Hebreus 6
Em
nosso estudo anterior sobre uma
compreensão correta do Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo, vimos:
ð
As qualificações do Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo – vv.1-10; e uma
advertência sobre a caminhada da fé com o Sumo Sacerdote – vv.11-14.
Terminamos observando que, esses últimos quatro versículos do capítulo
5 são muito importantes para nós, porque destacam a importância de perseverar,
de continuar firmes e nos mostram como saber quando estamos fazendo isso. Nos
mostram, também, como medir se estamos progredindo espiritualmente ou não.
Hoje, o nosso estudo é no capítulo 6
com o tema “O caminho da maturidade e a
sua garantia”. Faremos isso em dois pontos: 1º) O caminho da maturidade –
vv.1-12; e 2º) A garantia da Maturidade
– vv.13-20.
Nos primeiros versículos desse capítulo,
o autor fala claramente sobre o crescimento espiritual ou o caminho a percorrer
em direção a maturidade cristã. Ele insiste que, um cristão não deve estar
satisfeito em permanecer neófito na doutrina cristã, isto é, conhecer apenas o
mais básico. Mas, deve conhecer mais e mais da Palavra de Deus e esse é o
caminho da maturidade.
O caminho da maturidade é o caminho da mente. É
conhecendo que crescemos.
Stuart Olyott[1]
I.
O caminho da maturidade – vv.1-12
A exortação do autor, inicialmente, é
que os cristãos não devem estar satisfeitos apenas com os fundamentos, mas
devem “prosseguir além disso, rumo à perfeição, ou seja, à maturidade espiritual”[2] (v.1).
Mas, ninguém pode edificar sobre as
verdades fundamentais se não as conhecer. Por isso, nos vv.1, 2, ele menciona seis doutrinas básicas, que se agrupam em
três pares: 1ª) Salvação – arrependimento de obras mortas e fé em Deus
(v.1a) – que trata do começo da vida cristã e nossa relação com Deus; 2ª) as ordenanças – doutrina dos batismos e imposição de mãos
(v.2a) – sobre a vida cristã diária e nossa relação com a igreja; e 3ª) as últimas coisas – ressurreição dos mortos e juízo eterno
(v.2b) – que trata de para onde vai a vida cristã, isto é, da nossa relação com
o futuro. Portanto, o caminho da maturidade tem começo, meio e fim, isto é,
conversão, vida cristã e vida eterna.
Esses versículos inicias e os que se
seguem, também, são um desafio para nós cristãos, pois o autor “delineou
claramente as questões: nós prosseguimos sempre, e somos salvos, ou não
continuamos na fé, e nos perdemos. Para descobrir se estou progredindo, tenho
de avaliar se estou crescendo na compreensão da Palavra de Deus”.[3]
Portanto, o caminho a ser seguido rumo
à maturidade tem três fases:
1ª)
Fase: O começo da vida cristã – Salvação
– arrependimento de obras mortas e fé em Deus (vv.1a, 4-8) – que trata do começo da vida cristã e nossa
relação com Deus. Uma pessoa só é salva uma vez, isto é, só é
regenerado uma vez, só recebe o Espírito Santo uma vez, só é batizada nas águas
uma vez. Por isso, o autor, faz essa séria advertência sobre a possibilidade da
apostasia.
A
seriedade da advertência descrita aqui se encontra nas palavras “... é impossível que... (v.4) ... sejam outra vez renovados
para arrependimento” (v.6). A apostasia contra a qual se
adverte aqui é vista como final, isto
é, “não
há segunda chance para aqueles que rejeitam a fé salvadora”[4].
Aqui temos três lições: 1ª) Os
apostatas cometem sempre o mesmo pecado – Eles sabem que o Evangelho é
verdadeiro e tiveram as experiências listadas nos vv.4, 5. Porém, dão as costas a tudo isso, isto é, tratam a verdade
como se fosse falsa e suas experiências como se jamais tivessem acontecido[5].
Olyott considera essa atitude como blasfêmia contra o Espírito Santo, que pode
não acontecer de repente, mas, com uma série de passos propositais, é ali que
chegarão. O apostata não pode se
recuperar. Ele é como solo que produziu espinhos e abrolhos em vez de ervas
úteis e é rejeitado, em contraste ao solo que produziu frutos (vv.7, 8); 2ª) Apostatar não é se
desviar-se temporariamente – os que se desviam temporariamente tem a
possibilidade de voltar arrependidos, coisa que um apostata não fará. Um bom
exemplo é o da parábola do filho prodigo contada por Jesus – Lc 15.11-32; e 3ª) Apostatar não é
imaturidade espiritual – os irmãos hebreus eram imaturos e estavam
necessitando de crescimento espiritual, mas não tinham abandonado a fé. Por
isso não foram considerados apostatas (Cf. v.9).
