quarta-feira, 22 de março de 2017

Estudo da Primeira Carta de João – 1Jo (1) - Onde começa a nossa comunhão

1 João 1.1-4

No estudo anterior nós vimos que:

ð As Cartas do Novo Testamento – sua Classificação e Propósito. Sua finalidade era a de dirigir, aconselhar e instruir nos seus primeiros desenvolvimentos as igrejas recém-formadas ou para ajudar os responsáveis por pastoreá-las e administrá-las. E que 1 João está em as Cartas Universais (Gerais).
ð A Autoria e Data – As evidências externas e internas da autoria joanina. E que 90 d.C., parece ser a data mais provável da composição da carta 1 João.
ð O Propósito e Estrutura – As quatro razões por que João escreveu esta carta: 1) 1 João 1.4 – para que a alegria fosse completa; 2) 1 João 2.1 – para guardá-los do pecado; 3) 1 João 2.26 – para adverti-los acerca dos falsos mestres; 4) 1 João 5.13 – para fortalecer a fé e dar certeza da vida eterna.

Antes de entrarmos no estudo do texto sagrado, mais um breve comentário sobre o cenário teológico da época de João, segundo Hernandes Dias Lopes:

Como temos visto, João escreveu 1Jo para, entre outras coisas, “defender a fé e fortalecer as igrejas contra os falsos mestres e sua herética doutrina. Esses falsos mestres haviam saído de dentro da própria igreja (2.19). Eles se desviaram dos preceitos doutrinários. João identificou o surgimento de uma perigosa heresia que atacaria implacavelmente a igreja no segundo século, a heresia do gnosticismo. O gnosticismo era uma espécie de filosofia religiosa que tentava fazer um concubinato entre a fé cristã e a filosofia grega. Os gnósticos, influenciados pelo dualismo grego, acreditavam que a matéria era essencialmente má e o espírito essencialmente bom. Esse engano filosófico desembocou em grave erro doutrinário. Os gnósticos diziam que o corpo, sendo matéria, não podia ser bom. Por conseguinte, negavam a encarnação de Cristo. Essa posição resultou em duas diferentes atitudes em relação ao corpo: ascetismo ou libertinagem. De igual forma, a imoralidade desbragada e a perversão moral que assolam a sociedade contemporânea também são produtos dessa perversa filosofia.

O gnosticismo é termo amplo e abrange vários sistemas pagãos, judaicos e semicristãos. Na origem era pagão, combinando elemento do “intelectualismo ocidental e do misticismo oriental”. O gnosticismo é totalmente sincrético em seu gênio, uma espécie de guisado misto teosófico. Ele não hesitou em grudar-se primeiro ao judaísmo e depois ao cristianismo, e em corromper a ambos na mesma ordem. As principais crenças do gnosticismo são: a impureza da matéria e a supremacia do conhecimento. Com isso, a filosofia gnóstica produziu uma aristocracia espiritual por um lado e uma acentuada imoralidade por outro. O gnosticismo ensinava que a salvação podia ser obtida por intermédio do conhecimento, em vez da fé. Esse conhecimento era esotérico e somente poderia ser adquirido por aqueles que tinham sido iniciados nos mistérios do sistema gnóstico.

A heresia gnóstica atingiu verdades essenciais do cristianismo. A primeira delas foi a doutrina da Criação. Os gnósticos estavam errados quando afirmavam que a maté­ria era essencialmente má. Deus criou o mundo e deu uma nota: “Muito bom” (Gn 1.31). A segunda verdade que foi afetada pela heresia gnóstica foi a doutrina da Encarnação. Para os gnósticos, era impossível que Deus houvesse assumido um corpo físico, material. Essa heresia em sua forma mais radical é chamada de Docetismo. O verbo grego dokein significa “parecer” e os docetistas pensavam que Jesus só parecia ter um corpo. Afirmavam que seu corpo era um fantasma sem substância; insistiam em que nunca havia tido carne e um corpo humano, físico, senão que era um ser puramente espiritual, que não tinha senão aparência de ter um corpo.

