No
nosso estudo anterior, no capítulo 9, com o tema: Jesus
estabeleceu um santuário superior. Vimos: 1º) No passado: o Tabernáculo
terrestre com os seus objetos – nenhum acesso – vv.1-10; 2º) No presente: o Tabernáculo celestial –
acesso total – vv.11-14; e 3º) Olhando
para traz, para cima e para frente – vv.15-28.
Terminamos afirmando que a Nova Aliança não somente nos dá acesso
agora a Deus, como também um lar eterno em sua glória celeste! É ali que nosso
Redentor crucificado está neste momento e sua presença ali assegura nossa
aceitação. Onde ele está, estaremos também.
Neste capítulo, o autor enfatiza o
caráter definitivo do sacrifício de Cristo, contrastando-o com a natureza
repetitiva e incompleta do sistema da lei e dos sacrifícios do Antigo
Testamento. A redenção que Cristo oferece não precisa de nenhuma repetição ou
complementação. Por isso, a rejeição de seu sacrifício é definitiva e imperdoável.[1]
Assim, vemos, mais uma vez, o autor
expressar de forma intensa as limitações da lei e suas provisões quando alguém
tenta se aproximar de Deus (vv.1-4);
citar o Salmo 40.6-8 para
estabelecer que todo sistema sacrificial é substituído pelo autossacrificio
perfeitamente obediente de Cristo (vv.5-10);
fazer um contraste entre os sacerdotes da Antiga Aliança, que estão diariamente
diante do altar para oferecer repetidamente os mesmos
sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados, e Jesus que está a direita de
Deus, tendo concluído a obra sacrificial (vv.11-14);
e como resultado disso para os crentes é que Jesus Cristo com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre
quantos estão sendo santificados (v.14 ARA). Ele, ainda cita Jeremias 31.33, 34, de forma abreviada,
para sinalizar que o seu argumento iniciado no capítulo 8, chegou ao fim. O perdão prometido por Jeremias está
disponível, tornando possível a renovação do coração e da mente que é
fundamental para a nova aliança.[2] (cf. Rm
12.1, 2)
Em
sua argumentação, aqui, o autor, não quer que os hebreus, seus leitores
originais, deixem de entender que o que o Senhor Jesus Cristo fez é
infinitamente superior à antiga aliança, o antigo sacerdócio e os antigos
sacrifícios, e que por isso, eles não deveriam voltar à sua antiga religião.
Nosso
estudo de hoje é no capítulo 10 com o tema “Jesus realizou um sacrifício superior”. Faremos isso três pontos:[3] 1º) O
sistema sacrificial da Lei – vv.1-4;
2º) A eficácia do sacrifício de Jesus Cristo – vv.5-18; e 3º) Decisões motivadas pelo sacrifício de Jesus
Cristo – vv.19-39.
I. O sistema sacrificial da Lei – vv.1-4
Para
o autor que gosta de usar o contraste para argumentar[4], a lei
mosaica com seus sacerdotes e sacrifícios contínuos e inadequados, não passam
de uma sombra da vinda de Cristo e de sua oferta definitiva[5]. Temos,
aqui, três observações relevantes:
1.
v.1 – todos os sacrifícios da antiga aliança são sombras do sacrifício de
Cristo. Tal sombra (grego skia),
isto é, uma imagem turva, um reflexo
pálido, um mero contorno ou uma silhueta, não a imagem real das coisas, apontava para o sacrifício real de
Jesus Cristo. “Quando o autor descreve a Lei como sendo sombra dos bens
vindouros, ele quer dizer que ela prefigurava as bênçãos da nova aliança que
Jesus traria”[6], isto é, as bênçãos da
salvação, recebidas por meio de Jesus Cristo (cf. Is 52.7; Rm 10.15). Assim, a sombra é o Dia da Expiação que é a
imagem real das coisas, isto é, Jesus na cruz do Calvário.
