres idólatras profanavam o templo de Deus e a comunidade da aliança (cf. 1Rs 11.1-6). Tanto Esdras (Ed 9.2-15) quanto Neemias (Ne 13.23-29) tiveram que tratar desse pecado.[7] A proibição de casamento com não crentes, continua no Novo Testamento – cf. 1Co 7.39; 2Co 6.14.

Portanto, os homens de Israel estava se casando com mulheres que não adoravam nem temiam a Deus. Eles estavam trazendo essas mulheres em lugar de suas esposas, das quais, inclusive, estavam se separando para ficar com elas. Por isso, o profeta de Deus diz que, é uma abominação trazê-las para o culto a Deus nessa circunstância, como se elas fizessem parte do povo de Deus. A profanação, aqui, está no fato de que esses maridos traziam suas mulheres para adorar a Deus, mas, mesmo estando no meio do povo de Deus, o coração delas estava apegado a seus ídolos. Malaquias diz que isso é profanação.[8]

4. v.12 – O SENHOR destruirá das tendas de Jacó o homem que fizer isto... – o termo destruirá (ACF) ou eliminará (ARA), refere-se, nesse contexto, ao fato de que “os atos adúlteros de divórcio e o casamento misto desqualificavam, os que tais pecados praticavam, como participantes dos direitos e privilégios da comunidade de Israel e tornavam suas ofertas inaceitáveis”[9].

Mais uma vez temos uma referência ao culto, eles faziam tudo o que foi denunciado e ainda vinha participar do culto com suas mulheres idolatras e traziam suas ofertas, como se nada tivesse acontecido ou acontecendo.

A forma proverbial que se segue – o que vela, e o que responde, e o que apresenta uma oferta – indica que todos estavam incluídos, sem exceção. O texto em outras versões: (ARA) seja quem for, e o que apresenta ofertas; (NVI) seja ele quem for, mesmo que esteja trazendo ofertas; (NTLH) sejam quem forem, mesmo que apresentem ofertas; (VIVA) todo aquele que fizer isso, seja ele sacerdote ou homem comum!

II. A Infidelidade à Deus leva ao cinismo e cauterização da consciência – vv.13-16

1. v.13 – Agora, Deus, através do profeta, anuncia que não aceita o culto que estava sendo oferecido. Não adiantaria de nada cobrir o altar do SENHOR de lágrimas, com choro e com gemidos, pois o pecado havia fechado a porta que dava acesso a Deus.

Eles haviam rompido seus laços matrimoniais e desobedecido à instrução de Deus para se manterem separados dos ídolos. Por causa dessa dupla deslealdade, suas ofertas, ou seja, seu culto não passava de escárnio hipócrita. Uma vez que somente os sacerdotes tinham acesso aos altares, sua culpa era maior e sua hipocrisia era ainda mais inadmissível.[10]

Existe uma relação estreita entre a minha vida, a minha conduta moral e o culto que Deus aceita[11] (cf. Mt 5.23, 24. Rm 12).

2. v.14a – Apesar da séria advertência, cinicamente, eles param de chorar e perguntam: Por quê? Em outras palavras, estavam dizendo: Por que Deus não aceita o nosso culto? Não estamos trazendo ofertas, não estamos aqui presentes, por que Deus não aceita?[12]

Isso é o que o Novo Testamento chama de mente cauterizada pelo pecado e por ensinamentos errôneos – cf. 1Tm 4.1-5.

3. v.14b-16 – A resposta de Deus ao porquê do povo, aponta não somente para toda aquela questão do casamento misto, mas também para a questão do divórcio e da quebra da aliança pela infidelidade. Ele dá três motivos pelos quais não aceita a quebra da aliança matrimonial, ou seja, o divórcio:

1º) Quebra a aliança matrimonial (v.14b) – Deus é testemunha entre a união de um homem com uma mulher pelos laços sagrados do matrimonio. “O profeta destaca a iniquidade ao mencionar o compromisso legal do contrato de casamento, uma aliança firmada diante de Deus como testemunha”[13] (cf. Gn 31.50; Pv 2.17; Mt 19.6).

2º) Contraria o propósito da criação – (v.15) – “Considerando que o propósito de Deus exigia que o homem e a mulher fossem uma só carne, qualquer ruptura no casamento contraria a vontade de Deus”[14] (cf. Gn 1.27; 2.24; Mt 19.4-6). O divórcio quebra o propósito que Deus planejou desde a criação para o homem e a mulher. Somente um homem e uma mulher podem ser um só. Por isso o texto diz e fez ele somente um, e porque somente um? Porque o objetivo de Deus, é que eles, pela aliança matrimonial, se tornassem um só.  Por isso o casamento não pode ser entre dois homens nem entre duas mulheres. Deus fez os dois – homem e mulher – e dos dois ele fez um só. Deus fez assim para manter a descendência messiânica imaculada. “Foi com o fim de assegurar Seus propósitos para uma descendência piedosa, um povo dirigido por uma aliança com uma religião pura. O divórcio só viria prejudicar os propósitos criativos de Deus[15]. Portanto, o divórcio contraria o plano original de Deus.

3º) Porque é semelhante a um ato de violência (v.16) – Com essa declaração enérgica, o Senhor enfatiza o que vem dizendo até aqui. Na verdade, Deus considera o divórcio sem justificativa e um pecado hediondo que deixa marcas da sua perversidade como o sangue de uma vítima que mancha as roupas de seu assassino.[16] A referência a roupa, também, se refere ao fato de que o divórcio retirava da esposa a proteção e a tratava com crueldade.

