Em
nosso estudo anterior: O que cremos sobre a pessoa de Jesus Cristo,
vimos:
ü
1º) Cremos que Jesus Cristo é verdadeiramente
Deus; 2º) Cremos que Jesus Cristo é verdadeiramente homem; 3º) Cremos
que em Jesus Cristo as duas naturezas, divina e humana, estão em perfeita
harmonia.
Terminamos
afirmando que a nossa doutrina da divindade de Cristo nos distingue (1º) de
todas as formas de naturalismo; (2º)
do deísmo; (4º) dos cristãos liberais;
e (5º) dos Unitários e outros grupos cristãos que professam a tal doutrina da
unidade e desta forma negam que há três personalidades em um único Deus
(Trindade).
Hoje,
dando continuidade ao estudo da Doutrina de Cristo, na sua segunda parte, vamos
ver a obra de Cristo – Sua
provisão da redenção ou o que Ele fez
para providenciar salvação. Nosso ensino está baseado no capítulo VI do Manual.
Quando chegamos a este ponto, nos encontramos no âmago da teologia da redenção,
porque nossa redenção é baseada na obra de expiação e reconciliação de Cristo.[1]
Por
isso, nosso tema é: O que cremos sobre a Obra Redentora de Cristo. Veremos esse
assunto em três pontos: 1º) Cremos
na expiação – o significado correto; 2º) Cremos na expiação ilimitada; 3º) Cremos na exaltação de Cristo
– ressureição, ascensão e intercessão.
I. Cremos na Expiação – o significado
correto
[2]A questão mais importante, quando se trata da morte
expiatória de Cristo, é conhecer o seu significado. O que Jesus realizou com
Sua crucificação?
1. Pontos de vista inadequados com relação ao significado
da morte de Cristo na cruz. Estes
incluem:
a. A morte de Jesus foi um martírio – Ele morreu
principalmente porque outras pessoas rejeitaram seus ensinamentos e o crucificaram
para destruir Sua pessoa e influência.
b. A morte de Jesus serviu de influência moral sobre os
outros, inspirando-os pelo seu exemplo de auto sacrifício a fazer o que é
certo, a qualquer preço.
c. Jesus morreu para demonstrar o amor de Deus – Sua morte
mostrou o quanto Deus se importa com o mundo.
d. Jesus morreu como exemplo de devoção a Deus ou a uma
causa justa – Ao dar Sua vida por uma causa nobre, Ele serviu de exemplo a outros
para que estes façam o mesmo.
e. A morte de Jesus foi principalmente uma vitória contra
as forças do mal, demonstrado pela Sua ressurreição – Durante Sua
vida e enquanto ensinava, estava em luta contra a influência de Satanás, porém,
no final, foi vitorioso.
f. A morte de Jesus serviu para proteger e preservar o
governo divino – Isto é conhecido
como o ponto de vista governamental da expiação e precisa ser vista com mais
atenção, pois alguns teólogos arminianos aceitam esta posição como sendo o
sentido correto da expiação de Cristo.
2. Termos bíblicos usados para indicar o entendimento
correto do significado da morte de Cristo:
Através do Novo Testamento a expiação é representada
de várias formas. Três delas parecem ser as mais importantes e úteis para
entender o que foi realizado com a morte e ressurreição de Cristo.
a. A morte de Jesus foi um resgate ou uma redenção. Estas duas palavras usadas frequentemente no Novo
Testamento refletem a mesma ideia básica, isso é, o pagamento de um preço para
conseguir liberdade. A ideia é de que a humanidade estava em escravidão ao
pecado e o preço da liberdade desta escravidão e da penalidade requerida era
que a penalidade fosse paga. Jesus, como o homem-Deus com humanidade perfeita,
pagou a penalidade em nosso lugar. (Cf. Mt
20.28; 1Tm 2.6; Rm 3.24; Ap 5.9). Nota:
As referências neotestamentárias ao
sangue de Jesus indicam o derramamento de Seu sangue, portanto, a Sua morte
como sacrifício a Deus como expiação pelos nossos pecados.
b. A morte de Jesus como propiciação. A ideia principal é o apaziguamento da justiça de
Deus contra a humanidade devido ao seu pecado. A única maneira em que a ira
santa de Deus poderia ser satisfeita seria a execução da punição. Jesus levou
sobre si a ira de Deus pelos nossos pecados, no que muitas vezes é conhecido
como o “clamor de abandono” na cruz (Cf. Marcos
15.34; Is 53.4-6).
c. A morte de Jesus trouxe reconciliação. O relacionamento entre Deus e a humanidade estava
quebrado devido ao pecado do homem e Jesus os reconciliou. A palavra
reconciliação significa que passamos a “ser um”. Em Romanos 5.1-11 temos o ensino claro sobre a reconciliação. Jesus resolveu
o problema da separação entre Deus e os homens – Cf. 2Co 5.18-21; Cl 1.18-23.
