Introdução
1. Introdução ao estudo dos Profetas Menores
[1]Os
profetas entre o povo de Deus começaram bem no início da história da nação judaica,
eles são conhecidos como profetas
iniciais. Foram chamados de näbhi, a palavra hebraica mais comum
traduzida por profeta. Abraão foi o
primeiro a ser chamado näbhi (Gn 20.7). Arão (Êx 7.1) e Moisés (Dt
34.10) também tiveram tal designação.
Moisés é tido como o maior profeta de todos os tempos em Israel (Dt 34.10) e Samuel como o segundo (Jr 15.1). Moisés foi uma espécie de
protótipo dos profetas, prenunciando o último grande profeta, o Messias, que se
levantaria para falar palavras poderosas, autenticadas por obras poderosas (Dt 18.15-22; At 3.22).
Os profetas iniciais não
deixaram suas profecias por escrito e suas profecias orais eram dirigidas
principalmente a indivíduos. Os profetas escritores ou literários, surgiram a
partir da monarquia dividida e suas profecias eram dirigidas principalmente a
Israel e Judá e às nações pagãs.
Ao longo da história dos
hebreus também houve profetisas (näbhiah),
ainda que as funções de sacerdote e rei fossem restritas a homens e a
determinadas tribos. Miriã (Êx 15.20), Débora (Jz 4.4), Hulda (2Rs 22.14;
2Cr 34.22), Noadias (Ne 6.14) e
a esposa de Isaías (Is 8.3) foram
designadas profetisas. No Novo Testamento
temos também Ana (Lc 2.36), as
quatro filhas do evangelista Filipe (At
21.9), e até uma certa Jezabel, que se dizia profetisa (Ap 2.20).
A
palavra profeta aparece aproximadamente
660 vezes na Bíblia – 440 vezes no Antigo Testamento e 220 vezes no Novo
Testamento. No Antigo Testamento
três palavras hebraicas diferentes são traduzidas em português pela palavra
profeta, e várias outras palavras hebraicas se referiam à função ou experiência
do profeta. 1) Näbhi – significa declarar,
anunciar, falar por, representar; 2)
Ro’eh – significa um vidente, alguém que vê – relacionado à
sua percepção. (Dt 18.21-22, 2Rs
6.14-17; Hb 11.27); 3) Hozeh – semelhante a rõ’eh,
significando um vidente que vê –
relacionado ao método de recepção das mensagens de Deus através de sonhos ou
visões. No Novo Testamento, o
trabalho básico do profeta era falar aos homens para edificação, exortação e consolação (1Co 14.3; 29-32; Ef 4.11-13). Só que não era o mesmo ministério
profético do Antigo Testamento. O ministério profético do Novo Testamento está
associado ao dom de profecia (1Co 12.10),
ou ao dom ministerial de profeta (Ef
4.11).
Os profetas foram chamados
por Deus para falar ao povo em tempos de crise. Sua função principal era chamar
o povo de volta aos caminhos de Deus, à sua adoração e à moralidade. A função
de enxergar o que iria acontecer no futuro servia duas funções: (1ª) alertar ao povo sobre as consequências de seu comportamento e (2ª) servir como autenticação de que o profeta falava realmente da parte de
Deus. Havia muitos falsos profetas e adivinhos que comercializavam suas
previsões do futuro simplesmente para agradar àquele que pagava pelo serviço. O
verdadeiro profeta de Deus tinha que ser distinguido destes falsos profetas e o
cumprimento de suas previsões servia como selo
de autenticidade. Aqueles cujas previsões não se cumpriam poderiam ser
considerados falsos profetas, devendo mesmo ser punidos com a pena capital, a
morte (cf. Dt. 18.10, 14 e 20-22; Jr
23.9-32 e Ez 13.2-10).
