Verdades bíblicas pregadas e ensinadas por Walter Almeida Jr., além de mensagens, comentários e opiniões de cristãos igualmente comprometidos e sem preconceitos religiosos. Simplesmente pela graça divina!
domingo, 27 de abril de 2014
A Justiça do Cristão
Em nossos estudos anteriores, vimos que:
ð
Jesus, usando metáforas conhecidas, disse-lhes: “Vós sois o sal da terra...
Vós sois a luz do mundo...”
ð
A Igreja é o mundo são duas comunidades diferentes, mas relacionadas.
A diferença é radical e imprescindível; a relação é necessária.
ð
Os crentes verdadeiros, os que têm ou estão desenvolvendo as
características referidas nas bem-aventuranças, são como o sal: têm um tremendo poder de penetração e
transformação. Ao passo que a
humanidade é como a carne em processo de deterioração ou apodrecimento.
ð
Nós somos a luz do mundo por derivação, brilhamos com a luz de Cristo,
como a Lua brilha com a luz do Sol. Isso acontece por meio das nossas “boas obras” ou “coisas boas que fazemos”.
ð
Terminamos afirmando que a nossa responsabilidade é dupla: “O sal e a luz têm coisas em comum: eles se
dão e se gastam, e isto é o oposto do que acontece com qualquer tipo de
religiosidade egocentralizada” (P. Thielicke).
Hoje, vamos estudar sobre a justiça do cristão – Mt
5.17-20.
[1]Jesus já falou sobre o Caráter do Cristão (descrito
nas bem-aventuranças) e sobre a Influência
do Cristão (que ele exerce no mundo,
quando cultiva o referido caráter e pratica as boas obras; se é, de fato, “sal
da terra” e “luz do mundo”). Agora, Jesus define melhor o teor destas boas
obras. O termo usado é “justiça”,
que, aqui, é sinônimo de obediência a Deus, prática da fé, vida cristã. Daí o
título desta seção: A Justiça do Cristão.
Este parágrafo do Sermão do Monte é muito
importante, não só por sua definição de justiça, mas também porque nos ajuda a
entender a relação entre Novo Testamento e Velho Testamento, entre Evangelho e
Lei.
1. Cristo e
a Lei (vv.17-18)
Jesus começa dizendo que ele não veio para “revogar a lei ou os profetas” (5.17). A
expressão refere-se a todo o Velho Testamento (Mt 7.12). Alguns pensavam que Jesus
estava revogando ou descumprindo a Lei (Mc 2.23-3.6). Até porque Jesus não se
reportava tanto à autoridade de Moisés, como os mestres judaicos faziam. Falava
com autoridade própria: “Em verdade (eu)
vos digo...” (Mt 5.18; 6.2). E até corrigia os antigos mestres: “Vocês ouviram o que foi dito... Mas eu lhes
digo...” (Mt 5.21-22, 27-28, 31-32. Ver Mt. 7.28-29).
Por tudo isso, Jesus disse: “Não penseis que
vim revogar a lei ou os profetas; ou como lemos na BLH, “não vim para
revogar, vim para cumprir”, para dar-lhes sentido completo” (v. 17). Isto é importante porque
faz-nos ver que há estreita
relação entre Jesus e Moisés, Novo e Velho Testamentos.
Todavia,
é preciso lembrar que o Velho Testamento contêm diversos tipos de ensinamentos.
Mas Jesus veio “cumprir” todos eles.
a) Ensinos
doutrinários
– É o que os judeus chamam de Torá. O termo significa “instrução revelada”, mas é traduzido por Lei. O VT ensina sobre Deus,
o homem, a salvação, etc., mas de maneira incompleta. Jesus completou-o e
deu-lhe sentido com sua vida e obra. “O
Velho Testamento é o Evangelho em botão; o Novo Testamento é o Evangelho em flor...”