3. Algumas verdades chaves sobre a
natureza da morte de Cristo:
a. Sua morte foi sacrificial e isto envolve todo o Antigo Testamento – Observe a
frase do Manual: “Cristo deu-se como
sacrifício”. Isto é porque sua morte era uma expiação oferecida a Deus pelo
pecado. Devido ao sentido da palavra expiação no Antigo Testamento que
significa ser de uma cobertura pelo
pecado. Com todo o pano de fundo bíblico do derramamento de sangue de um
animal sacrificial, o sangue de Jesus não representa apenas a sua morte, mas
uma morte sacrificial expiatória. (Cf. Hb
9.14)
b. Sua morte foi substitutiva. Ele morreu em nosso lugar. Ele não morreu pelos Seus
próprios pecados, mas pelos nossos. Ele morreu em nosso lugar. Como diz o
Manual: “Ele morreu por nós, sofrendo em
nosso lugar”. O termo doutrinário tradicional para isto é morte vicária. Um
vigário é alguém que toma o lugar de outro. (Cf. Rm 5.8)
c. Sua morte serviu de satisfação. Isto significa que ao morrer por nós, Jesus satisfez
a ira de Deus por ter pagado por completo a dívida pelos nossos pecados ou
satisfeito a violação de Sua lei. É por isto que Romanos 3.21-31 afirma que Deus é justo e também justificador daquele
que tem fé em Jesus. Se Ele tivesse perdoado as pessoas sem a Sua justiça ser
satisfeita, Ele não seria justo. Porém, como a penalidade foi paga pelo
substituto, Ele pode justificar o pecador e ainda satisfazer Suas exigências
justas.
Nota: Aqui temos uma das diferenças entre os arminianos. Alguns sustentam, equivocadamente,
como vimos acima, o ponto de vista governamental do significado da expiação,
isto é, creem que Deus poderia perdoar pecados sem pagar a penalidade e que
Jesus morreu para mostrar que o governo de Deus não estava sendo ab-rogado ao
fazê-lo. Para aqueles que sustentam esta posição, Jesus morreu devido ao nosso
pecado para sustentar o governo de Deus; porém não tomou realmente sobre si a
culpa e a punição de nossos pecados como substituto por nós. Os Batistas Livres creem, no entanto, no
ponto de vista da expiação que é conhecido como satisfação penal. Isto
significa que Jesus tomou o nosso lugar e suportou a plena ira de um Deus santo
como penalidade pelos nossos pecados. Para aqueles que colocam sua fé na
obra salvífica de Cristo, Deus não somente permitiu que seus pecados fossem
“dispensados”, mas Ele mesmo, na pessoa de Seu próprio Filho, pagou a
penalidade por eles. (Cf. 2Co 5.21; Gl
3.13)
Esse
assunto, a extensão da expiação, é uma das diferenças chaves entre calvinistas
e arminianos. O calvinismo defende a expiação
limitada, isto é, que Jesus morreu para providenciar a
redenção apenas para os que Deus escolheu salvar antes da criação do mundo.
O arminianismo, e aqui se incluem os Batistas Livres,
defende a expiação ilimitada, também
chamada de expiação geral, isto é, que Jesus morreu para providenciar salvação
para todos.
O
Manual diz que “Cristo deu-se como
sacrifício pelos pecados do mundo e, assim, tornou a salvação possível para
todos os homens”. Isto é parte do que significa crer em livre arbítrio: como a morte redentora de Jesus providenciou
a salvação de todos, todos podem livremente escolher aceitar ou rejeitar a
Cristo e a salvação.
Esta
é uma parte importante de nossa doutrina que nos distingue de outros grupos de
cristãos. Vejamos algumas das razões pelas quais cremos que Cristo morreu por
todos.
1. Razões bíblicas por que cremos na expiação ilimitada:
a. A Bíblia
afirma que Deus deseja que todos sejam salvos – 2Pe 3.9; 1Tm 2.4.
b. A Bíblia afirma
que Jesus morreu por todos – 1Jo 2.2;
1Tm 2.6; Hb 2.9; Jo 3.16-18; 2Co 5.14.
c. A Bíblia
indica que Cristo morreu por alguns que irão perecer – 1Co 8.11; Rm 14; 2Pe 2.1.
d. A Bíblia
oferece salvação a todos e ordena que o evangelho seja pregado a todos – Ap 22.17; Mc 16.15; Rm 10.13.
e. A Bíblia
culpa o próprio homem pela sua condição de perdido por ter rejeitado a Cristo.