Em
nossa Bíblias os escritos dos profetas se dividem em dois grupos: 1) Profetas Maiores – Isaías, Jeremias,
Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel. Lamentações está aqui nesta
categoria por conta de ser um livro do profeta Jeremias e de sua ligação com o
seu livro profético; 2) Profetas Menores
– Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias,
Ageu, Zacarias e Malaquias. ‘Os Doze profetas menores são assim nomeados não
porque o seu conteúdo seja de menor importância, mas porque são notavelmente
menores que os escritos dos três grandes profetas’[2] –
Isaías, Jeremias e Ezequiel.
Portanto,
[3]os livros
proféticos devem ser estudados dentro de seu contexto histórico. Muitas vezes,
o versículo inicial de um livro bíblico fornece informações acerca do seu
contexto. Em sua forma mais extensa, esses cabeçalhos contêm o nome do profeta,
afirmam que as mensagens no livro vêm de Deus, dizem a quem elas são dirigidas
e contam algo sobre o contexto histórico (cf. Is 1.1; Os 1.1). No entanto, em seis livros dos profetas menores,
Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque e Malaquias, praticamente tudo que se tem
é o nome do profeta. Nesses casos, o contexto histórico fica indefinido, tendo
de ser determinado por outras vias.
O
contexto maior das mensagens dos profetas é o dos três sucessivos impérios que dominaram o Oriente Próximo entre o
oitavo e o quarto séculos antes de Cristo: o
Império Assírio, o Babilônico e o Persa.
O
período dos profetas termina na mesma época em que a civilização grega atinge
seu ponto alto ou seus anos dourados,
entre 500 e 400 a.C.. Depois disso, por uns 400 anos, até o nascimento de
Jesus, não houve profetas em Israel. Isso não significa que não houve quem
pregasse e ensinasse. As mensagens dos profetas eram pregadas e elaboradas sempre
de novas maneiras.
2. Introdução ao livro do Profeta Oséias
Oseias
é o primeiro dos últimos doze livros do Antigo Testamento – Os Profetas Menores,
e o mais extenso deles. É considerado, teologicamente um dos livros mais
completos, pois abarca os grandes temas proféticos da aliança, do julgamento e
da esperança. Sua profecia é entregue no período de maior prosperidade financeira
e também no tempo de maior decadência espiritual. Oseias é considerado, também,
o único profeta escritor do Reino do Norte.
Oseias profetizou, possivelmente, durante uns quarenta
anos, isto é, mais ou menos de 760 a 720 a.C., começando uns cinco anos antes
do fim do reinado de Jeroboão II, rei de Judá (783 a 743 a.C.), e terminando
uns cinco anos antes da conquista de Samaria, a capital do Reino do Norte,
pelos assírios em 722 a.C. Ele anunciou as mensagens de Deus ao povo de Israel,
o Reino do Norte, mas incluiu também o povo de Judá, o Reino do Sul (1.7, 11; 4.15; 5.5, 10, 12, 13, 14; 6.4,
11; 8.14; 10.11, 12; 12.2).[4]
Myer
Pearlman diz que o livro de Oseias é uma grande exortação ao arrependimento
dirigida às dez tribos, durante os quarenta ou cinquenta anos antes do seu cativeiro.
Russell Norman Champlin diz que o tema do profeta é quádruplo: a idolatria de Israel,
a sua iniquidade, o seu cativeiro e a sua restauração. Israel é retratado
profeticamente como a esposa adúltera de lavé, que em breve seria colocada fora,
mas que finalmente seria purificada e restaurada.[5]
Hernandes
Dias Lopes destaca cinco pontos
importantes sobre o profeta Oseias: 1º)
Ele foi um homem chamado não apenas para falar, mas
também para representar o amor de Deus; 2º) foi um homem levantado por Deus em
tempo de prosperidade financeira e decadência espiritual; 3º) foi um homem que profetizou durante um período marcado tanto
por estabilidade quanto por instabilidade política; 4º) foi um homem que anunciou tanto o juízo quanto a misericórdia
de Deus; e 5º)
foi um homem que anunciou tanto a soberania de Deus quanto a responsabilidade
humana.[6]
[7]O livro começa (1-3)
com a dolorosa experiência de Oseias, que, em obediência à ordem de Deus, casa
com Gômer, possivelmente uma mulher que tenha sido uma prostituta cultual (sagrada)
do templo de Baal, o deus cananeu da fertilidade. Desse casamento nascem dois
filhos e uma filha, que recebem nomes simbólicos: “Jezreel” (1.4), “Não-Amada” (cf. 1.6) e “Não-Meu-Povo” (cf. 1.9). Depois, a sua esposa o abandona;
mas, novamente em obediência à ordem de Deus, Oseias vai atrás dela e faz com
que ela volte a ser a sua esposa.
