Filipenses 2.1-11
Em
nosso estudo anterior: O que cremos sobre
a Criação e a Humanidade, vimos que:
ü
Que Deus criou o mundo e tudo o que nela há,
que criou os seres angelicais e que
Deus criou o homem.
Terminamos
com a leitura e um breve comentário sobre o texto do Capitulo IV, Sessão II do
Manual: Estado Primitivo do Homem e Sua Queda.[1]
Quando
os teólogos examinam a doutrina de Cristo, tradicionalmente dividem este tema
amplo em duas partes principais: (1) a pessoa de Cristo (quem Ele é) e (2) a obra de Cristo (Sua provisão da redenção).[2] Nosso
estudo se concentra na primeira parte, sobre a pessoa do Senhor Jesus Cristo. A
segunda parte trataremos no próximo ensino.
Nosso
tema é O que cremos sobre a pessoa de Jesus Cristo. Veremos esse
assunto em três pontos: 1º) Cremos
que Jesus Cristo é verdadeiramente Deus; 2º) Cremos que Jesus Cristo é verdadeiramente homem; 3º) Cremos
que em Jesus Cristo as duas naturezas, divina e humana, estão em perfeita
harmonia.
Muitas
pessoas e até mesmo alguns cristãos têm dificuldade em imaginar que Jesus seja
de fato humano ou de fato divino. Uns negam a sua humanidade em defesa da sua
divindade e, outros, na tentativa de defender a sua humanidade, negam a sua
divindade. Por conta disso, negam, também a integridade e a unidade das suas
duas naturezas. Mas, a Bíblia afirma que o Senhor Jesus é verdadeiramente Deus
e verdadeiramente homem, bem como, a unidade da sua divindade e humanidade.
O
primeiro parágrafo desta seção do Manual introduz o assunto, afirmando que
Jesus Cristo era tanto Deus quanto homem e agiu perfeitamente em cada uma
destas naturezas. Suas “divinas perfeições” se refere à Sua divindade, ao fato
de que era e é realmente Deus.
Como
Deus, Jesus Cristo “preencheu todos os ofícios e realizou as obras de Deus”,
incluindo a obra da criação. (Cf. Jo 1.1)
Como homem, Ele agiu perfeitamente como os seres humanos foram projetados para
ser diante de Deus.
Teólogos
cristãos tradicionalmente falam da pré-existência
de Cristo. Isto significa simplesmente que como Segunda Pessoa da Trindade
Ele existia eternamente antes de se encarnar em forma humana (Cf. Jo 1.1 e Filipenses 2.5-7)
A
divindade do Senhor Jesus ou o fato Dele ser verdadeiramente Deus, é totalmente
provada na Bíblia pelos títulos que recebe, pelos atributos que lhe são atribuídos e
pelas obras que realizou.
1. Os títulos do Senhor Jesus Cristo na
Bíblia demonstram sua divindade e o Manual lista vários destes títulos.
a. Salvador –
Comparar Isaías 45.21 e João 4.42.
b. Jeová ou Senhor
– As passagens do Antigo Testamento que usam Jeová ou Senhor (ou Yahweh) são muitas vezes aplicadas a
Jesus no Novo Testamento usando o título Senhor.
(Cf. Lc 1.76). Na realidade, em todo
o Novo Testamento, Senhor é usado para falar de Jesus de uma maneira que os
leitores judeus originais teriam entendido que Ele é um com o Deus do Antigo
Testamento.
c. Senhor dos Exércitos – Conferir e Comparar Isaías 6.5 e João 12.41.
d. O primeiro e o último – Conferir e Comparar Isaías 44.6 e Apocalipse 22.13.
e. Deus – Hebreus 1.8.
f. Verdadeiro Deus
– 1 João 5.20.
g. Grande Deus
– Tito 2.13 – o sentido literal é
“nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo”.
h. Deus sobre todos – Romanos 9.5.
i. Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz – Isaías 9.6 – Estes certamente tinham a
intenção de identificar o Messias prometido, Filho de Deus, como o próprio
Deus.