A lei previa e regulamentava essa prática, mas Deus afirmou que isso se devia à dureza do coração humano (cf. Dt 24.1-4; Mt 19.8).

Portanto, em nenhuma situação Deus aprecia o divórcio, uma vez que ele sempre envolve a quebra da aliança e a violação do seu propósito. Por causa da dureza do coração pecaminoso humano, no entanto, Deus permite o divórcio em apenas dois casos, conforme entendo: em caso de adultério (cf. Mt 19.9) e quando um cônjuge descrente resolve abandonar, irremediavelmente, o cônjuge crente (cf. 1Co 7.15).[17]

Concluindo

Por duas vezes Deus diz aos homens para que cuidem de si mesmos e não sejam infiéis – vv.15, 16. O que isso significa? Significa que devem vigiar o coração, os olhos, obedecer à Palavra de Deus, seguir o que ele manda, ser de fato o cabeça do lar, amar sua mulher como Cristo ama a Igreja. Se os homens cuidarem de si mesmos a situação será bem diferente.[18]

Duas lições podemos aprender aqui: 1ª) Que Deus zela pela identidade do seu povo – por isso ele é claro nas Escrituras sobre os relacionamentos que devemos ter, não somente na área afetiva, mas em todas áreas que possam atrapalhar a nossa fé e prejudicar a igreja; 2ª) Que há uma relação fundamental entre a nossa vida pessoal e moral e o culto que prestamos a Deus – por isso Deus se preocupa e nos instrui nas Escrituras quanto ao nosso testemunho onde quer que estejamos.

A advertência e o chamado ao arrependimento estão claros no v.16b... portanto guardai-vos em vosso espírito, e não sejais desleais.


Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 31/01/16



[1] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1182.
[2] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 74.
[3] Lopes, p. 77.
[4] Bíblia de Estudo de Genebra, ECC e SBB, 2004, p. 1090.
[5] Lopes, p. 78. (Negritos e itálicos meus)
[6] Bíblia de Estudo de Genebra, p. 1091.
[7] MacArthur, p. 1183.
[8] Lopes, p. 79.
[9] MacArthur, p. 1183.
[10] MacArthur, p. 1183.
[11] Lopes, p. 81.
[12] Lopes, p.81.
[13] MacArthur, p. 1183.
[14] Comentário Bíblico Moody, Mateus, p. 92.
[15] Comentário Bíblico Moody, Malaquias, p. 10.
[16] MacArthur, p. 1183.
[17] Lopes, p. 84.
[18] Lopes, p. 84.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Estudos Bíblicos no Livro de Malaquias (3) - Advertência sobre a fidelidade da pregação e do ensino da Palavra de Deus no culto

Malaquias 2.1-9

Em nosso estudo anterior em Malaquias 1.6-14 com o tema adorando e servindo a Deus em espírito e em verdade, vimos () que Deus dá provas de que os sacerdotes e o povo estavam desprezando o culto – vv.7, 8; () que Deus diz que não aceita aquele tipo de culto – vv.13, 9; () que Deus mostra que o culto que eles estavam oferecendo era uma profanação vv. 12,7; e () como Deus amaldiçoa o enganador – aquele que pretende prestar culto prometendo algo, mas que não o faz como deveria – v.14, 9.

Terminamos afirmando que o nosso culto público hoje, pode seguir ensino de Paulo em Ef 5.13-21; Cl 3.12-17, e assim estaremos adorando a Deus, como igreja, em espírito e em verdade – Jo 4.23, 24.

Hoje, dando continuidade ao estudo do livro de Malaquias, vamos expor Malaquias 2.1-9, com o tema: Advertência sobre a fidelidade da pregação e do ensino da Palavra de Deus no culto.

Temos visto no capítulo 1 de Malaquias que Deus ama o seu povo, que ele mesmo escolheu, e quer o melhor deles. Agora, no início do capítulo 2 vemos que Deus ama o seu povo e quer ser honrado por ele.

Malaquias 2.1-9 pode ser dividido em três partes: 1ª) Um chamado ao arrependimento dos sacerdotes infiéis na pregação e ensinovv.1-3; 2ª) Uma menção a aliança levíticavv.4-7; e 3ª) O castigo dos sacerdotes infiéis que não se arrependeremvv.8, 9.

I. Um chamado ao arrependimento dos sacerdotes infiéis na pregação e ensino vv.1-3[1]

1. v.1 – Deus deixa bem claro para quem era essa advertência – ó sacerdotes.

Diferente do capítulo um, em que Deus inicia um diálogo com o povo e seus sacerdotes, aqui ele não abre um diálogo, mas, pronuncia um castigo aos sacerdotes infiéis. Ele é bem direto – este mandamento (advertência – nvi) é para vós outros. O uso do termo mandamento “nesse contexto é um trocadilho, pois os sacerdotes, ou seja, aqueles que deveriam ensinar o mandamento, precisavam agora ouvir o mandamento que Deus tinha para eles”[2].

Na primeira vez que Deus adverte os sacerdotes, Ele o faz em relação aos sacrifícios e ofertas que no culto estavam sendo corrompidas – vv.6-14. Desta vez, Deus os denuncia e adverte por conta da infidelidade no ensino de Sua Palavra – vv.7-9.

