domingo, 24 de agosto de 2014

Panorama do AT – Êxodo (1) - A ação de Deus no livramento de Israel do cativeiro – Êxodo 1-18

Êxodo 1-40 (1-18)

Nos estudos anteriores, no livro de Gênesis, vimos:

ü Que o conteúdo do livro pode ser estudado em três partes: 1ª) Primórdios – Gn 1-11que se resume em três expressões: Criação, Dilúvio e Babel; 2ª) Patriarcas – Gn 12-36 – que se resume em três nomes: Abraão, Isaque e Jacó; e 3ª) Descida para o Egito – Gn 37-50 – que se resume em três fases: A família de Jacó (início da biografia de José); Peregrinação e Ascensão de José; e A descida da família de Jacó para o Egito.

Hoje, vamos começar a estudar, panoramicamente, o livro de Êxodo, dividindo-o em três partes: 1ª) A ação de Deus no livramento de Israel do cativeiroÊx 1-18; 2ª) A ação de Deus oferecendo a Israel uma regra para a vida sob a promessaÊx 19-31; e 3ª) A ação de Deus fazendo-se presente no meio do Seu povoÊx 32-40.

I. Introdução ao estudo do livro de Êxodo

O titulo Êxodo, que significa a saída, dado ao segundo livro da Bíblia, foi atribuído pela Septuaginta (tradução grega da Bíblia Hebraica – VT) e pela Vulgata (tradução latina da Bíblia – VT e NT), pelo fato histórico dominante do livro – a saída de Israel do Egito (cf. 12.51; 13.16-22; 19.1). Já o título hebraico do livro é extraído das suas primeiras palavras “Estes pois são os nomes...” (1.1a acf), com o objetivo de que o livro deve ser aceito como a continuação do livro de Gênesis.

Moisés foi o escritor do livro e não faltam evidências disso. Desde o tempo de Josué, o livro é atribuído a ele – Js 8.31-35; cf. Êx 20.25. Mais importante ainda é a referência que o Senhor Jesus faz a passagens de Êxodo como escritas por Moisés – Mc 7.10, 12.26. Em outros lugares no Pentateuco, Moisés é indicado como aquele que... ...escreveu todas as palavras do Senhor... (Êx 24.4a), como a pessoa que registrou... ...as suas saídas, segundo as suas jornadas, conforme o mandado do Senhor... (Nm 33.2a) e que... ...escreveu esta lei... (Dt 31.9a). Além disso, o texto indica que o seu autor estava muito bem familiarizado com o tempo, os eventos e os lugares mencionados no livro. A riqueza dos detalhes deixa claro que o autor foi testemunha ocular do que descreve no livro.

A data mais aceita e de evidências mais concretas é que Êxodo foi “escrito durante o período da peregrinação de Israel no deserto”[1], no século 15 a.C. (1445 a.C.). “Em algum momento durante os 40 anos como líder de Israel (cf. Êx 7.7; Dt 34.7), Moisés escreveu o segundo, dos seus cinco livros”[2]. Creio que o escreveu após o êxodo, nas planícies de Moabe.

Êxodo é um livro de libertação e estabelecimento, pois, nele, vemos que a aliança estabelecida em Gênesis entre Deus e os patriarcas transforma-se na história de Israel, à medida que Deus irrompe no tempo e no espaço para libertar Israel da escravidão e estabelecê-lo como nação com a posse permanente de Canaã e a presença dele no seu meio.[3] Assim, concluímos que, o tema do livro “é a libertação de Israel do Egito em cumprimento à promessa de Gênesis 15.13, 14”.[4]

Mas, precisamos, também, ter uma noção da transição do livro de Gênesis para o livro de Êxodo. No final do livro de Gênesis temos uma família indo para o Egito e se estabelecendo lá – Gn 46.27, 27 (70 pessoas). No início do livro de Êxodo temos um povo saindo do Egito para se estabelecer em outra terra, Canaã, a terra da promessa – Êx 12.37, 38 – (600 mil homens, sem contar crianças e mulheres). Aqui temos um contraste: uma família protegida por Faraó numa terra privilegiada (Gn 47.5-12 – Gósen – terra fértil e boa), mas, depois da transição, um povo perseguido por Faraó fabricando tijolos como escravos (Êx 1.8-14).