2. Os atributos do Senhor Jesus
Cristo na Bíblia demonstram Sua divindade e o Manual, também, lista vários
deles:
a.
Ele é eterno
– Colossenses 1.17; João 1.1.
b.
Ele não muda (Ele
é imutável) – Hebreus 13.8.
c.
Ele é onipresente (está em todos os lugares ao mesmo tempo) – João 3.13.
d.
Ele é onisciente (sabe todas as coisas) – João
16.30.
e.
Ele é onipotente (tem todo o poder) – Apocalipse
1.8 (“Todo-Poderoso”).
f.
Ele é santo
– Atos 3.14.
g. Ele deve ser adorado – Hebreus 1.6
– Jesus aceitou o tipo de adoração que a Bíblia claramente indica que dever ser
reservada a Deus apenas. (Cf. Hb 1.6 e
Jo 5.23.)
3. As obras atribuídas ao Senhor Jesus Cristo
na Bíblia demonstram a Sua divindade e, o Manual, também, lista várias obras
que somente Deus pode realizar, mas que foram atribuídas na Bíblia a Ele.
a.
Ele criou toda a criação – João 1.3.
b.
Ele preserva ou sustenta a existência da criação – Hebreus 1.3.
c.
Ele governa o universo – Isaías 9.6.
d.
Ele é o redentor – Efésios 1.7.
e.
Ele será o juiz final de todos – 2Timóteo 4.1.
Gostaria
de enfatizar que Jesus Cristo está intimamente associado a Deus no Novo
Testamento. A conexão é tão próxima que seria blasfêmia se Ele não fosse Deus,
plenamente equivalente ao Pai de todas as maneiras. As fórmulas trinitárias,
por exemplo, são um exemplo desta conexão (Cf. Mt 28.19-20). Até as saudações simples nas cartas do Novo
Testamento seriam equivocadas se Jesus Cristo não fosse um com o Pai. (Cf. 1Co 1.3)
Erickson
fala de várias implicações da divindade do Senhor Jesus, e cita quatro delas: 1) Podemos
ter conhecimento real de Deus (Jo
14.9); 2) A redenção está a nossa disposição; 3) Deus e a humanidade foram
religados; e 4) É correto adorar a Cristo.[4]
Ele
é o “único Filho” de Deus – somente ele é gerado pelo Pai. Ele “nosso
Senhor” – deve ser adorado como Deus. (João 1.12; Romanos 8.15; Filipenses
2.9-11)
II. Cremos que Jesus Cristo é
verdadeiramente homem
A
segunda sessão do quarto capítulo do Manual, que fala desse assunto, enfatiza a
encarnação do Filho de Deus, mas, não deixa de esclarecer todas as implicações
da humanidade do Senhor Jesus Cristo.