Dentro do Docetismo surgiu uma variante ainda mais sutil e perigosa, liderada por Cerinto, contemporâneo e inimigo do apóstolo João. Ele fazia uma distinção entre Jesus e Cristo; entre o Jesus humano e o Cristo divino. Dizia que Jesus era um homem nascido de uma maneira totalmente natural, que viveu uma vida de particular obediência a Deus e que depois no seu batismo, o Cristo, que era uma emanação divina desceu sobre ele em forma de pomba, capacitando-o a trazer aos homens as novas do Pai, até então desconhecidas. Mas esse Cristo divino deixou o Jesus humano na cruz, e foi embora, antes de sua morte na cruz. De acordo com essa heresia de Cerinto Jesus morreu, mas Cristo não morreu. Para ele, o Cristo celestial era muito santo para estar em contato permanente com o corpo físico. Dessa maneira, ele negava a doutrina da Encarnação, que Jesus é o Cristo, e que Jesus Cristo é tanto Deus como homem.

Russell Champlin diz que essa heresia foi tão devastadora que oito livros do Novo Testamento foram escritos para combatê-la: Cl, 1 e 2Tm, Tt, 1, 2, 3Jo e Judas.”[1]

“Os tempos mudaram, mas o homem é o mesmo; as heresias que atacaram a igreja no passado mudaram o vestuário e os cosméticos, mas sua essência é a mesma. Nas palavras de Augustus Nicodemus, “os mesmos erros daquela época se manifestam hoje, usando outra embalagem”. Assim como os falsos mestres saíram de dentro da igreja (2.19), hoje há muitos falsos mestres que estão pervertendo o evangelho dentro das próprias igrejas.

Dentre tantos perigos que atacam a igreja contemporânea, destacamos três: o liberalismo, o misticismo e o pragmatismo. O liberalismo teológico, que nega a inerrância e a suficiência das Escrituras, tem atacado severamente a igreja em nossos dias, devastando muitas delas. A semelhança dos gnósticos, movidos por uma falsa sabedoria, esses mestres do engano disseminam suas heresias negando as verdades essenciais da fé. Temos as doutrinas liberais da paternidade universal de Deus e da irmandade universal do homem como exemplos.

O misticismo sincrético, que acrescenta às Escrituras rituais e práticas estranhas, de igual forma está ganhando mais e mais espaço, força e influência em muitas igrejas na atualidade. O evangelho da graça está sendo substituído pelo misticismo semipagão.

O pragmatismo tornou-se filosofia de ministério em muitas igrejas. John MacArthur diz que o pragmatismo tem suas raízes no darwinismo e no humanismo secular. E inerentemente relativista, rejeitando a noção dos absolutos — certo e errado, bem e mal, verdade e erro. Em última análise, o pragmatismo define a verdade como aquilo que é útil, significativo e benéfico. As ideias que não parecem úteis ou relevantes são rejeitadas como sendo falsas. Para o pragmatismo, a verdade não mais importa, e sim os resultados. A fidelidade foi substituída pelo lucro. O sucesso tomou o lugar da santidade. A igreja tornou-se um clube, onde pessoas se aglomeram para buscar o que gostam, e não para receber o que precisam. A mensagem da cruz foi substituída pela pregação da prosperidade. A mensagem do arrependimento foi trocada pelo calmante da autoajuda. As glórias do mundo porvir foram substituídas pelos supostos direitos que o homem exige de Deus nesta própria vida. Por estas e muitas outras razões, estudar a Primeira Carta de João é uma necessidade vital para a igreja contemporânea!”[2]

Lendo com mais atenção à carta, podemos observar que suas palavras chaves são: comunhão, saber, vida e amor. Pensando nestas quatro palavras podemos estudar 1 João do ponto de vista da “Comunhão que Deus Preparou para o seu Povo”.

Por isso, o nosso tema da Introdução de 1Jo é: Onde começa a nossa comunhão1.1-4: 1º) Nossa comunhão começa com Deus; 2º) Nossa comunhão com Deus leva a comunhão com os irmãos na igreja; e 3º) Essa comunhão tridimensional nos leva a plena alegria.

I. Nossa comunhão começa com Deus

1. v.1a – O que era desde o princípio...

Estas primeiras palavras da carta mostram a sua íntima relação com o Evangelho de João em suas primeiras palavras – João 1.1a – No princípio era o verbo... Estes dois inícios de prólogos estão também de acordo com o primeiro versículo da Bíblia – Gênesis 1.1a – No princípio criou...

Prólogo – era o prefácio usado pelos escritores sacros em forma de poesia no Século I. No caso de João, o seu estilo era a poesia semítica em que se faz uso frequente de artifícios rítmicos, porque geralmente o prólogo das cartas eram usadas como hinos no culto cristão primitivo.

