domingo, 6 de dezembro de 2015

Estudos Bíblicos na Carta aos Hebreus (11) - A verdadeira e perseverante fé

Hebreus 11

O que vimos no estudo anterior, no capítulo 10?

ð Jesus realizou um sacrifício superior” em três pontos:
1º) O sistema sacrificial da Leivv.1-4;
2º) A eficácia do sacrifício de Jesus Cristovv.5-18; e
3º) Decisões motivadas pelo sacrifício de Jesus Cristovv.19-39.

Terminamos com a afirmação:

A única ação segura para quem professa ser cristão, e a única ação feliz, é progredir espiritualmente a cada dia, conforme a carta aos Hebreus nos ensina,
até que nosso Senhor Jesus Cristo volte.

Até aqui aprendemos que o crente verdadeiro é uma pessoa de fé que, tendo recebido a Cristo como único e suficiente Salvador, nunca o abandonará, apesar de suas deficiências. Ele crê e continua crendo. O autor dá ênfase a esse assunto porque alguns dos irmãos hebreus estavam cansados e queriam desistir da fé.

Mas o que é a fé? Como é uma pessoa de fé? Como a fé se demonstra? Se o crente souber responder a tais perguntas, ele, saberá, também, responder questões vitais como: Eu tenho fé? A minha fé é real? Minha fé perdurará por toda a minha vida, me susterá até em minha morte e me conduzirá em segurança até o céu?[1]

Todas essas perguntas importantes a respeito da fé são respondidas no capítulo 11 de Hebreus. Estudaremos o capítulo em dois pontos: 1º) A verdadeira fé definida e ilustradavv.1-16; e 2º) A verdadeira fé é perseverantevv.17-40.[2]

I. A verdadeira fé definida e ilustrada – vv.1-16

Vemos que, “hebreus mostra o elo entre a fé, esperança, obediência e perseverança, ilustrando que a fé é mais do que concordância intelectual com algumas crenças. A fé que honra a Deus leva a sério o que Deus diz e vive em expectativa e obediência no presente, esperando que ele cumpra as suas promessas”[3].

Simon Kistemaker diz: “Para o autor, fé é aderir às promessas de Deus, confiar na Palavra de Deus e permanecer fiel ao Filho de Deus”.[4]

1. vv.1-3, 6 – A fé definida.

a.  v.1 – Temos aqui os traços essências da fé: a fé trata de coisas futurascoisas que se esperam, e coisas não vistascoisas que se não vêem. A ênfase é na fé como expressão da nossa confiança nas promessas de Deus.

A fé é a certeza daquilo que não enxergamos, ou seja, daquilo que é invisível. Essas coisas invisíveis estão em duas categorias: 1ª) algumas coisas são invisíveis porque ainda não aconteceram ou porque ainda não as alcançamos. Por exemplo, a Palavra de Deus promete a todo crente que após a sua morte ou, se estiver vivo até a segunda vinda de Cristo, ele vai para o céu (cf. Jo 14.1, 2; 1Ts 4.13-18), cremos nisso porque foi Deus quem prometeu a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam; 2ª) algumas coisas não são vistas porque não podem ser vistas. Por exemplo, com relação a Deus, a quem não podemos ver, e, também, quanto a todo o mundo espiritual.  Todo o crente tem certeza de que Deus existe e é o Deus da Bíblia, assim como os anjos e os demônios também. A confiança cristã se baseia naquilo que Deus revelou em sua Palavra – a prova das coisas que se não vêem.

A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver.
v.1 NTLH

b. v.2, 3, 6 – vemos também que a fé é imprescindível para se obter um bom testemunho (v.2), para entender a revelação de Deus (v.3) e para agradar e receber as bênçãos de Deus (v.6).

c. v.3 – A fé em Deus como o Criador de tudo que existe é fundamental para a perspectiva bíblica da realidade. Pois, a fé discerne que o universo do espaço e do tempo tem uma origem invisível e que ele continua dependente da Palavra de Deus. Se Deus está no controle da natureza e da história, passada e presente, cada geração de crentes pode confiar nas suas promessas acerca do futuro, não importa o que isso lhes custar.[5] (cf. v.1b; 3b)

2. A fé ilustrada (como a fé é demostrada) – vv.4-16

No v.2 foi mencionado, de modo geral, que pessoas do passado viveram e morreram pela fé, alcançando, assim, bom testemunho. Agora, o autor, dá uma lista dessas pessoas e mostra que elas tinham certeza das duas maneiras que mencionamos, levando em conta as realidades futuras e invisíveis em seu modo de viver.