Essa
experiência triste leva Oseias a compreender e a proclamar, com vigor e
eloquência, o amor de Deus para com o seu povo desobediente e rebelde (4-14). O pecado de Israel e de Judá é
duplo: 1º) em vez de adorarem o
Senhor, o seu Deus, eles passaram a adorar os deuses da fertilidade, porque
pensavam que esses deuses lhes dariam terras frutíferas e animais férteis; e 2º) em vez de dependerem do Senhor para
salvá-los dos seus inimigos, eles foram buscar a ajuda dos países mais fortes,
especialmente o Egito e a Assíria (14.3).
Oseias
anuncia que Deus vai castigar o seu povo. Em palavras solenes e duras (9.15-17), ele condena o povo de Israel
e o povo de Judá e promete que Deus os abandonará e os entregará nas mãos dos
seus inimigos. Mas, assim como a sua justiça, o amor de Deus é forte e grande:
Deus não abandonará o seu povo para sempre, e virá o dia em que ele será, de
novo, o Deus deles e eles serão seus filhos (11.1-11). Com toda razão, Oseias é chamado de “o profeta do amor de
Deus”.
A
mensagem mais importante deste livro é que Deus
ama o seu povo com amor que não tem fim. Deus é como um marido dedicado,
que vai atrás da sua esposa infiel (cf. 2.14-23);
é como um pai ou uma mãe, que nunca abandona o filho, por mais rebelde que ele
seja (11.1-4, 8-9). Em todo o Antigo
Testamento, estas são as mais eloquentes passagens a respeito do amor de Deus
pelo seu povo. Esse perfeito amor proclamado por Oseias se fez carne em Jesus
na plenitude dos tempos (cf. Gl 4.4).
Mas
Deus respeita a liberdade do ser humano e não força o seu povo a aceitar o seu
amor. É preciso, no entanto, que eles confessem os seus pecados e se
arrependam, e, assim, voltem para ele. A última mensagem de Oseias para o povo
é justamente esta: “Converte-te, ó Israel, ao SENHOR teu Deus; porque
pelos teus pecados tens caído. Tomai convosco palavras, e
convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Tira toda a iniquidade, e aceita o que
é bom; e ofereceremos como novilhos os sacrifícios dos nossos
lábios.” (14.1, 2).
Na versão NTLH – Povo de Israel, volte para o SENHOR, seu Deus! Você
caiu porque pecou. Voltem para Deus e orem assim: “Perdoa
todos os nossos pecados, ouve a nossa oração, e os nossos louvores serão o
sacrifício que te ofereceremos”.
Carlos
Osvaldo diz que, o livro expressa uma dupla manifestação de amor exclusivista,
em cinco ciclos de julgamento e
livramento ou salvação: 1º) Ciclo:
Julgamento – 1.2-9 – Salvação – 1.10-2.1; 2º) Ciclo: Julgamento – 2.2-13 – Salvação – 2.14-3.5; 3º) Ciclo: Julgamento – 4.1-5.14 – Salvação – 5.15-6.3; 4º) Ciclo: Julgamento – 6.4-11.7 – Salvação – 11.8-12.11; e 5º) Ciclo: Julgamento – 12.12-13.16 – Salvação – 14.1-9.[8]
A
maioria dos estudiosos pensa que o mais provável é que o livro tenha sido
escrito em Judá, o Reino do Sul, depois da conquista de Samaria, a capital do
Reino do Norte, pelos assírios em c. 722 a.C.
Os textos mais conhecidos de Oseias são:
Os 4.6; 6.3-6 – A importância do conhecimento de Deus, não apenas
intelectual, mas experimental e verdadeiro, com consequente transformação de
vidas.
