1 João 1.1-4
No
estudo anterior nós vimos que:
ð As Cartas do Novo Testamento – sua
Classificação e Propósito. Sua finalidade era a de dirigir, aconselhar e
instruir nos seus primeiros desenvolvimentos as igrejas recém-formadas ou para
ajudar os responsáveis por pastoreá-las e administrá-las. E que 1 João está em
as Cartas Universais (Gerais).
ð A Autoria e Data – As evidências
externas e internas da autoria joanina. E que 90 d.C., parece ser a data mais
provável da composição da carta 1 João.
ð O Propósito e Estrutura – As quatro
razões por que João escreveu esta carta: 1) 1 João 1.4 – para que a alegria
fosse completa; 2) 1 João 2.1 – para guardá-los do pecado; 3) 1 João 2.26 –
para adverti-los acerca dos falsos mestres; 4) 1 João 5.13 – para fortalecer a
fé e dar certeza da vida eterna.
Antes
de entrarmos no estudo do texto sagrado, mais um breve comentário sobre o
cenário teológico da época de João, segundo Hernandes Dias Lopes:
Como
temos visto, João escreveu 1Jo para, entre outras coisas, “defender a fé e fortalecer as igrejas contra os falsos mestres e sua
herética doutrina. Esses falsos mestres haviam saído de dentro da própria
igreja (2.19). Eles se desviaram dos
preceitos doutrinários. João identificou o surgimento de uma perigosa heresia
que atacaria implacavelmente a igreja no segundo século, a heresia do
gnosticismo. O gnosticismo era uma espécie de filosofia religiosa que tentava
fazer um concubinato entre a fé cristã e a filosofia grega. Os gnósticos,
influenciados pelo dualismo grego, acreditavam que a matéria era essencialmente
má e o espírito essencialmente bom. Esse engano filosófico desembocou em grave
erro doutrinário. Os gnósticos diziam que o corpo, sendo matéria, não podia ser
bom. Por conseguinte, negavam a encarnação de Cristo. Essa posição resultou em
duas diferentes atitudes em relação ao corpo: ascetismo ou libertinagem. De igual forma, a imoralidade desbragada
e a perversão moral que assolam a sociedade contemporânea também são produtos
dessa perversa filosofia.
O
gnosticismo é termo amplo e abrange vários sistemas pagãos, judaicos e
semicristãos. Na origem era pagão, combinando elemento do “intelectualismo
ocidental e do misticismo oriental”. O gnosticismo é totalmente sincrético em
seu gênio, uma espécie de guisado misto teosófico. Ele não hesitou em grudar-se
primeiro ao judaísmo e depois ao cristianismo, e em corromper a ambos na mesma
ordem. As principais crenças do
gnosticismo são: a impureza da matéria
e a supremacia do conhecimento. Com isso, a filosofia gnóstica produziu uma
aristocracia espiritual por um lado e uma acentuada imoralidade por outro. O
gnosticismo ensinava que a salvação podia ser obtida por intermédio do
conhecimento, em vez da fé. Esse conhecimento era esotérico e somente poderia
ser adquirido por aqueles que tinham sido iniciados nos mistérios do sistema
gnóstico.
A
heresia gnóstica atingiu verdades essenciais do cristianismo. A
primeira delas foi a doutrina da Criação. Os gnósticos estavam errados
quando afirmavam que a matéria era essencialmente má. Deus criou o mundo e deu
uma nota: “Muito bom” (Gn 1.31). A
segunda verdade que foi afetada pela heresia gnóstica foi a doutrina da
Encarnação. Para
os gnósticos, era impossível que Deus houvesse assumido um corpo físico,
material. Essa heresia em sua forma mais radical é chamada de Docetismo. O
verbo grego dokein significa “parecer”
e os docetistas pensavam que Jesus só parecia ter um corpo. Afirmavam que seu
corpo era um fantasma sem substância; insistiam em que nunca havia tido carne e
um corpo humano, físico, senão que era um ser puramente espiritual, que não
tinha senão aparência de ter um corpo.
Dentro
do Docetismo surgiu uma variante ainda mais sutil e perigosa, liderada por Cerinto,
contemporâneo e inimigo do apóstolo João. Ele fazia uma distinção entre Jesus e
Cristo; entre o Jesus humano e o Cristo divino. Dizia que Jesus era um homem
nascido de uma maneira totalmente natural, que viveu uma vida de particular
obediência a Deus e que depois no seu batismo, o Cristo, que era uma emanação
divina desceu sobre ele em forma de pomba, capacitando-o a trazer aos homens as
novas do Pai, até então desconhecidas. Mas esse Cristo divino deixou o Jesus
humano na cruz, e foi embora, antes de sua morte na cruz. De acordo com essa
heresia de Cerinto Jesus morreu, mas Cristo não morreu. Para ele, o Cristo
celestial era muito santo para estar em contato permanente com o corpo físico.
