segunda-feira, 14 de março de 2016

Estudos Bíblicos na Carta aos Gálatas (3) - O Evangelho Verdadeiro

Gálatas 1.11-24

No estudo anterior em Gálatas 1.6-10 com o tema: Outro Evangelho, vimos que: 1º) O outro evangelho não é o Evangelho de Jesus Cristov.6; 2º) O outro evangelho é pervertidov.7; 3º) O outro evangelho é uma maldiçãovv.8-10.

E terminamos com as seguintes lições e aplicações: 1º) Dar ouvidos a outro evangelho significa estar se desviando daquele que o chamou para o verdadeiro evangelho (v.6); 2º) Dar ouvidos a outro evangelho significa estar ouvindo uma heresia destruidora da fé cristã (v.7); 3º) Dar ouvidos a outro evangelho significa estar em perigo de maldição (vv.8, 9).

Hoje, vamos estudar Gálatas 1.11-24 com o tema: O Evangelho Verdadeiro. Faremos isso em três pontos: 1º) O evangelho verdadeiro não foi dado para agradar aos homens v.11; 2º) O evangelho verdadeiro vem diretamente de Deusvv. 12; 3º) O evangelho verdadeiro transforma o mais vil pecadorvv.13-24.

Meno Kalisher diz que, esses versículos permitem que comparemos (1) Aquilo que era mais importante para Paulo antes que ele cresse em Cristo (suas prioridades eram semelhantes às dos falsos profetas); e (2) Aquilo que se tornou mais importante depois de seu encontro com Cristo.[1]

Também, mais uma vez, Paulo defende seu evangelho, mostrando de forma eloquente que este não é segundo o homem e não foi aprendido de homem algum. Nem a fonte do seu evangelho nem o método pelo qual Paulo o recebeu eram humanos. O evangelho lhe veio por revelação de Jesus Cristo. Isto não diz respeito a uma revelação geral, disponível a todos que a recebessem, mas a uma revelação especial e pessoal para Paulo.[2] (cf. v.10)

I. O evangelho verdadeiro não foi dado para agradar aos homens – v.11

Paulo afirmou ser divina a origem de sua comissão apostólica (1.10), agora ele afirma ser de origem divina o seu evangelho apostólico (1.11). Nem a sua missão nem a sua mensagem derivavam de homem algum; ambas lhe vieram diretamente de Deus e de Jesus Cristo.[3]

Pelo fato de fazer tudo com o propósito de ganhar pessoas para Cristo (cf. 1Co 9.22), Paulo era acusado pelos seus opositores de pregar o evangelho por interesse pessoais, ou de buscar o favor humano. Eles diziam que Paulo queria agradar e ser querido por todos.[4]
Paulo tinha plena consciência de a quem estava servindo. Quem é servo de Cristo não busca holofotes. Quem é servo de Cristo não depende de elogios nem se desencoraja com as críticas. Quem é servo de Cristo não está atrás de sucesso nem de glórias humanas. Quem é servo de Cristo não muda a mensagem para atrair os ouvintes. O propósito do ministério de Paulo não era agradar aos homens, mas servir a Cristo.[5]

II. O evangelho verdadeiro vem diretamente de Deus – v. 12

Paulo explicou à igreja dos coríntios que, entre sua ressurreição e ascensão, Jesus apareceu a Cefas [Pedro] e, depois, aos doze (...). Depois, foi visto por Tiago, mais tarde, por todos os apóstolos e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim (1Co 15.5-8). Paulo testemunhou o Cristo ressurreto de modo único quando viajava para Damasco, a fim de prender cristãos (cf. At 9). São registradas aparições do Senhor a Paulo em Atos 18.9; 22.17-21; 23.11; e 2Coríntios 12.1-4.[6]

Donald Guthrie diz que o evangelho pregado por Paulo não foi forjado pelo intelecto humano. Não é um sistema filosófico, nem uma fé religiosa criada por algum gênio religioso. Não era nem mesmo um desenvolvimento humano da religião judaica. O evangelho de Paulo não é humano, mas divino; não é natural, mas sobrenatural. Seu molde ou padrão era outro. Outra espécie de mente estava por detrás dele.[7]

Na qualidade de servo de Cristo, a apóstolo só podia proclamar a mensagem do Evangelho. Embora ele a pregasse, não lhe dera origem, nem qualquer outro homem.[8]

Paulo conheceu o evangelho que pregava por meio de revelação divina, ou seja, diretamente de Deus (cf. v.12; Ef 3.1-8). Mais adiante ele diz que o evangelho que pregava não era uma tradição de homens, contudo, não estava em desacordo com o evangelho pregado pelos apóstolos que estavam em Jerusalém (cf. Gl 1.17; 2.7-10).[9]

