domingo, 27 de dezembro de 2015

Estudos Bíblicos na Carta aos Hebreus (13) - A prática da vida cristã

Hebreus 13

Em nossos estudos anteriores vimos:

ð No capítulo 1.1-4 – A introdução à Carta aos Hebreus e que Jesus é a revelação superior; nos capítulos 1.5-2.4Que Jesus é superior aos anjos; no capítulo 2.5-18A humanidade perfeita de Jesus; nos capítulos 3-4O perigo da apostasia e o repouso prometido; no capítulo 5Uma compreensão correta do sacerdócio de Jesus Cristo; no capítulo 6O caminho da maturidade e a sua garantia; no capítulo 7O sacerdócio de Jesus Cristo é de ordem superior; no capítulo 8 – Jesus estabeleceu uma aliança superior; no capítulo 9Jesus estabeleceu u santuário superior; no capítulo 10Jesus realizou um sacrifício superior; no capítulo 11A verdadeira e perseverante fé; e no capítulo 12O segredo da perseverança.

Terminamos o estudo do capítulo 12 com a afirmação:
                                                                                                                                 
Tudo quanto conhecemos, exceto as realidades e seres espirituais, passará. Devemos tornar nossa prioridade principal tratar com Deus, agradecendo-o por sua misericórdia, passando todos os nossos dias em seu serviço, reverenciando-o e vivendo uma vida em piedoso temor a Ele.

No capítulo 13, o autor “concentra-se em alguns aspectos éticos práticos e essências da vida cristã. Esses aspetos éticos ajudam a descrever o verdadeiro evangelho para o mundo, incentivar os outros a crerem em Cristo e trazer glória a Deus”.[1]

Ele encerra sua carta chamando os irmãos para uma vida de testemunho. Eles precisavam mostrar o que criam através de suas vidas. O comportamento deles revelaria a sua real identidade cristã.

Jesus disse sobre a vida dos cristãos: Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo... Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. (Mt 5.13a; 14a; 16)

Agostinho disse com bastante propriedade: “testemunhar não é algo que fazemos; é algo que somos”. Robert Murray diz que “o crente é aquele cuja vida leva outros a crerem com mais facilidade”. Billy Graham diz que “a maior necessidade do mundo hoje é de cristãos com maturidade espiritual, que não somente tenham professado sua fé em Cristo, mas que vivam essa fé cada dia”. Arival Dias Casimiro diz “o mundo precisa conhecer a Jesus e contemplar o evangelho na vida dos cristãos”.[2]

Por isso, hoje, vamos estudar o capítulo 13 com o tema “A vida cristã na prática”. Faremos isso em quatro pontos: 1º) É uma vida de deveres sociais13.1-3; 2º) É uma vida de pureza e contentamento 13.4-6; 3ª) É uma vida de atitude apropriada em relação aos líderes espirituaisvv.7-14, 17; 4º) É uma vida que adora a Deus, serve as pessoas e desfruta dos privilégios espirituaisvv.15-25.

I. É uma vida de deveres sociais – 13.1-3

1.    Amor fraternal – v.1.

O tipo de amor ao qual o autor se refere é fraternal, isto é, “amor entre irmãos espirituais, os filhos de Deus”[3]. Os irmãos são desafiados a persistir na fé cristã com essa expressão prática de amor. “Nos servimos a Deus ao amar os outros crentes com o amor fraternal”[4]. Por isso, a Igreja não é uma organização, sociedade ou clube e sim uma fraternidade, onde todos são irmãos.

O amor fraternal é um mandamento bíblico – Rm 12.10; 1Ts 4.9; 1Pe 1.22; 2Pe 1.7. A prática desse amor deve ser constante. A fé opera pelo amor, mas quando a fé está em crise, o amor pode esfriar.[5] (cf. Mt 24.12)

2.    Hospitalidade – v.2.

A hospitalidade era muito importante no primeiro século da era cristã, devido as condições desfavoráveis, física e moralmente, das pensões naquela época. Por isso o Novo Testamento ressalta a importância do lar cristão, descrevendo-o como lugar que esteja aberto a todos quantos pertencem a família de Deus.[6]

A hospitalidade não deve ser negligenciada. Ela é ordenada a todos os cristãos e exigida dos líderes da igreja (Rm 12.3; 1Tm 3.2; Tt 1.8). Ela é considerada uma prova do amor cristão e deve ser mostrada aos irmãos na fé, aos pobres, aos estrangeiros e até aos inimigos[7] (cf. 1Tm 5.10).