(Ryle).
b) Profecia
preditiva
– Grande parte refere-se à vinda do
Messias. Jesus “cumpriu” estas
profecias. Iniciou seu ministério dizendo: “O tempo está cumprido...” (Mc 1.14 – cf. Jo 5.39; Mt 1.22; 2.23;
3.3, etc.) A morte de Jesus na cruz cumpriu todo o sistema cerimonial do Velho
Testamento (sacerdócio e sacrifício). Então, as cerimônias cessaram.
c)
Preceitos éticos, ou seja, a Lei moral de Deus – Os mestres judaicos tinham ensinado e ainda estavam ensinando uma
interpretação superficial e errada da Lei. Jesus retomou o original e lhe deu a
profundidade e o significado pretendidos por Deus. Além disso, Jesus obedeceu à
Lei! (Mt 5.21-22, 27-28). Portanto, ele não veio para descumprir ou abolir a
Lei, mas para cumpri-la. E ensinou aos seus seguidores que eles também deveriam
cumprir ou obedecer à Lei.
2. O cristão e a Lei – Jesus acrescenta: Mt
5.18-20. Note três coisas:
a) Nesta passagem, Jesus não está ensinando o caminho da salvação ou como
podemos alcançar o céu. Ninguém jamais se salvará tentando obedecer à Lei de
Deus. Mas Jesus está dizendo como devem viver os que crêem nele e o seguem, os
que já estão salvos. Noutras passagens ele ensina que a salvação é alcançada
pela fé somente (Jo 3.16,36). Saulo de
Tarso, antes de se converter a Cristo, foi zeloso praticante da Lei... e também
o mais terrível perseguidor dos cristãos! (At
22.3-15). Convertido, tornou-se Paulo, o Apóstolo, um dos homens mais
santos e um dos maiores pregadores na história do Cristianismo. Escreveu várias
cartas que fazem parte do Novo Testamento. Nestas, ele enfatiza que o pecador é
justificado (feito justo, perdoado, purificado) e salvo pela fé e não pelas
obras, crendo em Cristo e não esforçando-se para obedecer à Lei (Rm 3.21-24).
b) Há uma conexão vital entre a Lei de Deus e o Reino de Deus. Os cidadãos
do Reino, as pessoas que crêem em Deus e em Cristo, que se submetem à vontade
de Deus e a Cristo como Senhor de suas vidas, externam sua fé e submissão
obedecendo à Lei de Deus. Para dizer de outro modo, os cristãos verdadeiros
praticam os ensinos da Palavra de Deus – At 26.20; 1Co 5.17. Pedro chamou os
cristãos de “filhos da obediência” (1Pe
1.14). A desobediência deliberada e constante à Lei, isto é, à vontade de Deus,
é indício de falta de arrependimento sincero, de fé genuína, de conversão
verdadeira, de salvação. Por isso, Jesus concluiu este parágrafo do Sermão do
Monte dizendo: “Se a vossa justiça não
exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”
ou “Pois eu afirmo que vocês só entrarão no Reino de Deus, se forem mais fieis
[em fazer a vontade de Deus] do que os professores da Lei e os fariseus”
(BLH).
c) No Reino dos Céus haverá distinções entre os salvos. Dependendo da vida que viveram como cristãos, de sua
maior ou menor obediência aos ensinos da Palavra de Deus, eles serão
considerados “grandes” ou “menores” (v.19).
A distinção levará em conta, também, os esforços de cada um no sentido de
ensinar aos outros a viverem de acordo com a Palavra de Deus.
Concluindo
O
restante de Mt 5, que estudaremos na próxima lição, refere-se a alguns itens da
Lei, como eram ensinados aos judeus e como foram reinterpretados e aprofundados
por Jesus. Essa é a justiça do Cristão.
Pr. Walter Almeida Jr.
CBL
Limeira, 26/04/2014
[1] A partir daqui, segue um resumo e adaptação livre do livro de John
Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição,
1997, preparado pelo Pr. Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001.
domingo, 20 de abril de 2014
domingo, 13 de abril de 2014
sábado, 12 de abril de 2014
Os relacionamentos dos cristãos: com Deus e com o próximo (2)
ð
Em
nosso estudo anterior, vimos o significado da expressão bem-aventurança: aquela alegria ou felicidade interior,
independentemente das coisas externas da vida.
ð
Vimos,
também, que a expressão bem-aventurados aparece nove vezes nesse texto e chamou
muita a atenção dos ouvintes primários e a nossa também.