Os 11.1 – Essa palavra profética, historicamente, testemunha
a libertação de Israel do cativeiro egípcio por mãos de Moisés, mas também
revela que o Messias, filho de Deus, passaria um tempo pelo Egito e de lá seria
trazido pelo Senhor (Mt 2.13-15).
Os 13.14 – Falando da vitória de Jesus sobre a morte, texto
lembrado por Paulo em 1Co 15.55.
As verdades mais importantes do livro
são: 1ª) Deus sofre quando seu povo lhe é infiel; 2ª) Deus não pode tolerar o pecado; e 3ª) Deus nunca deixará de amar os seus e, consequentemente, quer
que os que o abandonaram voltem para ele.[9]
O esboço para o estudo do livro que vamos usar é o seguinte:
Prólogo – 1.1-3
1.
O profeta
Oseias – v.1
2.
Sua mensagem
– v.2a
3.
Sua esposa – v.2b, 3a
I. Fidelidade e Infidelidade – Oséias e Gômer – 1.4-3.5
II. Fidelidade e Infidelidade – Deus e Israel – 1.4-10.15
III. Perdão e Restauração – 11.1-14.8
Epílogo – 14.9
Hoje,
nos vv.1-3 com o tema o profeta, sua mensagem e a sua esposa,
vamos começar no estudo do livro de Oseias.
I. O profeta Oseias – v.1
1.
Palavra do SENHOR, que foi dirigida... – Oseias não se constituiu profeta nem foi apontado por
homem algum. Ele é profeta de Deus.[10] Esse
tipo de introdução, expressando a divina autoridade do profeta também aparece
em[11] Jl 1.1; Am 1.3; Ob 1.1; Jn 1.1; Mq 1.1; Ag
1.2; Zc 1.1; Ml 1.1. No Novo Testamento o apóstolo Paulo usou dessa
afirmação também em suas cartas – cf. Ex.: Gl
1.1.
2.
... a Oseias, filho de Beeri, ... – Era
muito comum, em Israel, o nome Oseias. Assim foi chamado o último rei do Reino
do Norte. O significado do nome é: Deus
salva, ou salvação, e é equivalente a Josué e Jesus. O nome do profeta já
trazia em si um chamado ao arrependimento e uma semente de esperança. É
considerado o Jeremias de Israel e o apóstolo João do Antigo Testamento. Oséias
era filho de Beeri, cujo nome significa meu
poço ou minha fonte.[12] Ele não
é mencionado em nenhum outro lugar nas Escrituras, mas Moody afirma que, desde
cedo os escritores judeus o tem identificado com Beera (1Cr 5.6), que foi levado para o exílio por Tiglate-Pileser.[13]
3.
... nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias,
reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel. Oseias
cita o nome de quatro reis de Judá e de apenas um rei de Israel, Jeroboão II.
Os reis de Judá, obviamente, pertenciam a dinastia de Davi, única dinastia aceita
pelo Senhor (cf. 1Rs 11.36; 15.4).[14] Oseias
foi profeta em Israel durante o longo governo de Jeroboão II. Esse rei governou
em Samaria por 41 anos, tendo não apenas o mais longo reinado, bem como o mais
próspero. Nesse tempo, no Reino do Sul governaram Uzias, Jotão, Acaz e
Ezequias.[15]
O
ministério de Oseias deve ter ultrapassado as fronteiras do reinado de Jeroboão
II, uma vez que anuncia o fim da dinastia de Jeú (1.4, 5). Zacarias, filho de Jeroboão, foi o último membro dessa
dinastia. Após a morte do grande monarca Jeroboão II, Israel entrou em rápido
declínio. Três reis foram assassinados por seus sucessores. Conspiração e
traição marcaram esse reino até sua completa derrota em 722 a.C., quando foi
levado cativo pela Assíria.[16]
Oseias
foi contemporâneo de Amós. Ambos profetizaram no final do melhor dos tempos e
nas bordas do pior dos tempos em Israel.[17] Ele
profetizou para o Reino do Norte (Israel, ou Efraim), durante o período em que
Isaías estava profetizando em Judá (1.1;
cf. Is 1.1). Amós (Am 1.1), era
nativo de Judá que profetizou em Israel. Oseias foi, entretanto, o profeta que
escreveu para o Reino do Norte, o seu próprio povo. Portanto, Amós e Oseias
profetizaram durante os anos finais do Reino do Norte, exatamente como Jeremias
de Jerusalém profetizou durante as últimas horas da história de Judá.[18]
II. Sua mensagem – v.2a
1.