Isto seria ilógico se Cristo não tivesse providenciado a expiação por eles – Rm 10.3; 2Ts 1.8; João 3.18.
f. A Bíblia
indica que a provisão da expiação é tão ampla quanto à necessidade por ela,
isto é, a extensão do pecado. O pecado é universal, portanto, a necessidade de
expiação também o é. Analisando cuidadosamente Romanos 3.22-25, sua lógica é precisa: 1º) não há distinção; 2º) pois
todos pecaram; 3º) sendo justificados gratuitamente, por sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu
sangue, como propiciação, mediante a fé. O significado parece muito claro:
o fato de não existir “distinção” se baseia no fato universal de que todos
pecaram e baseado nisto, Deus providenciou a justificação.
Já
mencionei três conceitos chaves para se entender o significado da morte de
Cristo como redentora. É interessante notar que todos os três aparecem em
contextos universais: 1º) Em 1Tm 2.6 lemos que Jesus se deu como resgate por todos; 2º) Em 1Jo 2.2 se diz que Jesus é a
propiciação pelos nossos pecados, porém não somente pelos nossos, mas pelos
pecados do mundo inteiro; e 3º) Em 2Co 5.19 Paulo diz que Deus
estava em Cristo, reconciliando consigo o
mundo.
2.
Expiação ilimitada não significa salvação ilimitada ou
universal
A
salvação foi providenciada para todos na morte expiatória de Cristo, mas é
aplicada somente aos que creem (Cf. Tt
2.11-14; Ef 1.1-13). Jesus não morreu com o propósito ou a intenção de
salvar todos, senão, todos seriam salvos, já que os propósitos finais de Deus
são sempre cumpridos. Porém ele morreu para providenciar uma expiação que é suficiente
para e disponível a todos.
Os
calvinistas gostam de dizer que há passagens no Novo Testamento que falam da
obra redentora de Cristo como tendo realmente realizado a salvação daqueles
para quem Ele morreu e não simplesmente “providenciado” por esta salvação. É
verdade que algumas passagens parecem ensinar isto. Por exemplo:
ü
Em 2 Coríntios 5.19 o significado parece
ser de que Jesus realmente reconciliou aqueles por quem ele morreu, não apenas
que tenha tornado a reconciliação possível. A resposta para todos os textos
como este é que falam com antecipação do que é realizado somente depois que as
condições são preenchidas. Se eu disser que o diagnóstico do médico salvou a
minha vida, eu estaria falando desta forma. Na realidade, foi o remédio que tomei
que salvou minha vida. Da mesma forma, a morte de Jesus verdadeiramente salva
somente aqueles cujos benefícios foram aplicados pela fé. Portanto, o intuito
da expiação foi providenciar para todos e salvar todos que pela fé creem.
O
segundo parágrafo do capítulo VI do Manual menciona brevemente a obra de Cristo
que seguiu Sua morte na cruz. A exaltação começa neste ponto, iniciando-se com a ressurreição seguida pela
Sua ascensão em glória onde se assenta como mediador para interceder a favor
daqueles que se achegam a Ele em fé. Cremos que a exaltação faz parte da
obra de mediação de Cristo. Veremos apenas três aspectos.
1. A ressurreição
A ressurreição, nesse ponto do manual, é mencionada apenas
em uma frase curta: “ressuscitou para nossa justificação”
(Rm 4.25). Porém, a ressurreição é
tão importante à obra redentora de Cristo quanto Sua morte na cruz.
Não se deve separar os dois acontecimentos.
a. Existem
pontos de vista equivocados sobre o que aconteceu: Alguns dizem que a ideia de uma ressurreição é simplesmente uma maneira
de afirmar a Sua contínua influência e presença espiritual. Outros dizem que
Ele não morreu de verdade, mas desmaiou e recobrou consciência no frescor da
tumba. Outros ainda dizem que a estória é uma lenda que simboliza uma verdade.
b. Porém, para
nós, que levamos a Bíblia a sério, a
ressurreição é um fato. Há confirmação disto nas Escrituras em todos os
quatro relatos dos evangelhos. Ela é a base de toda a fé cristã. 1 Coríntios 15.17 afirma que se Cristo não ressuscitou dos mortos, nossa fé é vã.
c. Há muitas
consequências maravilhosas da ressurreição. As principais são:
ð
É evidência da
divindade de Cristo – Rm 1.4; At 2.32-36.
ð
É a garantia de
nossa própria ressurreição – 1Co 15.20;
At 2.24.