2.
v.2 – todos os sacrifícios da antiga aliança são ineficazes para remover
pecados. “O fato claramente apresentado é
que as ofertas anuais e o sangue dos sacrifícios dos animais não podiam tirar o
pecado e nunca deu a ninguém maturidade na fé e confiança. Se tivesse produzido
crentes perfeitos, não teria sido substituída”[7]. A dedução é simples e lógica: se a perfeição tivesse sido alcançada pelo sacrifício de animais eles
não precisavam ser repetidos.
3.
v.3, 4 – todos os sacrifícios da antiga aliança precisavam ser repetidos
frequentemente. A repetição anual dos sacrifícios
da antiga aliança, no ritual do Dia da Expiação, era uma garantia de que Deus
era capaz de perdoar pecados, uma recordação constante da deficiência dos
mesmos e um lembrete de que o pecado é um empecilho à comunhão com Deus e traz
o seu juízo. “O sistema levítico não foi designado por Deus para perdoar
pecados, definitivamente, mas, foi uma preparação para a vinda do Messias, no
sentido de criar expectativas no povo”[8]
(cf. Gl 3.24; 1Pe 1.10). Ele revelou
a necessidade do perdão total e completo para que fossem restaurados o acesso e
a comunhão com Deus, para todos os que creem!
II.
A
eficácia do sacrifício de Jesus Cristo – vv.5-18
Agora, após
descrever a inferioridade e a ineficiência dos sacrifícios da antiga aliança, o
autor apresenta as razões que explicam a superioridade do sacrifício de Cristo.
1.
O sacrifício de Jesus Cristo foi uma ordem divina – vv.5-10. O que o autor
está dizendo aqui é bastante claro. A vontade de Deus para o Messias era que
fizesse plena expiação pelo pecado. Isso requeria um sacrifício com
derramamento de sangue, e assim foi-lhe preparado um corpo em que pudesse
sofrer. Em seu sofrimento e morte, foi plenamente cumprida a vontade de Deus e
foi assim que a nova, e melhor, aliança passou a operar.[9]
O
autor cita o Salmo 40.6-8 atribuindo
suas palavras a Jesus, onde encontram cumprimento absoluto na sua vida. Ele
veio para colocar de lado o antigo sistema sacrificial e produzir a obediência
a Deus que sempre tinha sido a intenção por traz dos rituais.[10]
Assim,
os crentes são salvos e aperfeiçoados porque foram purificados e santificados mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo,
uma vez por todas (v.10 ARA). Por meio
deste sacrifício, foi feita a expiação, o que agradou perfeitamente a um Deus
santo.
2. O sacrifício de Jesus Cristo é eficaz
e único – vv.11-14. Jesus ofereceu um
único sacrifício pelos pecados, que é eficaz para sempre.[11] O
triunfo final de Cristo vê-se no fato de que ele não vem repetidamente, nem
representa uma redenção incompleta; mas ao oferecer-se a si mesmo, assentou-se
à destra de Deus. Agora, ele pacientemente aguarda o momento de seus inimigos
serem subjugados. Então não haverá mais oposição a Cristo ou ao Seu governo.[12]
O
aperfeiçoamento dos crentes que são santificados, inclui a sua qualificação
para que se aproximem de Deus e sejam capacitados para desfrutar da certeza do
relacionamento da nova aliança (cf. Hb
7.11, 12, 19; 9.9; 10.1; 11.40; 12.23). E isso significa o perdão dos
pecados e a purificação da consciência, tornando possível a consagração ao serviço
de Deus daqueles que estão sendo santificados e finalmente a sua participação
na promessa da vida eterna.[13] (cf. vv.10, 14; 9.15)
3. O sacrifício de Cristo é a base da
nova aliança – vv.15-18. O autor,
agora, cita Jeremias 31.33, 34, de forma abreviada, para sinalizar que o seu
argumento iniciado no capítulo 8,
chegou ao fim. O perdão prometido por Jeremias está disponível, tornando
possível a renovação do coração e da mente que é fundamental para a nova
aliança (cf. Rm 12.1, 2). Além
disso, o Espírito Santo dá testemunho acerca das coisas mencionadas nas