Dessa maneira, ele negava a doutrina da Encarnação, que Jesus é o Cristo, e que
Jesus Cristo é tanto Deus como homem.
Russell
Champlin diz que essa heresia foi tão devastadora que oito livros do Novo
Testamento foram escritos para combatê-la: Cl, 1 e 2Tm, Tt, 1, 2, 3Jo e Judas.”[1]
“Os
tempos mudaram, mas o homem é o mesmo; as heresias que atacaram a igreja no
passado mudaram o vestuário e os cosméticos, mas sua essência é a mesma. Nas
palavras de Augustus Nicodemus, “os mesmos erros daquela época se manifestam hoje, usando outra embalagem”. Assim como os falsos mestres saíram
de dentro da igreja (2.19), hoje há
muitos falsos mestres que estão pervertendo o evangelho dentro das próprias
igrejas.
Dentre
tantos perigos que atacam a igreja contemporânea, destacamos três: o liberalismo, o misticismo e o pragmatismo.
O liberalismo teológico, que nega a
inerrância e a suficiência das Escrituras, tem atacado severamente a igreja em
nossos dias, devastando muitas delas. A semelhança dos gnósticos, movidos por
uma falsa sabedoria, esses mestres do engano disseminam suas heresias negando
as verdades essenciais da fé. Temos as doutrinas liberais da paternidade
universal de Deus e da irmandade universal do homem como exemplos.
O misticismo sincrético, que acrescenta às Escrituras rituais
e práticas estranhas, de igual forma está ganhando mais e mais espaço, força e
influência em muitas igrejas na atualidade. O evangelho da graça está sendo
substituído pelo misticismo semipagão.
O pragmatismo tornou-se filosofia de ministério em
muitas igrejas. John MacArthur diz que o pragmatismo tem suas raízes no
darwinismo e no humanismo secular. E inerentemente relativista, rejeitando a
noção dos absolutos — certo e errado, bem e mal, verdade e erro. Em última
análise, o pragmatismo define a verdade como aquilo que é útil, significativo e
benéfico. As ideias que não parecem úteis ou relevantes são rejeitadas como sendo falsas. Para o pragmatismo, a verdade não
mais importa, e sim os resultados. A fidelidade foi substituída pelo lucro. O
sucesso tomou o lugar da santidade. A igreja tornou-se um clube, onde pessoas
se aglomeram para buscar o que gostam, e não para receber o que precisam. A
mensagem da cruz foi substituída pela pregação da prosperidade. A mensagem do
arrependimento foi trocada pelo calmante da autoajuda. As glórias do mundo
porvir foram substituídas pelos supostos direitos que o homem exige de Deus
nesta própria vida. Por estas e muitas outras razões, estudar a Primeira Carta
de João é uma necessidade vital para a igreja contemporânea!”[2]
Lendo
com mais atenção à carta, podemos observar que suas palavras chaves são: comunhão,
saber, vida e amor. Pensando nestas quatro palavras podemos estudar 1
João do ponto de vista da “Comunhão que Deus Preparou para o seu Povo”.
Por
isso, o nosso tema da Introdução de 1Jo
é: Onde
começa a nossa comunhão – 1.1-4:
1º) Nossa comunhão começa com Deus; 2º) Nossa comunhão com Deus leva a comunhão com os irmãos na
igreja; e 3º) Essa comunhão tridimensional nos leva a plena alegria.
I. Nossa comunhão começa
com Deus
1. v.1a – O que era
desde o princípio...
Estas
primeiras palavras da carta mostram a sua íntima relação com o Evangelho de
João em suas primeiras palavras – João
1.1a – No princípio era o verbo... Estes dois inícios de prólogos estão
também de acordo com o primeiro versículo da Bíblia – Gênesis 1.1a – No princípio criou...
Prólogo – era o prefácio usado pelos
escritores sacros em forma de poesia no Século I. No caso de João, o seu estilo
era a poesia semítica em que se faz uso frequente de artifícios rítmicos,
porque geralmente o prólogo das cartas eram usadas como hinos no culto cristão
primitivo.
O
termo princípio tanto em Gênesis como no Evangelho e Carta refere-se
ao ponto inicial da criação, mas o Criador (com a Palavra) já existia quando a
criação veio a existir. João não disse que a Palavra (Verbo) da vida veio a
existir, mas que já existia quando a sucessão da vida criada começou.