ð
Vimos,
ainda, as quatro verdades que a Bíblia ensina sobre as bem-aventuranças: Primeira – Bem-aventurança é algo que somente Deus pode dar – Sl 144.15; Segunda – Bem-aventurança é um estado que Deus deseja que seu povo desfrute –
Gn 1.27, 28; Nm 6.24-26; Terceira – Bem-aventurança não depende das
circunstancias da vida – Fp 4.10, 11; 2Co 7.4; 12.10; Quarta – Bem-aventurança está
relacionada à obediência a Palavra de Deus – Lc 11.27, 28; Sl 1.1.
ð
Observamos
que, a primeira bem-aventurança e a última fazem a mesma promessa – “porque deles é o reino dos céus” – Mt
5.3, 10. Sobre esse reino prometido por Jesus, consideramos quatro fatos: Primeiro – Ele é um reino eterno; Segundo
– Ele é um reino espiritual; Terceiro – Ele é um reino contemporâneo; Quarto
– Ele é um reino dinâmico.
ð
E,
assim, passamos a estudar as bem-aventuranças em dois pontos: 1º) As primeiras quatro, tratam do
relacionamento do cristão com Deus; e 2º)
As últimas quatro, do relacionamento do cristão com o seu próximo.
ð
Terminamos
com citação a Lutero que afirmou: É
preciso ter uma fome e sede de justiça que jamais possam ser reprimidas, ou
sustadas, ou saciadas, que não procurem nada e não se importem com nada a não
ser com a realização e a manutenção do que é justo, desprezando tudo o que
possa impedir a sua consecução. Se você não puder tornar o mundo completamente
piedoso, então faça o que você puder.
Hoje, vamos considerar o segundo e último
ponto de nosso estudo sobre as bem-aventuranças: O relacionamento do cristão com o
seu próximo.
II. O
relacionamento do cristão com o seu próximo – 5.7-12
1. v.7 – Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia.
O teólogo Richard Lenski afirma que o
substantivo eleos no grego, traduzido
por misericórdia, sempre trata da dor, da miséria e do desespero, que são
resultados do pecado e com isso ele faz uma distinção entre misericórdia e
graça, pois graça, charis no grego no NT, sempre lida com o pecado e com a
culpa propriamente ditos. A primeira concede alívio; a segunda, perdão; a
primeira cura e ajuda, a segunda purifica e reintegra.[1]
Assim, ser um cristão misericordioso é
colocar o seu coração na compaixão pelo sofrimento alheio, começando pela
situação moral e espiritual e indo até a questão socioeconômica. Ser
misericordioso, também, é estar pronto para perdoar.
Nosso Deus é um Deus misericordioso e dá
provas de misericórdia continuamente; os cidadãos do seu reino também devem
demonstrar misericórdia. Naturalmente, o mundo, pelo menos quando é fiel à sua
própria natureza, é cruel, como também a Igreja frequentemente o tem sido em
seu mundanismo.[2]
A BLH traduz esse versículo do seguinte
modo: Felizes os que tratam os outros com misericórdia — Deus os tratará com
misericórdia também! Jon Stott afirma sobre essa passagem assim: “Não que
possamos merecer a misericórdia através da misericórdia, ou o perdão através do
perdão, mas porque não podemos receber a misericórdia e o perdão de Deus se não
nos arrependermos, e não podemos proclamar que nos arrependemos de nossos
pecados se não formos misericordiosos para com os pecados dos outros. Nada nos
impulsiona mais ao perdão do que o maravilhoso conhecimento de que nós mesmos
fomos perdoados. Nada prova mais claramente que fomos perdoados do que a nossa
própria prontidão em perdoar. Perdoar e ser perdoado, demonstrar misericórdia e
receber misericórdia andam indissoluvelmente juntos...”.[3]
ð
Deus, nosso Pai, é misericordioso (Lc
6.36. Depois, leia Sl 136).
ð
Jesus, nosso Salvador, foi compassivo e misericordioso (Lc 4.40).
ð
Somos o povo eleito de Deus (Cl
3.12-13).
ð
Práticas religiosas sem misericórdia não agradam a Deus (Mt 23.23).
O mundo, quando à parte da influência cristã,
costuma ser extremamente individualista e egoísta; as pessoas não dão a mínima
para a dor e a calamidade dos outros; não sabem o que é
misericórdia.