Escrituras anteriormente, e que, ele, que inspirou os profetas no início
continua a falar por meio de seus escritos aos crentes de todas as gerações
(cf. 3.7).[14]
O
sacrifício de Cristo como base da nova aliança está no fato de que ele
proporciona perdão total dos pecados àqueles que creem, e é a maior bênção da
Nova Aliança, porque garante ao pecador perdoado acesso as todas as bênçãos espirituais nos lugares
celestiais em Cristo (Ef 1.3b, cf. 4-14). “Agora gozamos o
perdão dos nossos pecados – pecados da nossa natureza, pecados abertos, pecados
secretos, pecados repetidos, pecados de ontem, pecados de hoje, pecados de
amanhã, pecados de comissão ou pecados de omissão – todo pecado! Deus não se
lembra mais deles”.[15]
Portanto,
quando os pecados já foram perdoados e
esquecidos uma vez para sempre, não há necessidade de oferecer mais sacrifícios
para nos livrarmos deles. (v.18 VIVA)
III. Decisões motivadas pelo sacrifício
de Jesus Cristo – vv.19-39
Depois de vários capítulos de complexa argumentação
doutrinária, o autor elabora implicações práticas, repetindo algumas
advertências e encorajamentos dados anteriormente. Demonstrando, assim, o elo
entre boa teologia e vida cristã fiel.[16]
1. vv.19-21 – Aqui temos um resumo simples dos argumentos
doutrinários apresentados nos capítulos 7 a 10.
A
base da confiança do cristão é o fato de que ele tem, agora, ousadia para entrar no santuário, isto é, na presença santa de Deus, pelo sangue de Jesus e, também, do fato de que Jesus é o grande Sacerdote sobre a casa de Deus. Ou seja, há duas coisas que temos como cristãos:
a. 1ª) ousadia para entrar no
santuário (v.19) – a palavra ousadia (intrepidez na ARA) aparece em quatro contextos diferentes em Hebreus
– 3.6; 4.16; 10.19; 10.35. Significando
que Deus é quem nos dá a confiança de acesso livre e aberto a sua santa
presença por meio da obra de Jesus Cristo, e isso ele chamado de vivo e novo caminho que Ele nos consagrou
(v.20);
b. 2ª) um grande Sacerdote sobre a casa de Deus (v.21) –
não somente temos acesso diretamente a Deus, mas, nosso Senhor está lá e
intercede por nós, tornando a comunhão entre o crente e Deus, perfeita. É sobre
essa base que o autor exorta os irmãos hebreus nos versículos seguintes.
2. vv.22-25 – O autor, agora faz um convite, um chamado para uma
tomada de decisão em resposta às grandes verdades doutrinárias dos capítulos anteriores:
a.
v.22 – ele
chama os irmãos a aproximarem-se mais de Deus e faz isso mostrando as condições
para isso: com verdadeiro coração, em
inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o
corpo lavado com água limpa, ou seja, com
sinceridade, com segurança, salvo e santificado.
b.
v.23 – ele
chama os irmãos para manterem uma confissão inabalável de fé no Cristo vivo.
Deus envolve nossa esperança com Suas próprias promessas, porque fiel é o que prometeu. Isto fala, então, de mais uma afirmação baseada sobre
fé na fidelidade de Deus.[17]
c.
v.24 – ele
chama os irmãos ao testemunho público da fé. Expressar o amor de Deus por meio
de ações sociais é uma das evidências da nossa conversão (cf. 1Jo 3.14-16). O amor cristão não vive
apenas de palavras, mas na prática de boas ações pelo próximo.
d. v.25 – ele chama os irmãos à adoração e ao ensino
congregacional. “Quando o zelo descai e a fé vacila, o desejo de manter
comunhão com outros crentes também enfraquece. O estímulo do v.24 se torna possível através da
congregação. Quando os cristãos se reúnem, eles se exortam mutuamente ao
serviço frutífero e à comunhão ininterrupta. O perigo da apostasia está
emboscado na falha dos crentes em se reunirem e se ajudarem mutuamente”.[18] E isso
deve ser intensificado tanto mais, quanto vedes
que se vai aproximando aquele dia.