2. vv.2, 3 – Aqui temos o declínio da função sacerdotal. Esse é o espírito do sacerdócio que se observa nos dias de Malaquias, marcado pela ociosidade e indiferença.
Os sacerdotes deveriam ouvir e se propor de coração a honrar o nome de Deus, algo que não estavam fazendo. Tinham que executar suas funções com zelo, segundo o que lhes era ordenado, respeitar o nome de Deus e falar dele o que era reto.

A função dos sacerdotes levíticos resumia-se basicamente a três tarefas: 1ª) oferecer o sacrifício de acordo com a Lei de Moisés, o que consistia em cumprir todo o ritual, separando os animais puros ou sem defeito dos impuros, e separando as partes que deviam ser queimadas no templo e fora dele; 2ª) guardar o templo e zelar por ele; e 3ª) instruir o povo na Lei de Deus e liberá-lo no louvor a ele, o que incluía cânticos e o uso de instrumentos musicais.

Os sacerdotes eram totalmente separados para a função que exerciam e sustentados pelos dízimos do povo. Essa era a aliança que Deus tinha com ele. Eram o veículo de Deus para instruir o povo e eram aqueles que zelavam pelo culto. Mas, em muitas ocasiões, eles fizeram o povo se desviar – Lm 4.13. Oseias 5, classifica os sacerdotes e os reis de Israel como um laço para o povo.

Mas, agora, o que aconteceria com os sacerdotes se eles não dessem ouvidos a Deus? Deus faz, aqui, cinco ameaças aos sacerdotes: 1ª) Deus enviaria sobre eles a maldição pactualv.2b. Essa maldição diz respeito aos castigos previstos na aliança, que encontramos em Deuteronômio 28; 2ª) Deus transformaria em maldição as bênçãos com as quais os sacerdotes abençoavam o povov.2c; 3ª) Deus afirma que os sacerdotes já estão amaldiçoados por causa de sua infidelidade de coraçãov.2d; 4ª) Deus reprovaria a descendência dos sacerdotes v.3a; 5ª) Deus desprezaria publicamente os sacerdotesv.3b.

II. Uma menção a aliança levítica – vv.4-7[3]

1. v.4 – Deus faz menção da aliança que fez com Arão três vezes nos vv.4, 5 e 8. Dentre o povo de Israel, Deus escolheu o irmão de Moisés, Arão, da tribo de Levi, e a sua descendência para serem sacerdotes e exemplo para o seu povo - Êx 28.1-12; Nm 1.50; 6.3-6, 11, 13. Deus chamou Arão e a sua descendência para serem ministros dele, cuidarem do serviço do culto e desempenharem uma série de funções relacionadas ao ensino e a guarda da Lei.

Em Números 25.6-13, Deus, ratificou essa aliança no episódio de Fineias. Deus falou a Moisés que a aliança levítica fora confirmada nesse episódio. Esse sacerdote que teve zelo pelo culto a Deus e pela pureza do povo, era o tipo de ministro que ele desejava. Essa é a aliança que fez com os levitas como sacerdotes, como guardiões da Palavra de Deus, da verdadeira fé e do verdadeiro culto.

2. v.5-7 – Agora, Deus usa o profeta Malaquias para chamar a atenção sobre o modo como o sacerdote levita, no começo, se comportava no ministério da aliança de vida e de paz que Deus fez com ele: 1º) Temia a Deusv.5; 2º) Trazia em sua boca o verdadeiro ensino da Leiv.6a – ensino que da iniquidade converteu a muitos; 3º) Agia com santidade e piedadev.6b; 4º) Era diligente no ministériov.6c, 7.
O sacerdote era o mensageiro do Senhor dos Exércitos; portanto, o povo iria buscar e ouvir da sua boca a instrução de Deus, sua vontade e seus caminhos. Ensinar a Palavra de Deus com verdade, disciplinar com mansidão os que resistem, responder às argumentações, derrubar os sofismas, instruir o povo na Palavra da verdade, esse era o verdadeiro ministério que Deus confiou aos sacerdotes levíticos e, hoje, por analogia, não por continuidade histórica, é o trabalho de todos que o Senhor chama para exercer o ministério da Palavra em meio ao seu povo.

III. O castigo dos sacerdotes infiéis que não se arrependerem – vv.8, 9

1. v.8 – Ao invés de servirem a Deus com fidelidade, os sacerdotes abandonaram o Senhor e desprezaram o seu ministério. Quatro pecados terríveis eles cometeram: 1º) se desviaram dos caminhos do Senhor; 2ª) desviaram a muitos dos caminhos do Senhor; e 3º) corromperam a aliança levítica; 4ª) foram parciais na aplicação da lei (v.9c; Dt 33.10; Tg 2.1)

2. v.9 – Por isso, os sacerdotes tiveram o castigo a altura, “sobreveio-lhes a pior vergonha e degradação”[4] (cf. v.3; Ne 13.29). Deus os tornou desprezíveis, e indignos diante de todo o povo, visto que não guardaram os seus caminhos, mas fizeram acepção de pessoas na lei.

Concluindo – Lições e aplicações:[5]

1)   Deus zela pelo seu culto – O culto é a expressão publica da teologia da igreja, do que ela acredita, das suas convicções práticas, de sua própria vida e maturidade espiritual. Portanto, não podemos ter em relação ao culto uma atitude trivial, mas devemos dar importância a tudo que diga respeito a ele, como está na Palavra de Deus.

