O
que vimos no estudo anterior, no capítulo 11?
ð
“A verdadeira
e perseverante fé ” em dois pontos: 1º) A verdadeira fé definida e ilustrada – vv.1-16; e 2º) A verdadeira fé é perseverante – vv.17-40
Terminamos com a afirmação:
A prova final da fé cristã
autêntica do crente, será o fato dele permanecer nela até o dia da sua morte.
Nos seus últimos momentos, ainda permanecer olhando à frente. Quando tiver
perdido tudo o mais, até mesmo os últimos resquícios da sua saúde e consciência
– na fé permanecer!
Por
isso, podemos dizer que, “o único caminho seguro para um cristão professo é
perseverar, continuar, andar sempre em fé. Aqueles que possuem fé genuína vivem
e morrem pela fé”[1].
Hoje,
no capítulo 12, vamos ver sobre o segredo da perseverança em três
pontos: 1º) Continuar vivendo pela
fé – vv.1-4; 2º) Aceitar a disciplina divina – vv.5.-; e 3º) Entender
os privilégios e responsabilidades do crente – vv.18-29.
I. Continuar vivendo pela fé – vv.1-4
Esse
é um assunto que o autor tem insistido desde o início – permanecer na fé. Então, após falar sobre o testemunho dos heróis
da fé do Antigo Testamento, ele diz, “portanto
(v.1a), ou seja, à luz do que acabei de falar, tenho mais uma coisa a dizer”[2].
1. v.1 – A sugestão, aqui, é que a vida cristã é mais uma maratona do que uma
corrida de curta distância. E, nessa carreira há uma grande nuvem de testemunhas (v.1a),
isto é, aqueles que já terminaram a corrida e estão torcendo por nós. Mas, o
que nós vemos neles, e não o que eles veem em nós, é que é o ponto central do
autor. Eles são testemunhas da verdadeira fé para nós porque Deus testemunhou
da fé deles nas páginas da Bíblia.[3]
Para
continuar é preciso deixar todo o embaraço
(v.1b), isto é, deixar tudo
aquilo que atrapalhe a vida cristã. Algumas coisas que necessitam ser largadas
não são em si mesmas erradas, mas se impedem a afetividade espiritual,
enfraquecem a fé, abalam o zelo, reduzem a força para resistir à tentação e
tendem a escravizar, precisam com urgência serem deixadas de lado.
E o pecado que tão de perto nos rodeia (v.1c), ou
seja, “tudo que quebre os Dez Mandamentos ou não reflita o seu espírito, tudo
que não se alinhe com a Palavra de Deus e tudo que difira do caráter de Jesus
Cristo é pecado”[4]
e precisa ser deixado de vez.
E corramos com paciência a carreira que
nos está proposta (v.1d). A palavra carreira, segundo
Donald Guthrie, significa uma prova
rigorosa de resistência. O que fazer para permanecer na corrida: 1º) Olhar
ao redor e se inspirar naqueles que já completaram a prova; 2º) Olhar
para si mesmo; e 3º) Olhar para frente (v.2).
2. v.2-3 – O autor agora dá três razões para focar a atenção
em Jesus e sempre tê-lo em mente: 1ª)
A fé cristã vem dele e por ele é
sustentada até o fim (v.2a); 2ª) Aprender
do seu exemplo (v.2b); e 3ª) Entender
o que acontecerá se não estiver olhando para ele (v.3) – é importante observar que as palavras do v.3 sugerem que a desistência pode
ocorrer em uma de duas formas: algumas
pessoas desistem da fé em colapso repentino e total ou experimentam uma queda
gradativa de energia, perdendo a força pouco a pouco até cair de vez. Ambas
são igualmente perigosas, porque as duas levam as pessoas a desistirem
totalmente da fé em Cristo.[5]
3. v.4 – Aqui temos uma palavra de consolo, onde os irmãos são informados de
que não sofreram, em seu combate contra
o pecado, como Jesus Cristo sofreu – até
ao sangue. (cf. Jo 16.33) “Jesus
Cristo não somente nos inspira, mas nos capacita a perseverar na fé”[6].
Portanto,
“temos de nos dispor com determinação a prosseguir espiritualmente, venha o que
vier. Isso requer que estejamos próximos do Senhor Jesus Cristo, em quem
pensamos sempre, cujo exemplo seguimos e de cuja força dependemos completa e constantemente”[7].