v.2a – O princípio da palavra do SENHOR por meio de Oseias. Oseias é
profeta de Deus. Ele não criou a mensagem; a mensagem lhe foi dada. Ele não era
a fonte da mensagem, apenas o seu instrumento. Sua autoridade procedia de Deus.
Sua mensagem emanava do próprio Deus. Quando Oseias falava, era o próprio Deus
falando ao povo. Dionísio Pape diz: “O profeta do Senhor é sempre a sua
mensagem. Proclama a mensagem verbalmente, mas também a vive na carne”. David
Hubbard diz que o próprio Oseias é um sinal para o povo, um símbolo profético
da ira de Deus e do seu amor na restauração. Quando Deus falou por intermédio
de Oseias, a primeira mensagem não foi dirigida ao povo, mas ao próprio
profeta. O profeta é o primeiro público-alvo da própria mensagem recebida de
Deus.[19]
Foi
num cenário de luxo e de lixo, de glória humana e opróbrio espiritual, de
ascendência econômica e decadência moral, que Deus levantou Oseias para
confrontar os pecados da nação e chamá-la ao arrependimento. A riqueza sem Deus
é pior do que a pobreza. A riqueza sem Deus afasta o homem da santidade mais do
que a escassez. Dionísio Pape diz que os períodos de grande prosperidade são
geralmente acompanhados de declínio moral.[20]
Nesse
rápido declínio moral, todas as classes da sociedade se desmoralizaram. Os
príncipes, amantes da riqueza e do luxo, viviam desenfreados no pecado. Os
sacerdotes, que deveriam ensinar a verdade ao povo, tornaram-se bandidos truculentos
e cheios de avareza. As coisas foram de mal a pior, até que o profeta exclamou:
“porque na terra não há
verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só
permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem
violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro.” (4.1, 2).[21]
Que
época para se servir ao Senhor! O homicídio, a idolatria e a imoralidade
corriam soltos pela terra, e ninguém parecia interessado em ouvir a Palavra de
Deus! Para completar, Deus ordenou que seu profeta se casasse e constituísse
uma família![22]
III. Sua esposa – v.2b, 3a
v.2b – Esse texto do casamento do profeta Oseias é um dos mais polêmicos e
controversos que há na Bíblia. Não há consenso entre os estudiosos acerca do
significado do seu casamento nem mesmo da identidade de sua mulher.
Há
várias interpretações sobre a natureza do casamento de Oseias com Gômer. As
duas interpretações principais são: 1ª)
Gômer era uma mulher casta antes do
casamento, mas tornou-se infiel depois do matrimônio; e 2ª) Gômer
já era uma mulher prostituta antes do profeta se casar com ela.
Creio
que Gômer teve a experiência de ser uma prostituta cultual do templo de Baal, o
deus cananeu da fertilidade. Mas, foi pedida em casamento pelo profeta Oseias e
abandonou por um tempo a prostituição.