2)   Uma das principais funções do ministério da igreja é a instrução da Palavra de Deus, seja na pregação o no ensino – Creio que uma das coisas em que a igreja deve insistir e preservar é a centralidade da Palavra de Deus, exposta em verdade, porque é isso que vai desviar muitos da iniquidade.

3)   É responsabilidade do povo de Deus não aceitar um culto corrompido, no qual a Palavra de Deus não seja ensinada com fidelidade – Creio que não devemos aceitar que líderes que se desviam dos caminhos de Deus e do ensino da sua santa Palavra continuem a exercer suas funções na igreja.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 23/01/16




[1] Lopes, p.56-65. Esse ponto segue o comentário do livro, com cortes e acrescimentos considerados necessários ao ensino local.
[2] Lopes, p. 60.
[3] Lopes, p.65-68. Esse ponto segue o comentário do livro, com cortes e acrescimentos considerados necessários ao ensino local.
[4] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1182.
[5] Lopes, p.68-71. Esse ponto segue o comentário do livro, com cortes e acrescimentos considerados necessários ao ensino local.

Estudos Bíblicos no Livro de Malaquias (2) - Advertência sobre a profanação do culto a Deus

Malaquias 1.6-14

Em nosso estudo de introdução ao estudo de Malaquias vimos:

ð Que há princípios imutáveis sobre o serviço cristão, em qualquer área, no caso aqui para adoração em culto público ou privado, que não perderam a validade ou foram abolidos por Jesus;
ð Que a temática do livro gira em torno do culto que se deve prestar a Deus conforme ele deseja e expressa na sua Palavra;
ð Que o padrão que aparece em quase todo o texto do livro é: 1) Uma declaração de Deus; 2) Um questionamento do povo; 3) Uma resposta de Deus.
ð Que o estilo do livro é dialógico e é isso que o destaca dos outros profetas.
ð Estudamos Malaquias 1.1-5 com o seguinte tema: Por que continuar servindo e adorando a Deus em tempos de crise? Respondemos à pergunta em três pontos: 1º) Por que Ele fala conosco, não o que queremos ouvir, mas, o que precisamosv.1;   2º) Porque ele nos ama – vv.2-4; e 3º) Porque ele cuida de nós – v.5.

Terminamos com a seguinte afirmação: Deus fala com você, não o que você quer ouvir, mas o que você precisa ouvir; ele ama você independente de qualquer coisa; e ele cuida de você, mesmo que você não consiga perceber no momento.

Hoje, dando continuidade ao estudo do livro de Malaquias, vamos expor Malaquias 1.6-14, com o tema: Advertência sobre a profanação do culto a Deus.

Fazia cerca de cem anos que Israel tinha regressado do cativeiro Babilônico, que tinha durado 70 anos em razão da reiterada idolatria e falta de arrependimento, e as coisas não estavam acontecendo conforme a expectativa do povo. Eles continuavam tendo problemas com as nações pagãs vizinhas, o culto no templo em Jerusalém era caracterizado por excesso de formalidade, os sacerdotes tinham se corrompido, o templo construído era menor que o de Salomão e o povo ainda estava sob o domínio dos persas e a sua situação econômica era muito difícil.

Diante de tudo isso, o povo começou a desanimar. O amor pelas coisas de Deus foi pouco a pouco diminuindo e o povo começou a se dispersar em busca de seus próprios interesses. Os sacerdotes que eram responsáveis pelo culto começaram a pensar e agir como o mundo ao seu redor, deixando de fazer o seu trabalho da maneira correta, tolerando práticas pagãs nos cultos e que eram condenáveis segundo a Lei de Deus. Assim o coração do povo não mais considerava Deus e sua obra como prioridade, cada um dava prioridade a seus assuntos pessoais e só davam a Deus o que sobrava da sua atenção, do seu tempo e dos seus recursos. Era uma época de profundo esfriamento do povo em relação a Deus.

Por isso, Deus usou o profeta Malaquias para fala com o povo e lembrá-los de seu amor e do seu cuidado incondicional para com eles. E isso está nos primeiros cinco versículos do livro.

Agora, dos versículos 6 ao 14 temos um novo diálogo de Deus com o povo, iniciado por Deus, mas, direcionado primeiramente aos sacerdotes. Olhemos o texto:

v.6 – Temos aqui uma declaração de Deus sobre a falta de temor no culto e o desprezo do seu nome pelos sacerdotes, isto é, Ele “declara que os sacerdotes estavam profanando seu culto e desprezando seu nome”[1]. Na sua queixa, Deus, usa duas figuras, o pai e o senhor, que inspiram respeito e que teoricamente, as pessoas costumam honrar.

A Bíblia, tanto no AT como no NT, é muito clara sobre honrar pai e mãe (Êx 20.12; Ef 6.2, 3) e sobre respeito aos senhores (Ef 6.5-7; Tt 2.9, 10). Quanto mais honrar e reverenciar Deus, o Pai Criador dos céus e da terra e o seu poderoso nome (cf. Êx 20.1-7). “Deus tem zelo por seu nome, sua glória e sua reputação[2]”.

Por duas vezes Deus enfatiza a grandeza do seu nome aqui (cf. vv.11, 14), e por seis vezes no livro aparece a expressão meu nome. Pense na importância do nome do Senhor Deus!

Mas, eram os próprios responsáveis pelo culto, os sacerdotes, que estavam profanando o nome de Deus e aceitando uma adoração desprezível por parte do povo (vv.6a, 7a). Por isso, Deus os chama à responsabilidade. Era inaceitável a situação que havia se estabelecido.