O autor ressalta que as pessoas hospitaleiras muitas vezes são recompensadas com surpresas maravilhosas. Mas, o argumento do autor não se apresenta como a motivação maior para a hospitalidade, porém, para revelar que nunca se sabe a extensão que pode ter um ato de bondade e acolhimento. Foi exatamente isso que aconteceu com Abraão (Gn 18.1-3), Ló (Gn 19.1, 2), Gideão (Jz 6.11-24) e Manoá (Jz 13.6-20).[8]

3.    Piedade – v.3.

O verbo lembrar não envolve somente um ato mental, mas uma atitude de ir ao encontro daquele que precisa. Lembrar, aqui, é sinônimo de visitar (cf. Sl 8.4). A visitação aos necessitados, presos e maltratados, era uma prática comum na vida da igreja primitiva (cf. Hb 10.34). Tiago diz que a religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo. (Tg 1.27) Um dos critérios que Deus usará no juízo final será o da visitação (Mt 25.42, 43).[9]

Os cristãos deveriam ser capazes de se identificar com o sofrimento de outros porque eles também sofrem dor física e passam por dificuldades.[10]

II. É uma vida de pureza e contentamento – 13.4-6

1.    Pureza nos relacionamentos afetivos – v.4.

O ensino do autor sobre o casamento é muito equilibrado, pois na sua época os laços do matrimônio significavam muito pouco. E isso gerou, por parte da igreja, dois ensinos extremistas: o celibato e o ascetismo, ou seja, os cristãos não deveriam se casar, não podiam ter nada a ver com o sexo e deveriam tratar seus corpos com severidade. Ele afirma que o casamento é um relacionamento digno.[11]

Aqui temos três lições importantes: 1ª) Todo crente deve considerar o casamento como algo precioso; 2ª) A maneira bíblica de valorizarmos o casamento é mantendo a santidade sexual (cf. Êx 20.14; Dt 5.18); e 3ª) Deus julgará todos os impuros e adúlteros – as pessoas sexualmente imorais e impuras um dia terão de responder por seus pensamentos, palavras e ações e o farão diante de Deus no juízo final. (cf. 1Co 6.9, 10)

Olyott diz que “o caminho de Deus é de castidade fora do laço do casamento e de prazer dentro desse vínculo. Os cristãos coerentes são parceiros fiéis e amorosos que criam e conservam lares estáveis, cheios de amor.”[12]

2.    Contentamento em relação aos bens materiais – v.5, 6.

As palavras do autor aqui se referem à cobiça geral e, em particular, ao amor ao dinheiro. Ele mostra que a invejosa ansiedade por posses materiais é tão grave pecado quanto os de natureza sexual. A conduta cristã deve estar livre tanto de descontentamento material quanto de imoralidade sexual. O caminho de Deus para o cristão é de contentamento, não o da cobiça. Significa “usar o que tem”, em vez de “desejar ter mais”.[13]

Cobiçar riquezas materiais é a raiz de todos os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé (1Tm 6.10; 3.3). O contentamento como o que Deus tem dado ao crente é remédio para a avareza. O fato da presença de Deus na vida do cristão dá a certeza de que ele suprirá as suas necessidades.

Usando um verso do Salmo 118.6, o autor, encoraja os irmãos a fazerem uma declaração de fé e não temer os seus perseguidores permanecendo firmes na fé – v.6.

III. É uma vida de atitude apropriada em relação aos líderes espirituais – vv.7-14, 17

1.    Respeito aos líderes que já morreram – v.7.

A recomendação aqui é para considerar os líderes que já não estão mais neste mundo. O cristão deve lembrar deles, de suas pregações, ensinos e orações. Olhar atentamente como viveram e o resultado do seu viver piedoso. Finalmente deve imitar a fé que eles tiveram.