Portanto, como já afirmei, vamos estudar, panoramicamente, o livro de Êxodo, dividindo-o em três partes: 1ª) A ação de Deus no livramento de Israel do cativeiroÊx 1-18; 2ª) A ação de Deus oferecendo a Israel uma regra para a vida sob a promessaÊx 19-31; e 3ª) A ação de Deus fazendo-se presente no meio do Seu povoÊx 32-40. Hoje, nosso estudo será na primeira parte: A ação de Deus no livramento de Israel do cativeiro – Êx 1-18.

II. A ação de Deus no livramento de Israel do cativeiro[5] – Êx 1-18

Deus começa a cumprir sua promessa de uma descendência inumerável, quando setenta pessoas se transformam em milharesvv.1-7.

1. Incluía a permissão divina para a opressão do Egito – 1.8-22

a.    Israel cresceu e passa a ser a maior força de trabalho escravo do Egito – vv.8-14.

b.   O crescimento assustador de Israel leva Faraó a tomar uma mediada radical, tentar o genocídio. Houve duas tentativas: 1ª) a morte dos meninos na hora do partovv.15-21; 2ª) a campanha nacional para eliminação dos meninos recém-nascidosv.22.

2. Incluía a preparação de um líder capaz – 2.1-4.31

a. O nascimento e a proteção sobrenatural de Moisés lhe trouxeram, ao mesmo tempo, uma criação hebraica e instrução na corte egípcia – 2.1-10.

b.   A preparação de Moisés para a liderança exigia três coisas: 1ª) Treinamento no deserto de Midiã por 40 anos2.1-14; 2ª) Ruptura com a vida e os costumes egípcios2.15; e 3ª) Adoção de um estilo de vida nômade, como homem casado e pastor de ovelhas2.16-22.

c.    O chamado de Moisés – 2.23-4.17.

ð O seu chamado foi a resposta de Deus à crescente opressão sofrida pelos israelitas – 2.23-25.

ð O seu chamado acontece em Horebe, onde Deus se manifesta como o Deus da aliança – 3.1-10.

ð O seu chamado é confirmado quando Deus refuta decisivamente suas inadequadas objeções – 3.11-4.17.

d.   Moisés volta para o Egito como um líder plenamente qualificado de acordo com a aliança abraâmica – 4.18-26.

e.    Moisés é reconhecido como líder por Arão, pelos Anciãos e pelo povo – 4.27-31.

3. Incluía um confronto com Faraó e seus deuses – 5.1-11.10

a.   O confronto resultou no crescente endurecimento do coração de Faraó e em dificuldades para a vida dos israelitas – 5.1-7.13.

b.   O confronto resultou na completa humilhação de Faraó e seus deuses diante do Deus vivo e verdadeiro – 7.14-11.10. A completa humilhação veio por meio de dez julgamentos com os quais Deus demonstra sua superioridade sobre Faraó e sobre os seus deuses:

ð 1º) A praga das águas transformadas em sangue – 7.14-25Que revelou a autoridade de Deus sobre o Nilo, o rio que sustentava a vida no Egito; 2º) A Praga das rãs – 8.1-15 Revelou a superioridade de Deus sobre a deusa Hegt; 3º) A praga dos piolhos – 8.16-19Que revelam a superioridade de Deus sobre Set, deus do deserto ou poeira; 4º) A praga das moscas – 8.20-32Que revelou a superioridade de Deus sobre o deus Uatchit e estabeleceu a distinção entre Israel e o Egito; 5º) A praga das pestes nos rebanhos – 9.1-7Que demonstrou a superioridade de Deus sobre Ápis, o deus touro, e Hathor, a deusa vaca, ao preservar o gado dos israelitas; 6º) A praga das úlceras – 9.8-12Que demonstrou a superioridade  de Deus sobre Ísis, a deusa da cura, sobre Sekhmet, deusa dos remédios, e sobre Sunu, o deus da peste; 7º) A praga da saraiva – 9.13-35Que revelou a superioridade de Deus sobre Nut, o deus do céu, sobre Osíris, o deus das colheitas e da fertilidade, e sobre Set, o deus da tempestade; 8º) A praga dos gafanhotos – 10.1-20Que revelou a superioridade de Deus sobre Nut e Osíris; 9º) A praga das trevas – 10.21-29Que revelou a superioridade de Deus sobre Rá e Hórus, divindades do sol, e sobre Nut; e 10º) A praga da morte dos primogênitos – 11.1-10; 12.29-36Que revelou a superioridade de Deus sobre Min, o deus da reprodução, sobre Isis, deusa da cura, e sobre o herdeiro de Faraó, que era considerado divino pelos egípcios.