O mais chocante nisso tudo, foi a resposta dos sacerdotes: Em que nós temos desprezado o teu nome? Em que te havemos profanado? (v.6b; v.7b) Essa resposta dos sacerdotes à queixa de Deus é de um cinismo, que só se compara à resposta do povo no v.2bEm que nos tens amado?

Não havia razão para essa resposta em forma de pergunta dos sacerdotes. Eles sabiam muito bem o que dizia a Lei sobre os sacrifícios apresentados a Deus para a expiação dos pecados e as ofertas oferecidas a Deus em gratidão pelo que ele é, o Deus Vivo e Verdadeiro (cf. Lv). Portanto, “a resposta dos sacerdotes era capciosa e cínica, e refletia com perfeição o estado espiritual deles e do povo àquela altura”[3].

Agora, a resposta de Deus em 4 partes:
1)      Deus dá provas de que eles estavam desprezando o culto – vv.7, 8.
2)      Deus diz que não aceita aquele tipo de culto – vv.13, 9.
3)      Deus mostra que o culto que eles estavam oferecendo era uma profanação – vv. 12, 7.
4)      Deus termina amaldiçoando o enganador – aquele que pretende prestar culto prometendo algo, mas que não o faz como deveria – v.14, 9.
Concluindo

Quando Deus exalta o nome de Jesus acima de todo o nome e a ele conduz todos os homens para o adorarem, está nos dizendo que Jesus é o Senhor do pacto, nele é que nossas almas realmente encontrarão o descanso prometido. Assim, cumprimos o mandamento de honrar o nome de Deus, honrando o nome de Jesus – Fp 2.10, 11.

Deus veio em nosso socorro ao enviar Jesus Cristo, o único capaz de honrar o seu nome de maneira perfeita. A santidade e obediência de Jesus nos abençoaram e nos deram vida – Rm 8.3, 4.

Jesus, por meio do ministério do Espirito Santo, nos ajuda a tomar o nome de Deus e honrá-lo. Pois, o Espírito Santo aplica as virtudes de Jesus em nosso coração – Ez 36.27; Jo 16.14; Rm 8.14-17.

Nosso culto público, hoje, pode seguir o seguinte ensino de Paulo – Ef 5.13-21; Cl 3.12-17. Assim estaremos adorando a Deus, como igreja, em espírito e em verdade – Jo 4.23, 24.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 17/01/16




[1] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 35.
[2] Ibid., p. 35.
[3] Ibid., p. 38.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Estudos Bíblicos no Livro de Malaquias (1) - Por que continuar servindo e adorando a Deus em tempos de crise?

Malaquias 1.1-5

Quando fiz a leitura do livro de Malaquias, percebi que ele tem muito a ver com o nosso tempo. Embora pareça estranho, por uma questão de tempo, da época em que o livro foi escrito e da cultura do povo a quem foi dirigido originalmente.

Digo isso, porque alguns evangélicos assumiram uma posição de que o Antigo Testamento, em matéria de adoração e culto a Deus, seja ele privado ou coletivo, não tem muito a ensinar por conta dos rituais e sacrifícios que foram abolidos pelo que Cristo fez na cruz, de uma vez por todas.

Mas, não é bem assim, há princípios imutáveis sobre o serviço cristão, em qualquer área, no caso aqui para adoração em culto público ou privado, que não perderam a validade ou foram abolidos por Jesus, antes o Novo Testamento faz uso deles para estabelecer a ordem e a decência em suas reuniões para adoração.

Os profetas do Antigo Testamento, “e entre eles, Malaquias, ao levantarem sua voz contra o povo de Deus de sua época, por haverem desvirtuado o culto ao Senhor, usaram como argumentos princípios relativos à adoração a Deus que certamente se aplicam ao povo de Deus de todas as épocas. E isso inclui a igreja de Deus aqui no Brasil, em nossos dias.”[1]

Alguns desses princípios são expostos claramente pelo profeta Malaquias e estão registrados no livro que leva o seu nome, eles são: a centralidade de Deus no culto, as razões corretas para cultuarmos a Deus, a relação correta entre o culto e a nossa vida diária, a necessidade de adorarmos a Deus de acordo com o que ele revelou nas Escrituras e não de acordo com a nossa criatividade, etc. É por essa e muitas outras razões não citadas que, considero o livro de Malaquias bastante atual e relevante.

A temática do livro gira em torno do culto que se deve prestar a Deus conforme ele deseja e expressa na sua Palavra. O que acontece, é que a profecia de Malaquias foi proferida e registrada em um contexto muito parecido com o que, nós, os evangélicos vivemos hoje em nosso país. Ou seja, num contexto no qual adorar a Deus parece não fazer diferença visível na vida dos que o buscam constantemente nos locais de culto.

O contexto histórico do livro de Malaquias:[2]

ð Malaquias proferiu suas profecias em um tempo de profundo desanimo para o povo de Deus;
ð Fazia cerca de cem anos que Israel tinha regressado do cativeiro Babilônico, que tinha durado 70 anos em razão da reiterada idolatria e falta de arrependimento;
ð O período da volta está registrado nos livros de Esdras e Neemias;
ð Voltando pensavam no cumprimento imediato das promessas messiânicas;
ð Os profetas Isaias, Jeremias e Ezequiel profetizaram um tempo maravilhoso para o povo de Deus após a restauração e o povo acreditava que aquele seria o tempo em que as promessas se cumpririam;
ð Só que cem anos se passaram desde a volta do cativeiro e as coisas não estavam acontecendo conforme a expectativa do povo;
ü O povo continuava tendo problemas com as nações pagãs vizinhas;
ü O culto no templo em Jerusalém era caracterizado por excesso de formalidade;
ü Os sacerdotes tinham se corrompido;
ü O templo construído era menor que o de Salomão;
ü O povo ainda estava sob o domínio dos persas e a sua situação econômica era muito difícil.