Qual é a
bênção referida nesta bem-aventurança? “... alcançarão misericórdia”. Não nos tornamos merecedores da misericórdia de Deus quando exercemos misericórdia, ou do seu perdão quando perdoamos. A
misericórdia e o perdão de Deus são expressões da sua graça, e graça é favor imerecido. Todavia, ninguém pode receber a misericórdia e o perdão de Deus sem se arrepender dos seus pecados e crer em Cristo, e
ninguém pode dizer sinceramente que se arrependeu dos seus
pecados
e não ser misericordioso, perdoando os pecados
dos outros. Nada nos encoraja mais a ser misericordiosos com outros,
para ajudar ou perdoar, do que saber que Deus, misericordiosamente e
graciosamente nos abençoa e perdoa cada dia. (Lm 3.22-23). A prova maior
de que fomos perdoados é a nossa disposição para perdoar. Esta quinta bem-aventurança pode ser relacionada com a terceira: “Bem-aventurados os mansos...” (RA) ou “Felizes as pessoas humildes...” (BLH). O “manso” ou “humilde” também é “misericordioso”,
pois, admitindo os próprios pecados, tem misericórdia dos
outros, quando pecam.
2.
v.8
– Bem-aventurados os limpos de coração,
porque eles verão a Deus.
Obviamente
Jesus estava falando de pureza interior, e esta afeta: 1) O comportamento moral. Veja a oração
de Davi depois de cometer adultério (Sl 51.4,6,7);
2) A prática religiosa. Veja o que Jesus disse aos lideres
religiosos de sua época, porque não eram puros
de coração. Mt 23.25-28. Isto é hipocrisia! 3)
Os
relacionamentos – O coração puro garante um
relacionamento confiável.
A relação
entre uma coisa e
outra está clara no Sl 24.3-5. Vivemos numa época em
que ser limpo de coração ou puro é
um desafio!
Qual é a
bênção referida nesta bem-aventurança? “... eles verão a Deus”. Deus é espírito e não pode ser visto (1Tm 1.7). Não obstante,
esta passagem garante que os crentes verdadeiros, os limpos
de coração,
“verão a Deus”. Como? Estas palavras têm duas explicações: 1ª) Desde já, subjetivamente, com
os olhos da fé
– Ef 1.17-18; e 2ª) No
futuro mediante uma compreensão mais aperfeiçoada
que teremos de Deus, em sua presença, nos céus – 1Co 13.12.[5]
3. v.9 – Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus.
[6]A sequência de
ideias – “os que têm o coração puro” e “os pacificadores” é natural, pois uma
das causas mais frequentes de conflito entre as pessoas é a falta de verdade,
de sinceridade, e transparência. O pacificador tem que atentar para três
coisas:
1ª) O
caráter pacificador é obra do Espírito Santo (Gl 5.22-23).
2ª) O
pacificador paga um preço alto para viver em paz com as pessoas. Deus pagou o
preço maior (Jo 3.16; 2Co 5.18-19). Não existe paz barata!
3ª) O
pacificador, mesmo pagando o preço, não terá paz com todos à sua volta (Rm
12.18).
Qual é a bênção referida nesta
bem-aventurança?
“... serão chamados filhos de Deus”. Ver
Mt 5.43-45. Deus, nosso Pai, é “Deus
da paz” (Rm 15.33). Seus filhos devem ser da paz também. Jesus foi e é
“Príncipe da Paz” (Is 9.6). Seus seguidores devem ser pacificadores como ele
foi. Um exemplo do espírito nada pacificador dos discípulos, no começo, e do
espírito pacificador de Jesus está em Lc
9.51-56.
4.
v.10-12
– Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque
deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e
perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim
perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Por mais que nos esforcemos por viver em
paz com as pessoas, sempre haverá os que se recusam a viver em paz conosco.
Alguns opõem-se a nós e nos perseguem. Fazem isso justamente porque somos
cristãos, porque somos diferentes, porque temos fome e sede de justiça ou de
fazer a vontade e Deus (v.10), ou simplesmente porque somos seguidores de Jesus
(v.11). Ver Jo 15.18-20.