Além da lista dos fiéis do capítulo 11, o escritor faz os hebreus se lembrarem de seus próprios líderes fiéis dentro da igreja. Ao fazê-lo, ele define os deveres dos pastores: 1) dirigir; 2) falar a Palavra de Deus; e 3) estabelecer o modelo de fé que o povo deve seguir (cf. At 20.28; 1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9).[14]

2.    Jesus não mudou e é o exemplo de líder maior – vv.8-14.

O v.8 possivelmente fazia parte de uma antiga confissão cristã de fé, dando a entender que, enquanto os líderes humanos vêm e vão, o verdadeiro líder do cristão permanece. A continuidade de nossa comunhão com Cristo se baseia em nossa crença na constância dele. Assim, as muitas doutrinas que requerem a nossa lealdade precisam ser julgadas pela verdade revelada a nós em Cristo. Qualquer ensinamento que nos afaste dele precisa ser recusado[15] (v.9).

[16]O v.9 é uma advertência a todos os irmãos que ainda estavam presos ao legalismo e cerimonialismo da Antiga Aliança. Eles não poderiam ser crentes na Nova Aliança sem romper com as tradições do cerimonialismo levítico.

Nos vv.10-14 temos três lições importantes para os cristãos: 1ª) Estamos sob a graça de Deus e livres de todas as regras de alimentação da lei mosaica (cf. At 10.9-16; Lv 11; Rm 14.17); 2ª) O altar do cristão da Nova Aliança é a pessoa de Jesus Cristo. Ele é tanto o nosso altar quanto o nosso sacrifício (v.12; Lv 16; Jo 19.17, 19; 2Co 5.21). Jesus se fez pecado por nós, morrendo fora da cidade. Ele morreu em nosso lugar e nos livrou de toda culpa e condenação; e 3ª) O cristão, à semelhança de Cristo paga o preço de viver a sua fé num mundo hostil (v.13).

Originalmente, o autor chama os irmãos para servir e sofrer por Jesus, fora do cerimonialismo judaico. Em sentido amplo, todo crente deve ser sal fora do saleiro, consciente de que isso gera sofrimento. Mas, é um sofrimento passageiro, porque não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a futura (v.14).

Portanto, tendo Cristo morrido como oferta pelos pecados, os crentes deviam demonstrar, por meio de Jesus, uma conduta adequada aos redimidos (vv.14-16). 1º) Deviam fixar sua esperança não nas ordenanças do Velho Testamento, mas na cidade celestial e na perspectiva celestial; 2º) deviam louvar e agradecer a Deus, uma vez que o fruto dos lábios devia ser o transbordamento de um coração cheio; 3º) deviam mostrar benevolência de todo o tipo, pois Deus não se esquece disto; e 4º) deviam ser obedientes e submissos. Agradar a Deus poderia finalmente ser reduzido a três práticas ou atitudes fundamentais, todas mencionadas nesta passagem: louvor, obediência e submissão[17] (v.17).

3.    Obediência aos líderes que estão vivos – v.17.

Agora os irmãos são encorajados a obedecer aos seus líderes e ser submissos para com eles. Eles deveriam fazer isso reconhecendo a responsabilidade especiais dos líderes cristãos e a necessidade de encorajá-los na sua função ordenada por Deus.[18]

Nesse versículo há uma sequência lógica: 1º) os crentes devem obedecer e serem submissos aos seus líderes espirituais (v.17a); 2º) os líderes devem levar a sério o trabalho de pastoreio (v.17b) – velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas, isto é, eles prestarão contas a Deus do seu ministério; 3º) líderes e liderados experimentam prazer e alegria quando ambos fazem o que lhes é ordenado por Deus (v.17c). Se não for assim haverá tristeza e isso não vos seria útil (v.17d).