II. Aceitar a disciplina divina – vv.5-17
O
autor, agora, modifica sua ilustração da corrida, passando agora a falar da
família em sua argumentação sobre a perseverança na fé. Ela usa a família para
falar sobre a disciplina de Deus em relação aos seus filhos. Toda família para
funcionar bem precisa de ordem e disciplina. E na família de Deus também é
assim. Por isso, se uma pessoa se diz filho de Deus e está sem disciplina, da qual todos são feitos participantes,
sois então bastardos, e não filhos (v.8). Assim, devemos suportar a
disciplina de Deus, o Pai, por quatro razões:[8]
1. Primeira – a disciplina é um
ensino bíblico (vv.5, 6). O autor cita Provérbios
3.11, 12 para enfatizar e fundamentar que a disciplina divina é uma
doutrina bíblica. A expressão filhos refere-se a filhos adultos, que foram
adotados pelo Pai (cf. Rm 8.14-18; Gl 4.1-7). A disciplina bíblica é
instrutiva, corretiva e preventiva.
2. Segunda – A disciplina divina é
necessária (vv.7-10). A experiência comprova a necessidade de disciplina por
três razões: 1ª) ela é necessária para comprovar a filiação
do crente na família de Deus – somos filhos por isso somos corrigidos – v.7; 2ª) ela é necessária por que
prova o amor de Deus por seus filhos – v.6,
8, 9 (cf. 2Co 12.7-10); e 3ª) ela
é necessária para o aperfeiçoamento espiritual do filho de Deus – v.10.
3. Terceira – A disciplina divina
produz benefícios (vv.11-13). Num primeiro momento a disciplina gera tristezas e
questionamentos. Mas, com o tempo, observamos que a disciplina gera justiça e
paz na vida daqueles que são disciplinados (v.11). A disciplina deve nos motivar a vencer o desanimo, caminhar
na retidão e curar as feridas da alma (vv.12,
13; cf. Is 35.3).
Olyott
faz o seguinte comentário sobre a disciplina: Não podemos desprezar a
disciplina do Senhor (v.5) nem desanimar quando ela nos sobrevém (v.5b).
Devemos, em vez disso, submetermo-nos a ela (v.9b) e considerá-la como prova
convincente de que ele nos aceita como seus filhos (v.7), pois quer tão somente
o bem. Devemos ver especificamente que Deus a designou para desenvolver em nós
um caráter santo (vv.10b, 11).[9]
4. Quarta – A disciplina divina
produz reações (vv.14-17).
a. v.14 – Questões específicas e positivas em que os
crentes devem se concentrar em meio a disciplina do Senhor:
1ª) Questão – aproveitar esse tempo para aprender a viver em paz com as pessoas (v.14a). Muitos dos nossos problemas vêm
das pessoas. Elas nos ferem, perseguem e testam a nossa paciência até o limite.
Deus permite isso para que os crentes aprendam a viver bem com o próximo e
serem mais afáveis, razoáveis, compassivos, carinhosos, altruístas e atenciosos.
Certamente uma das provas essenciais da vida nova em Cristo está no modo pelo
qual os crentes vivem uns com os outros[10]; 2ª) Questão – aproveitar esse
tempo para concentrar-se na santidade do caráter cristão (v.14b). Na vida existem pensamentos,
motivações, atitudes, hábitos, prioridades, amores, ódios, confiança, opiniões
e muitas outras coisas que entristecem a Deus. Ele permite essas coisas na vida
dos seus filhos para que percebam a falsidade de muitos desses pensamentos,
palavras, ações e atitudes. Por isso o progresso em santidade não é opcional,
mas absoluta necessidade, pois sem ela ninguém, absolutamente, ninguém verá o Senhor.[11]
b. vv.15-17 – reações negativas que os crentes não devem ter
em meio a provação e disciplina do Senhor, pois elas representam um perigo à
fé: 1ª) Apostasia – v.15a; 2ª) Amargura
e ressentimento – v.15b; 3ª) Profanação
– v.16, 17 – Esaú é usado como
exemplo de profano, “que escolheu desprezar as coisas de Deus e descobriu-se
condenado a trilhar o caminho que havia escolhido – viver e morrer sem Deus”[12].