Como devemos reagir? Com regozijo! (Mt
5.11-12). Jesus mencionou três razões para isto. E estas, juntas, são a bênção
relacionada com esta bem-aventurança. Os cristãos podem e devem regozijar-se
quando perseguidos por sua fé:
1ª) Porque “deles é o reino dos céus”. Isto
significa, primeiramente, que eles têm o privilégio de viver na esfera do
reino, conhecendo e obedecendo a vontade de Deus. E isto é bem-aventurança! É a
mesma bênção prometida aos “pobres de espírito”. Significa, também, que “uma
grande recompensa ou herança está guardada para eles, nos céus”.
2ª) Porque a perseguição acontece quando e
porque estamos fazendo a vontade de Deus e seguindo a Cristo (v.11). Os cristãos, às vezes, são
punidos ou perseguidos merecidamente, por agirem mal, e, todavia, atribuem tal
“perseguição” ao fato de serem crentes. Mas não é o caso. Ver 1Pe 2.12.
3ª) Porque a perseguição é um sinal de
genuinidade, um certificado de autenticidade cristã, “pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (v. 12b). Ver Lc 6.22-23 e 26, notando os termos “os profetas” e “os falsos
profetas”. O chamado Irmão André (conhecido como Contrabandista de Deus),
falando no Brasil sobre a Igreja Perseguida, nos antigos países comunistas,
manifestou sua estranheza ante o fato que, no Ocidente, a Igreja não é
perseguida, e citou 2Tm 3.12.
Essa perseguição é pela busca de ser um
cristão autêntico e procurar tomar as decisões baseados nos princípios
bíblicos. Contudo, precisamos perseverar e permanecer no propósito de ser um
filho de Deus. A perseguição irá acontecer, mas não devemos desistir. Felizes
são os que vivem desta maneira.
Concluindo
Nas bem-aventuranças, Jesus apresenta um
desafio fundamental ao mundo não-cristão e ao seu ponto de vista, e exige que
seus discípulos adotem o seu sistema de valores, totalmente diferente. Como
Thielicke disse, "qualquer pessoa
que entre em comunhão com Jesus tem de passar por uma reavaliação de valores".
Tal inversão dos valores humanos é básica
na religião bíblica. Os métodos do Deus das Escrituras parecem uma confusão
para os homens, pois exaltam o humilde e humilham o orgulhoso; chamam de
primeiros, os últimos, e de últimos, os primeiros; atribuem grandeza ao servo,
despedem o rico de mãos vazias e declaram que os mansos serão seus herdeiros. A
cultura do mundo e a contracultura de Cristo estão em total desarmonia uma com
a outra. Resumindo, Jesus parabeniza aqueles que o mundo mais despreza, e chama
de "bem-aventurados" aqueles que o mundo rejeita.[7]
Pr. Walter Almeida
Jr.
Limeira, 28/12/13.
A influência do cristão
Em nossos estudos anteriores, vimos que:
ð
O Sermão do Monte é
um autêntico pronunciamento de Jesus. Seu conteúdo é relevante para o mundo
moderno e seus padrões foram estabelecidos para serem cumpridos pelos cidadãos
do Reino, aqueles que passaram pelo novo nascimento e fazem parte da família de
Deus.[1]
ð
O valor e a
autoridade do Sermão do Monte está no Mestre que o proferiu. Ele é mais importante
que o seu próprio ensino e precisamos tomar consciência disso e aceitar e
praticar os Seus ensinos.
ð
Na sua introdução em Mateus 5.1, 2,
temos a identidade e a personalidade do
Mestre Jesus, a identificação de seus ouvintes primários e a sua pedagogia.
ð
O
significado da expressão bem-aventurança: aquela
alegria ou felicidade interior, independentemente das coisas externas da vida.
Essa expressão aparece nove vezes nesse texto e chamou muito a atenção dos
ouvintes primários e a nossa também.
ð
As
quatro verdades que a Bíblia ensina sobre as bem-aventuranças: Primeira – Bem-aventurança é algo que somente Deus pode dar – Sl 144.15; Segunda – Bem-aventurança é um estado que Deus deseja que seu povo desfrute –
Gn 1.27, 28; Nm 6.24-26; Terceira – Bem-aventurança não depende das
circunstancias da vida – Fp 4.10, 11; 2Co 7.4; 12.10; Quarta – Bem-aventurança está
relacionada à obediência a Palavra de Deus – Lc 11.27, 28; Sl 1.1.
