Hebreus 13
Em
nossos estudos anteriores vimos:
ð
No capítulo 1.1-4 – A introdução à Carta aos Hebreus e que Jesus é a revelação superior;
nos capítulos 1.5-2.4 – Que Jesus é superior aos anjos; no capítulo 2.5-18 – A humanidade perfeita de Jesus; nos capítulos 3-4 – O perigo da
apostasia e o repouso prometido; no capítulo
5 – Uma compreensão correta do
sacerdócio de Jesus Cristo; no capítulo
6 – O caminho da maturidade e a sua garantia;
no capítulo 7 – O sacerdócio de Jesus Cristo é de ordem superior; no capítulo 8 – Jesus estabeleceu uma
aliança superior; no capítulo 9 – Jesus estabeleceu u santuário superior;
no capítulo 10 – Jesus realizou um sacrifício superior; no
capítulo 11 – A verdadeira e perseverante fé; e no capítulo 12 – O segredo da
perseverança.
Terminamos o estudo do capítulo 12 com
a afirmação:
Tudo quanto conhecemos, exceto as realidades e seres espirituais,
passará. Devemos tornar nossa prioridade principal tratar com Deus,
agradecendo-o por sua misericórdia, passando todos os nossos dias em seu
serviço, reverenciando-o e vivendo uma vida em piedoso temor a Ele.
No
capítulo 13, o autor “concentra-se
em alguns aspectos éticos práticos e essências da vida cristã. Esses aspetos
éticos ajudam a descrever o verdadeiro evangelho para o mundo, incentivar os
outros a crerem em Cristo e trazer glória a Deus”.[1]
Ele
encerra sua carta chamando os irmãos para uma vida de testemunho. Eles
precisavam mostrar o que criam através de suas vidas. O comportamento deles
revelaria a sua real identidade cristã.
Jesus disse sobre a vida dos cristãos: Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo... Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está
nos céus. (Mt 5.13a; 14a; 16)
Agostinho disse com bastante propriedade: “testemunhar não é algo que fazemos; é algo que somos”. Robert
Murray diz que “o crente é aquele cuja
vida leva outros a crerem com mais facilidade”. Billy Graham diz que “a maior necessidade do mundo hoje é de
cristãos com maturidade espiritual, que não somente tenham professado sua fé em
Cristo, mas que vivam essa fé cada dia”. Arival Dias Casimiro diz “o mundo precisa conhecer a Jesus e contemplar
o evangelho na vida dos cristãos”.[2]
Por isso, hoje, vamos estudar o
capítulo 13 com o tema “A vida cristã na
prática”. Faremos isso em quatro pontos: 1º) É uma vida de deveres
sociais – 13.1-3; 2º) É
uma vida de pureza e contentamento – 13.4-6;
3ª) É uma vida de atitude apropriada em relação aos líderes espirituais
– vv.7-14, 17; 4º) É uma vida que adora a
Deus, serve as pessoas e desfruta dos privilégios espirituais – vv.15-25.
I.
É uma vida de deveres sociais – 13.1-3
1. Amor fraternal – v.1.
O tipo de amor ao qual o autor se
refere é fraternal, isto é, “amor entre irmãos espirituais, os filhos de Deus”[3].
Os irmãos são desafiados a persistir na fé cristã com essa expressão prática de
amor. “Nos servimos a Deus ao amar os outros crentes com o amor fraternal”[4].
Por isso, a Igreja não é uma organização, sociedade ou clube e sim uma
fraternidade, onde todos são irmãos.
O amor fraternal é um mandamento
bíblico – Rm 12.10; 1Ts 4.9; 1Pe 1.22;
2Pe 1.7. A prática desse amor deve ser constante. A fé opera pelo amor, mas
quando a fé está em crise, o amor pode esfriar.[5]
(cf. Mt 24.12)
2. Hospitalidade – v.2.
A hospitalidade era muito importante no
primeiro século da era cristã, devido as condições desfavoráveis, física e
moralmente, das pensões naquela época. Por isso o Novo Testamento ressalta a
importância do lar cristão, descrevendo-o como lugar que esteja aberto a todos
quantos pertencem a família de Deus.[6]
A hospitalidade não deve ser
negligenciada. Ela é ordenada a todos os cristãos e exigida dos líderes da igreja
(Rm 12.3; 1Tm 3.2; Tt 1.8). Ela é
considerada uma prova do amor cristão e deve ser mostrada aos irmãos na fé, aos
pobres, aos estrangeiros e até aos inimigos[7]
(cf. 1Tm 5.10).