1. O fato do Deus encarnado – O verbo (a palavra encarnada) que João afirma
existir desde o princípio, num dado momento da história veio aqui fazer sua
habitação – Jo 1.14. Essa é a
suprema declaração do Deus que se fez homem e são palavras irrebatíveis.[5]
Assim,
a existência humana de Jesus se iniciou com a encarnação, palavra que
literalmente significa em carne, isto
é, a Eterna Segunda Pessoa da Trindade se tornou um verdadeiro ser humano. Este
foi o último cumprimento do nome que lhe foi dado em Isaías 7.14 – Emanuel, que
significa Deus conosco. (Ver Hb 2.14).[6]
Além
da natureza física, Jesus possuía o mesmo tipo de qualidades emocionais e
intelectuais que todos os homens possuem – ele pensava, raciocinava e tinha
toda a gama de sensações humanas.[7] (Cf. Jo 13.23; Mt 9.36; 14.14; 15.32; 20.34;
26.37; Jo 15.11; 17.13; Hb 12.2; Mc 3.5; 10.14)
2. O modus operandi – A maneira pela qual isto se realizou foi através do
nascimento virginal. Este foi um acontecimento milagroso e sobrenatural. De
forma misteriosa, além da nossa compreensão, o Espírito de Deus trouxe vida ao
óvulo no útero de Maria sem o envolvimento de um pai humano.[8] (Cf. Lc 1.26-35; Mt 1.18-25)
O
Credo Apostólico afirma: “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso
Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu
da virgem Maria...”. A terceira pessoa da Trindade tornou-se homem para nos representar
diante de Deus e oferecer ao Pai plena obediência (cumprindo
Mandamentos) tomando sobre si o castigo que era destinado a nós
(assumir as maldições e sentenças da lei). (Cf. Fp 2.5-8; 2Co 5.21; Gl 3.10, 13; 1Co 15.3)
É importante destacar que a obra do Espírito Santo
em relação ao nascimento de Jesus foi dupla: 1º) O Espírito Santo operou a concepção da natureza humana no
ventre de Maria; e 2º) O Espírito Santo santificou esta natureza humana logo no início de sua existência e
assim a conservou livre da poluição do pecado.[9]
3. A impecabilidade do Senhor Jesus – A exceção na encarnação foi a “corrupção e o
pecado”. Em outras palavras, quando Jesus foi concebido, Ele não participou da
culpa, condenação e depravação da raça humana que já foi descrita previamente.
Ele não teve uma natureza pecaminosa e nem cometeu pecado – Hebreus 4.15.[10] (Cf. Hb 7.26; 9.14; Jo 6.69; 2Pe 2.2; 1Jo 3.5;
2Co 5.21)
Sobre
o controverso assunto se Jesus poderia ou não pecar, Picirilli faz a seguinte
colocação: Pela perspectiva de sua
divindade, Ele não poderia, mas pela perspectiva de sua humanidade, Ele poderia
ter pecado. Não obstante, é certo que não
pecou e que não poderia haver redenção se tivesse pecado.[11]
Jesus
mesmo alegou, de forma tanto explicita como implícita, ser justo. Ele perguntou
aos seus ouvintes: Quem dentre vós me
convence de pecado? (Jo 8.46a)
Ninguém respondeu.[12]
4. O estado de humilhação – O Manual
diz que Ele “condescendeu em humilhar-se ao assumir a natureza humana”. Isto
significa que ele estava sujeito às necessidades e limitações físicas humanas,
que incluíam o cansaço e a fome (Jo 4.6).
Ele também estava sujeito à tentação de todas as formas em que os seres humanos
são tentados (Hb 4.15). Por
experiência, Ele “aprendeu” e demonstrou o significado de obediência perfeita (Hb 5.8). No final, foi capaz de se
humilhar no sofrimento e na morte (Hb
2.9).[13]
III. Cremos que em Jesus Cristo as duas
naturezas, divina e humana, estão em perfeita harmonia
Teólogos
cristãos tradicionalmente falam da personalidade teantrópica de Jesus. Esta palavra significa que Ele era verdadeiramente Deus e
verdadeiramente homem. Costuma-se falar dele como homem-Deus,
verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, e expressá-lo como uma pessoa com duas naturezas. Ele tinha
uma natureza humana e uma natureza divina.[14]
[15]Conforme disse o teólogo contemporâneo J. I. Packer: “Temos aqui dois mistérios pelo preço de um
– a pluralidade de Pessoas na unidade de Deus e a união de Deus com a
humanidade, na Pessoa de Jesus Cristo... Nada na ficção é tão fantástico como o
que acontece na verdade da Encarnação.”
O Credo de Calcedônia, formulado em 345 d.C. na cidade de Calcedônia, uma declaração que estabeleceu claramente aquilo que devemos receber e no que devemos crer sobre esse assunto, resumiu em cinco verdades principais o ensino bíblico sobre a duas naturezas do Senhor Jesus Cristo: 1ª) Jesus tem duas naturezas – Ele é Deus e Homem; 2ª) Cada natureza é absolutamente completa, sendo Ele verdadeiro Deus e verdadeiro Homem; 3ª) Cada natureza permanece distinta; 4ª) Cristo é uma só Pessoa; 5ª) As coisas que são verdadeiras a uma só natureza são, contudo, verdadeiras na Pessoa de Cristo.