Diante de tudo isso, o povo começou a desanimar. O amor pelas coisas de Deus foi pouco a pouco diminuindo e o povo começou a se dispersar em busca de seus próprios interesses. Os sacerdotes que eram responsáveis pelo culto começaram a pensar e agir como o mundo ao seu redor, deixando de fazer o seu trabalho da maneira correta, tolerando praticas pagãs nos cultos e que eram condenáveis segundo a Lei de Deus. Assim o coração do povo não mais considerava Deus e sua obra como prioridade, cada um dava prioridade a seus assuntos pessoais e só davam a Deus o que sobrava da sua atenção, do seu tempo e dos seus recursos. Era uma época de profundo esfriamento do povo em relação a Deus.

Nesse contexto surge o profeta Malaquias, cujo nome significa mensageiro de Deus. Ele foi o último profeta inspirado do Antigo testamento. Foi o profeta que Deus levantou durante o período de Esdras e Neemias, sendo, assim, contemporânea de Ageu e Zacarias. Com uma mensagem profética muito similar a descrita nesses quatro livros, Malaquias, denuncia a situação de descaso para com as coisas de Deus, a corrupção do clero, os casamentos mistos e os abusos por parte dos poderosos. Ele aparece para chamar o povo e os sacerdotes ao arrependimento e à verdadeira adoração e culto a Deus, mesmo em tempos de crise.

Sua mensagem afirma que o povo e os seus líderes tinham que permanecer fiel a Deus, mesmo em tempos difíceis e deveriam cultuá-lo e servi-lo independentemente das circunstâncias em que se encontravam. O povo de Deus deveria permanecer fiel e aguardar o tempo em que ele haveria de cumprir as suas promessas.

O livro pode ser dividido em oito partes enfocando diferentes aspectos relacionados à situação do povo. As partes seguem basicamente a mesma estrutura: Deus faz uma declaração, o povo a questiona e então Deus responde, refutando o questionamento feito pelo povo. Esse é o padrão que aparece em quase todo o texto do livro: 1) Uma declaração de Deus; 2) Um questionamento do povo; 3) Uma resposta de Deus.

O estilo do livro é dialógico e isso o destaca dos outros profetas. Portanto, Deus, por meio do profeta Malaquias, entra em dialogo como o seu povo. Os questionamentos do povo em cada afirmação de Deus são os seguintes: 1) Deus nos ama mesmo? 2) Em que estamos profanando o culto a Deus? 3) Por que Deus não aceita nossa oferta? 4) Por que Deus não aceita nossos sacerdotes? 5) Em que estamos desagradando a Deus? 6) Em que estamos roubando a Deus? 7) Em que estamos difamando a Deus?

Pelos questionamentos, ao que parece, o povo de Israel não acreditava haver motivo para Deus enviar um profeta para chama-los à responsabilidade a respeito da vida que levavam e a respeito do culto que ofereciam a Ele todos os sábados, no templo em Jerusalém. O livro termina com a promessa do grande dia do Senhor, quando Deus irá definitivamente sanar toda dúvida e silenciar todo questionamento.

Agora que já nos familiarizamos como o contexto do livro e com o profeta Malaquias, vamos ao nosso texto de hoje – Malaquias 1.1-5. Nosso tema é Por que continuar servindo e adorando a Deus em tempos de crise? Faremos isso em três pontos: 1º) Por que Ele fala conosco, não o que queremos ouvir, mas, o que precisamos – v.1;   2º) Porque ele nos ama – vv.2-4; e 3º) Porque ele cuida de nós – v.5.

Então, por que continuar servindo e adorando a Deus em tempos de crise?

I. Por que Ele fala conosco, não o que queremos ouvir, mas, o que precisamos – v.1

1. Peso da palavra do Senhor contra Israel, por intermédio de Malaquiasv.1

a. O termo peso também significa sentença (ARA), e indica que a Palavra de Deus, para o povo e para seus líderes, por intermédio do profeta Malaquias, seria dura. A ênfase do profeta é na autoridade da Palavra do Senhor, “com implicações de responsabilidade urgente e mesmo de pavor”[3] e temor. Alguns profetas, como Zacarias e Habacuque usaram essa palavra – Zc 9.1; 12.1; Hc 1.1.

O peso da palavra do SENHOR contra a terra de Hadraque, e Damasco, o seu repouso; porque o olhar do homem, e de todas as tribos de Israel,
se volta para o SENHOR.

Peso da palavra do SENHOR sobre Israel: Fala o SENHOR, o que estende o céu,
e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele.