O autor ressalta que as pessoas
hospitaleiras muitas vezes são recompensadas com surpresas maravilhosas. Mas, o
argumento do autor não se apresenta como a motivação maior para a
hospitalidade, porém, para revelar que nunca se sabe a extensão que pode ter um
ato de bondade e acolhimento. Foi exatamente isso que aconteceu com Abraão (Gn 18.1-3), Ló (Gn 19.1, 2), Gideão (Jz
6.11-24) e Manoá (Jz 13.6-20).[8]
3. Piedade – v.3.
O verbo lembrar não envolve somente um
ato mental, mas uma atitude de ir ao encontro daquele que precisa. Lembrar,
aqui, é sinônimo de visitar (cf. Sl 8.4).
A visitação aos necessitados, presos e maltratados, era uma prática comum na vida da igreja primitiva (cf.
Hb 10.34). Tiago diz que a religião pura e imaculada para com Deus e
Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se
da corrupção do mundo. (Tg 1.27)
Um dos critérios que Deus usará no juízo final será o da visitação (Mt 25.42, 43).[9]
Os cristãos deveriam ser capazes de se
identificar com o sofrimento de outros porque eles também sofrem dor física e
passam por dificuldades.[10]
II.
É uma vida de pureza e contentamento – 13.4-6
1. Pureza nos relacionamentos afetivos – v.4.
O ensino do autor sobre o casamento é
muito equilibrado, pois na sua época os laços do matrimônio significavam muito
pouco. E isso gerou, por parte da igreja, dois ensinos extremistas: o celibato
e o ascetismo, ou seja, os cristãos não deveriam se casar, não podiam ter nada
a ver com o sexo e deveriam tratar seus corpos com severidade. Ele afirma que o
casamento é um relacionamento digno.[11]
Aqui temos três lições importantes: 1ª) Todo
crente deve considerar o casamento como algo precioso; 2ª) A maneira bíblica de
valorizarmos o casamento é mantendo a santidade sexual (cf. Êx 20.14; Dt 5.18); e 3ª) Deus
julgará todos os impuros e adúlteros – as pessoas sexualmente imorais e
impuras um dia terão de responder por seus pensamentos, palavras e ações e o
farão diante de Deus no juízo final. (cf. 1Co
6.9, 10)
Olyott diz que “o caminho de Deus é de
castidade fora do laço do casamento e de prazer dentro desse vínculo. Os cristãos
coerentes são parceiros fiéis e amorosos que criam e conservam lares estáveis,
cheios de amor.”[12]
2. Contentamento em relação aos bens materiais – v.5,
6.
As palavras do autor aqui se referem à
cobiça geral e, em particular, ao amor ao dinheiro. Ele mostra que a invejosa
ansiedade por posses materiais é tão grave pecado quanto os de natureza sexual.
A conduta cristã deve estar livre tanto de descontentamento material quanto de
imoralidade sexual. O caminho de Deus para o cristão é de contentamento, não o
da cobiça. Significa “usar o que tem”, em vez de “desejar ter mais”.[13]
Cobiçar riquezas materiais é a raiz de
todos os males; e nessa cobiça alguns se
desviaram da fé (1Tm 6.10; 3.3).
O contentamento como o que Deus tem dado ao crente é remédio para a avareza. O
fato da presença de Deus na vida do cristão dá a certeza de que ele suprirá as
suas necessidades.
Usando um verso do Salmo 118.6, o autor, encoraja os irmãos a fazerem uma declaração
de fé e não temer os seus perseguidores permanecendo firmes na fé – v.6.
III.
É uma vida de atitude apropriada em relação aos líderes espirituais – vv.7-14,
17
1. Respeito aos líderes que já morreram – v.7.
A recomendação aqui é para considerar
os líderes que já não estão mais neste mundo. O cristão deve lembrar deles, de
suas pregações, ensinos e orações. Olhar atentamente como viveram e o resultado
do seu viver piedoso. Finalmente deve imitar a fé que eles tiveram.