O termo princípio tanto em Gênesis como no Evangelho e Carta refere-se ao ponto inicial da criação, mas o Criador (com a Palavra) já existia quando a criação veio a existir. João não disse que a Palavra (Verbo) da vida veio a existir, mas que já existia quando a sucessão da vida criada começou.
O princípio aqui afirma a eternidade e intemporalidade da Palavra (Verbo). Ele também sugere o começo da história do Evangelho – Marcos 1.1Princípio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus.

Em vez de dizer: Jesus Cristo, aquele que era desde princípio, João escreve “o que era desde o princípio”. O termo o que é mais amplo do que quem, pois inclui a pessoa e a mensagem de Jesus Cristo. A palavra grega arche, “princípio”, pode significar “fonte ou origem” (cf. Cl 1.18; Ap 3.14) e também “poder ou autoridade” (cf. 1Co 15.24; Ef 1.21). Jesus é tanto o criador do universo (cf. Jo 1.3; Cl 1.16) como seu governador (cf. Ef 1.20-22).[3]

O propósito de João é apresentar Jesus, e ele recua ao princípio e diz que Jesus não apenas estava no princípio, mas era desde o princípio. Ele não começou a existir no princípio. Ele é antes do princípio. Ele é o princípio de todas as coisas. Ele não foi criado, é o Criador. Ele não teve origem, ele é a origem de todas as coisas. Ele não passou a existir, ele é preexistente. O Filho Eterno era antes de sua manifestação histórica. Ele nunca passou a existir, porque ele sempre existiu em comunhão perfeita com o Pai, na harmonia do amor da trindade divina (cf. 1Jo 5.7; Jo 17.24).[4]

2. v.1b – ... o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida. A eterna Palavra (Verbo) da vida assumiu forma física, que pode ser vista, contemplada e tocada. Essa é a afirmação categórica de João.

A ênfase desta frase está na experiência pessoal de João com a Palavra da vida. Ele diz: nossas mãos tocaram – a palavra tocaram é a tradução de um verbo grego que enfatiza contato físico. A mesma palavra é usada em Lucas 24.37-39 para expressar o apelo de Jesus, ressuscitado, aos seus discípulos: E eles, espantados e atemorizados, pensavam que viam algum espírito. E ele lhes disse: Por que estais perturbados, e por que sobem tais pensamentos aos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.

3. v.1c – ... da Palavra da vida. Aqui, João identifica o conteúdo da mensagem do evangelho pregada por ele e pelos primeiros discípulos, com a experiência de terem sido testemunhas oculares da encarnação da Palavra da vida (cf. At 4.20Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido.)

O termo Palavra, usado por João, é a tradução da palavra grega logos, que era uma das palavras mais ricas da história religiosa da época de João. Quando João usou esta palavra, ela era vista sob três perspectivas pela comunidade do primeiro século:

1ª) Perspectiva judaica – Logos era visto como a Palavra do Senhor Soberano que chama a ordem criada à vida – Gn 1; Sl 33.6, 9. A “Palavra do Senhor” era também uma revelação de sua vontade e equivalente a instrução da Lei – Salmo 119.

2) Perspectiva grego/romana – Logos era visto mais como um conceito filosófico do que como uma força pessoal. Mais num sentido de pensamento do que de palavra.

3) Perspectiva cristã – Logos era o conteúdo da mensagem do ministério da palavra. O conteúdo desta mensagem, logos, era o Cristo encarnado ou o evento completo de sua vida – 1Co 15.3, 4Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.

A partir destas três perspectivas, a Palavra pode ser vista como o poder divino, como o princípio racional e como a proclamação redentora.

A convicção central, proclamada por João, é que a Palavra como poder, princípio e proclamação encontrará plenitude definitiva na Palavra como pessoa. Como logos, ele (Jesus) é desde a eternidade o poder de Deus, a sabedoria de Deus e o evangelho de Deus – 1Co 1.23, 24.

Portanto, quando o termo logos é usado referindo-se a Jesus como o logos de Deus, está fazendo alusão à palavra criadora de DeusGn 1.1-26; Sl 33.6, 9; à sua Palavra reveladoraSl 33.4; 119.89; à sua Palavra salvadoraSl 107.20; e à sabedoria divinaPv 8.22-31 (cf. Jo 8.58 e 17.5).

4. v.2 – Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada.

Porque a vida foi manifestada – é uma declaração concisa mas que abrange toda a vida de Jesus Cristo – preexistência, nascimento, vida e missão. O propósito desta manifestação foi duplo: 1º) possibilitar ao homem contemplar a Deus – Jesus é a expressão exata do seu ser – Hb 1.3; e 2º) ajudar o homem a compreender a verdade acerca da vida eternaJo 17.3.