O peso que viu o profeta Habacuque.

b. Em sua maioria os livros proféticos do Antigo Testamento, no primeiro versículo, identificam o autor – seu nome e sua família, e o que vem a seguir, ou seja, o título do livro. Não é diferente com Malaquias. Mas, aqui, não temos a identificação da família do profeta, somente o seu nome que significa “meu mensageiro” ou “mensageiro de Deus”. O que sabemos dele é que profetizou em Israel, aproximadamente, 100 anos depois da volta do povo do cativeiro Babilônico, e que durante esse período os persas eram a grande potência mundial. “A tradição nos conta que Malaquias era membro da ‘Grande Sinagoga’ e que ele era um levita nascido em Sufa de Zebulom, mas nada mais se sabe sobre o profeta.”[4]

c. A tarefa de Malaquias não era fácil, ele tinha que pronunciar uma palavra dura da parte de Deus para o seu povo. A palavra seria um peso para as duas partes envolvidas aqui: 1º) Para quem a proclamaria – o profeta tinha que trazer uma palavra de denúncia, uma palavra de crítica, por isso era chamada de sentença ou peso do Senhor. Imagine a situação do profeta!; e 2º) Para quem a ouviria – Imagine, também, a situação do povo. Quem gosta de ser repreendido e corrigido duramente? Essa era a mensagem que o profeta Malaquias tinha que trazer para o povo de Deus – Uma advertência: a palavra do Senhor contra Israel, por meio de Malaquias. (v.1 NVI)

Por que Deus mandou uma palavra dura para o seu povo? Porque era essa a mensagem que o seu povo necessitava ouvir naquele momento da sua história. “Sempre e toda vez que ocorreu a profanação do culto, a desobediência aos mandamentos, a falta de interesse nas coisas de Deus e a ausência de fé em tempos de crise”[5], Deus levantou profetas para advertir o seu povo!

Hoje, também não é diferente, Deus usa os seus servos pregadores para falar conosco, não o que queremos ouvir, não para massagear nosso ego, não para aprovar nossos desvios e justificar os nossos pecados, mas para o nosso ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra. E ele faz isso por intermédio das Escrituras que são inspiradas. (2Tm 3.16)

Então, por que continuar servindo e adorando a Deus em tempos de crise? 1º) Por que Ele fala conosco, não o que queremos ouvir, mas, o que precisamos – v.1; 2ª) Por que ele nos ama – vv.2-4.

II. Por que ele nos ama – vv.2-4

1. Eu vos tenho amado, diz o SENHOR.v.2a – Como Deus começa sua palavra pesada contra o seu povo? O verbo amei em hebraico usado por Malaquias, significa que Deus não só amou o seu povo, mas o amará para sempre! A NVI traduz o texto assim: Eu sempre os amei!

Malaquias estava falando de um amor antigo que começou com o chamado de Abraão (Gn 12). Bastava Israel olhar para a sua história que constataria a verdade. Deus sempre tinha amado aquele povo, sempre o tinha protegido, abençoado, concedido privilégios e revelado-se a eles. Essa era a mensagem dura que inicial e curiosamente o povo precisava ouvir naquele momento, pois estava desanimado e sem interesse pelas coisas de Deus.[6]

2. Mas vós dizeis: Em que nos tens amado?v.2b – Essa atitude do povo que se revelou em suas palavras, mostra a falta da verdadeira piedade, uma ausência de confiança que só corações endurecidos poderiam ficar desatentos às incontáveis manifestações do amor de Deus pelo povo da aliança. Foi como se tivessem dito a Deus: "Não temos visto evidência do Seu amor".[7] Que amor é esse? Nossa situação está cada vez pior.

Mas, “esse tipo de questionamento não é algo exclusivo do povo de Israel. Ao longo da história, as pessoas têm procurado medir o amor de Deus por meio de coisas materiais, de sua situação financeira e do conforto que têm ou deixam de ter.”[8]

O que acontece é que, quando o justo sofre e os perversos parecem prosperar, os homens são inclinados a questionar o amor de Deus.

3. vv.2c-5 – Observe comigo como Deus responde ao questionamento do povo. Olhando desatentamente, parece que o que Deus diz não tem nada a ver com o assunto, mas, na verdade, o que ele faz é conduzir o diálogo para outro nível. Sua resposta faz referência ao “amor eletivo e incondicional de Deus por Jacó e à rejeição correspondente de Esaú.”[9]

a. A palavra amei, aqui, é usado para expressar escolha e a palavra odiei para expressar rejeição, e não animosidade pessoal, visto que isso foi explicitamente proibido contra os edomitas, os descendentes de Esaú em Dt 23.7.

b. Aqui temos uma referência ao episódio de Gn 25.23.

c. Em Rm 9.10-18, Paulo faz um comentário e explica que a escolha de Deus é a prova do seu amor livre para com o seu povo, tanto do Antigo Testamento (Israel), como do Novo Testamento (Igreja). Assim, “no exercício de sua boa vontade soberana, Deus escolheu conceder a promessa da aliança e Suas bênçãos àquele que não era o primogênito. E esse amor de Deus fora traduzido em ação constante através da história de Israel.”[10]

d. Além disso, o comentário de Paulo, “sugerem que o ‘aborrecimento’ consistia em Deus perpetuar a linhagem do Povo Escolhido através de Jacó e não através de Esaú, e em dar a Esaú uma posição de subordinação para com o seu irmão (cf. Gn 27.37-40). Por outro lado, tanto Esaú como seus descendentes viveram vidas profanas e pecadoras (cf. Gn 26.34; 27.41; Ob 10-14).”[11] Mas, “em conformidade com isso, não podemos concluir que todo edomitas fosse rejeitado ou condenado, bem como não se pode concluir que todo israelita fosse salvo.”[12]

e.  Essa resposta de Deus tem três pontos importantes: 1º) Amei a Jacó (v.2c) – isto é, escolhi a Jacó e essa é a prova do meu amor por vocês!; 2º) Rejeitei (odiei) a Esaú (v.3) – isto é, não rejeitei a vocês, antes fiz de vocês o meu povo; e 3º) Deus diz que está irado para sempre com os edomitas (v.4), enquanto diz ao povo de Judá que o amara para sempre.
f. Portanto, a resposta de Deus foi: Vocês querem provar maior de amor do que essa? Vocês poderiam estar entre aqueles que eu rejeitei, mas estão entre aqueles que eu amei e amarei para sempre!