Além da lista dos fiéis do capítulo 11, o escritor faz os hebreus
se lembrarem de seus próprios líderes fiéis dentro da igreja. Ao fazê-lo, ele
define os deveres dos pastores: 1) dirigir; 2) falar a Palavra de Deus;
e 3) estabelecer o modelo de fé que o povo deve seguir (cf. At 20.28; 1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9).[14]
2. Jesus não mudou e é o exemplo de líder maior – vv.8-14.
O v.8
possivelmente fazia parte de uma antiga confissão cristã de fé, dando a
entender que, enquanto os líderes humanos vêm e vão, o verdadeiro líder do
cristão permanece. A continuidade de nossa comunhão com Cristo se baseia em
nossa crença na constância dele. Assim, as muitas doutrinas que requerem a
nossa lealdade precisam ser julgadas pela verdade revelada a nós em Cristo.
Qualquer ensinamento que nos afaste dele precisa ser recusado[15] (v.9).
[16]O v.9 é uma advertência a todos os irmãos
que ainda estavam presos ao legalismo e cerimonialismo da Antiga Aliança. Eles
não poderiam ser crentes na Nova Aliança sem romper com as tradições do
cerimonialismo levítico.
Nos vv.10-14 temos três lições importantes para os cristãos: 1ª) Estamos
sob a graça de Deus e livres de todas as regras de alimentação da lei mosaica
(cf. At 10.9-16; Lv 11; Rm 14.17); 2ª) O
altar do cristão da Nova Aliança é a pessoa de Jesus Cristo. Ele é tanto o
nosso altar quanto o nosso sacrifício (v.12;
Lv 16; Jo 19.17, 19; 2Co 5.21). Jesus se fez pecado por nós, morrendo fora
da cidade. Ele morreu em nosso lugar e nos livrou de toda culpa e condenação; e
3ª) O cristão, à semelhança de Cristo paga o preço de viver a sua fé num
mundo hostil (v.13).
Originalmente, o autor chama os irmãos
para servir e sofrer por Jesus, fora do cerimonialismo judaico. Em sentido
amplo, todo crente deve ser sal fora do saleiro, consciente de que isso gera
sofrimento. Mas, é um sofrimento passageiro, porque não
temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura (v.14).
Portanto,
tendo Cristo morrido como oferta pelos pecados, os crentes deviam demonstrar,
por meio de Jesus, uma conduta adequada aos redimidos (vv.14-16). 1º) Deviam fixar sua esperança não nas ordenanças
do Velho Testamento, mas na cidade celestial e na perspectiva celestial; 2º) deviam
louvar e agradecer a Deus, uma vez que o fruto dos lábios devia ser o
transbordamento de um coração cheio; 3º)
deviam mostrar benevolência de todo o
tipo, pois Deus não se esquece disto; e 4º) deviam ser obedientes e
submissos. Agradar a Deus poderia finalmente ser reduzido a três práticas
ou atitudes fundamentais, todas mencionadas nesta passagem: louvor, obediência e submissão[17] (v.17).
3. Obediência aos líderes que estão vivos – v.17.
Agora os irmãos são encorajados a
obedecer aos seus líderes e ser submissos para com eles. Eles deveriam fazer
isso reconhecendo a responsabilidade especiais dos líderes cristãos e a
necessidade de encorajá-los na sua função ordenada por Deus.[18]
Nesse versículo há uma sequência lógica:
1º) os crentes devem obedecer e
serem submissos aos seus líderes espirituais (v.17a); 2º) os líderes
devem levar a sério o trabalho de pastoreio (v.17b) – velam por vossas
almas, como aqueles que hão de dar conta delas, isto é, eles prestarão contas a Deus do seu
ministério; 3º) líderes e liderados
experimentam prazer e alegria quando ambos fazem o que lhes é ordenado por Deus
(v.17c). Se não for assim haverá
tristeza e isso não vos seria útil (v.17d).
IV.