“A encarnação do verbo (palavra) da Vida significa que o homem não somente viu uma pessoa, mas recebeu uma mensagem do Pai através dessa pessoa. A comunicação não é limitada a palavras, especialmente nas relações humanas. Uma pessoa faz-se conhecida através de seus pensamentos, palavras e ações. Jesus foi a palavra de comunicação de Deus e manifestou o Pai através do que falou, fez, desejou e sentiu”.
Colossenses 1.15-20, esclarece tudo o que já foi dito até agora.

... que estava com o Pai, e nos foi manifestada – aqui e em Jo 1.1, o autor está se referindo à preexistência de Jesus Cristo como o verbo (palavra) (logos).

5. v.3a – O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos... – João aqui repete pela terceira vez vimos e ouvimos para enfatizar a sua experiência pessoal com Jesus e para deixar claro que para ele os dias com Jesus haviam sido tão reais como se tivessem sido ontem.

João esta afirmando isso com tanta veemência por que seu objetivo não era apenas comunicar o que viu, ouviu e tocou, mas para que seus leitores tivessem a mesma experiência. Que ele chama de comunhão – koinonia.

6. v.3b – ... para que também tenhais comunhão conosco... – esta afirmativa tem como objetivo a encarnação como única base da comunhão cristã. Sobre a comunhão (koinonia) cristã vamos tratar mais adiante.

7. v.3c – ... e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. João quer deixar claro que antes de termos comunhão verdadeira uns com os outros precisamos ter comunhão com Deus.

A palavra koinonia vem da junção de duas outras palavras: O adjetivo grego koinos que significa comum, pertencente a várias pessoas; e do verbo grego koinoneo que significa tornar-se participante, fazer-se sócio ou entrar em sociedade.

Koinonia foi aplicada pela primeira vez no Novo Testamento à comunidade dos discípulos de Jesus que veio a existência no Pentecostes e em Atos 2.41-47. O termo não só era empregado à comunidade cristã, mas à sua experiência pessoal com Jesus Cristo, que resultava na pratica do amor cristão.

João esclarece aqui, de uma vez por todas, que não pode haver comunhão cristã sem antes a comunhão divina. A comunhão com Deus através da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo é a base sólida do amor e da experiência da comunidade dos remidos.

Por isso Paulo afirma aos Romanos que tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus (Rm 5.1, 2).

Portanto, nossa comunhão começa com Deus, porque: 1) Ouvimos a mensagem do logos de Deus – 1Jo 1.1-3; Rm 10.17; 2) Somos convencidos pelo Espírito Santo da nossa necessidade de perdão e salvaçãoJo 16.8-11; 3) Confessamos Jesus (Logos) e cremos em DeusRm 10.8-10.

Ter comunhão com Deus é diferente de ter a vida de Deus: 1º) A vida de Cristo em nós é um fato independe de qualquer esforço nosso é produzida pelo Espírito Santo – cf. 2Co 5.17; Cl 1.27; 3.4; Rm 8.9-11; Jo 1.13; 3.6; e 2º) A comunhão é liberada por Deus e mantida com diligência e esforço – 1Co 9.23-27. A vida é fruto do novo nascimento, a comunhão, do relacionamento.

8. João queria também levar seus leitores a continuarem tendo comunhão com Deus, quando disse nossa comunhão e com o Pai. Mas essa comunhão (koinonia) com o Pai só é considerada verdadeira se leva o cristão a ter comunhão (koinonia) com os outros cristãos. Que juntos formam a comunidade, a Igreja, a koinonia.

II.  Nossa comunhão com Deus leva a comunhão com or irmãos na igreja

1. v.3 – O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco.
De acordo o termo grego Koinonia, a comunhão que João esperava que os irmãos tivessem era: Ter as coisas em comum; sentir o que o outro sente; estar junto e participar; estar comprometido com alguém. Koinonia para João significava compartilhar.

2. O que Deus espera que eu faça para manter a comunhão com meus irmãos: 1º) integrar-se ao corpoRm 12.4-5; 2º) aprender a compartilharGl 6.2; 3º) aprender a amar corretamente uns aos outros – Gl 5.14;

Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
João 13.34-35

III. Essa comunhão tridimensional nos leva a plena alegria

1. v.4 – Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra. Neste texto é definido um dos objetivos de João ao escrever 1Jopara que o vosso gozo se cumpra.