IV. É uma vida que adora a Deus, serve as pessoas e desfruta dos privilégios espirituais – vv.15-25

1.    Adoração a Deus e serviço do bem – vv.15, 16.

A adoração no culto a Deus não é uma opção do cristão, mas um dever seu. A adoração é feita com a nossa vida e durante todo o período desta. Deduzimos do texto alguns princípios do culto na Nova Aliança: 1º) É uma ofertaofereçamos; 2º) É dirigido unicamente a Deus – a Deus; 3º) É mediado por Jesus Cristo – por ele; 4º) É oferecido por meio de louvor – sacrifício de louvor; 5º) é a expressão de um novo estado espiritual – fruto dos lábios que confessam o seu nome; 6º) É confessional – confessam o seu nome; 7º) É ininterrupto – sempre; 8º) É acompanhado por atos de amor fraternal, isto é, serviço do bem: beneficência e comunicaçãov.16.

2.    Desfrutar dos privilégios espirituais – vv.18-25.

Agora, autor encerra a carta com algumas recomendações pessoais e uma bênção:

1ª) Ele pede oração por si mesmo e pelos seus companheiros de ministério (vv.18, 19) – ele é um homem humilde, pois reconhece a sua necessidade de oração e confia nela para que sejam preservadas a sua integridade e comportamento, juntamente com sua equipe de ministério. Ele deseja visita-los e isso também faz parte de seu pedido de oração (v.18, 19);[19]

2ª) Ele abençoa os irmãos a quem está escrevendo (vv.20, 21) – a benção proferida apresenta alguns privilégios espirituais: (1) O Deus dos cristãos é o Deus da paz; (2) Os cristãos tem um grande e imortal pastor; (3) Os cristãos vivem em uma Nova Aliança; (4) Os cristãos são aperfeiçoados por Deus para cumprir a sua vontade; (5) Os cristãos tem um Deus que opera neles para que vivam de forma agradável em sua presença e para a sua glória.[20]

3ª) Ele pede aos irmãos que suportem a exortação contida na carta e informa que Timóteo já está em liberdade, sugerindo que logo eles possam visitá-los – vv.22, 23.

4ª) Ele se despede dos irmãos com saudações – v.24 – e acrescenta as saudações dos da Itália, o que sugere que estava na companhia deles.

5ª) Ele dá a sua benção pastoral: A graça seja com todos vós. Amém (v.25). Essa é uma bênção convencional nas cartas do Novo Testamento e muito apropriada para os irmãos hebreus, com sua ênfase contínua na graça de Deus demonstrada pelos cristãos no Senhor Jesus Cristo. (cf. 2Tm 4.22; Tt 3.15)

Concluindo

Graça é a grande e final palavra do evangelho cristão, a graça de Deus, que nos deu o nosso grande Sumo Sacerdote, que ofereceu o seu próprio sangue por nós e agora está no santuário celestial, intercedendo por nós, até que nós também possamos entrar na plena e final presença de Deus, para estar entre os justos aperfeiçoados.[21]

Ora, o Deus de paz, que pelo sangue da aliança eterna tornou a trazer dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo, grande pastor das ovelhas, Vos aperfeiçoe em toda a boa obra, para fazerdes a sua vontade, operando em vós o que perante ele é agradável por Cristo Jesus, ao qual seja glória para todo o sempre. Amém.
vv.20, 21

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 25/12/15


[1] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 1712.
[2] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica – Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 13ª Lição, p. 60.
[3] Casimiro, p. 60.
[4] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, SP, 2009, p. 2027.
[5] Casimiro, p. 60.
[6] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha, Editora Cultura Cristã, 2012, p. 128.
[7] Casimiro, p. 61.
[8] MacArthur, p. 1712.
[9] Casimiro, p. 61.
[10] MacArthur, p. 1713.
[11] Olyott, p. 130.
[12] Ibid., p. 130.
[13] Ibid., p. 130.
[14] MacArthur, p. 1713.
[15] Comentário Bíblico Broadman, Volume 12 – Hebreus a Apocalipse, JUERP, 1987, p. 114.
[16] Casimiro, p. 63. Esses três parágrafos seguem o comentário da lição, com cortes e acrescimentos julgados necessários.
[17] Comentário Bíblico Moody, Hebreus, p. 62.
[18] Carson, p. 2029.
[19] Casimiro, p. 64.
[20] Casimiro, p. 64.
[21] Broadman, p. 119.

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