Contudo, a “advertência era real e de modo algum hipotética: se abandonassem a
fé, certamente estariam perdidos”[6] (vv.1-8, 11).
Na
carta aos Hebreus há muitas passagens que advertem contra o mesmo perigo: “se desviar” (2.1), “se afastar do Deus
vivo” (3.12), “cair” (6.6), “recuar, retroceder”
(10.38-39) e “rejeitar ao que fala” (12.25).
Este é certamente um dos temas do livro e todas as passagens elucidam 6.4-6.
Duas
perguntas surgem naturalmente aqui: 1ª) Essas
pessoas eram realmente convertidos? A resposta óbvia é sim. Estando em escuridão espiritual, foram iluminadas, receberam o dom da
vida, possuíam o Espírito Santo, provaram da boa Palavra de Deus e
experimentaram as coisas prometidas ao povo de Deus para o mundo vindouro. 2ª) O que aconteceu com elas? “Caíram” da presença de Deus, o que é
explicado por todas as outras passagens de advertência resumidas acima. Se
desviaram dele (12.25), se afastaram
dele (3.12) – esta última frase traduz literalmente o que significa apostatar.
2ª)
Fase: A perseverança na vida cristã – as
ordenanças – doutrina dos batismos e imposição de mãos (v.2a, 9, 10) – sobre a vida cristã diária e nossa relação
com a igreja.
Permanecer firme na fé e crescer espiritualmente significa
melhorar diariamente na compreensão da
Palavra de Deus e na prática da vida cristã, produzindo coisas que acompanham a
salvação. Essas coisas melhores que acompanham a salvação, o autor, afirma
ser a obra e o trabalho do amor que para
com o seu nome mostrastes, enquanto servistes aos santos; e ainda servis (v.10). Ele fala desse serviço em 10.32-34, usando o cuidado dos irmãos por ele mesmo. (Cf. Ef 2.10)
O serviço cristão autêntico é prestado
altruisticamente no contexto da igreja e da sua missão, como evidência clara do
fruto do Espírito e dos dons espirituais para a glória de Deus e edificação dos
santos (Cf. Gl 5.22, 23; 1Co 12.1-11; Ef
4.11-16; Mt 5.13-16). Desse serviço, Deus não é injusto para se esquecer (v.10a – Cf. 1Co 15.57, 58)
3ª) Fase – Esperança final da vida
cristã – as últimas
coisas – ressurreição dos mortos e juízo eterno (v.2b, 11, 12) – que trata de para onde vai a vida cristã,
isto é, da nossa relação com o futuro.
Uma esperança viva é a base para a vida cristã
eficaz em qualquer contexto[7]. (Cf. Rm 5.1-5; Cl 1.4-6). Os que tiverem tal
motivação não serão negligentes, mas
imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas. (v.12b;
13-15; 10.35-39)
A completa
certeza da esperança leva o cristão a crescer na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele
seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém. (v.11b; 2Pe 3.18)
II.
A garantia da Maturidade – vv.13-20
Quando uma advertência severa é feita a
alguém, a tendência é que ela pense que não se gosta dela ou se está contra
ela. Aqui, parece que o autor estava cônscio disso e, assim, imediatamente muda
o tom de advertência para encorajamento. Ele faz isso usando duas ilustrações,
uma das Escrituras – Abraão (vv.13-18), e outra da vida diária – o navio entra no porto (vv.19, 20).
Assim, ele, assegura a salvação eterna
e a garantia do crescimento espiritual em duas verdades: a promessa e o juramento de Deus (vv.13-18) e o sacerdócio do
Senhor Jesus Cristo (vv.19, 20).
1.
A promessa e o juramento de Deus – vv.13-18
A base da esperança e da segurança
cristã não é o pensamento positivo acerca do futuro, mas a promessa solene e o
firme juramento de Deus.
O fundamento da atividade redentora de
Deus no mundo foi a promessa particular feita a Abraão em Gênesis 12.1-3 e repetida diversas vezes e de formas diferentes na
história dos ancestrais de Israel[8] – Gn 15.1-21; 26.2-4; 28.13-15; Êx 3.6-10.