O que faria a alegria de João, de seus leitores e nossa completa? Nossa comunhão com Deus, o Pai, e seu Filho Jesus Cristo. Nossa comunhão com a Igreja (cristãos-irmãos-comunidade remida).

A comunhão com o Senhor e comunhão com os irmãos constituem a base do nosso gozo mais elevado. E nosso gozo é cumprido por meio da comunhão contínua. A alegria é um apanágio do cristianismo. O evangelho é boa nova de grande alegria. O reino de Deus que está dentro de nós é alegria no Espírito Santo. O fruto do Espírito é alegria, e a ordem de Deus é: Alegrai-vos (Fp 4.4). Na verdade, a alegria é uma das principais marcas da vida cristã. O nosso problema não é a busca da alegria, mas contentar-nos com uma alegria pequena demais, terrena demais. Deus nos salvou para a maior de todas as alegrias, a alegria de glorificá-lo e desfrutá-lo para sempre. No céu Deus enxugará dos nossos olhos toda lágrima. Lá não haverá pranto, nem luto nem dor. A alegria não é um sentimento que nós mesmos produzimos, mas um subproduto de um relacionamento com Cristo. Só na presença de Deus há plenitude de alegria (SI 16.11). Essa alegria é divina, ela vem do céu. Esta alegria é imperativa, ultracircunstancial e cristocêntrica, ela reina mesmo no vale da dor. Essa alegria é indestrutível, o mundo não pode dá-la nem a tirar. O pecado promete alegria e produz sofrimento. Os prazeres do pecado são transitórios e passageiros — duram apenas algum tempo (Hb 11.25), mas a alegria de Deus é eterna — dura para sempre. Jesus disse: “E a vossa alegria ninguém poderá tirar” (Jo 16.22). A ideia de plenitude de alegria não é incomum nos escritos de João (Jo 3.29; 15.11; 16.24; 17.13; 1Jo 1.4; 2Jo 12).[5]

A perfeita alegria não é possível neste mundo de pecado, porque a perfeita comunhão com Deus não é possível. Assim, deve-se entender que o v.4 olha também para além desta vida, para a vida do céu. Então a comunhão consumada produzirá alegria completa. E para esse fim último que aquele que era desde o princípio se manifestou no tempo, e que o que os apóstolos ouviram, viram e apalparam, nos proclamaram. A substância da proclamação apostólica era a manifestação histórica do Eterno; seu propósito era e é uma comunhão uns com os outros, a qual se baseia na comunhão com o Pai e o Filho e irrompe na plenitude da alegria.[6]

O tipo de alegria que João está falando é do tipo abundante, igual à vida que Jesus nos deu quando o recebemos como Senhor e Salvador de nossas almas. É um tipo de alegria teimosa, aparentemente arrogante, não científica, baseada na fé a não na instabilidade das circunstâncias de tempo e lugar, comprometida mais com a saúde da alma do que com o bem-estar físico.

Este tipo resistente e durável de alegria pode ser visto na oração do profeta Habacuque 3.17-19: Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. (Para o cantor-mor sobre os meus instrumentos de corda).

2. A Bíblia fala da intensidade e qualidade desta alegria:

a)   Grande alegria                   – Lc 24.52; At 8.8; Fm 7.
b)   Alegria completa               – Jo 16.24; 1Jo 1.4; 2Jo v.12.
c)    Abundância de alegria      – 2Co 8.2.
d)   Alegria transbordante       – Mt 13.44.
e)   Plenitude de alegria          – Sl 16.11;
f)     Alegria indizível (inefável) – 1Pe 1.8.
g)   Alegria eterna                    – Is 35.10.
h)   Perpetua alegria                – Is 51.11.
i)     Alegria em extremo           – Jn 4.6.
j)     Gritos de alegria                – Sl 42.4.
k)   Vozes de alegria                – Ne 12.43.
l)     Banquete continuo            – Pv 15.15.
m) Ninguém pode tirar a alegria de quem segue a JesusJo 16.22.

Concluindo

ð Você já tem comunhão (koinonia) com Deus, através de Jesus Cristo (Logos)?
ð Você já tem comunhão com os outros irmãos da Igreja?
ð E a sua alegria, de que tipo é?


[1] Lopes, Hernandes Dias. 1, 2 e 3João – Como ter garantia da salvação. Editora Hagnos, 2010, p.18-23.
[2] Lopes, p. 29-31.
[3] Lopes, p. 37.
[4] Lopes, p. 38.
[5] Lopes, p. 51.
[6] Lopes, p. 51.

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