Êxodo 20.1-21
A
Lei de Deus no Pentateuco é composta da Lei
Moral (Êx 20.1-17; Dt 5), da Lei
Cerimonial (Êx 20.22-26; Levíticos) e da Lei Civil (Êx 21.1-23.9). Não são três Leis, mas uma Lei em três
partes. É também chamada de Lei de Moisés, Lei de Deus, Decálogo, a Lei e os
Dez Mandamentos. “Para o nosso estudo focaremos apenas na Lei Moral, pois
entendemos a luz das Escrituras, que as Leis cerimonias se cumpriram em Cristo
e que as Leis civis tinha sua aplicabilidade destinada somente à nação
teocrática de Israel”[1].
Os
Dez Mandamentos registrados em Êxodo 20.1-17, “revelam um padrão divino de
perfeição espiritual e moral”[2]. A
Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XIX, Seção V, afirma: A lei moral obriga para sempre a todos a
prestar-lhe obediência, tanto as pessoas justificadas como as outras, e isto
não somente quanto à matéria nela contida, mas também pelo respeito à
autoridade de Deus, o Criador, que a deu. Cristo, no Evangelho, não desfaz de
modo algum esta obrigação, antes a confirma.
Segundo
Gaspar de Sousa, “é um axioma, isto é, uma premissa considerada necessariamente
evidente e verdadeira, que toda a moralidade é fundamentada na religião,
principalmente cristã. A moral é fundamentada num sistema teológico, pois
deriva de um Legislador Absoluto. Não sendo assim, tem-se a relativização da
moral, fazendo com que certo e errado sejam conceitos particulares, pessoais ou
de uma cultura em particular. Isto implica que a moral é necessária, pois senão
se instalará a desordem”[3].
Antes
de começarmos nosso estudo de cada mandamento do Decálogo, “precisamos entender
como o cristão deve se relacionar com a Lei e em que contexto os dez
mandamentos foram dados”[4].
Assim,
ao estudarmos os Dez Mandamentos, precisamos também, compreender os seus
propósitos para ter uma vida cristã equilibrada, pois dois erros sempre
ameaçaram a relação do cristão com a lei: o legalismo e o
antinomismo. No primeiro, há um apego a lei em detrimento da graça.
Esse erro permeou a “teologia” dos fariseus, os quais eram apegados às minúcias
das regras, acrescidas das tradições. Jesus condenou veementemente esse
comportamento (Mt 23). O segundo erro, o antinomismo, consiste em viver como se
não devêssemos obedecer a nenhuma lei. Tanto Pedro quanto Judas combateram o
antinomismo dos seus dias através das suas epístolas (Jd 4-19; 2Pe 2).[5]
Nós, cristãos de linha reformada, entendemos que a Lei é corretamente compreendida quando identificamos corretamente os seus propósitos, que podem ser classificados em três: apontar para Cristo, refrear o mal e ser instrumento de santificação.[6]
1º) Apontar para Cristo – A lei tem como principal função apontar para Cristo.
Ela exerce essa função ao apresentar para nós princípios morais perfeitos que o
homem, enquanto pecador, não consegue cumprir na sua totalidade, conduzindo
necessariamente a olharmos para Cristo como o cumpridor destes preceitos. Nesse
sentido, Cristo é o fim da Lei, pois ele cumpriu toda a Lei tornando-nos aptos
a entrar no céu mediante os méritos conquistado por Ele – Gl 3.24, 25; Rm 3.19, 20; 10.4.
2º) Refrear o mal – Este segundo uso da Lei, também chamado de “uso de
contenção”, consiste na atuação da Lei refreando o pecado no mundo e
promovendo a justiça. A Lei atua inspirando a formação de leis gerais que
valorizam a vida e puna o mal, além de influenciar internamente cada ser
humano, através da consciência (Rm 2.15), levando-o a valorizar o que é certo e
repudiar o erro. É importante ressaltar que a graça geral de Deus age no mundo
inclusive sobre o ímpio preservando este mundo, tornando um lugar habitável.