III. Entender os privilégios e responsabilidades
do crente – vv.18-29
Agora,
“o autor prossegue da advertência para o encorajamento, lembrando os irmãos dos
privilégios que são seus pela graça de Deus. Porém, esses privilégios requerem
uma resposta constante de fé e obediência”[13].
a. vv.18-21 – Os israelitas se aproximaram de Deus no monte
Sinai para ouvir os termos da aliança dele e descobrir o que significava
servi-lo como uma nação santa[14] (cf. Êx 19.5, 6). Temos aqui três verdades
ensinadas: 1ª) a absoluta majestade de Deus; 2ª)
a impossibilidade de acessá-lo sem Jesus;
e 3ª) e o poder absoluto da Sua
presença (cf. Dt 5.25). Mas o
fenômeno central e mais significativo foi a voz que falou naquela ocasião[15] (v.19; cf. Êx 19.16-24).
b. vv.22-24 – Aqui temos uma visão da companhia definitiva e completa do povo de
Deus, reunido em torno de Cristo nos lugares celestiais (cf. Ef 2.6, 7; Ap 7). Todos os que fazem
parte da família de Deus, por Jesus Cristo, tem os seguintes privilégios: Pela fé chegaram à cidade do Deus vivo, à Jerusalém
celestial, e aos muitos milhares de anjos (v.22); Tem seus nomes inscritos
nos céus (v.23a); Estão na
presença de Deus, o juiz de todos,
por isso enfrentarão o juízo final sem temor (v.23b); Foram aperfeiçoados
espiritualmente por Cristo (v.23c);
Tem a garantia das promessas em Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue
da aspersão, que fala melhor do que o de Abel (v.24).
c. vv.25-28
– O Deus que falou no Sinai é o mesmo que fala hoje da Jerusalém Celestial. Não
há diferença entre o Deus do Antigo Testamento e o Deus do Novo Testamento.
Deus usa, hoje, a pregação e o ensino da sua Palavra para falar ao seu povo e
ao mundo inteiro, não dar ouvidos à sua voz é selar a própria condenação (v.25). Quando vier a hora do juízo
final, Deus abalará não só a terra, senão
também o céu
(v.26; cf. Ag 2.6). Somente as
coisas que não são abaladas permanecerão (v.27),
isto e, o reino que Cristo compartilha com aqueles que continuam a confiar nele
(v.28a).[16]
d. vv.28, 29 – A resposta adequada do crente à oferta generosa de Deus de um reino
inabalável é que sejamos agradecidos. Tal gratidão é a base e a motivação para
que assim sirvamos a Deus
agradavelmente, com reverência e piedade. O
verbo grego latreuein, traduzido como
servimos também pode ser traduzida
como adoremos. O autor também insiste
que o serviço ou adoração cristã deve ser caracterizada por reverência e piedade (santo temor), e
fundamenta sua argumentação com uma descrição de Deus como fogo consumidor.
Isso faz citando Dt 4.24 (cf. Dt 9.3; Is
33.14). A certeza da graça de Deus nunca deve nos cegar para a verdade de
que um juízo terrível aguarda os apostatas.[17]
Concluindo
Tudo quanto conhecemos, exceto as realidades e
seres espirituais, passará. Devemos tornar nossa prioridade principal tratar
com Deus, agradecendo-o por sua misericórdia, passando todos os nossos dias em
seu serviço, reverenciando-o e vivendo uma vida em piedoso temor a Ele.
Paulo em Rm
12.1, 2, disse exatamente isso:
Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que
apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que
é o vosso culto racional. E não sede conformados com este
mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que
experimenteis qual seja a boa,
agradável,
e perfeita vontade de Deus.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 12/11/15
[1] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha,
Editora Cultura Cristã, 2012, p. 111.
[2] Ibid., p. 111.
[3] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
SP, 2009, p. 2019, 2023.
[4] Olyott, p. 113.
[5] Ibid., p. 116.
[6] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica –
Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 12ª Lição, p. 57.
[7] Olyott, p. 116.
[8] Casimiro, p. 57-59. No esboço desse ponto, sigo o
comentário da lição nas páginas citadas, com cortes e acréscimos que julguei
necessário.
[9] Olyott, p. 119.
[10] Comentário Bíblico Moody, Hebreus, p. 57.
[11] Olyott, p. 120, 121.
[12] Ibid., p. 121.
[13] Carson, p. 2026.
[14] Ibid., p. 2026.
[15] Ibid., p. 2026.
[16] Ibid., p. 2027
[17] Ibid., p. 2027.
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