Devemos
entender que as duas naturezas de Cristo permanecem distintas, retendo suas
exatas propriedades. Mas, o que significa isto? Duas coisas: 1ª) Elas
não alteram as propriedades essenciais uma da outra; e 2ª) nem se fundem, num
misterioso tipo de natureza.
Assim, a união da divindade e humanidade de Cristo
numa só Pessoa faz com que todos nós tenhamos a necessidade do mesmo Salvador:
1. Porque Jesus é Deus, Ele é Onipotente e jamais poderá ser derrotado. Ele é Deus, sendo,
portanto, o único Salvador adequado. Porque Ele é Deus, os crentes estão
seguros de que jamais perecerão. Estamos seguros porque Ele é Deus e todas
as pessoas Lhe prestarão contas, quando Ele regressar para julgar o mundo.
2. Porque Jesus é Homem, Ele experimentou as mesmas coisas que experimentamos. Porque Ele
é Homem, pode vir em nosso socorro, como o nosso Fiel Sumo Sacerdote,
quando chegamos ao limite de nossas fraquezas humanas. Porque Ele é Homem,
podemos nos relacionar com Ele, pois Ele não está longe de nós e nem fica
alheio às nossas necessidades. Porque Ele é Homem, não podemos nos queixar de
que Deus não conheça os problemas pelos quais estamos passando. Ele os
experimentou em primeira mão.
Concluindo
Nossa
doutrina da divindade de Cristo nos distingue (1º) de todas as formas de naturalismo, que diz que não há uma
realidade sobrenatural – tudo é natureza; (2º) do deísmo, que diz que Deus não intervém no universo desde que o criou
e o preparou para funcionar de acordo com as leis da natureza sem a sua
providência ativa; (3º) de todas as religiões
que não reconhecem a redenção em Cristo; (4º) dos cristãos liberais, que nega a divindade de Cristo e (5º) dos Unitários e
outros grupos cristãos que professam a tal doutrina da unidade e desta forma negam
que há três personalidades em um único Deus (Trindade).[16]
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 20/03/2015
[1] Manual de Fé e Prática dos Batistas Livres do Brasil,
4ª Edição, 2014, 2ª Parte – A Fé dos Batistas Livres, p. 12.
[2] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 4 – O que cremos sobre a Pessoa de Cristo, p. 2.
[3] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 4 – O que cremos sobre a Pessoa de Cristo, p. 2-4. Neste ponto o estudo
segue a Lição 4, Ponto I – A Divindade de Cristo, adaptados a nossa realidade
local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[4] Erickson, Millard J. Introdução à Teologia
Sistemática, Vida Nova, 2008, p. 284.
[5] Lima, Leandro Antônio de. Revista Expressão – Essência
da Fé Parte 4 – O que a Bíblia ensina sobre Jesus Cristo, Editora Cultura
Cristã – Lição 3, p. 20.
[6] Picirilli, p. 5.
[7] Erickson, p. 287,
288.
[8] Picirilli, p.
5.
[9] Berkhof, L. Manual de Doutrina Cristã, Ed. Luz para o
Caminho, 1985, Campinas – SP, p. 171.
[10] Picirilli., p.5.
[11] Picirilli, p. 7.
[12] Erickson, p. 295.
[13] Picirilli, p. 5.
[14] Ibid., p. 6.
[15] Piper, John. http://solascriptura-tt.org/Cristologia/ComoPodeJesusSerHomemEDeus-JPiper.htm - Este ponto segue o artigo de John Piper no site
citado, adaptados a nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei
necessário.
[16] Picirilli, p. 7.
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