3º)
Ser instrumento de santificação
– O terceiro uso da Lei consiste em ser um instrumento de santificação,
pois uma vez que ela revela qual é a vontade de Deus para o homem, nada melhor
que, uma vez salvos, retornemos o nosso olhar para a Lei Moral com intuito de
compreender como Deus deseja que o seu povo viva. É importante frisar que somos
salvos pela graça e não pelo cumprimento da Lei – Ef 2.8-10; Rm 6.1, 2; Ef 5.8;
1Jo 3.4-6.[7]
Martinho
Lutero dizia que “qualquer pessoa que
conhece os Dez Mandamentos conhece perfeitamente as Escrituras”. Por eles
aprendemos quem é Deus, o que ele exige
de nós e, também, quem somos.[8]
Os
Dez Mandamentos foram dados por Deus ao povo de Israel em um momento crucial da
história da nação. Após mais de 400 anos vivendo como escravos no Egito, o povo
de Israel foi libertado por Deus através de uma série de intervenções
sobrenaturais – as dez pragas sobre o Egito e a abertura do Mar Vermelho. Este
fato é tão importante que Deus fez questão de ressaltar antes de promulgar os
dez mandamentos, a fim de ressaltar a autoridade de quem dava as leis – Êx 20.1.
Com
isso em mente, podemos fazer algumas considerações introdutórias aos Dez
Mandamentos no texto de Êxodo 20.1-17:
1. Que Deus é pessoal e libertador – v.2 – A
passagem apresenta um Deus pessoal e libertador. O Deus que nos livra deseja
interagir conosco de tal modo que o consideremos como nosso. Os Mandamentos têm
a ver com liberdade, felicidade e amor. A motivação divina por detrás de cada
mandamento é o amor.[9]
2. Sobre amor, dever, liberdade e
proibições – Nos Dez Mandamentos há
deveres para com Deus (vv.3-11) e para com os homens (vv.12-17). Isso nos
ensina que não podemos ser livres sem assumir responsabilidades e que não há
contradição entre amor e dever, pelo contrario, deveres são assumidos por quem
ama. Liberdade é a capacidade de dizer não ao mal e de obedecer de coração ao
Deus que nos ama. Sendo assim, não nos envergonhamos de falar que não fazemos
certas coisas porque o Senhor não permite. Ao dizermos não àquilo que é errado,
dizemos sim a Deus.[10] (Jo
8.34; Sl 1.1)
3. Sobre verdade absoluta e vida
organizada – Os Mandamentos
demonstram que há coisas que agradam a Deus e nos fazem livres e outras que o
desagradam e nos tornam cada vez mais escravizados. Isso indica que existe o
certo e o errado, o verdadeiro e o falso. E, o modo com o os Dez Mandamentos
são estruturados nos ajudam a organizar nossa vida em torno daquilo que é
verdadeiramente importante: Deus é o próximo. A felicidade consiste em
alinhar-se à verdade tal qual é descrita por Deus.[11] (Sl
19.9; Mt 22.34-40; Mc 12.28-31)
4. Sobre pilares permanentes – Por expressarem a moralidade de Deus, os Mandamentos
têm valor permanente. Eles são pilares existências válidos para os crentes de
todos os tempos.[12]
(Mt 5.18)
Concluindo – Vimos hoje que:
ð
O cristão precisa
se relacionar de modo correto com a Lei de Deus, sem cair nos extremos do
legalismo ou do antinomismo;
ð
O cristão precisa
entender quais as funções da Lei, que consiste em apontar para Cristo, refrear
o mal no mundo e ser instrumento de santificação;
ð
O cristão observa
a Lei não para ser salvo, mas porque ele já foi salvo e, portanto, é dever dele
buscar conhecer cada vez mais como viver de modo a agradar a Deus;
ð
Os Dez
Mandamentos tem deveres para com Deus e para com os homens;
ð
A felicidade
consiste em alinhar-se à verdade tal qual é descrita por Deus; e
ð
Os Dez
Mandamentos são pilares existenciais, válidos
para nós hoje.
Será
que em nossa profissão de fé diante da Igreja e em nosso testemunho de vida
diariamente estamos resolvidos a seguir os preceitos da Lei de Deus, deixando
de fazer o que Ele nos proíbe em sua Palavra, e fazendo toda a sua vontade
auxiliados por sua graça?
Pr. Walter Almeida Jr.
CBL Limeira – 19/01/14
[1] Dias, Thiago de S. Uma análise introdutória dos dez
mandamentos como referencias de santidade, p. 1.
[2] Nascimento, Misael Batista do. Os primeiros passos do
discípulo, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 9.
[3]
http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=208.
[4] Dias, p. 1.
[5] Ibid., p. 2.
[6] Ibid., p. 2.
[7] Ibid., p. 3.
[8] Nascimento, p. 9.
[9] Ibid., p. 10.
[10] Ibid., p. 10.
[11] Ibid., p. 10.
[12] Ibid., p. 11.
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