a. v.4 – O Deus invisível era realidade para Abel, que desejava aproximar-se dele. Abel é prova de que aqueles que se aproximam de Deus mediante a fé são aceitos.

b. vv.5, 6 – Enoque viveu numa época em que quase todos procuravam agradar a si mesmos. Para ele, o Deus eterno e o seu reino invisível eram a realidade suprema, e estava determinado a agradá-lo. Aquele que tem a fé verdadeira só pode ter uma ambição: agradar a Deus. Nada é mais importante do que isso em sua vida. É assim que a fé se comporta.

c. v.7 – Noé cresceu e vivia num mundo onde nunca tinha chovido, então, como é que sabia que choveria? Ele creu no que Deus lhe disse, apesar de não haver evidências palpáveis que pudessem fornecer provas. E, assim, agiu pela fé com base nessa verdade invisível, e agindo com temos, Noé gastou um século construindo a arca pela qual ele e sua família acabariam sendo salvos. Ele é um exemplo de alguém que creu, creu e continuou crendo, apesar das circunstâncias e do mundo ao seu redor!

d. vv.8-10 – Para Abraão, o Deus invisível era tão real e a sua Palavra tão verdadeira que ele não hesitou em obedecer. Deixou aquilo que outras pessoas chamam de certezas pelo que tais pessoas chamam de incertezas, pois ele mesmo não via as coisas dessa forma. Era homem de fé, portanto, a Palavra de Deus era para ele mais segura do que qualquer outra coisa.

e. vv.11, 12 – Sara, apesar das dúvidas sobre a sua condição física, demonstrou a mesma fé de Abraão, porquanto teve por fiel aquele que lho tinha prometido. Foi desse casal de idosos, com uma fé persistente, que a nação de Israel veio a existir.

f. vv.13-16viver em verdadeira fé significa também morrer na fé. Essas pessoas viveram e agiram do modo que fizeram porque para eles o Deus invisível e o seu reino eram reais, e porque creram na palavra dele. Todo o seu coração, todas as suas esperanças – estavam na chegada, com segurança, à habitação eterna no céu. O que, acima de tudo mais, era real para eles? Deus, o Deus invisível. De que, acima de tudo, eles tinham maior certeza? De que a Palavra de Deus é confiável e verdadeira e que a glória eterna aguarda aqueles que andam com o Senhor. Por isso também Deus não se envergonha deles, de se chamar seu Deus, porque lhes preparou uma cidade. Viveram na fé e morreram na fé!

II. A verdadeira fé é perseverante – vv.17-40

O autor está focado no tema da fé, por isso explicou o que é a fé e como ela se comporta. Agora, ele destaca um ponto especifico sobre o tema: a verdadeira fé não morre, isto é, nada pode destruí-la pois ela é perseverante. Agora, ele se ocupa em demonstrar isso e o faz dando ênfase no seu ensino há duas verdades:

1. A fé olha para frente mesmo quando não há mais nada para esperar – vv.17-28

a. vv.17-19Abraão creu na Palavra de Deus e não duvidou que fosse se cumprir. O grande fato é este: em determinado tempo da história humana, quando nenhuma pessoa morta tinha sido ressuscitada, Abraão concluiu que era exatamente isso que Deus faria. É assim que a verdadeira fé se manifesta. Ela jamais deixa de estar convencida de que podemos confiar na Palavra de Deus.

b. v.20 – Mesmo avançado na idade, Isaque estava olhando para a frente. Sua mente se fixava nas coisas que ainda estava para vir – no tocante às coisas futuras. Ele estava absolutamente convicto de que as promessas de Deus se cumpririam, embora jamais tivesse chegado a ver tal coisa por si mesmo. Isso é a fé!

c. v.21 – Nos últimos momentos de sua vida aqui na terra, Jacó, teve uma grande percepção da presença do Deus invisível e abençoou os dois netos que seu filho José trouxera à beira da sua cama. Ele tinha somente uns poucos momentos na terra, mas ainda estava olhando para frente. Deus era real e sua Palavra certa. É assim que vemos a manifestação da verdadeira fé.