4. Incluía a celebração do livramento – 12.1-36

a.  As instruções para a celebração do livramento incluíam a Páscoa, que é prescrita como um memorial perpétuo – vv.14, 21-28, e a Festa dos Pães Ázimos com duração de sete dias – vv.15-20.

b.   A Páscoa serve como uma bela ilustração da redenção realizada por Cristo no Calvário – Jo 1.29; 1Co 5.7: 1ª) A oferta deveria ser perfeita12.5; 1Pe 1.19; 2ª) O cordeiro precisava ser morto –  12.6; Jo 12.24, 27; e 3ª) O sangue tinha que ser aplicado12.7; Hb 9.22.[6]

c.  A promessa divina de libertação do Egito com a riqueza da terra acontece logo após a aplicação da última praga – vv.29-36. Os próprios egípcios encorajaram os israelitas a partirem, dando-lhes seus objetos de valor – vv.33-37.

5. Incluía a saída definitiva do Egito e demonstrações convincentes do poder de Deus para proteger e suprir o seu povo a caminho da terra da promessa – 12.37-18.27

a.    Israel deixou o Egito, rumo a Canaã, sob o impacto da redenção divina e da obrigação de viver como nação consagrada – 12.37-13.22.

b.   Deus dá provas convincentes de seu poder de proteger o seu povo usando o Mar Vermelho, quando Israel passou a pés enxutos pelo meio do mar e os exércitos de Faraó foram destruídos – 14.1-31.

c.    O livramento sobrenatural oferecido por Deus ao seu povo é celebrado por Moisés e Miriã – 15.1-21.

d.   A caminhada do Mar Vermelho ao Sinai é marcada pela provisão fiel de Deus a despeito das atitudes lamentáveis de Israel – 15.22-18.27

ð Deus provê água potável e promete bem estar ao seu povo – 15.22-27; 17.1-7.

ð Deus provê alimento saudável para seu povo – 16.1-36.

ð Deus provê vitória sobre o traiçoeiro Amaleque – 17.8-16.

ð Deus oferece conselho sábio, por meio de Jetro, para facilitar a liderança de Moisés e aperfeiçoar a prática da justiça aos israelitas – 18.1-27.

Concluindo – Lições da primeira parte do livro de Êxodo:

1)      Enquanto estivermos vivendo neste mundo enfrentaremos aflições (Jo 16.33);
2)     Jesus é o nosso líder capaz e ele tem preparado outros líderes capazes para a tarefa de conduzir a sua igreja na jornada até o céu (Ef 4.11-16);
3)  Deus é o nosso provedor, ele é quem, definitivamente, supri as nossas necessidades físicas, psicológicas e espirituais.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira - 24/08/14


[1] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no Antigo Testamento, Editora Hagnos, Primeira Edição, 2006, p. 61.
[2] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB, 2010, p. 88.
[3] Pinto, p. 63.
[4] Ryrie, Charles C. A Bíblia Anotada, SBB e MC, 2007, p. 58.
[5] Pinto, p. 72-79 (Esse ponto segue o esboço das páginas citadas com adaptações minhas ao contexto da igreja local)
[6] Ryrie, p. 72.

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