O evangelho é de Cristo, vem de Cristo e glorifica a Cristo. Sua origem não é terrena, mas celestial; não é humana, mas divina; não está focada no homem, mas em Cristo. Jesus Cristo foi tanto o agente por meio do qual veio a revelação quanto o conteúdo da própria revelação. Por isso, os gálatas têm diante de si, no evangelho de Paulo, uma grandeza incondicional, na qual não há nada para revisar, diminuir ou acrescentar.[10]

III. O evangelho verdadeiro transforma o mais vil pecador – vv.13-24

O evangelho que Paulo pregava era o mesmo que havia transformado a sua vida. Ele havia experimentado pessoalmente o poder do evangelho, por isso podia afirmar não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). E isso estabelece um princípio espiritual: só deve pregar o evangelho que for transformado pelo evangelho.[11]
Paulo apresenta sete aspectos da sua conversão:

1.    Deus transformou completamente a sua vidavv.13, 14 – Paulo era um religioso file à sua religião, o judaísmo. Foi perseguido e devastador da igreja de Cristo. Mas, Jesus transformou a sua vida em um encontro pessoal com ele (cf. At 9.1-19). De perseguidor do evangelho, Paulo passou a ser perseguido por causa do evangelho.

Observemos alguns detalhes do texto:[12]

ð judaísmo (v.13) – o sistema religioso judaico das obras de justiça, que não é inteiramente baseado no texto do Antigo Testamento, mas nas interpretações e tradições rabínicas; de fato, Paulo argumenta que um entendimento apropriado do Antigo Testamento somente pode levar a Cristo e a seu evangelho da graça mediante a fé (cf. G1 3.6-29).

William Hendriksen diz que o judaísmo de que Paulo fala não era a revelação do Antigo Testamento, cujas linhas – históricas, tipológicas, psicológicas e proféticas – convergiam a Belém, ao Calvário e ao Monte dos Oliveiras. Ao contrário, era aquela religião que sepultava a santa lei de Deus sob o peso das tradições humanas, o corpo inteiro da lei oral que suplementava a lei escrita (Mt 5.21-48; 15.3,6; 23.1-36).[13]

ð perseguia (v.13) – o tempo desse verbo grego enfatiza o persistente e contínuo esforço de Paulo para causar prejuízo e, finalmente, exterminar os cristãos.

ð excedia em judaísmo a muitos da minha idade (v.14a) – a palavra grega para excedia significa cortava à frente. Seu sentido é muito parecido com abrir um caminho através de uma floresta. Paulo tomou seu caminho conhecido no judaísmo (cf. Fp 3.5-6) e, por ver os judeus cristãos como obstáculos a seu progresso, trabalhou para derrubá-los.

ð extremamente zeloso (v.14) – Paulo demonstrou zelo a ponto de perseguir e oprimir os cristãos.

ð tradições de meus pais (v.14) – o ensino oral acerca da lei do Antigo Testamento, comumente conhecido como Halakah. Essa coleção de interpretações da lei trazia basicamente a mesma autoridade da lei (Torá), ou ainda maior; seus regulamentos eram tão desesperadamente complexos e opressivos que até mesmo os mais astutos estudiosos rabínicos não podiam dominá-la por sua interpretação nem por sua conduta.

Adolf Pohl diz que as perseguições desmedidas brotam do zelo desmedido pelas tradições paternas (cf. Fp 3.6). Paulo se revelou como antagonista implacável do evangelho não apesar de ser, mas precisamente porque era, um judeu exemplar, um fariseu de puro-sangue.[14]

2.    Deus o transformou porque o escolheuvv.15, 16. Ao destacar que a transformação ocorrida em sua vida não havia sido causada pelos judeus nem pela igreja, mas, sim, por um milagre espiritual operado pelo próprio Deus, mais uma vez Paulo defende seu apostolado, pela legitimidade de sua conversão.

Temos aqui quatro pontos fundamentais.[15]

1º) a eleiçãoquando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou (v.15a). Não foi Paulo quem escolheu a Deus, mas foi Deus quem o escolheu. Deus separou Paulo não apenas para a salvação, mas também com um propósito especial: que ele fosse o instrumento a levar essa salvação aos gentios (cf. At 9.15; 22.15; 26.16-18). Calvino destaca aqui três passos: (1) a predestinação eterna; (2) a destinação desde o ventre; e (3) a chamada, que é o efeito e o cumprimento dos dois primeiros passos.