O
princípio aqui afirma a eternidade e intemporalidade da Palavra (Verbo). Ele
também sugere o começo da história do Evangelho – Marcos 1.1 – Princípio do evangelho
de Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Em
vez de dizer: Jesus Cristo, aquele que era desde princípio, João escreve “o que era desde o princípio”. O termo o que é mais amplo do que quem, pois inclui a pessoa e a mensagem
de Jesus Cristo. A palavra grega arche, “princípio”, pode significar
“fonte ou origem” (cf. Cl 1.18; Ap 3.14) e também “poder ou autoridade” (cf.
1Co 15.24; Ef 1.21). Jesus é tanto o criador do universo (cf. Jo 1.3; Cl 1.16)
como seu governador (cf. Ef 1.20-22).[3]
O
propósito de João é apresentar Jesus, e ele recua ao princípio e diz que Jesus
não apenas estava no princípio, mas era desde o princípio. Ele não começou a
existir no princípio. Ele é antes do princípio. Ele é o princípio de todas as
coisas. Ele não foi criado, é o Criador. Ele não teve origem, ele é a origem de
todas as coisas. Ele não passou a existir, ele é preexistente. O Filho Eterno
era antes de sua manifestação histórica. Ele nunca passou a existir, porque ele
sempre existiu em comunhão perfeita com o Pai, na harmonia do amor da trindade
divina (cf. 1Jo 5.7; Jo 17.24).[4]
2. v.1b – ... o que
ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas
mãos tocaram da Palavra da vida. A eterna Palavra (Verbo) da vida assumiu forma física,
que pode ser vista, contemplada e tocada. Essa é a afirmação categórica de
João.
A
ênfase desta frase está na experiência pessoal de João com a Palavra da vida.
Ele diz: nossas mãos tocaram – a palavra tocaram é a tradução de
um verbo grego que enfatiza contato físico. A mesma palavra é usada em Lucas 24.37-39 para expressar o apelo
de Jesus, ressuscitado, aos seus discípulos: E eles, espantados e
atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes
disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos
vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou
eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como
vedes que eu tenho.
3. v.1c – ... da Palavra
da vida. Aqui, João identifica o conteúdo da mensagem
do evangelho pregada por ele e pelos primeiros discípulos, com a experiência de
terem sido testemunhas oculares da encarnação da Palavra da vida (cf. At 4.20 – Porque não podemos deixar de
falar do que temos visto e ouvido.)
O termo Palavra, usado por João, é a tradução da palavra grega logos,
que era uma das palavras mais ricas da história religiosa da época de João.
Quando João usou esta palavra, ela era vista sob três perspectivas pela comunidade do primeiro século:
1ª) Perspectiva judaica – Logos era visto como a Palavra do
Senhor Soberano que chama a ordem criada à vida – Gn 1; Sl 33.6, 9. A “Palavra do Senhor” era também uma revelação de
sua vontade e equivalente a instrução da Lei – Salmo 119.
2) Perspectiva
grego/romana – Logos
era visto mais como um conceito filosófico do que como uma força pessoal. Mais
num sentido de pensamento do que de palavra.
3) Perspectiva cristã – Logos era o conteúdo da mensagem do
ministério da palavra. O conteúdo desta mensagem, logos, era o Cristo encarnado ou o evento completo de sua vida – 1Co 15.3, 4 – Porque
primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos
pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou
ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
A
partir destas três perspectivas, a Palavra pode ser vista como o poder
divino, como o princípio racional e como a proclamação redentora.
A
convicção central, proclamada por João, é que a Palavra como poder, princípio e
proclamação encontrará plenitude definitiva na Palavra como pessoa. Como logos, ele (Jesus) é desde a eternidade
o poder de Deus, a sabedoria de Deus e o evangelho de Deus – 1Co 1.23, 24.
Portanto,
quando o termo logos é usado referindo-se a Jesus como o logos de Deus,
está fazendo alusão à palavra criadora de
Deus – Gn 1.1-26; Sl 33.6, 9; à sua Palavra reveladora – Sl 33.4; 119.89; à sua Palavra salvadora – Sl
107.20; e à sabedoria divina – Pv 8.22-31 (cf. Jo 8.58 e 17.5).
4. v.2 – Porque
a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a
vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada.
Porque a vida foi manifestada – é uma declaração concisa mas que
abrange toda a vida de Jesus Cristo – preexistência, nascimento, vida e missão.