ð
A
primeira bem-aventurança e a última fazem a mesma promessa – “porque deles é o reino dos céus” – Mt
5.3, 10. Sobre esse reino prometido por Jesus, consideramos quatro fatos: Primeiro – Ele é um reino eterno; Segundo
– Ele é um reino espiritual; Terceiro – Ele é um reino contemporâneo; Quarto
– Ele é um reino dinâmico.
ð
Podemos
estudar as bem-aventuranças em dois pontos: 1º) As primeiras quatro,
tratam do relacionamento do cristão com Deus; e 2º) As últimas quatro, do
relacionamento do cristão com o seu próximo.
ð
Lutero
afirmou: É preciso ter uma fome e sede de
justiça que jamais possam ser reprimidas, ou sustadas, ou saciadas, que não
procurem nada e não se importem com nada a não ser com a realização e a
manutenção do que é justo, desprezando tudo o que possa impedir a sua
consecução. Se você não puder tornar o mundo completamente piedoso, então faça
o que você puder.
Terminamos com a seguinte afirmação: “Façamos do padrão de Jesus o nosso padrão de
vida. Falemos a Palavra com autoridade. Tenhamos um caráter integro: Amemos
mesmo quando não esperamos receber amor, façamos o bem sem esperar recompensas.
Tenhamos como objetivo supremo da nossa vida fazer a vontade do Pai, obedecer à
Sua Palavra, obedecer aos Seus ensinamentos”.[2]
Hoje, vamos estudar sobre a influência do cristão – Mt 5.13-16. As metáforas do sal
e da luz falam da influência que os cristãos podem e devem exercer no mundo.
Assim, [3]em
seguida às bem-aventuranças, que descrevem o caráter do cristão, Jesus passou a
dizer aos seus discípulos que eles poderiam exercer uma forte influência sobre
o mundo, se cultivassem aquele caráter. Usando metáforas conhecidas,
disse-lhes: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo...” A
necessidade da luz é óbvia. E o sal tem uma variedade de usos. É condimento e
preservativo. No passado, antes do invento da refrigeração, ele era usado
principalmente para preservar a carne do apodrecimento. E na verdade ainda o é,
como na charque e na carne-de-sol. É o sal que o conserva e lhe dá sabor.
1. Igreja e mundo: duas
comunidades distintas
As duas comunidades são
diferentes, mas relacionadas. A diferença é radical e imprescindível; a relação
é necessária. Explicando:
ü O
sal tem características próprias, que o distinguem da carne e outros alimentos.
Só é útil fora do saleiro e quando nos alimentos; é assim que lhes dá sabor e
os preserva.
ü A
luz possui suas próprias características, que a distinguem das trevas. Só é útil
quando nas trevas; é assim que as dissipa.
Evidentemente, a humanidade é
insossa e está apodrecendo; precisa do sal.
O mundo é tenebroso e perdido e
precisa de luz.
Estes esclarecimentos são
importantes porque, hoje em dia, é simpático e teologicamente mais elegante
deixar indefinidas as fronteiras e as diferenças entre as duas comunidades,
igreja e mundo.
2. O sal da terra (5.13)
Isto significa que os crentes
verdadeiros, os que têm ou estão desenvolvendo as características referidas nas
bem-aventuranças, são como o sal: têm um tremendo
poder de penetração e transformação. Ao
passo que a humanidade é como a carne em processo de deterioração ou
apodrecimento. Os cristãos podem retardar esse processo ou mesmo
revertê-lo, ainda que não totalmente.
Deus estabeleceu outras influências
restringentes na humanidade, tais com o Estado e a Família. Estas e outras
instituições exercem uma influência sadia sobre a sociedade. Entretanto, Deus
planejou que a mais poderosa força inibidora do pecado fosse a Igreja.
A eficácia do sal está
condicionada à sua salinidade (Veja 5.13b). O sal (cloreto de sódio) é um
produto químico estável, resistente. Não obstante, pode ser contaminado por
impurezas, tornando-se, então, inútil e até perigoso. Da mesma forma o cristão.