Então, em uma ocasião em particular,
Deus confirmou a veracidade da sua promessa com juramento – Gn 22.16-19. Abraão foi encorajado a
esperar com paciência pela promessa. Assim, Deus começou a cumprir a sua
promessa durante a vida de Abraão, mas a bênção final veio na pessoa do Senhor
Jesus Cristo – vv.13-15.
Por isso, o autor, para encorajar os
hebreus a confiarem na fé em Jesus Cristo e não se apegarem ao sistema levítico
de adoração, citou o exemplo de Abraão – vv.13.
Deus faz uso do discurso humano e por
vontade própria querendo
Ele mostrar mais abundantemente a
imutabilidade do seu conselho aos herdeiros da promessa, se interpôs com
juramento, aos que querem uma confirmação da sua promessa, visto que as promessas
humanas não se caracterizam por ser confiáveis (vv.16, 17).
A promessa e o juramento de Deus são
imutáveis, pois, Deus não é homem para que minta e cumpre todas as suas
promessas – Nm 23.19; Tt 1.2; Js 23.14.
Não só o crescimento espiritual, mas a vida eterna está garantida para nós os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança
proposta – v.18.
2.
O sacerdócio do Senhor Jesus Cristo – vv.19, 20
A esperança do cristão é personificada
pelo próprio Senhor Jesus Cristo, que entrou na presença de Deus no Santo dos
Santos celestial em nosso favor. (Cf. Hb
4.14-16) Portanto, a esperança cristã está firmada na pessoa e na obra de
Jesus.
Aqui nos vv.19, 20 temos três lições: 1ª)
A esperança do cristão é como uma âncora,
ela dá estabilidade a alma cristã em meio as tempestades da vida; 2ª) A
âncora da esperança cristã é Jesus Cristo (Rm 8.34; Hb 7.25); e 3ª)
A esperança cristã está ancorada no céu,
eterno e invisível, e não nas coisas passageiras e visíveis desta vida (2Co 4.16-18).[9]
O autor faz uso dessa forma de
“linguagem para se referir ao santuário celestial, onde Deus está entronizado
em toda a sua glória. Podemos nos aproximar dele com confiança agora mesmo
porque Jesus, o nosso sumo sacerdote celestial, ofereceu o sacrifico perfeito e
está à direita de Deus (Cf. Hb 4.14-16; 10.19-22). Contudo, também transmite a
ideia de que o nosso destino é viver para sempre na santa e glorioso presença
de Deus. Podemos ir literalmente aonde Jesus foi. Assim, o santuário celestial
é mais uma forma de descrever ‘o mundo que há de vir’ (2.5), o ‘repouso para o
povo de Deus’ (4.9) e a ‘pátria superior’ ou ‘Jerusalém celestial’ (11.16;
12.22-24; 13.14), que tem sido a esperança final e definitiva para o povo de
Deus em todas as épocas. Esse alvo tão esperado foi obtido e colocado à nossa
disposição pelo nosso Salvador. Jesus como a nossa esperança entrou no
santuário e permanece lá como âncora da alma, segura e firme.”[10]
Concluindo
Assim resume Warren Wiersbe a lição
central desta passagem: “Nós cristãos, devemos progredir em maturidade, e Deus
oferece tudo de que precisamos para fazê-lo. Se começarmos a nos desviar da
Palavra (Hb 2.1-4), também passaremos a duvidar da Palavra (Hb 3.7-4, 13). E,
em pouco tempo, nos tornaremos cristãos preguiçosos, tardios para a Palavra (Hb
5.11)”.[11]
[1] Olyott, Stuart. A Carta aos Hebreus bem explicadinha,
Editora Cultura Cristã, 2012, p. 49.
[2] Ibid., p. 50.
[3] Olyott, p. 52.
[4] Casimiro, Arival Dias. Revista Exposição Bíblica –
Estudos Expositivos na Carta aos Hebreus, Z3 Editora, 2013, 7ª Lição, p. 32.
[5] Olyott, p. 57.
[6] Ibid., p. 58.
[7] Carson, D. A. Comentário Bíblico Vida Nova, Vida Nova,
SP, 2009, p. 2004.
[8] Carson, p. 2004.
[9] Casimiro, p. 34.
[10] Carson, p. 2004.
[11] Casimiro, p. 34.
Excelente artigo.
ResponderExcluirObrigado irmão Luiz! Deus o abençoe!
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