O propósito desta manifestação foi duplo: 1º)
possibilitar ao homem contemplar a Deus
– Jesus é a expressão exata do seu ser – Hb
1.3; e 2º) ajudar o homem a compreender a verdade acerca da vida eterna – Jo 17.3.
“A
encarnação do verbo (palavra) da Vida significa que o homem não somente viu uma
pessoa, mas recebeu uma mensagem do Pai através dessa pessoa. A comunicação não
é limitada a palavras, especialmente nas relações humanas. Uma pessoa faz-se
conhecida através de seus pensamentos, palavras e ações. Jesus foi a palavra de
comunicação de Deus e manifestou o Pai através do que falou, fez, desejou e
sentiu”.
Colossenses 1.15-20, esclarece tudo o que já foi dito até
agora.
... que estava com o Pai, e nos foi
manifestada – aqui e
em Jo 1.1, o autor está se referindo
à preexistência de Jesus Cristo como o verbo (palavra) (logos).
5. v.3a – O que
vimos e ouvimos, isso vos anunciamos... – João aqui repete pela terceira vez vimos e ouvimos para enfatizar a sua experiência pessoal com Jesus
e para deixar claro que para ele os dias com Jesus haviam sido tão reais como se
tivessem sido ontem.
João
esta afirmando isso com tanta veemência por que seu objetivo não era apenas
comunicar o que viu, ouviu e tocou, mas para que seus leitores tivessem a mesma
experiência. Que ele chama de comunhão –
koinonia.
6. v.3b – ... para
que também tenhais comunhão conosco...
– esta afirmativa tem como objetivo a encarnação como única base da comunhão
cristã. Sobre a comunhão (koinonia) cristã vamos tratar mais adiante.
7. v.3c – ... e a
nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. João
quer deixar claro que antes de termos comunhão verdadeira uns com os outros
precisamos ter comunhão com Deus.
A
palavra koinonia vem da junção de duas outras palavras: O adjetivo grego koinos
que significa comum, pertencente a várias
pessoas; e do verbo grego koinoneo
que significa tornar-se participante,
fazer-se sócio ou entrar em sociedade.
Koinonia foi aplicada pela primeira vez no
Novo Testamento à comunidade dos discípulos de Jesus que veio a existência no
Pentecostes e em Atos 2.41-47. O
termo não só era empregado à comunidade cristã, mas à sua experiência pessoal
com Jesus Cristo, que resultava na pratica do amor cristão.
João
esclarece aqui, de uma vez por todas, que não pode haver comunhão cristã sem
antes a comunhão divina. A comunhão com Deus através da vida, morte e
ressurreição de Jesus Cristo é a base sólida do amor e da experiência da
comunidade dos remidos.
Por
isso Paulo afirma aos Romanos que tendo
sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus
Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos
firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus (Rm
5.1, 2).
Portanto,
nossa comunhão começa com Deus, porque: 1)
Ouvimos a mensagem do logos de
Deus – 1Jo 1.1-3; Rm 10.17; 2) Somos
convencidos pelo Espírito Santo da nossa necessidade de perdão e salvação –
Jo 16.8-11; 3) Confessamos Jesus (Logos)
e cremos em Deus – Rm 10.8-10.
Ter comunhão com Deus é
diferente de ter a vida de Deus:
1º) A vida de Cristo em nós é um fato independe de qualquer esforço nosso é produzida pelo Espírito Santo
– cf. 2Co 5.17; Cl 1.27; 3.4; Rm 8.9-11;
Jo 1.13; 3.6; e 2º) A comunhão é
liberada por Deus e mantida com diligência e esforço – 1Co 9.23-27. A vida é fruto do novo nascimento, a
comunhão, do relacionamento.
8. João queria também levar seus
leitores a continuarem tendo comunhão com Deus, quando disse nossa comunhão e com o Pai. Mas essa
comunhão (koinonia) com o Pai só é considerada verdadeira se leva o cristão a
ter comunhão (koinonia) com os outros cristãos. Que juntos formam a comunidade,
a Igreja, a koinonia.
II. Nossa comunhão com Deus leva a comunhão com
or irmãos na igreja
1. v.3 – O que
vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco.
De
acordo o termo grego Koinonia, a
comunhão que João esperava que os irmãos tivessem era: Ter as coisas em comum; sentir o que o outro sente; estar junto e
participar; estar comprometido com alguém. Koinonia para João significava
compartilhar.
2.
O que Deus espera que eu faça para manter a comunhão com meus irmãos: 1º) integrar-se
ao corpo – Rm 12.4-5; 2º) aprender
a compartilhar – Gl 6.2; 3º) aprender a amar corretamente uns
aos outros – Gl 5.14;
Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns
aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
João
13.34-35
III. Essa comunhão
tridimensional nos leva a plena alegria
1. v.4 – Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso
gozo se cumpra.
