No estudo anterior em Gálatas 1.6-10 com o tema: Outro Evangelho, vimos que: 1º) O
outro evangelho não é o Evangelho de Jesus Cristo – v.6; 2º) O outro evangelho é pervertido – v.7; 3º) O outro evangelho é uma
maldição – vv.8-10.
E terminamos com as seguintes lições e aplicações: 1º) Dar
ouvidos a outro evangelho significa estar se desviando daquele que o chamou
para o verdadeiro evangelho (v.6);
2º) Dar ouvidos a outro evangelho significa estar ouvindo uma heresia
destruidora da fé cristã (v.7); 3º) Dar
ouvidos a outro evangelho significa estar em perigo de maldição (vv.8, 9).
Hoje, vamos estudar Gálatas 1.11-24 com o tema: O
Evangelho Verdadeiro. Faremos isso em três pontos: 1º) O evangelho verdadeiro
não foi dado para agradar aos homens – v.11;
2º) O evangelho verdadeiro vem diretamente de Deus – vv. 12; 3º) O evangelho verdadeiro
transforma o mais vil pecador – vv.13-24.
Meno Kalisher diz que, esses versículos permitem que
comparemos (1) Aquilo que era mais importante para Paulo antes que ele cresse em Cristo (suas prioridades eram
semelhantes às dos falsos profetas); e (2)
Aquilo que se tornou mais importante depois de seu encontro com Cristo.[1]
Também, mais uma vez, Paulo defende seu evangelho,
mostrando de forma eloquente que este não é segundo o homem e não foi aprendido
de homem algum. Nem a fonte do seu evangelho nem o método pelo qual Paulo o
recebeu eram humanos. O evangelho lhe veio por revelação de Jesus Cristo. Isto
não diz respeito a uma revelação geral, disponível a todos que a recebessem,
mas a uma revelação especial e pessoal para Paulo.[2]
(cf. v.10)
I. O
evangelho verdadeiro não foi dado para agradar aos homens – v.11
Paulo afirmou ser divina a origem de sua comissão
apostólica (1.10), agora ele afirma
ser de origem divina o seu evangelho apostólico (1.11). Nem a sua missão nem a sua mensagem derivavam de homem
algum; ambas lhe vieram diretamente de Deus e de Jesus Cristo.[3]
Pelo fato de fazer tudo com o propósito de ganhar
pessoas para Cristo (cf. 1Co 9.22),
Paulo era acusado pelos seus opositores de pregar o evangelho por interesse
pessoais, ou de buscar o favor humano. Eles diziam que Paulo queria agradar e
ser querido por todos.[4]
Paulo tinha plena consciência de a quem estava
servindo. Quem é servo de Cristo não busca holofotes. Quem é servo de Cristo
não depende de elogios nem se desencoraja com as críticas. Quem é servo de
Cristo não está atrás de sucesso nem de glórias humanas. Quem é servo de Cristo
não muda a mensagem para atrair os ouvintes. O propósito do ministério de Paulo
não era agradar aos homens, mas servir a Cristo.[5]
II. O
evangelho verdadeiro vem diretamente de Deus – v. 12
Paulo explicou à igreja dos coríntios que, entre sua
ressurreição e ascensão, Jesus apareceu
a Cefas [Pedro] e, depois, aos doze (...). Depois, foi visto por Tiago, mais
tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por
mim (1Co 15.5-8). Paulo
testemunhou o Cristo ressurreto de modo único quando viajava para Damasco, a
fim de prender cristãos (cf. At 9).
São registradas aparições do Senhor a Paulo em Atos 18.9; 22.17-21; 23.11; e 2Coríntios 12.1-4.[6]
Donald Guthrie diz que o evangelho pregado por Paulo
não foi forjado pelo intelecto humano. Não é um sistema filosófico, nem uma fé
religiosa criada por algum gênio religioso. Não era nem mesmo um
desenvolvimento humano da religião judaica. O evangelho de Paulo não é humano,
mas divino; não é natural, mas sobrenatural. Seu molde ou padrão era outro.
