domingo, 27 de dezembro de 2015

Estudos Bíblicos na Carta aos Hebreus (12) - O segredo da perseverança

Hebreus 12

O que vimos no estudo anterior, no capítulo 11?

ð A verdadeira e perseverante fé ” em dois pontos: 1º) A verdadeira fé definida e ilustradavv.1-16; e 2º) A verdadeira fé é perseverantevv.17-40

Terminamos com a afirmação:
                                                                                                                                 
A prova final da fé cristã autêntica do crente, será o fato dele permanecer nela até o dia da sua morte. Nos seus últimos momentos, ainda permanecer olhando à frente. Quando tiver perdido tudo o mais, até mesmo os últimos resquícios da sua saúde e consciência – na fé permanecer!

Por isso, podemos dizer que, “o único caminho seguro para um cristão professo é perseverar, continuar, andar sempre em fé. Aqueles que possuem fé genuína vivem e morrem pela fé”[1].

Hoje, no capítulo 12, vamos ver sobre o segredo da perseverança em três pontos: 1º) Continuar vivendo pela fé – vv.1-4; 2º) Aceitar a disciplina divina – vv.5.-; e 3º) Entender os privilégios e responsabilidades do crente – vv.18-29.

I. Continuar vivendo pela fé – vv.1-4

Esse é um assunto que o autor tem insistido desde o início – permanecer na fé. Então, após falar sobre o testemunho dos heróis da fé do Antigo Testamento, ele diz, “portanto (v.1a), ou seja, à luz do que acabei de falar, tenho mais uma coisa a dizer[2].

1. v.1 – A sugestão, aqui, é que a vida cristã é mais uma maratona do que uma corrida de curta distância. E, nessa carreira há uma grande nuvem de testemunhas (v.1a), isto é, aqueles que já terminaram a corrida e estão torcendo por nós. Mas, o que nós vemos neles, e não o que eles veem em nós, é que é o ponto central do autor. Eles são testemunhas da verdadeira fé para nós porque Deus testemunhou da fé deles nas páginas da Bíblia.[3]

Para continuar é preciso deixar todo o embaraço (v.1b), isto é, deixar tudo aquilo que atrapalhe a vida cristã. Algumas coisas que necessitam ser largadas não são em si mesmas erradas, mas se impedem a afetividade espiritual, enfraquecem a fé, abalam o zelo, reduzem a força para resistir à tentação e tendem a escravizar, precisam com urgência serem deixadas de lado.
E o pecado que tão de perto nos rodeia (v.1c), ou seja, “tudo que quebre os Dez Mandamentos ou não reflita o seu espírito, tudo que não se alinhe com a Palavra de Deus e tudo que difira do caráter de Jesus Cristo é pecado”[4] e precisa ser deixado de vez.

E corramos com paciência a carreira que nos está proposta (v.1d). A palavra carreira, segundo Donald Guthrie, significa uma prova rigorosa de resistência. O que fazer para permanecer na corrida: 1º) Olhar ao redor e se inspirar naqueles que já completaram a prova; 2º) Olhar para si mesmo; e 3º) Olhar para frente (v.2).

2. v.2-3 – O autor agora dá três razões para focar a atenção em Jesus e sempre tê-lo em mente: 1ª) A fé cristã vem dele e por ele é sustentada até o fim (v.2a); 2ª) Aprender do seu exemplo (v.2b); e 3ª) Entender o que acontecerá se não estiver olhando para ele (v.3) – é importante observar que as palavras do v.3 sugerem que a desistência pode ocorrer em uma de duas formas: algumas pessoas desistem da fé em colapso repentino e total ou experimentam uma queda gradativa de energia, perdendo a força pouco a pouco até cair de vez. Ambas são igualmente perigosas, porque as duas levam as pessoas a desistirem totalmente da fé em Cristo.[5]

3. v.4 – Aqui temos uma palavra de consolo, onde os irmãos são informados de que não sofreram, em seu combate contra o pecado, como Jesus Cristo sofreu – até ao sangue. (cf. Jo 16.33) “Jesus Cristo não somente nos inspira, mas nos capacita a perseverar na fé”[6].