Neste texto é definido um dos objetivos de João ao escrever 1Jo – para que o vosso gozo se cumpra.
O que faria a alegria de
João, de seus leitores e nossa completa? Nossa comunhão com
Deus, o Pai, e seu Filho Jesus Cristo. Nossa comunhão com a Igreja
(cristãos-irmãos-comunidade remida).
A
comunhão com o Senhor e comunhão com os irmãos constituem a base do nosso gozo
mais elevado. E nosso gozo é cumprido por meio da comunhão contínua. A alegria
é um apanágio do cristianismo. O evangelho é boa nova de grande alegria. O
reino de Deus que está dentro de nós é alegria no Espírito Santo. O fruto do
Espírito é alegria, e a ordem de Deus é: Alegrai-vos
(Fp 4.4). Na verdade, a alegria é
uma das principais marcas da vida cristã. O nosso problema não é a busca da
alegria, mas contentar-nos com uma alegria pequena demais, terrena demais. Deus
nos salvou para a maior de todas as alegrias, a alegria de glorificá-lo e
desfrutá-lo para sempre. No céu Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima. Lá
não haverá pranto, nem luto nem dor. A alegria não é um sentimento que nós
mesmos produzimos, mas um subproduto de um relacionamento com Cristo. Só na
presença de Deus há plenitude de alegria (SI
16.11). Essa alegria é divina, ela vem do céu. Esta alegria é imperativa,
ultracircunstancial e cristocêntrica, ela reina mesmo no vale da dor. Essa
alegria é indestrutível, o mundo não pode dá-la nem a tirar. O pecado promete
alegria e produz sofrimento. Os prazeres do pecado são transitórios e
passageiros — duram apenas algum tempo (Hb
11.25), mas a alegria de Deus é eterna — dura para sempre. Jesus disse: “E
a vossa alegria ninguém poderá tirar” (Jo
16.22). A ideia de plenitude de alegria não é incomum nos escritos de João
(Jo 3.29; 15.11; 16.24; 17.13; 1Jo 1.4; 2Jo 12).[5]
A
perfeita alegria não é possível neste mundo de pecado, porque a perfeita
comunhão com Deus não é possível. Assim, deve-se entender que o v.4 olha também para além desta vida,
para a vida do céu. Então a comunhão consumada produzirá alegria completa. E
para esse fim último que aquele que era desde o princípio se manifestou no
tempo, e que o que os apóstolos ouviram, viram e apalparam, nos proclamaram. A
substância da proclamação apostólica era a manifestação histórica do Eterno;
seu propósito era e é uma comunhão uns com os outros, a qual se baseia na
comunhão com o Pai e o Filho e irrompe na plenitude da alegria.[6]
O
tipo de alegria que João está falando é do tipo abundante, igual à vida que
Jesus nos deu quando o recebemos como Senhor e Salvador de nossas almas. É um
tipo de alegria teimosa, aparentemente arrogante, não científica, baseada na fé
a não na instabilidade das circunstâncias de tempo e lugar, comprometida mais
com a saúde da alma do que com o bem-estar físico.
Este
tipo resistente e durável de alegria pode ser visto na oração do profeta
Habacuque 3.17-19: Porque
ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione
o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as
ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu
me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a
minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as
minhas alturas. (Para o cantor-mor sobre os meus
instrumentos de corda).
2. A Bíblia fala da intensidade e
qualidade desta alegria:
a)
Grande alegria –
Lc 24.52; At 8.8; Fm 7.
b)
Alegria completa –
Jo 16.24; 1Jo 1.4; 2Jo v.12.
c)
Abundância de alegria –
2Co 8.2.
d)
Alegria transbordante –
Mt 13.44.
e)
Plenitude de alegria –
Sl 16.11;
f)
Alegria indizível (inefável) – 1Pe 1.8.
g)
Alegria eterna –
Is 35.10.
h)
Perpetua alegria –
Is 51.11.
i)
Alegria em extremo –
Jn 4.6.
j)
Gritos de alegria –
Sl 42.4.
k)
Vozes de alegria –
Ne 12.43.
l)
Banquete continuo –
Pv 15.15.
m)
Ninguém pode tirar a alegria de quem
segue a Jesus – Jo 16.22.
Concluindo
ð Você já tem comunhão (koinonia) com
Deus, através de Jesus Cristo (Logos)?
ð Você já tem comunhão com os outros
irmãos da Igreja?
ð E a sua alegria, de que tipo é?
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