A salinidade do cristão é o seu caráter conforme descrito nas bem-aventuranças;
é discipulado cristão verdadeiro, visível em atos e palavras. Se o cristão for
contaminado pelas impurezas do mundo, ele perde a salinidade, ou seja, sua
capacidade de influenciar e mudar o mundo à sua volta.
3. A luz do mundo (5.14-16)
Jesus disse também: “Vocês são a luz para o mundo...” Mais
tarde ele diria: “Eu sou a luz do mundo...”
(Jo 8.12). Portanto, nós somos a luz
do mundo por derivação, brilhamos com a luz de Cristo, como a Lua brilha com a
luz do Sol (Fp 2.15). Isso acontece
por meio das nossas “boas obras” ou “coisas boas que fazemos” (v. 16). Essas “boas obras” envolvem tudo o que fazemos por amor a Cristo e aos
nossos semelhantes, e também nossa
maneira de ser, agir e reagir. É a
luz de Cristo brilhando no mundo através de nós! A eficácia da luz está
condicionada à sua intensidade e posição. Jesus acrescentou: “Ninguém acende uma lamparina para colocá-la
debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é colocada no lugar próprio para que
ilumine a todos os que estão na casa” (vv.14-15
BLH). A luz de Cristo, que está em nós, não pode ser escondida dentro da
igreja. Ela é útil lá fora, no mundo, nas trevas.
Concluindo
– Responsabilidade
dupla
Nossa
responsabilidade é dupla: “O sal e a luz
têm coisas em comum: eles se dão e se gastam, e isto é o oposto do que acontece
com qualquer tipo de religiosidade egocentralizada” (P. Thielicke).
ð
O
mundo está apodrecendo! (cf. Rm 1). Como sal, os cristãos têm a responsabilidade de inibir ou
mesmo impedir a deterioração da família, da igreja e da sociedade. Têm que
expressar-se, indignar-se e protestar mais... (Ação negativa)
ð
O
mundo está nas trevas! Como luz, os cristãos têm a responsabilidade de mostrar, pela
pregação da Palavra de Deus e por suas obras, que tudo pode ser diferente e
melhor, e mostrar o Caminho. (Ação
positiva).
Perguntas para reflexão: 1) Quais são as funções do
sal e da luz, respectivamente? 2)
Qual é a função do cristão no mundo, como
sal e luz? 3) Por que é importante, hoje em dia, enfatizar
que Igreja e Mundo são comunidades totalmente diferentes? 4) A
que estão condicionadas a eficácia do sal, da luz e a do cristão, no mundo?
5) Você diria que tem sido sal da terra e luz do mundo?
Pr.
Walter Almeida Jr.
CBL
Limeira – 12/04/14
[1] Stott, John R. W.
Contracultura Cristã, A mensagem do Sermão do Monte, ABU Editora, 1981, p. 11.
[2] Oliveira, Profa. Odila
Braga de. O Sermão do Monte, Lição 1, Editora Cristã Evangélica, p.7-9.
[3] A
partir daqui, segue um resumo e adaptação livre do livro de John Stott, A
Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição, 1997. Pr.
Éber Lenz Cesar, para Escolas Dominicais, 2001.
domingo, 6 de abril de 2014
sábado, 5 de abril de 2014
Décimo Mandamento
No
estudo anterior, o do nono mandamento:
ð
Vimos que, no
nono mandamento, juntamente com o terceiro, somos lembrados de que as nossas
palavras têm consequências emocionais, sociais e espirituais. “O que dizemos pode preservar, defender,
condenar ou destruir uma pessoa. Mais ainda, pode dividir ou unir uma
comunidade.
ð
Vimos, também, as
proibições do nono mandamentos: a
mentira; juízos falsos e calunias; boatos falsos, fofocas e tagarelices; insultos, xingamento e maledicência; e falsidade e falsos profetas.
ð
E os deveres exigidos
pelo nono mandamento: amar e falar a
verdade; zelar pela boa reputação do próximo; e domínio próprio.
ð
Terminamos citando
o puritano Thomas Brooks (1608-1680) que disse o seguinte: “... nós conhecemos os metais pelo som que
produzem e os homens por aquilo que falam!”. Na verdade, as palavras que
saem da boca de um homem são uma expressão bem clara de quem ele é de fato.