d. v.22 – Durante a sua vida, José passou por uma grande variedade de experiências. No entanto, em seus últimos momentos, ainda olhava adiante! Ele viveu e morreu sem ver tudo o que Deus prometera. Mas isso não o tornou cínico ou hesitante e cheio de dúvidas. Ele tinha certeza de que o que Deus prometeu certamente aconteceria. E essa convicção governou tanto o seu modo de viver quanto o modo como morreu. É o que a fé autêntica faz!

e. vv.23-28 – Numa época em que não havia futuro para os meninos hebreus, os pais de Moisés viam as cosias de forma diferente e olhavam adiante pela fé... ...não temeram o mandamento do rei (v.23). Numa época em que não havia futuro fora da corte real do Egito, Moisés via as coisas de forma diferente (vv.24-26). Portanto, pela fé Moisés, sendo já grande, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado com o povo de Deus, do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em vista a recompensa.

O Deus invisível e seu reino eterno eram mais reais para Moisés do que era o ditador de uma superpotência terrena, e ele não demonstrou medo quando teve que confrontá-lo com a exigência de que o seu povo fosse libertado da escravidão – porque ficou firme, como vendo o invisível (v.27). Dá mesma forma, na celebração da primeira Páscoa na noite anterior a saída de Israel do Egito, Moisés tinha seu olhar fixo no futuro, baseado na Palavra de Deus que não desaponta jamais (v.28).

O otimismo inabalável do crente não se baseia em qualquer coisa vivível. As promessas de Deus são firmes e a certeza de tais promessas traz ao crente sereno conforto e vibrante expectativa.

2. A fé segue em frente mesmo quando tudo o mais falha – vv.29-40

a. v.29 – Veja o que aconteceu no Mar Vermelho. Parecia impossível a travessia do mar. Era contra a razão. Mas a fé não morre em tais situações. As dificuldades não matam a fé. Venha o que vier, a fé vai adiante.

b. vv.30-31 – Pense no povo de Israel diante dos muros da cidade de Jericó. Também, parecia impossível tomar aquela cidade. Durante uma semana o povo marchou em volta da cidade e nada aconteceu. Mas, Israel continuou crendo no que Deus disse e obedeceram a cada palavra de suas instruções. A fé deles não esvaeceu e após o grito de vitória e o tocar das trombetas os muros vieram abaixo e completaram a conquista da cidade de Jericó.

E a situação de Raabe, mesmo nas aparentemente impossíveis condições que se encontrava, ela creu no Deus dos hebreus espias. Sua fé tinha consciência continua da realidade e confiabilidade de Deus, que nunca abandonou o seu povo. Portanto, se a fé for autentica, ela continua em frente e nada poderá apagá-la.

c. vv.32-38 – Agora, o autor, admite não ter condições de mencionar todos os exemplos de fé dados nas Escrituras e na história dos hebreusFaltar-me-ia o tempo contando de Gideão, e de Baraque, e de Sansão, e de Jefté, e de Davi, e de Samuel e dos profetas (v.32). O que eles têm de entender é que todos quantos foram heróis naquela nação, o foram por serem pessoas de fé. Foi pela fé que fizeram o que fizeram!

O que eles fizeram? Leia os vv.33-38. Quando tudo estava contra eles, esses homens e mulheres permaneceram fiéis a Deus. Para eles, Deus era a realidade! A certeza deles era maior que qualquer outra coisa e, assim, jamais desistiram, jamais cederam, jamais voltaram ao que era antes, jamais deram as costas para o seu Deus e jamais viveram da mesma maneira que as outras pessoas.

d. vv.39-40 – Todos os homens e mulheres de fé das Escrituras do Antigo Testamento viveram e morreram pela fé, mas, nunca tiveram em mãos qualquer das coisas em que haviam firmado o coração. Deus não lhes permitiu porque tinham que esperar por nós. Mas, nem por isso eles perderam a fé, e Deus se agradou deles (v.6).

Concluindo

A prova final da fé cristã autêntica do crente, será o fato dele permanecer nela até o dia da sua morte. Nos seus últimos momentos, ainda permanecer olhando à frente. Quando tiver perdido tudo o mais, até mesmo os últimos resquícios da sua saúde e consciência – na fé permanecer!

Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.
Hebreus 11.6

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 06/12/15




[1] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha, Editora Cultura Cristã, 2012, p. 100.
[2] Olyott, p. 100-110. No esboço dos pontos sigo o comentário do livro nas páginas citadas, com cortes e acréscimos que julguei necessário.
[3] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, SP, 2009, p. 2019, 2020.
[4] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica – Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 12ª Lição, p. 55.
[5] Carson, p. 2020.

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