2º) o chamado da graça – ... e me chamou pela sua graça. (v.15b). O mesmo Deus que escolhe é também o Deus que chama. Há dois chamados: um externo e outro interno, um dirigido aos ouvidos e outro ao coração. O próprio Paulo ensinou em sua Epístola aos Romanos: “Aos que [Deus] predestinou, a esses também chamou...” (Rm 8.30). John Stott destaca que Paulo não merecia misericórdia, nem a pedira. Mas a misericórdia fora ao seu encontro, e a graça o chamara.

3º) a revelação sobrenaturalMas, quando aprouve a Deus... ...Revelar seu Filho em mim (vv.15a, 16a). Deus revelou Jesus a Paulo e essa revelação não foi apenas no nível intelectual, mas, sobretudo, no nível experimental. John Stott tem razão quando escreve: “Paulo perseguia a Cristo porque cria que este era um impostor. Agora os seus olhos estavam abertos para ver Jesus não como um charlatão, mas como o Messias dos judeus, Filho de Deus e o Salvador do mundo”.

4º) a missão transcultural – ... para que o pregasse entre os gentios... (v.16b). O propósito de Deus era revelar seu Filho Jesus a Paulo e por intermédio de Paulo; o apóstolo deveria conhecer o Filho de Deus e torna-lo conhecido não apenas aos judeus (cf. At 9.15; 26.20, 23), mas também e, sobretudo, aos gentios (cf. At 13.47; 15.12; 18.6; 22.21; 26.17; 28.28; Rm 11.13; Gl 2.2; Ef 3.1, 6, 8; 1Tm 2.7; 2Tm 1.11; 4.17).

John Stott diz que Saulo de Tarso fora um oponente fanático do evangelho. Mas Deus se agradou fazer dele um pregador do mesmo evangelho ao qual ele antes se opunha tão ferozmente. Sua escolha antes de nascer, sua vocação histórica e a revelação de Cristo nele, tudo isso foi obra de Deus. Portanto, nem a sua missão apostólica nem sua mensagem vinha dos homens.

3.    Deus lhe deu uma nova famíliavv.18-23. Observe que após a sua conversão, Paulo passou a integrar a família da fé. Ele deixou de fazer parte da sinagoga e do sinédrio, para pertencer à igreja de Deus, o corpo de Cristo. Depois de falar do seu passado como perseguidor da igreja, e do seu presente como homem a quem Deus revelou Cristo e comissionou para proclamar Cristo aos gentios, Paulo passa a descrever como foi sua convocação para o apostolado. Ele faz uma cuidadosa síntese dos primeiros anos do seu ministério, com o propósito de mostrar que era impossível ter recebido o conteúdo do seu evangelho de qualquer homem ou mesmo dos apóstolos que estavam em Jerusalém.[16]

4.    Deus foi glorificado através da vida de Paulov.24. As igrejas glorificavam a Deus a seu respeito tanto pela sua conversão como pela sua pregação e, se o faziam, era porque o evangelho que proclamava era e é o único evangelho verdadeiro, evangelho crido pelos judeus crentes e combatido pelos falsos mestres judaizantes. John Stott diz: “As igrejas da Judeia não glorificam a Paulo, mas a Deus em Paulo, reconhecendo que este era um troféu extraordinário da graça de Deus”.[17]

Concluindo – Três lições:

1)   O verdadeiro evangelho transforma vidas;
2)   O verdadeiro evangelho dá uma nova missão para a vida daqueles que são transformados;
3)   O verdadeiro evangelho cria uma nova família, a igreja de Deus.

Pr. Walter Almeida Jr.
IBL Limeira – 13/03/16




[1] Kalisher, Meno. Liberdade em Cristo – Entendendo a Epístola de Paulo aos Gálatas, Actual Edições, 2013, p. 47.
[2] Lopes, Hernandes Dias. Gálatas – A carta da Liberdade Cristã, Editora Hagnos, 2011, p. 59.
[3] Lopes, p. 60.
[4] Casimiro, Arival Dias. Estudos Bíblicos Gálatas & Tiago – Liberdade, Fé e Prática, Z3 Editora, 2011, p. 6.
[5] Lopes, p. 59.
[6] MacArthur, John. Gálatas – A maravilhosa Graça de Deus, Editora Cultura Cristã, 2011, p. 18.
[7] Lopes, p. 60.
[8] Comentário Bíblico Moody. Gálatas, p. 8.
[9] Casimiro, p. 6.
[10] Lopes, p. 60.
[11] Casimiro, p. 6, 7. Esse ponto segue literalmente o comentário nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[12] MacArthur, p. 19. Esse ponto segue literalmente o comentário na página já citada, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[13] Lopes, p. 65.
[14] Lopes, p. 66.
[15] Lopes, p. 67-70. Este comentário segue literalmente a exposição do livro, nas páginas já citadas, com cortes e acréscimos necessários ao ensino local.
[16] Lopes, p. 71.
[17] Lopes, p. 77.

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