Portanto, “temos de nos dispor com determinação a prosseguir espiritualmente, venha o que vier. Isso requer que estejamos próximos do Senhor Jesus Cristo, em quem pensamos sempre, cujo exemplo seguimos e de cuja força dependemos completa e constantemente”[7].

II. Aceitar a disciplina divina – vv.5-17

O autor, agora, modifica sua ilustração da corrida, passando agora a falar da família em sua argumentação sobre a perseverança na fé. Ela usa a família para falar sobre a disciplina de Deus em relação aos seus filhos. Toda família para funcionar bem precisa de ordem e disciplina. E na família de Deus também é assim. Por isso, se uma pessoa se diz filho de Deus e está sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos (v.8). Assim, devemos suportar a disciplina de Deus, o Pai, por quatro razões:[8]

1. Primeira – a disciplina é um ensino bíblico (vv.5, 6). O autor cita Provérbios 3.11, 12 para enfatizar e fundamentar que a disciplina divina é uma doutrina bíblica. A expressão filhos refere-se a filhos adultos, que foram adotados pelo Pai (cf. Rm 8.14-18; Gl 4.1-7). A disciplina bíblica é instrutiva, corretiva e preventiva.
2. Segunda – A disciplina divina é necessária (vv.7-10). A experiência comprova a necessidade de disciplina por três razões: 1ª) ela é necessária para comprovar a filiação do crente na família de Deus – somos filhos por isso somos corrigidos – v.7; 2ª) ela é necessária por que prova o amor de Deus por seus filhos – v.6, 8, 9 (cf. 2Co 12.7-10); e 3ª) ela é necessária para o aperfeiçoamento espiritual do filho de Deusv.10.

3. Terceira – A disciplina divina produz benefícios (vv.11-13). Num primeiro momento a disciplina gera tristezas e questionamentos. Mas, com o tempo, observamos que a disciplina gera justiça e paz na vida daqueles que são disciplinados (v.11). A disciplina deve nos motivar a vencer o desanimo, caminhar na retidão e curar as feridas da alma (vv.12, 13; cf. Is 35.3).

Olyott faz o seguinte comentário sobre a disciplina: Não podemos desprezar a disciplina do Senhor (v.5) nem desanimar quando ela nos sobrevém (v.5b). Devemos, em vez disso, submetermo-nos a ela (v.9b) e considerá-la como prova convincente de que ele nos aceita como seus filhos (v.7), pois quer tão somente o bem. Devemos ver especificamente que Deus a designou para desenvolver em nós um caráter santo (vv.10b, 11).[9]

4. Quarta – A disciplina divina produz reações (vv.14-17).

a. v.14 – Questões específicas e positivas em que os crentes devem se concentrar em meio a disciplina do Senhor:

1ª) Questãoaproveitar esse tempo para aprender a viver em paz com as pessoas (v.14a). Muitos dos nossos problemas vêm das pessoas. Elas nos ferem, perseguem e testam a nossa paciência até o limite. Deus permite isso para que os crentes aprendam a viver bem com o próximo e serem mais afáveis, razoáveis, compassivos, carinhosos, altruístas e atenciosos. Certamente uma das provas essenciais da vida nova em Cristo está no modo pelo qual os crentes vivem uns com os outros[10]; 2ª) Questãoaproveitar esse tempo para concentrar-se na santidade do caráter cristão (v.14b). Na vida existem pensamentos, motivações, atitudes, hábitos, prioridades, amores, ódios, confiança, opiniões e muitas outras coisas que entristecem a Deus. Ele permite essas coisas na vida dos seus filhos para que percebam a falsidade de muitos desses pensamentos, palavras, ações e atitudes. Por isso o progresso em santidade não é opcional, mas absoluta necessidade, pois sem ela ninguém, absolutamente, ninguém verá o Senhor.[11]

b. vv.15-17 – reações negativas que os crentes não devem ter em meio a provação e disciplina do Senhor, pois elas representam um perigo à fé: 1ª) Apostasiav.15a; 2ª) Amargura e ressentimentov.15b; 3ª) Profanaçãov.16, 17 – Esaú é usado como exemplo de profano, “que escolheu desprezar as coisas de Deus e descobriu-se condenado a trilhar o caminho que havia escolhido – viver e morrer sem Deus”[12].