Outra espécie de mente estava por detrás dele.[7]
Na qualidade de servo de Cristo, a apóstolo só podia
proclamar a mensagem do Evangelho. Embora ele a pregasse, não lhe dera origem,
nem qualquer outro homem.[8]
Paulo conheceu o evangelho que pregava por meio de
revelação divina, ou seja, diretamente de Deus (cf. v.12; Ef 3.1-8). Mais
adiante ele diz que o evangelho que pregava não era uma tradição de homens,
contudo, não estava em desacordo com o evangelho pregado pelos apóstolos que
estavam em Jerusalém (cf. Gl 1.17;
2.7-10).[9]
O evangelho é de Cristo, vem de Cristo e glorifica a
Cristo. Sua origem não é terrena, mas celestial; não é humana, mas divina; não
está focada no homem, mas em Cristo. Jesus Cristo foi tanto o agente por meio
do qual veio a revelação quanto o conteúdo da própria revelação. Por isso, os
gálatas têm diante de si, no evangelho de Paulo, uma grandeza incondicional, na
qual não há nada para revisar, diminuir ou acrescentar.[10]
III. O
evangelho verdadeiro transforma o mais vil pecador – vv.13-24
O evangelho que Paulo pregava era o mesmo que havia
transformado a sua vida. Ele havia experimentado pessoalmente o poder do
evangelho, por isso podia afirmar não me envergonho do
evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que
crê (Rm 1.16). E isso estabelece um
princípio espiritual: só deve pregar o
evangelho que for transformado pelo evangelho.[11]
Paulo apresenta sete
aspectos da sua conversão:
1. Deus transformou completamente a sua vida – vv.13, 14
– Paulo era um religioso file à sua religião, o judaísmo. Foi perseguido e
devastador da igreja de Cristo. Mas, Jesus transformou a sua vida em um
encontro pessoal com ele (cf. At 9.1-19).
De perseguidor do evangelho, Paulo passou a ser perseguido por causa do evangelho.
Observemos alguns detalhes do texto:[12]
ð judaísmo (v.13) – o
sistema religioso judaico das obras de justiça, que não é inteiramente baseado
no texto do Antigo Testamento, mas nas interpretações e tradições rabínicas; de
fato, Paulo argumenta que um entendimento apropriado do Antigo Testamento
somente pode levar a Cristo e a seu evangelho da graça mediante a fé (cf. G1 3.6-29).
William Hendriksen diz que o
judaísmo de que Paulo fala não era a revelação do Antigo Testamento, cujas
linhas – históricas, tipológicas, psicológicas e proféticas – convergiam a
Belém, ao Calvário e ao Monte dos Oliveiras. Ao contrário, era aquela religião
que sepultava a santa lei de Deus sob o peso das tradições humanas, o corpo
inteiro da lei oral que suplementava a lei escrita (Mt 5.21-48; 15.3,6;
23.1-36).[13]
ð perseguia (v.13) – o
tempo desse verbo grego enfatiza o persistente e contínuo esforço de Paulo para
causar prejuízo e, finalmente, exterminar os cristãos.
ð excedia
em judaísmo a muitos da minha idade (v.14a) – a palavra grega para excedia
significa cortava à frente. Seu sentido é muito parecido com abrir um caminho
através de uma floresta. Paulo tomou seu caminho conhecido no judaísmo (cf. Fp 3.5-6) e, por ver os judeus cristãos
como obstáculos a seu progresso, trabalhou para derrubá-los.
ð extremamente
zeloso (v.14) – Paulo demonstrou zelo a ponto de perseguir e oprimir os
cristãos.
ð tradições de
meus pais (v.14) – o ensino oral acerca da lei do Antigo Testamento, comumente
conhecido como Halakah. Essa coleção
de interpretações da lei trazia basicamente a mesma autoridade da lei (Torá),
ou ainda maior; seus regulamentos eram tão desesperadamente complexos e
opressivos que até mesmo os mais astutos estudiosos rabínicos não podiam dominá-la
por sua interpretação nem por sua conduta.
Adolf Pohl diz que as perseguições desmedidas brotam
do zelo desmedido pelas tradições paternas (cf. Fp 3.6). Paulo se revelou como antagonista implacável do evangelho
não apesar de ser, mas precisamente porque era, um judeu exemplar, um fariseu de
puro-sangue.[14]
2.
Deus o
transformou porque o escolheu – vv.15, 16. Ao destacar que a
transformação ocorrida em sua vida não havia sido causada pelos judeus nem pela
igreja, mas, sim, por um milagre espiritual operado pelo próprio Deus, mais uma
vez Paulo defende seu apostolado, pela legitimidade de sua conversão.
Temos aqui
quatro pontos fundamentais.[15]
1º) a eleição –
quando aprouve a Deus, que desde o
ventre de minha mãe me separou (v.15a).
Não foi Paulo quem escolheu a Deus, mas foi Deus quem o escolheu. Deus separou
Paulo não apenas para a salvação, mas também com um propósito especial: que ele
fosse o instrumento a levar essa salvação aos gentios (cf. At 9.15; 22.15; 26.16-18). Calvino destaca aqui três passos: (1) a predestinação eterna; (2) a destinação desde o ventre; e (3) a chamada, que é o efeito e o
cumprimento dos dois primeiros passos.