ð
É prova do
julgamento vindouro – At 10.42; 17.31.
ð
É a garantia de
nossa justificação (Rm 4.25), com
indica o Manual. Ela assegura a aceitação do propósito de justificação do
sacrifício de Cristo.
2. A ascensão –
A ascensão, também, é mencionada apenas brevemente nesta parte do Manual.
a. É importante
afirmar que Jesus subiu corporalmente, como foi testemunhado
pelos que observavam – Atos 1.9.
Enquanto eles olhavam, Jesus subiu e desapareceu nas nuvens, e eles foram
informados, pelo anjo, que Ele voltará da mesma forma em que o viram subir. Sendo
assim, a ascensão é real e corporal, como o será o Seu retorno. Ambas,
ressurreição e ascensão, fazem parte de Sua glorificação.
b. A ascensão de
Cristo aos céus tem pelo menos dois significados: 1º) Ele foi glorificado ao assento que tem de direito à destra de
Deus – Ef 1.20, 21; e 2º) A ascensão marcou o início de sua
função de sacerdote como intercessor à destra de Deus – Hb 4.14. Isto nos leva ao próximo aspecto de sua obra mediadora.
3. A intercessão
A função sacerdotal de Cristo como
mediador-intercessor é baseada na ressurreição e ascensão. A obra desta função sacerdotal é apresentada
de diferentes maneiras no Novo Testamento:
a. Ele adentrou
o santo dos santos com Seu próprio sangue – Hb 9.24. Foi uma obra única, realizada uma vez por todas.
b. Ele está
judicialmente respondendo as acusações de Satanás contra aqueles que pertencem
a Deus – Rm 8.33, 34.
c. Ele santifica
o que oferecemos a Deus – 1Pe 2.5.
d. Ele nos
sustenta e ajuda na tentação – Hb 4.15.
e. Ele nos
representa como advogado a favor do perdão de nossos pecados – 1Jo 2.1.
Nota: O terceiro parágrafo deste capítulo trata sobre a salvação dos que
morrem na infância, antes de atingir a idade de responsabilidade ou de
quaisquer outros que talvez nunca atinjam um entendimento mental ou moral
suficiente para serem pessoalmente responsabilizados tanto pelo pecado como
pela resposta ao evangelho. Cremos, como está no Manual, que a salvação dos que
morrem na infância é resultado da morte redentora de Cristo, isto é, são salvos
pelo cancelamento da culpa pelo pecado original da raça humana em virtude da
morte de Cristo. (Cf. 1Co 15.22; Mt
18.2-5; Mc 9.36, 37; Mt 19.14)
Concluindo – [5]A nossa
doutrina da obra de Cristo serve, também, para distinguir os Batistas Livres de
vários outros grupos.
ü
Ela nos distingue
dos cristãos liberais que creem que a morte de Cristo foi a de um mártir,
manifestando principalmente o amor de Deus. Estes não ensinam que a morte de
Cristo foi sacrificial, substitutivo, necessário para satisfazer a ira de Deus
e para pagar a penalidade pelo pecado.
ü
Ela nos distingue
de alguns arminianos que creem na visão governamental da expiação. O arminiano
original, o próprio Armínio, ensinou a visão da satisfação penal da expiação,
como nós o fazemos.
ü
Ela nos distingue
dos calvinistas que creem que Jesus morreu unicamente pelos eleitos e que não
há provisão para os outros. Nossa doutrina é que Ele morreu por todos.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira 25/03/15
[1] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 5 – O que cremos sobre a Obra Redentora de Cristo, p. 2.
[2] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 5 – O que cremos sobre a Obra Redentora de Cristo, p. 2-4. Neste ponto o
estudo segue a Lição 5, Ponto I – A Natureza da Expiação, adaptados a nossa
realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas
já citadas.
[3] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 5 – O que cremos sobre a Obra Redentora de Cristo, p. 5-7. Neste ponto o
estudo segue o Ponto II – A Extensão da Expiação, adaptados a nossa realidade
local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.
[4] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 5 – O que cremos sobre a Obra Redentora de Cristo, p. 7-10. Neste ponto o
estudo segue o Ponto III – A Exaltação e Obra de Mediação de Cristo, adaptados
a nossa realidade local e com cortes e acréscimos que julguei necessário, nas
páginas já citadas.
[5] Picirilli, Robert E. Estudo da Doutrina Batista Livre,
Lição 5 – O que cremos sobre a Obra Redentora de Cristo, p. 10. Neste ponto o
estudo segue a conclusão de Picirilli, adaptados a nossa realidade local e com
cortes e acréscimos que julguei necessário, nas páginas já citadas.