III. Entender os privilégios e responsabilidades do crente – vv.18-29

Agora, “o autor prossegue da advertência para o encorajamento, lembrando os irmãos dos privilégios que são seus pela graça de Deus. Porém, esses privilégios requerem uma resposta constante de fé e obediência”[13].

a. vv.18-21 – Os israelitas se aproximaram de Deus no monte Sinai para ouvir os termos da aliança dele e descobrir o que significava servi-lo como uma nação santa[14] (cf. Êx 19.5, 6). Temos aqui três verdades ensinadas: 1ª) a absoluta majestade de Deus; 2ª) a impossibilidade de acessá-lo sem Jesus; e 3ª) e o poder absoluto da Sua presença (cf. Dt 5.25). Mas o fenômeno central e mais significativo foi a voz que falou naquela ocasião[15] (v.19; cf. Êx 19.16-24).

b. vv.22-24 – Aqui temos uma visão da companhia definitiva e completa do povo de Deus, reunido em torno de Cristo nos lugares celestiais (cf. Ef 2.6, 7; Ap 7). Todos os que fazem parte da família de Deus, por Jesus Cristo, tem os seguintes privilégios: Pela fé chegaram à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos (v.22); Tem seus nomes inscritos nos céus (v.23a); Estão na presença de Deus, o juiz de todos, por isso enfrentarão o juízo final sem temor (v.23b); Foram aperfeiçoados espiritualmente por Cristo (v.23c); Tem a garantia das promessas em Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel (v.24).

c. vv.25-28 – O Deus que falou no Sinai é o mesmo que fala hoje da Jerusalém Celestial. Não há diferença entre o Deus do Antigo Testamento e o Deus do Novo Testamento. Deus usa, hoje, a pregação e o ensino da sua Palavra para falar ao seu povo e ao mundo inteiro, não dar ouvidos à sua voz é selar a própria condenação (v.25). Quando vier a hora do juízo final, Deus abalará não só a terra, senão também o céu (v.26; cf. Ag 2.6). Somente as coisas que não são abaladas permanecerão (v.27), isto e, o reino que Cristo compartilha com aqueles que continuam a confiar nele (v.28a).[16]

d. vv.28, 29 – A resposta adequada do crente à oferta generosa de Deus de um reino inabalável é que sejamos agradecidos. Tal gratidão é a base e a motivação para que assim sirvamos a Deus agradavelmente, com reverência e piedade. O verbo grego latreuein, traduzido como servimos também pode ser traduzida como adoremos. O autor também insiste que o serviço ou adoração cristã deve ser caracterizada por reverência e piedade (santo temor), e fundamenta sua argumentação com uma descrição de Deus como fogo consumidor. Isso faz citando Dt 4.24 (cf. Dt 9.3; Is 33.14). A certeza da graça de Deus nunca deve nos cegar para a verdade de que um juízo terrível aguarda os apostatas.[17]


Concluindo

Tudo quanto conhecemos, exceto as realidades e seres espirituais, passará. Devemos tornar nossa prioridade principal tratar com Deus, agradecendo-o por sua misericórdia, passando todos os nossos dias em seu serviço, reverenciando-o e vivendo uma vida em piedoso temor a Ele.

Paulo em Rm 12.1, 2, disse exatamente isso:

Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável,
e perfeita vontade de Deus.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 12/11/15



[1] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha, Editora Cultura Cristã, 2012, p. 111.
[2] Ibid., p. 111.
[3] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova, SP, 2009, p. 2019, 2023.
[4] Olyott, p. 113.
[5] Ibid., p. 116.
[6] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica – Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 12ª Lição, p. 57.
[7] Olyott, p. 116.
[8] Casimiro, p. 57-59. No esboço desse ponto, sigo o comentário da lição nas páginas citadas, com cortes e acréscimos que julguei necessário.
[9] Olyott, p. 119.
[10] Comentário Bíblico Moody, Hebreus, p. 57.
[11] Olyott, p. 120, 121.
[12] Ibid., p. 121.
[13] Carson, p. 2026.
[14] Ibid., p. 2026.
[15] Ibid., p. 2026.
[16] Ibid., p. 2027
[17] Ibid., p. 2027.

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