Aquele dia é a mais curta e direta referência
à segunda vinda do Senhor Jesus “A urgência da passagem no que se refere à
exortação deve-se à iminência deste Dia de Cristo”.[19]
3. vv.26-31 – Agora, o autor repete o que as outras passagens de
advertência sobre a apostasia disseram: “a apostasia é algo deliberado e não há
como encobrir tal pecado. Se você der as costas ao Senhor Jesus Cristo, o único
lugar para você será nas trevas exteriores”[20].
Para
isso, ele lembra os irmãos que na antiga aliança não havia sacrifício para os
pecados deliberados (cf. vv.26, 27; Dt
17.1-7; Nm 15.27-31). Ele contrasta isso no v.29 e mostra três aspectos graves da apostasia: 1º) pisar (desprezar) o Filho de Deus,
isto é, desprezar Jesus com um qualquer; 2º)
tiver por profano (profanar) o sangue da aliança, isto é, desvalorizar a
obra de Cristo, considerar o sangue de Jesus algo comum; e 3º) fizer agravo (ultrajar) ao Espírito da graça, isto é, blasfemar
contra o Espírito Santo.
Termina
afirmando que é o próprio Deus quem julga o pecador e lhe aplica a punição.
Ninguém escapará do julgamento de Deus – vv.30,
31; Dt 32.35; Sl 135.14; Hb 3.12; Ap 20.11-15.
4. vv.32-39 – Desde o início, após uma advertência severa, o
livro traz palavras de encorajamento e esperança. Aqui não é diferente, o
autor, relembra o começo da vida cristã dos irmãos e os convida a refletir
sobre isso. Ele os convida a continuar a viver pela fé e mostra três momentos
importantes para o exercício da fé na vida cristã: 1º) nos momentos de
adversidades (nas lutas, nos sofrimentos e nas perdas) – v.32-34; 2º) nos momentos de desesperança
– vv.35, 36; e 3ª) nos
momentos de dúvidas sobre a fé –
vv.37-39.
Concluindo
A
única ação segura para quem professa ser cristão, e a única ação feliz, é
progredir espiritualmente a cada dia, conforme a carta aos Hebreus nos ensina,
até que nosso Senhor Jesus Cristo volte.
Mas o justo
viverá pela fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. Nós, porém,
não somos daqueles que se retiram para a perdição,
mas daqueles
que crêem para a conservação da alma.
Hebreus
10.38, 39
Pr. Walter Almeida Jr.
[2] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
SP, 2009, p. 2013, 2014.
[3] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica –
Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 11ª Lição, p.
50-54. No esboço dos pontos sigo o comentário da lição nas páginas citadas, com
cortes e acréscimos que julguei necessário.
[4] Casimiro, p. 50.
[6] Carson, p. 2014.
[7] Comentário Bíblico Moody, Hebreus, p. 44.
[8] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1704.
[9] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha,
Editora Cultura Cristã, 2012, p. 91.
[10] Carson, p. 2014.
[11] Carson, p. 2015.
[12] Moody, p. 45.
[13] Carson, p. 2015.
[14] Carson, p. 2014.
[15] Olyott, p. 75.
[16] Carson, p. 2015.
[17] Moody, p. 47.
[18] Moody, p. 47, 48.
[19] Ibid., p. 48.
[20] Olyott, p. 96.
Muito bom, Deus abençoe o pastor Walter.
ResponderExcluirObrigado irmão Luiz! Continue orando por mim. Abração!!
ExcluirA paz do Senhor pastor
ResponderExcluirmuito importante sua exposição do cap 10 da carta aos Hebreus. Deus te abençoe em Cristo Jesus
Perfeita esplicacao ,Deus abençoe seu ministério...
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