É
importante destacar que, Oseias está representando o amor incompreensível de
Deus a um povo infiel. Quando Deus chamou Abrão para formar por meio dele uma
grande nação, tirou-o do meio de um povo idólatra (cf. Gn 11.31-12.9). Warren Wiersbe diz que, Deus chamou Israel quando
ele se encontrava na idolatria, "casou-se" com ela no monte Sinai quando
o povo aceitou sua aliança (cf. Êx 19-21);
mais tarde se entristeceu por ela abandoná-lo e trocá-lo pelos falsos deuses da
terra de Canaã. Assim como Gômer, Israel começou como idolatra,
"casou-se" com Jeová e acabou voltando a idolatria.[23]
Uma
observação interessante de Wiersbe é que ainda que se casar com uma prostituta não
o fosse a coisa mais prudente a fazer, esse tipo de casamento só era proibido a
sacerdotes (cf. Lv 21.7). Salmom
casou-se com Raabe, a prostituta que se tornou bisavó do rei Davi e antepassada
de Jesus Cristo (cf. Mt 1.4, 5).
v.3a – Oseias não desobedece, não questiona nem protela a ordem de Deus. A
resposta de Oseias é imediata: “Foi, pois, e tomou a
Gômer, filha de Diblaim...” (v.3). Nada se diz a respeito dos
sentimentos de Oseias nem sobre o processo pelo qual ele cumpriu a ordem.[24]
O
povo de Deus havia se tornado surdo para a voz do Senhor e não se importava
mais com sua aliança. O Senhor chamou seus servos, os profetas, a fazer coisas
incomuns – “serem sermões práticos" – para que o povo despertasse e
ouvisse o que Deus tinha a dizer. Só então poderiam ser poupados da disciplina
e do julgamento divinos.
No
entanto, nenhum profeta pregou um "sermão prático" mais doloroso que
Oseias. Ele foi instruído a casar-se com uma prostituta chamada Gômer que lhe
deu três filhos. Então, Gômer abandonou-o para juntar-se com outro homem, e coube
a Oseias a responsabilidade humilhante de comprar de volta sua própria esposa. O
que vem a ser tudo isso? Trata-se de um retrato muito claro daquilo que o povo de
Israel havia feito com o seu Deus, prostituindo- se com ídolos e cometendo
"adultério espiritual".
Uma
vez que o povo de Deus, nos dias de hoje, se vê diante da mesma tentação (Tg 4.4), devemos considerar aquilo que
Oseias escreveu a seu povo. Cada uma das pessoas desse drama - Oseias, Gômer e
os filhos, nos ensina uma lição espiritual importante sobre o Deus a quem
Israel estava desobedecendo e entristecendo.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 26/06/16
[1] Renê, Pr. Lucas. Apostila Panorama do Antigo
Testamento, ETBL, 2015, p. 39-42. Este ponto, p. 38-41, é uma compilação da
apostila nas páginas citadas, com cortes e acrescimentos considerados
necessários para a apostila essa apostila.
[2] Bíblia de Estudo Almeida, SBB, 1999, p. 723.
[3] Bíblia de Estudo Nova Tradução na Linguagem de Hoje,
SBB, 2005, p. 1398-1400. Este ponto segue a introdução aos Livros Proféticos da
Bíblia de Estudo NTLH, nas páginas já citadas, com cortes e acrescimentos
considerados necessários para a apostila.
[4] Bíblia de Estudo NTLH, p. 1866.
[5] Lopes, Hernandes Dias. Oséias – O amor de Deus em
ação, Editora Hagnos, p. 12.
[6] Lopes, p. 13-27.
[7] Bíblia de Estudo NTLH, p. 1866-1867. Este ponto segue
os pontos de introdução ao livro de Oséias, nas páginas já citadas, com cortes
e acrescimentos considerados necessários para a apostila.
[8] Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento
no Antigo Testamento – O Argumento de Oséias, Hagnos, 2006, p. 695.
[9] Bíblia de Estudo Scofield. Holy Bible, 2009, SP, p.
783.
[10] Lopes, p. 11.
[11] MacArthur, John. Bíblia de Estudo MacArthur, SBB,
2010, p. 1099.
[12] Lopes, p. 14.
[14] Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo do
Antigo Testamento V. 4 – Proféticos – Oséias, Ed. Geográfica, p. 391.
[15] Lopes, p. 20.
[16] Lopes, p. 21.
[17] Lopes, p. 7.
[19] Lopes, p. 32, 36.
[20] Lopes, p. 18.
[21] Lopes, p. 18.
[22] Wiersbe, p. 391.
[23] Lopes, p. 36.
[25] Wiersbe, p. 391.