É uma vida que adora a Deus, serve as pessoas e desfruta dos privilégios
espirituais – vv.15-25
1. Adoração a Deus e serviço do bem – vv.15, 16.
A adoração no culto a Deus não é uma
opção do cristão, mas um dever seu. A adoração é feita com a nossa vida e
durante todo o período desta. Deduzimos do texto alguns princípios do culto na
Nova Aliança: 1º) É uma oferta – ofereçamos; 2º) É
dirigido unicamente a Deus – a Deus;
3º) É mediado por Jesus Cristo – por ele; 4º) É oferecido por meio de louvor – sacrifício de louvor; 5º)
é a expressão de um novo estado espiritual – fruto dos
lábios que confessam o seu nome; 6º)
É confessional – confessam o seu nome; 7º) É ininterrupto – sempre; 8º) É acompanhado por atos de amor fraternal, isto é, serviço do
bem: beneficência e comunicação – v.16.
2. Desfrutar dos privilégios espirituais – vv.18-25.
Agora, autor
encerra a carta com algumas recomendações pessoais e uma bênção:
1ª) Ele pede oração por si mesmo e pelos seus
companheiros de ministério (vv.18,
19) – ele é um homem humilde, pois reconhece a sua necessidade de oração e
confia nela para que sejam preservadas a sua integridade e comportamento,
juntamente com sua equipe de ministério. Ele deseja visita-los e isso também
faz parte de seu pedido de oração (v.18,
19);[19]
2ª) Ele abençoa os irmãos a quem está escrevendo
(vv.20, 21) – a benção proferida
apresenta alguns privilégios espirituais: (1)
O Deus dos cristãos é o Deus da paz; (2)
Os cristãos tem um grande e imortal pastor; (3) Os cristãos vivem em uma Nova Aliança; (4) Os cristãos são aperfeiçoados por Deus para cumprir a sua
vontade; (5) Os cristãos tem um Deus
que opera neles para que vivam de forma agradável em sua presença e para a sua
glória.[20]
3ª) Ele pede aos
irmãos que suportem a exortação contida na carta e informa que Timóteo já está
em liberdade, sugerindo que logo eles possam visitá-los – vv.22, 23.
4ª) Ele se despede
dos irmãos com saudações – v.24 – e
acrescenta as saudações dos da Itália, o que sugere que estava na companhia
deles.
5ª) Ele dá a sua
benção pastoral: A graça seja com
todos vós. Amém (v.25). Essa é uma bênção
convencional nas cartas do Novo Testamento e muito apropriada para os irmãos
hebreus, com sua ênfase contínua na graça de Deus demonstrada pelos cristãos no
Senhor Jesus Cristo. (cf. 2Tm 4.22; Tt
3.15)
Concluindo
Graça é a grande e final palavra do
evangelho cristão, a graça de Deus, que nos deu o nosso grande Sumo Sacerdote,
que ofereceu o seu próprio sangue por nós e agora está no santuário celestial,
intercedendo por nós, até que nós também possamos entrar na plena e final presença
de Deus, para estar entre os justos aperfeiçoados.[21]
Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer
dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, Vos aperfeiçoe em toda a
boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é
agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre. Amém.
vv.20, 21
Pr. Walter
Almeida Jr.
IBL Limeira –
25/12/15
[1] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1712.
[2] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica –
Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 13ª Lição, p. 60.
[3] Casimiro, p. 60.
[4] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
SP, 2009, p. 2027.
[5] Casimiro, p. 60.
[6] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha,
Editora Cultura Cristã, 2012, p. 128.
[7] Casimiro, p. 61.
[8] MacArthur, p. 1712.
[9] Casimiro, p. 61.
[10] MacArthur, p. 1713.
[11] Olyott, p. 130.
[12] Ibid., p. 130.
[14] MacArthur, p. 1713.
[15] Comentário Bíblico Broadman, Volume 12 – Hebreus a
Apocalipse, JUERP, 1987, p. 114.
[16] Casimiro, p. 63. Esses três parágrafos seguem o
comentário da lição, com cortes e acrescimentos julgados necessários.
[17] Comentário Bíblico Moody, Hebreus, p. 62.
[18] Carson, p. 2029.
[19] Casimiro, p. 64.
[20] Casimiro, p. 64.
[21] Broadman, p. 119.
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