Hoje, também, não devemos medir o amor de Deus pelas dificuldades e problemas que enfrentamos, sejam elas financeiras, na área de saúde, familiar ou a dor da morte. Todas essas coisas não podem ser comparadas com o amor de Deus por nós. Do mesmo modo como falou para o povo em Jerusalém, ele nos responde se perguntarmos: “De que maneira nos tens amado? A resposta de Deus, em outras palavras é está: Pelo fato de que eu escolhi vocês para serem meus filhos e herdeiros do novo céu e da nova terra.”[13]

Vou apenas citar sete versículos do Novo Testamento sobre isso:

Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.
João 16.38

Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.
Romanos 8.18

Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.
Romanos 8.35-39

Então, por que continuar servindo e adorando a Deus em tempos de crise? 1º) Porque Ele fala conosco, não o que queremos ouvir, mas, o que precisamos – v.1; 2ª) Porque ele nos ama – vv.2-4; e 3º) Porque ele cuida de nós – v.5.

III. Porque ele cuida de nós – v.5

O fato de o povo estar enfrentando grandes dificuldades, não significa que Deus não estava cuidando deles. Pelo contrário, “ao longo dos séculos, Deus providencialmente preservou a vida da nação de Israel, a descendência de Jacó. Edom, povo que descendia de Esaú, nesse contexto histórico já fora completamente devastado (vv.4, 5). Porém, contra todas as probabilidades, Israel retornara do cativeiro e habitava novamente na sua terra”[14], a terra prometida.

A verdade, é que aquele povo fez uma separação radical entre religiosidade e experiência cotidiana, o que evidencia o verdadeiro problema dele: religiosidade desprovida de devoção. Eles não abandonaram de vez a vida religiosa, mas a transformação em mero tradicionalismo. Por isso, a contragosto continuavam a praticar o culto ao Senhor no templo (cf. 1.9-14), mas, o seu coração duvidava do amor de Deus e não achava que servir ao Senhor fizesse qualquer diferença na pratica (cf. 2.17; 3.14).[15]

Assim, no contexto da vida real, isto é, no seu cotidiano, o povo evidenciava uma total indiferença em relação a Deus e seus princípios. Os preceitos de Deus como o casamento (cf. 2.10-16), a ética social (cf. 2.17-3.5) e a mordomia dos bens econômicos (cf. 3.6-12) eram desconsiderados por completo.[16]

Eles mesmos haviam provocado aquela situação e agora acusavam cinicamente a Deus de falta de amor, ou seja, de falta de cuidado para com quem ele disse que amava para sempre. Mas, Deus diz os vossos olhos o verão, e direis: O SENHOR seja engrandecido além dos termos de Israel. O cuidado do Senhor em preservá-los e trazê-los de volta à terra prometida já era visível, mas isso seria para sempre como é o seu amor! E eles veriam isso até fora do seu próprio território!

O que Deus tem feito por nós como igreja e individualmente? Será que as adversidades da vida são motivo suficiente para desconfiarmos do amor e do cuidado de Deus? Será que um dos motivos pelo qual estamos experimentando um esfriamento na nossa fé não é o fato de estarmos mais conectados com as coisas deste mundo e deixando de lado nossa vida com Deus? Pense um pouco?

Deus prometeu estar conosco e nunca nos desamparar:

E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias,
até a consumação dos séculos. Amém.
Mateus 28.18-20

Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei. E assim com confiança ousemos dizer:
O Senhor é o meu ajudador, e não temerei O que me possa fazer o homem.
Hebreus 13.5, 6

Concluindo

Então, vamos continuar servindo e adorando a Deus, mesmo em tempos difíceis como os nossos? Não esqueça: Ele fala com você, não o que você quer ouvir, mas o que você precisa ouvir; ele ama você independente de qualquer coisa; e ele cuida de você, mesmo que você não consiga perceber no momento.



[1] Lopes, Augustus Nicodemus. O culto segundo Deus: a mensagem de Malaquias para a igreja de hoje, Vida Nova, SP, 2012, p. 7.
[2] Lopes, p. 11-14. Esse tópico segue o tópico Introdução do livro, com cortes a acrescimento julgados necessários.
[3] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, SP, 2009, p. 1327.
[4] Comentário Bíblico Moody, Malaquias, p. 1.
[5] Lopes, p. 22.
[6] Ibid., p. 23.
[7] Moody, Comentário Bíblico, Malaquias, p. 3.
[8] Lopes, p. 23.
[9] Carson, p. 1328.
[10] Moody, p. 3.
[11] Moody, p. 3.
[12] Carson, p. 1328.
[13] Lopes, p. 27.
[14] Lição Expressão – Profetas da Restauração, Estudos Bíblicos em Daniel, Ageu, Joel, Zacarias e Malaquias, Lição 12, p. 57.
[15] Lição Expressão, p. 56.
[16] Ibid., p. 56.