Deus se preocupa muito com as palavras que proferimos por isso ele nos deu o
nono mandamento.
Nosso
estudo de hoje é sobre o décimo mandamento – Êxodo 20.17 – Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu
próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento,
nem coisa alguma que pertença ao teu próximo.
O
décimo mandamento trata da raiz dos demais pecados: a cobiça do coração. Por isso esse último mandamento do decálogo
focaliza o pecado da cobiça. O
mandamento nos constrange a questionar a origem de nossas motivações e ações.
(cf. Mt 7.21, 22)
Observando
os seis últimos mandamentos, percebemos que eles são interligados. Reflita
comigo: Por cobiça os homens desonram aos
pais, matam, adulteram, furtam e mentem. Cobiçar é muito mais que querer; é querer
sem freios, é querer caprichosamente – tudo à minha volta deve dobrar-se,
imediatamente, ao meu desejo; é ansiar desastrosamente – obterei isso, nem que
me destrua e a outros no processo.[1] (cf. Tg 1.13-16)
Portanto,
o décimo mandamento é voltado diretamente para o coração e a mente de cada ser
humano. Ao proibir a cobiça, o mandamento, não apenas define o que devemos
fazer, mas também como devemos pensar. Claramente, ele nos pede para olharmos
profundamente para dentro de nós mesmo e refletirmos no que vemos. Ele trata
especificamente dos pensamentos que ameaçam as relações e que podem
potencialmente prejudicar a nos mesmos e às pessoas ao nosso redor.[2] (cf. 1Tm 6.7-10)
A
cobiça é muito mais grave do que uma enfermidade social. Quando a ganância, a avareza,
a luxúria e o eu são colocados acima de Deus na vida de uma pessoa, a cobiça
passa a ser idolatria, segundo as Escrituras – Cl 3.5-11; Ef 5.5; Fp 2.3, 4; Tg 4.2.
Há
um ditado que diz: a grama do vizinho
sempre é mais verde. Infelizmente esta é a atitude de muitos crentes. Eles
olham para a vida sempre com a perspectiva que a vida do próximo é melhor que a
sua. Agindo assim eles demonstram ingratidão para com as dádivas de Deus e
cobiça para com as coisas do próximo. Esse tipo de atitude constitui em quebra
do décimo mandamento.
Martinho
Lutero afirmava que o décimo mandamento
pretende dar o último golpe naqueles que pensam estar de pé, depois dos nove
mandamentos precedentes.[3] Porque
ele cria que esse mandamento se opõe a toda e qualquer forma de legalismo.
Concluindo
O
cristão precisa orientar os seus desejos na direção certa. O Senhor Jesus instrui, no Sermão do Monte,
como fazer isso – Mt 6.19-34. Os
relacionamentos adequados e produtivos, a sabedoria e o entendimento espiritual
são exemplos dos tesouros duradouros que Deus quer que nós desejemos[4] – Pv 2.3-6; 8.11, 19-21.
O
Breve Catecismo de Westminster, nas perguntas 80 e 81, afirma:
O décimo
mandamento exige pleno contentamento com a nossa condição, bem como disposição
para com o nosso próximo e tudo o que lhe pertence; e proíbe todo
descontentamento com a nossa condição, todo movimento de inveja ou pesar à
vista da prosperidade do nosso próximo e todas as tendências ou afeições
desordenadas a alguma coisa que pertence a ele. (cf. Hb 13.5;
Fp 4.11; Rm 12.15)
O
Catecismo de Heidelberg, pergunta 113, O que o décimo mandamento exige de nós?
Que nem mesmo
a menor inclinação ou pensamento contra qualquer dos mandamentos de Deus nunca
surja no nosso coração, mas que sempre odiemos o pecado com todo o nosso
coração, e nos deleitemos em toda a justiça.
Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira 05/04/14
[1] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do
discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 26.
[2] Os Dez Mandamentos, Igreja de Deus Unida, EUA, 2012,
p. 64-66.
[3] Lição “Os Dez Mandamentos – Os Preceitos do Deus da
Aliança”, Editora Cultura Cristã, 1º Trimestre de 2014, Lição 12, p. 55.
[4] Os Dez Mandamentos, Igreja de Deus Unida, EUA, 2012,
p. 68.
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