2º) o chamado da
graça – ... e me chamou pela sua
graça. (v.15b). O mesmo Deus que
escolhe é também o Deus que chama. Há dois chamados: um externo e outro interno,
um dirigido aos ouvidos e outro ao coração. O próprio Paulo ensinou em sua Epístola
aos Romanos: “Aos que [Deus] predestinou, a esses também chamou...” (Rm 8.30). John Stott destaca que Paulo
não merecia misericórdia, nem a pedira. Mas a misericórdia fora ao seu
encontro, e a graça o chamara.
3º) a revelação sobrenatural – Mas, quando aprouve a Deus... ...Revelar
seu Filho em mim (vv.15a, 16a).
Deus revelou Jesus a Paulo e essa revelação não foi apenas no nível
intelectual, mas, sobretudo, no nível experimental. John Stott tem razão quando
escreve: “Paulo perseguia a Cristo porque cria que este era um impostor. Agora
os seus olhos estavam abertos para ver Jesus não como um charlatão, mas como o
Messias dos judeus, Filho de Deus e o Salvador do mundo”.
4º) a missão
transcultural – ... para que o pregasse entre os gentios... (v.16b). O
propósito de Deus era revelar seu Filho Jesus a Paulo e por intermédio de Paulo;
o apóstolo deveria conhecer o Filho de Deus e torna-lo conhecido não apenas aos
judeus (cf. At 9.15; 26.20, 23), mas
também e, sobretudo, aos gentios (cf. At
13.47; 15.12; 18.6; 22.21; 26.17;
28.28; Rm 11.13; Gl 2.2; Ef 3.1, 6, 8; 1Tm 2.7; 2Tm 1.11; 4.17).
John Stott diz que Saulo de Tarso fora um oponente
fanático do evangelho. Mas Deus se agradou fazer dele um pregador do mesmo
evangelho ao qual ele antes se opunha tão ferozmente. Sua escolha antes de
nascer, sua vocação histórica e a revelação de Cristo nele, tudo isso foi obra
de Deus. Portanto, nem a sua missão apostólica nem sua mensagem vinha dos
homens.
3.
Deus lhe deu
uma nova família – vv.18-23. Observe que após a sua
conversão, Paulo passou a integrar a família da fé. Ele deixou de fazer parte
da sinagoga e do sinédrio, para pertencer à igreja de Deus, o corpo de Cristo. Depois
de falar do seu passado como perseguidor da igreja, e do seu presente como
homem a quem Deus revelou Cristo e comissionou para proclamar Cristo aos
gentios, Paulo passa a descrever como foi sua convocação para o apostolado. Ele
faz uma cuidadosa síntese dos primeiros anos do seu ministério, com o propósito
de mostrar que era impossível ter recebido o conteúdo do seu evangelho de
qualquer homem ou mesmo dos apóstolos que estavam em Jerusalém.[16]
4.
Deus foi
glorificado através da vida de Paulo
– v.24. As igrejas glorificavam a
Deus a seu respeito tanto pela sua conversão como pela sua pregação e, se o
faziam, era porque o evangelho que proclamava era e é o único evangelho
verdadeiro, evangelho crido pelos judeus crentes e combatido pelos falsos
mestres judaizantes. John Stott diz: “As igrejas da Judeia não glorificam a
Paulo, mas a Deus em Paulo, reconhecendo que este era um troféu extraordinário
da graça de Deus”.[17]
Concluindo –
Três lições:
1)
O verdadeiro evangelho transforma vidas;
2)
O verdadeiro evangelho dá uma nova missão para a vida
daqueles que são transformados;
3)
O verdadeiro evangelho cria uma nova família, a igreja
de Deus.
Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 13/03/16
[1] Kalisher, Meno. Liberdade em Cristo – Entendendo a Epístola
de Paulo aos Gálatas, Actual Edições, 2013, p. 47.
[2] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da Liberdade
Cristã, Editora Hagnos, 2011, p. 59.
[3] Lopes, p. 60.
[4] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas &
Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 6.
[5] Lopes, p. 59.
[6] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de
Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 18.
[7] Lopes, p. 60.
[8] Comentário Bíblico Moody. Gálatas, p. 8.
[9] Casimiro, p. 6.
[10] Lopes, p. 60.
[11] Casimiro, p. 6, 7. Esse ponto segue literalmente o
comentário nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao
ensino local.
[12] MacArthur, p. 19. Esse ponto segue literalmente o
comentário na página já citada, com cortes e acréscimos necessários ao ensino
local.
[13] Lopes, p. 65.
[14] Lopes, p. 66.
[15] Lopes, p. 67-70. Este comentário segue literalmente a
exposição do livro, nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários
ao ensino local.
[16] Lopes, p. 71.
[17] Lopes, p. 77.
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